O Quarto Nerd https://oquartonerd.com.br/ As Nerds da Cadeira Wed, 07 May 2025 22:50:55 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://i0.wp.com/oquartonerd.com.br/wp-content/uploads/2021/11/cropped-cropped-cropped-oqnPrancheta-7-1.png?fit=32%2C32&ssl=1 O Quarto Nerd https://oquartonerd.com.br/ 32 32 163939925 House of the Dragon será um eterno queerbait? https://oquartonerd.com.br/house-of-the-dragon-sera-um-eterno-queerbait/ https://oquartonerd.com.br/house-of-the-dragon-sera-um-eterno-queerbait/#respond Wed, 21 May 2025 14:42:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68308 Com o início confirmado das gravações da terceira temporada de House of the Dragon, muito volta a se debater sobre a tensão sexual entre as protagonistas da série. Quando os....

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Com o início confirmado das gravações da terceira temporada de House of the Dragon, muito volta a se debater sobre a tensão sexual entre as protagonistas da série.

Quando os créditos de Game of Thrones subiram pela última vez em 2019, muitos fãs pensaram que era o fim da jornada pelo universo televisivo baseado nos livros de George R. R. Martin. Mas a HBO tinha outros planos. Em 2022, House of the Dragon (baseada no livro A Dança dos Dragões, de 2019) chegou para nos transportar 200 anos antes dos eventos que acompanhamos por oito temporadas, mergulhando nas raízes da Casa Targaryen e seu domínio sobre Westeros sobre o lombo de dragões.

A série estreou em agosto de 2022 e rapidamente se tornou um fenômeno global. O primeiro episódio atraiu quase 10 milhões de espectadores apenas na noite de estreia – o maior lançamento da história da HBO. Ao longo de sua primeira temporada, a produção conquistou um Globo de Ouro de Melhor Série Dramática e garantiu uma base sólida de fãs ansiosos pela continuação, que veio em 2024.

Além da nostalgia, House of the Dragon acertou em cheio naquilo que muita gente queria (e sentia falta): dragões de verdade, não só como apêndices digitais, mas como forças motrizes da narrativa, personagens centrais. Visuais impecáveis, figurinos de cair o queixo e uma trilha sonora que remete à antiga Westeros contribuem para a imersão total nesse mundo brutal.

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Só que talvez o grande trunfo da série seja outro: o roteiro intimista. Ao invés de espalhar a atenção por múltiplas casas e regiões, o foco é (quase) absoluto na Casa Targaryen e suas disputas internas. Isso permite mergulhar fundo em personagens complexos, sempre à beira do abismo da loucura – tradição muito bem enraizada no sangue dourado dos Targaryen, que todos presenciaram na pele de Emilia Clarke (intérprete de Daenerys em Game of Thrones) em 2019.

Rainhas de Sangue: o poder (e o preço) de ser mulher em Westeros

Cartaz de divulgação de House of the Dragon, na qual Alicent e Rhaenyra estão em lados opostos.

(Imagem: HBO / Divulgação)

No centro de toda a trama de HOTD estão duas figuras femininas, cujas trajetórias transformam afeto em rivalidade mortal: Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower.

Rhaenyra (Milly Alcock jovem, Emma D’Arcy adulta) carrega toda a pressão de ser a primeira mulher nomeada herdeira do Trono de Ferro. Nessa transição de adolescente “louca por bolos” para líder endurecida pela guerra e pela traição, ela segue um arco que ecoa o dilema de sua sucessora Daenerys: afirmar-se num campo minado por homens, desafiando a ordem vigente. 

Por outro lado, temos Alicent Hightower (Emily Carey jovem, Olivia Cooke adulta), cuja trajetória é marcada por manipulação, desconforto e, em última instância, sobrevivência. Filha de Otto Hightower, ela é usada pelo pai para se aproximar do rei recém-viúvo, resultando no emblemático casamento com o muito mais velho Viserys – pai de sua melhor amiga de infância, que é ninguém menos que Rhaenyra. 

A série não se esquiva de mostrar o desconforto de Alicent com sua situação. Em uma cena um tanto quanto perturbadora, vemos Otto praticamente prostituindo a própria filha, enviando-a aos aposentos do rei em luto. A expressão de Alicent de nojo (e tristeza) enquanto se prepara para “confortar” o rei diz tudo sobre como ela se sente sendo usada como peão político.

É essa dinâmica que torna a deterioração da amizade entre Rhaenyra e Alicent tão dolorosa de assistir. Duas jovens mulheres, inicialmente unidas por um vínculo genuíno, são separadas por circunstâncias além de seu controle e transformadas em peças de trincheiras opostas de uma guerra de rainhas.

Queerbait ou tensão legítima nas protagonistas de House of The Dragon?

As versões jovens de Alicent e Rhaenyra se abraçando e se olhando no espelho.

(Imagem: HBO / Divulgação)

E aqui chegamos ao cerne da questão proposta: seria House of the Dragon mais um caso de queerbait na televisão?

A série começa estabelecendo uma conexão profunda entre Rhaenyra e Alicent que beira o romântico. Em uma cena memorável logo no primeiro episódio, Rhaenyra confessa a Alicent que gostaria de levá-la na garupa de seu dragão e fugir para longe, escapando das responsabilidades e expectativas que as cercam. O olhar trocado entre as duas adolescentes carrega uma intensidade que muitos espectadores interpretaram como algo além da amizade.

“Vamos voar para Pedra do Dragão. Você pode se sentar atrás de mim em Syrax. Podemos comer bolos e alimentar os dragões e nunca mais olhar para trás.”

(Rhaenyra Targaryen, House of The Dragon – S01E01)

Em uma entrevista para o site Digital Spy, as atrizes Emma D’Arcy e Olivia Cooke, que interpretam as personagens em etapa adulta, confessam que há, de fato, uma conexão erótica entre as personagens:

“Acho que sempre há uma energia erótica dentro dessas intensas amizades adolescentes”, disse Emma (Rhaenyra) ao site. Em segundo momento, Olivia (Alicent) confirmou: “Há um senso de propriedade, há um ciúme. Você está interpretando relacionamentos românticos adultos um com o outro. Sim, sempre há espaço para isso”.

Essa proposta de fuga, feita antes que o peso da coroa caísse sobre Rhaenyra (após a trágica morte de sua mãe Aemma durante o parto) e antes que Alicent fosse forçada ao casamento político que inicia a ruptura entre as duas, carrega uma nostalgia de possibilidades não realizadas que permeia toda a série.

No entanto, a narrativa nunca desenvolve explicitamente esse subtexto romântico. A relação entre as duas permanece em um território ambíguo, permitindo múltiplas interpretações. Para alguns, isso é um exemplo clássico de queerbait – insinuar uma relação queer para atrair certo público, sem nunca concretizá-la na narrativa.

Outros argumentam que essa ambiguidade é proposital e reflete a realidade histórica (mesmo em um mundo fantasioso) onde tais sentimentos frequentemente precisavam permanecer não ditos – e talvez nunca serão. Além disso, a complexidade da relação entre Rhaenyra e Alicent – de amigas íntimas a inimigas mortais – ganha camadas adicionais com esse “ei, tu é?…” eterno nas entrelinhas.

Rhaenyra é LGBTQIAP+: e agora?

A cena de confirmação da bissexualidade da personagem principal de House of The Dragon.

(Imagem: HBO / Divulgação)

Na segunda temporada, a série dá um passo além. Em um momento marcante, no episódio 6, Rhaenyra beija Mysaria (vivida por Sonoya Mizuno), sua conselheira e antiga affair de Daemon Targaryen.

Aqui está o reconhecimento canônico de que Rhaenyra é bissexual, algo nunca abordado nos livros originais. Para quem busca representatividade, é uma evolução; mas o roteiro ainda é tímido, não aprofunda muito esse elemento – fica claro que há terreno fértil para explorar melhor esse lado na personagem, principalmente em tempos contemporâneos em que representatividade efetiva faz diferença.

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O potencial para histórias LGBTQIAP+ é imenso, não apenas para Rhaenyra, mas quem sabe também para Alicent. Agora, cabe à HBO e aos seus roteiristas decidirem se vão avançar e construir novas camadas nessas trajetórias ou se manterão certas possibilidades apenas nos detalhes, alimentando o, até então, inegável, queerbait.

House of the Dragon e um legado de reticências

Rhaenyra e Rhaenys Targaryen.

(Imagem: HBO / Divulgação)

A versão em cores de A Dança dos Dragões ainda está traçando seu legado nas telas – e faz isso colocando as mulheres na linha de frente do poder, de maneira que poucas séries de fantasia épica ousaram até hoje.

A trama não apenas gira em torno de uma guerra civil, mas de uma guerra civil entre duas facções lideradas por mulheres. Assim, tanto o livro quanto a própria série revelam, capítulo após capítulo, que, embora figuras masculinas como Viserys, Otto Hightower, Daemon Targaryen e Criston Cole gostem de acreditar que detêm as rédeas da história, são Rhaenyra e Alicent quem realmente determinam o curso dos eventos em Westeros.

Esse protagonismo feminino desconstroi preconceitos persistentes, mostrando que mesmo num cenário medieval, patriarcal e tradicionalmente hostil às mulheres, elas exercem um poder político real e transformador. Elas podem não estar sempre sentadas no trono, mas são suas estratégias, alianças e decisões que escrevem o destino do reino. Em tempos tão atuais de debate sobre espaço e voz feminina na política, a série não poderia ser mais pertinente: ainda hoje, vemos essa tentativa de apagamento e sub-representação de figuras femininas nos grandes centros de tomada de decisão.

Um dos maiores símbolos dessa luta é Rhaenys Targaryen, a célebre “Rainha-Que-Nunca-Foi” (originalmente “The-Queen-That-Never-Was”), interpretada por Eve Best. Décadas antes dos eventos principais da série, Rhaenys deveria ter herdado o trono, mas foi preterida unicamente por ser mulher. Sua presença funciona como um lembrete constante – e incômodo – do que as mulheres podem conquistar e de tudo que pode lhes ser negado, alimentando discussões não só sobre o ciclo do poder em Westeros, mas sobre o próprio ciclo do poder no nosso mundo real, onde a exclusão feminina da política ainda é uma batalha cotidiana.

À medida que House of the Dragon avança, especialmente agora com a segunda temporada já encerrada e a terceira temporada em fase de produção (com previsão de estreia apenas para meados de 2026), o impacto da série cresce também fora do streaming.

As versões jovens de Alicent e Rhaenyra, em um dos primeiros episódios de House of The Dragon.

(Imagem: HBO / Divulgação)

Fica a expectativa de que o roteiro aprofunde ainda mais essas temáticas de representatividade – tanto no campo do empoderamento feminino quanto no campo queer. O público já viu Rhaenyra expressar sua bissexualidade ao beijar Mysaria mas, até agora, esse lado da personagem e suas consequências narrativas seguem pouco explorados.

Se House of the Dragon vai se eternizar como queerbait ou ousar ir além, só o tempo dirá. O que é certo, entretanto, é que o fogo Targaryen segue prometendo derreter tabus, desafiar expectativas e, sobretudo, lembrar que lugares de poder podem – e devem – ser femininos.

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As etapas de produção de um “boneco” da Riot Games https://oquartonerd.com.br/as-etapas-de-producao-de-um-boneco-da-riot-games/ https://oquartonerd.com.br/as-etapas-de-producao-de-um-boneco-da-riot-games/#respond Fri, 16 May 2025 14:07:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68319 Ah, os “bonecos” da Riot Games… Se você joga League of Legends ou Valorant, sabe: cada novo campeão ou agente não é só mais um personagem na tela — é....

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Ah, os “bonecos” da Riot Games… Se você joga League of Legends ou Valorant, sabe: cada novo campeão ou agente não é só mais um personagem na tela — é um evento, é ansiedade, é discussão infinita no X (ou no grupo do Discord).

Isso vale tanto para quem joga League of Legends quanto para Valorant, outro fenômeno da Riot, em que cada novo Agente tem potencial para chacoalhar o meta, criar memes instantâneos e bater recordes de hype mundial.

Mas você já parou pra pensar no trabalhão que dá criar um desses bonecos? Não é só juntar habilidades aleatórias e botar um nome legal. É arte, é roteiro, é criatividade, é debate interno e, ainda mais importante: é carinho pela comunidade. O próprio site oficial da Riot Games conta: “A criação de um Campeão novo do League of Legends começa com seu DNA: Design, Narrativa e Arte”.

Em 2022, a Millenium.gg entrevistou o Rioter August, então recém-promovido líder de design das personagens de LoL, e ele explicou o passo a passo da produção de cada um deles. Como inicia o artigo escrito por Zelsh: “Criar um Campeão de League of Legends significa pegar um desenho simples e adicionar um lança-foguetes nele”. Mas, ao passo que a entrevista se desenrola, fica evidente que esse processo não é tão simplista assim.

Com o sucesso de Arcane e a confirmação de pelo menos mais duas séries de animação da Netflix baseadas no universo de Runeterra, fica ainda mais comum o debate e a exaltação pela criatividade e pela complexidade colocada nas narrativas da Riot Games. Por isso, o QN decidiu ir à fundo para tentar explicar como se dá a composição de seus universos.

O passo-a-passo da produção de um novo personagem da Riot Games, segundo o Rioter August

O nascer da ideia

K'Sante, o Campeão de LoL. inspirado em Lil Nas X.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Tudo começa com uma pergunta: “o que está faltando no nosso universo?”

Pode ser uma função que ninguém preencheu, um tipo de mecânica que ainda não apareceu, ou até um “representa aí, Riot!” vindo forte da comunidade. Nem sempre a motivação é só técnica — pode ser emocional, temática, política (sim, dá pra discutir política em criação de boneco, e tem Rioter que adora esse caos construtivo).

É nesse momento que conceito e oportunidade se misturam. Lembra quando a Senna chegou? Foi pra preencher a saudade de suporte atirador. E quando Lil Nas X foi divulgado como o “novo presidente” do LoLzinho, em collab com o lançamento do K’Sante? Ou quando conversamos sobre a representatividade em personagens como Akshan ou Rell? Tudo isso é um mapa de necessidades que guia a equipe de design no começo, quando tudo é apenas uma faísca.

Junta todo mundo na Riot e bora viajar

Ilustração de personagem de League of Legends, que pertence à Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Agora, é mesa cheia.

Designer, roteirista, artista, animador, todo mundo misturado: listam referências, criam os primeiros rabiscos, discutem desde o nível de poder de ataque até a cor da roupa — e, claro, já começam a sonhar com as skins. Tem sempre aquela guerra entre equilibrar inovação e manter o que faz sentido pro universo do jogo. Todo personagem é um quebra-cabeça sem manual.

O mesmo vale para Valorant: cada novo Agente nasce de brainstorms caóticos (do jeito bom!), misturando ideias de gameplay, história da personagem e identidade cultural. O visual, a voz, o país de origem e até a forma de falar de cada agente são debatidos com consultores culturais e influências da comunidade global — como aconteceu com Gekko, que homenageia a cena jovem e latina de Los Angeles no visual e nas falas.

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Se o conceito é aprovado, vão surgindo mockups, descrições de personalidade, sketches (que mais parecem a fanart que você queria, mas feita com o dobro de orçamento). E não duvide: às vezes, a lore muda três vezes antes do boneco sequer ganhar nome oficial.

Prototipando e testando até doer (nos estagiários também)

Prototipação do rework de Viktor, um dos mais falados "bonecos" da Riot.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Aqui o bicho pega. Literalmente.

A equipe interna recebe uma build tosca pra testar as novas mecânicas — e correm lendas de bugs tão surreais que nunca vão pro ar. É na base da repetição: cria, testa, quebra, corrige. Ajusta habilidade, muda passiva, mexe nas interações até tudo fazer sentido (e não quebrar o servidor, claro).

Essa parte é menos glamour e mais suor: balancear gameplay, garantir que ninguém criou um novo “Yasuo desbalanceado”, dar aquele toque de novidade sem virar meme negativo.

Arte, animação, voz… Enfim, a vida do boneco!

Animação colada sobre foto – Rioters em estúdio da Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Você achou que era só escolher uma skin bonita? Achou errado, otário!

O time de arte pega o conceito e transforma em modelo 3D, detalhe de textura, animação fluida, efeitos psicodélicos, referências mitológicas ou tenebrosas (olha o Viego aí, gente). E não para por aí: em Valorant, além dos visuais insanos, cada agente é dublado por artistas de diferentes países, sempre ligados ao pano de fundo daquele personagem. Exemplo é a Fade, cuja concepção envolveu pesquisa profunda em temas de medo, pesadelos e cultura turca — resultando em uma personagem assustadora não só nas skills, mas em toda sua ambientação.

Enquanto isso, a equipe de áudio caça a voz perfeita. Não é à toa que alguns agentes de Valorant têm sotaque marcante ou dublagem de cantores e atores protagônicos da região de inspiração. É narrativa, é diversidade – é botar vida no boneco antes mesmo dos jogadores.

E também falando em áudio, há de se pensar na música tema do personagem! Um artigo produzido pela própria desenvolvedora em 2023 detalha o processo artístico da criação dos sons de instrumentos de sopro do Campeão Milio. É surreal entender como as músicas dão vazão à criatividade de toda a equipe de arte da Riot!

Feedback, ajustes e aquela ansiedade pré-lançamento

Ilustração em esboço de Agente de Valorant.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Pensa que acabou? Essa é a hora de testar até a tecla R cair do teclado.

Feedback de jogadores internos, mudanças emergenciais, olhar atento do balanceamento e, em muitos casos, o famoso PBE (ambiente de teste aberto). O personagem passa por afinamentos, tanto no visual quanto no gameplay, já imaginando como vai afetar o meta.

É também nesse ponto que surgem memes, teorias, fãs criando fanarts antes do boneco sequer ir pro live — e, claro, o time de comunicação e marketing preparado pra soltar teaser, vídeo lore e skin nova: tudo junto pra explodir o X.

E falando em ações transmídia, enquanto LoL expande Runeterra com animações como Arcane, em Valorant, o universo se constrói fragmentado: cada cinemática, diálogo, cartão de Agente ou easter-egg do mapa adiciona uma peça a um quebra-cabeça narrativo que a comunidade ama decifrar.

Lançou: agora é stan, é ship, é treta e é amor

Capa de vídeo-divulgação de fã sobre um novo "boneco" de lançamento da Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

O boneco foi lançado. Agora, é só paz e tranquilidade? Errou feio, errou rude!

O monitoramento é constante: hotfix para corrigir bugs, ajustes de balanceamento — e aquela enxurrada de comentários apaixonados, indignados ou surpresos nas redes sociais. Mas isso faz parte: um “boneco” só é perfeito porque a história dele se constroi entre o time da Riot e a comunidade que vive imersa entre a lore e a jogabilidade.

A Riot Games como uma potência da narrativa digital – e o referencial teórico por trás

Ilustração de personagens e ambientes conhecidos da narrativa do mundo de Runeterra (universo de LoL) – Demacia e Noxus.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Entender o processo de criação dos “bonecos” da Riot Games é mergulhar no que de mais vanguardista existe na indústria dos games. Não à toa, a Riot se tornou uma das mais renomadas produtoras do planeta — e cada etapa desse pipeline criativo, dos brainstorms iniciais ao monitoramento pós-lançamento, revela o porquê.

Esse êxito criativo tem respaldo teórico e cultural. Dentro dos estudos culturais, pioneiros como Stuart Hall e Henry Jenkins nos lembram que personagens não são só pixels animados: são signos, espelhos e agentes de transformação social. Não é apenas sobre desenhar um campeão com habilidades inéditas ou um agente com personalidade cativante — é sobre criar representatividade, valorizar identidades e pressionar o próprio segmento a expandir horizontes. Como analisei naquele texto sobre o Orgulho Royale em Fortnite, a visibilidade impacta a comunidade e faz estúdios como a Riot repensarem seu casting.

A genialidade da Riot está em compreender, também, a narrativa como força vital. Brenda Laurel (“Computers as Theatre”) e o próprio Jenkins (“Game Design as Narrative Architecture”) demonstram quanto a experiência do jogador é moldada, principalmente, pela imersão no universo do jogo. LoL e Valorant são exemplos vivos, expandindo fronteiras entre gameplay e storytelling, onde design visual, lore e mecânicas se alimentam mutuamente para engajar (e emocionar).

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No coração dessa máquina criativa, estão ainda as teorias de UX, como de Jesse Schell (“The Art of Game Design”) e Kremers (“Level Design for Games”), que fundamentam a obsessão da Riot por testes e refinamentos. Não basta criar arte — é preciso garantir que cada personagem reverbere no psicológico do jogador, que cada habilidade e skin seja não só funcional, mas inesquecível.

E, claro, tudo isso potencializado por uma cultura participativa pulsante, como diz (novamente) Henry Jenkins: aqui, meme, hype e amor de fã são combustíveis valiosíssimos. Na “attention economy” dos tempos digitais, cada lançamento da Riot é um evento global porque mobiliza, aproxima, viraliza. Não é só jogabilidade — é pertencimento, é história contada a muitas mãos.

Toda esse organismo de engrenagens coloca a Riot Games no topo da indústria. Mais do que criar personagens, ela cria cultura, entretenimento e experiência coletiva.

Não é à toa que, seja no MOBA ou no FPS, a Riot cria experiências que vão além da tela. Seja nas inovações mecânicas da Senna, nos duelos de lore entre Yoru e Phoenix, ou nos debates acalorados sobre a ascendência da Reyna, cada novo personagem se torna um evento porque mistura mecânicas inovadoras e histórias profundas, feitos para conversar com uma comunidade global, diversa e realmente interessada.

E é por isso que, entre teorias, pixels e paixão, seguimos esperando — e vibrando — por cada novo “boneco”.

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Todas as formas que This Is Us pega em traumas – até de quem não tem nenhum https://oquartonerd.com.br/todas-as-formas-que-this-is-us-pega-em-traumas/ https://oquartonerd.com.br/todas-as-formas-que-this-is-us-pega-em-traumas/#respond Sat, 10 May 2025 13:30:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68302 Quem nunca olhou para a própria vida dizendo “nossa, eu sou tão tadinho” sem nem ser depois de assistir algum episódio de This Is Us, que atire o primeiro lenço! ....

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Quem nunca olhou para a própria vida dizendo “nossa, eu sou tão tadinho” sem nem ser depois de assistir algum episódio de This Is Us, que atire o primeiro lenço! 

Se você já assistiu a série, sabe que provavelmente ela te pegou de surpresa – mesmo se você for daquela pessoa menos dada às lágrimas. A real é: ninguém escapa ileso de TIU. Nem os espectadores, nem os próprios personagens, que são praticamente tratados de laboratório emocional em tempo real.

Mas, se você ainda nunca ouviu falar, vale explicar: a série de televisão, categorizada como drama estadunidense, foi roteirizada por Dan Fogelman, foi do ar de setembro de 2016 até maio de 2022 pela NBC, totalizando seis temporadas, e é conhecida por abordar com sensibilidade e profundidade questões familiares, relações interpessoais e os impactos do passado no presente.

This Is Us, que conta com um elenco afiadíssimo – Mandy Moore, Milo Ventimiglia, Chrissy Metz e Justin Hartley –, venceu diversos prêmios, incluindo o Emmy de “Melhor Ator em Série Dramática” para Sterling K. Brown (ator que dá vida a Randall), e recebeu múltiplas indicações ao Globo de Ouro e a outros importantes prêmios da TV. O sucesso se deve ao “choro coletivo” provocado por seus roteiros, que transformaram experiências banais e traumas silenciosos em protagonistas da narrativa.

[Este artigo contém spoilers, então, se você ainda não começou, agora é um ótimo momento para maratonar!]

Senta, pega o lencinho e me acompanha

Os protagonistas de This Is Us.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Mais do que uma série – This Is Us se tornou, para muitos que se emocionaram com a família Pearson, aquele espelho cruelmente generoso.

Não é exagero.

Em tempos frenéticos, cheios de conteúdo vazio e roteiros que só descartam pessoas, Dan Fogelman criou um universo onde até respirar dói. É quase como se, a cada episódio, alguém estivesse te dizendo: “calma, sentir desesperança também faz parte”; ou então: “tá tudo bem não estar tudo bem, tá?”.

TIU virou sinônimo de “série pra chorar” pois mexe nas feridas universalmente humanas, nas falhas, perdas, pequenas violências cotidianas e traumas de todos os tipos com autenticidade, fugindo dos clichês melodramáticos tradicionais e apresentando personagens esféricos. Luto, abandono, adoção, identidade racial, dependência, distúrbios alimentares, pressões familiares e traumas silenciosos do cotidiano, são alguns dos temas tratados nos diversos arcos da série. 

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É empatia pura. Quase incômoda, porque acaba sendo obrigatória. A série potencializa ao máximo o poder do “poderia ser eu” a cada flashback, a cada salto temporal, a cada novo segredo que aparece, a cada briga de família que lembra… bem, todas as famílias.

Conheça The Big Three e seus pais

O núcleo Pearson (família principal de This Is Us), com os trigêmeos ainda bebês.

(Imagem: NBC / Reprodução)

A família Pearson é formada inicialmente por Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore), um casal que espera trigêmeos. No dia do parto, um dos bebês não sobrevive, e o casal decide adotar um recém-nascido negro abandonado no hospital, nascido no mesmo dia. Assim nascem “Os Três Grandes” (The Big Three) – Kevin, Kate e Randall.

A estrutura narrativa é o grande diferencial da série: constantemente alterna entre diferentes períodos, mostrando os personagens em várias fases da vida. Vemos os pais jovens, os filhos crianças, adolescentes e adultos, todos conectados por decisões e eventos que ecoam através do tempo. Essa abordagem não-linear permite que o público descubra gradualmente como o passado moldou quem os personagens se tornaram no presente.

Jack Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Jack Pearson é o patriarca carismático e dedicado da família, que morre tragicamente quando os filhos são adolescentes. Sua causa mortis só é revelada depois de muuuitas temporadas a fio, quando o espectador já criou várias teorias e zerou todas as possibilidades possíveis na sua cabeça. Não vou falar como foi, mas fica o spoiler: é, realmente, mais triste e inesperado do que você imagina. 

Assim, Jack é, apesar de não existir no tempo “presente” da cronologia da série, o fantasma que molda toda a história. Ele é o símbolo de paternidade idealizada. Mas nenhum personagem foge do peso emocional: o trauma não é só ferida aberta – é tentativa, muitas vezes frustrada, de fazer o melhor e falhar. Jack entrega o luto do passado, o medo de se tornar o pai ausente que teve, e o alcoolismo como resposta à dor – mesmo (ou especialmente) tentando proteger todo mundo.

Três fases de idade de Rebecca Pearson.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Rebecca Pearson é a matriarca que, após a morte de Jack, precisa criar os três filhos sozinha, e posteriormente (tempo futuro da série) enfrenta o avanço do Alzheimer em idade avançada. Rebecca transborda culpa. Carrega a dor de ser mãe, conselheira, companheira e, às vezes, vilã da própria família. Suas escolhas reverberam em todos os filhos, e ela precisa aprender a lidar com o fato de que não há roteiros prontos para acertar.

Três fases de idade de Randall Pearson.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Randall (Sterling K. Brown) é aula de trauma moderno: o menino negro adotado pela família branca, intelectualizado, bem-sucedido, mas nunca totalmente pertencente. É o filho nota dez que sempre carrega medo do abandono, crise de ansiedade, laços frágeis com origens que nunca pôde compreender de verdade.

Três fases de idade de Kevin Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Kevin (Justin Hartley), o galã de aparência perfeita, carrega o vazio clássico de quem vive à sombra do outro. O abandono paterno, a busca por aceitação, o vício mascarado em conquistas rasas. O trauma dele é a pergunta cotidiana “será que eu sou suficiente?”, e nunca, de fato, ser.

Três fases de idade de Kate Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Kate (Chrissy Metz) tem sua vida calcada em traumas invisíveis para todos, menos para ela. A pressão pela aprovação, os distúrbios alimentares, a culpa imensa por carregar memórias que doem mais do que qualquer deslize. Sem falar da trajetória sobre maternidade, gordofobia, insegurança e, principalmente, o medo (e desejo) de ser notada.

Os não-Pearsons, mas que também são Pearsons

Além do núcleo principal dos Pearson, This Is Us brilha ao desenvolver personagens “agregados” que se tornam fundamentais para a narrativa e trazem novas camadas aos traumas e afetos da série. Quatro deles merecem destaque especial:

Beth Pearson, esposa de Randall.

Beth Pearson (Susan Kelechi Watson) é a esposa de Randall e, sem dúvida, um dos personagens mais bem construídos da série. Mulher negra forte, inteligente e com personalidade marcante, Beth equilibra a ansiedade e perfeccionismo de Randall com pragmatismo e humor afiado. Seu arco explora desde a perda do pai na adolescência até a frustração de abandonar o sonho da dança, culminando na abertura de sua própria escola de ballet. Beth representa a parceira que não apenas complementa, mas desafia e fortalece seu cônjuge, formando com Randall um dos casais mais sólidos e admirados da TV recente. Sua relação com a mãe Carol (interpretada por Phylicia Rashad) também revela ciclos de exigência e aprovação que se repetem com suas próprias filhas, especialmente Tess.

Toby Damon, marido de Kate Pearson.

Toby Damon (Chris Sullivan) entra na vida de Kate como um raio de otimismo e humor em meio à sua luta constante com a autoestima. Inicialmente apresentado como alívio cômico, Toby ganha profundidade ao enfrentar depressão, problemas cardíacos e os desafios da paternidade. Seu relacionamento com Kate passa por altos e baixos intensos – desde a alegria do casamento e nascimento do filho Jack (que nasce prematuro e com deficiência visual) até o doloroso processo de divórcio nas temporadas finais. Toby representa como os agregados também trazem suas próprias bagagens emocionais para a dinâmica familiar, e como o amor, por mais genuíno que seja, nem sempre é suficiente para superar diferenças fundamentais.

Sophie Inman, o principal interesse amoroso de Kevin Pearson.

Sophie Inman (Alexandra Breckenridge) é o amor de infância de Kevin e representa o “e se…” que persegue sua vida. Desde crianças na escola, passando pelo casamento precoce que termina com a infidelidade de Kevin, até os reencontros na vida adulta, Sophie simboliza a busca por redenção e segunda chance. Seu arco mostra como alguns laços resistem ao tempo e aos erros, mesmo quando parecem definitivamente rompidos. Após relacionamentos fracassados de Kevin com outras mulheres (incluindo Madison, mãe de seus gêmeos), a série fecha o ciclo romântico dele justamente com Sophie, sugerindo que certos amores precisam de tempo e amadurecimento para funcionarem.

Miguel Rivas, o segundo marido de Rebecca Pearson.

Miguel Rivas (Jon Huertas), inicialmente apresentado como o melhor amigo de Jack, evolui para uma das figuras mais complexas da série ao se casar com Rebecca anos após a morte do patriarca. Seu relacionamento com ela representa um amor nascido da amizade e do cuidado mútuo, sempre sob a sombra da memória de Jack e a desconfiança inicial dos filhos de ambos. Com paciência infinita, Miguel aceita ser eternamente “o segundo”, nunca competindo com a memória coletiva tão forte do primeiro marido, mas construindo seu próprio espaço no coração de Rebecca. Nas temporadas finais, ele se torna seu guardião incansável durante o Alzheimer, sacrificando sua própria saúde até seus últimos dias, quando a série finalmente dedica um episódio inteiro para contar sua história completa, desde a infância em Porto Rico até sua morte, abordando temas como imigração, identidade cultural e a beleza dos amores que acontecem na maturidade.

Esses quatro personagens não são meros coadjuvantes – são pilares que sustentam e expandem o universo emocional dos Pearson, frequentemente servindo como espelhos que refletem traumas não resolvidos ou como catalisadores de crescimento.

Além disso, a magia de This Is Us também reside nos personagens que, mesmo em passagens breves, deixam marcas permanentes na trama e em nossos corações.

William Hill (Ron Cephas Jones), o pai biológico de Randall que surge apenas na primeira temporada antes de sucumbir ao câncer, é talvez o exemplo mais poderoso dessa dinâmica. Em poucos episódios, William transforma completamente a vida do filho que nunca pôde criar, oferecendo-lhe não apenas respostas sobre suas origens, mas também uma filosofia de vida marcada pela poesia, música e aceitação da impermanência.

Outros personagens como Dr. K (Gerald McRaney), o obstetra que ajuda Jack a transformar a tragédia em esperança no nascimento dos trigêmeos; Nicky Pearson (Griffin Dunne), o irmão de Jack dado como morto no Vietnã e redescoberto décadas depois; e Deja (Lyric Ross), a adolescente adotada por Randall e Beth, carregam histórias que, embora não ocupem o centro da narrativa durante toda a série, são fundamentais para entendermos como traumas podem ser tanto herdados quanto curados através de gerações.

Esses personagens “de passagem” ou não, nos lembram que, na vida real, algumas das pessoas mais transformadoras em nossas jornadas são aquelas que, às vezes, estão conosco por apenas uma estação – mas cuja influência permanece para sempre. Através deles, This Is Us reforça que família vai muito além dos laços de sangue, sendo construída também por escolhas, compromissos e pelo amor que resiste às imperfeições de todos.

Mas, nem tudo são flores em This Is Us… (Ou melhor, arco-íris)

O curto arco LGBTQIAP+ de This Is Us – Tess Pearson com Alex.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Apesar de todas as suas qualidades, This Is Us apresenta uma falha significativa que não pode ser ignorada: a falta de personagens LGBTQIAP+ na trama. O único arco revolve em Tess Pearson (interpretada por Eris Baker), filha de Beth e Randall, mas mesmo ele patina na falta de aprofundamento.

Tess vive seu rito de passagem ao se reconhecer lésbica na pré-adolescência, o que já é um ponto positivo por trazer uma jovem negra e queer para o centro das atenções de uma grande série dramática. Contudo, esse potencial é rapidamente desperdiçado em função de escolhas narrativas que abafam o arco próprio da personagem.

Em vez de colocar Tess no centro de uma discussão mais profunda sobre autoconhecimento, aceitação e os desafios de ser uma jovem queer, o roteiro transfere o peso do drama para Beth, sua mãe. Assim, os conflitos de Tess deixam de ser realmente seus e tornam-se uma extensão do “mommy issue” de Beth – problemática que, por sua vez, ecoa a criação da própria Beth, também cheia de cobranças maternas e busca por aprovação. A situação de Tess vira pano de fundo para mais um ciclo geracional de insegurança, e não um mergulho no que significa ser uma adolescente lésbica.

Confira também:

Inclusive, os momentos em que Tess traz à tona suas ansiedades e medos de não ser aceita mal têm tempo de se desenvolver na tela. Logo após surgirem, são rapidamente engolidos por tramas familiares mais amplas ou se perdem em debates sobre “rebeldia” adolescente, como se a orientação sexual dela fosse apenas mais um traço típico do coming-of-age, e não um ponto de vulnerabilidade, orgulho e crescimento individual.

Outro exemplo de oportunidade perdida é o relacionamento entre Tess e Alex, uma pessoa não-binária apresentada como seu interesse romântico. Essa relação surge e desaparece quase sem impacto, sem qualquer aprofundamento sobre as nuances de viver um relacionamento LGBTQIAP+ na adolescência, sobre construção de identidade ou enfrentamento do preconceito. Para efeitos de comparação, o arco de Deja (Lyric Ross), irmã adotiva de Tess, com o namorado Malik (Asante Blackk), ganha muito mais desenvolvimento, tempo de tela e emoção — mostrando um nítido desequilíbrio narrativo.

Essa superficialidade empobrece a experiência e reforça a sensação de que This Is Us priorizou, acima de tudo, histórias heteronormativas e traumas já considerados “clássicos” na TV, relegando a vivência queer aos bastidores, quase como um “checkbox” de diversidade e não como genuína vontade de discutir novas camadas da experiência humana. Como apontam outras análises, fica evidente o quanto o tema gay é subaproveitado, mesmo numa série conhecida por jogar luz sobre todas as formas de traumas familiares.

O resultado, portanto, é uma falta sentida: havia espaço de sobra para transformar a trajetória de Tess – e de outros possíveis personagens LGBTQIAP+ – em algo tão intenso, rico e emocionalmente relevante quanto os arcos centrais da série. O pouco que se aborda fica eclipsado por questões mais amplas, e a ausência de outras narrativas queer reforça ainda mais esse déficit representativo.

Enfim… por que dói (tanto) assistir This Is Us?

A família Pearson, com os trigêmeos por volta de 8 anos de idade, posando num cenário de festa de aniversário como em uma foto de família.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Cada personagem central de This Is Us representa um trauma específico: Jack carrega o peso esmagador da responsabilidade; Rebecca enfrenta as culpas infinitas da maternidade; Randall luta constantemente com questões de pertencimento; Kevin persegue incansavelmente a aprovação que nunca parece suficiente; e Kate navega pelas águas turbulentas da insegurança com o corpo e os desafios da maternidade. Porém, o verdadeiro gênio da série está em como esses traumas individuais se entrelaçam para formar uma tapeçaria familiar complexa e reconhecível.

Um dos maiores méritos é conseguir tirar lágrimas até de quem jura que não se abala. E não é à toa: cada episódio é cheio de cotidiano, de situações banais (quem nunca discutiu por causa de uma receita de família, por exemplo?) e diálogos tão familiares que é impossível não se reconhecer ali. Nesse sentido, This Is Us transcende o rótulo de “dramalhão” para se tornar um espelho sincero da experiência humana.

O uso alternado de passado, presente e futuro serve principalmente para ilustrar que cicatrizes não desaparecem – elas só mudam de formato. O trauma não tem idade certa, não avisa, não pede licença: às vezes é um olhar atravessado, outras vezes um aniversário esquecido, às vezes só um “desculpa” que ficou engasgado por anos. E é justamente nessa honestidade brutal sobre como carregamos nossas feridas que a série encontra sua universalidade.

Mesmo tendo encerrado sua jornada em maio de 2022, This Is Us permanece tão relevante quanto no dia de sua estreia. Disponível no Brasil através do Star+ (Disney+), a série continua sendo uma experiência essencial para quem busca narrativas que não apenas entretêm, mas também curam.

Os atores adolescentes dos trigêmeos de This Is Us.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Nunca é tarde para conhecer os Pearson e, através deles, talvez entender melhor suas próprias histórias familiares, seus próprios traumas – mesmo aqueles que você jurava não ter.

Afinal, como This Is Us nos ensinou ao longo de seis temporadas: somos todos feitos de memórias imperfeitas, decisões questionáveis e pequenos momentos de redenção.

E this is exatamente que nos torna humanos.

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Biotecnologia | A “desextinção” dos lobos de Game of Thrones https://oquartonerd.com.br/biotecnologia-a-desextincao-dos-lobos-de-game-of-thrones/ https://oquartonerd.com.br/biotecnologia-a-desextincao-dos-lobos-de-game-of-thrones/#respond Wed, 07 May 2025 13:45:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68284 Nos últimos dias, a internet quebrou completamente de fofura e especulação com a divulgação do nascimento de três lobos pré-históricos! Sabe aquele momento em que a ficção científica pula o....

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Nos últimos dias, a internet quebrou completamente de fofura e especulação com a divulgação do nascimento de três lobos pré-históricos!

Sabe aquele momento em que a ficção científica pula o muro, invade a nossa realidade e você se vê tentando entender se está lendo uma hard news, uma crônica da HBO ou o roteiro de um novo capítulo de Black Mirror?

A notícia do nascimento de Romulus, Remus e Khaleesi, os três filhotes de lobo-terrível (a espécie de lobo extinto há cerca de 12 mil anos), reproduzidos a partir de manipulação de DNA em laboratórios da Colossal Biosciences, foi assim!

Se você é fã de Game of Thrones, aposto que lembrou rapidinho dos lobos gigantes, companheiros letais (e adoráveis) da família Stark. A diferença? Agora, não é CGI, efeito prático de set ou truque de edição. De repente, a ideia de encontrar um lobo desses não é exclusiva das terras geladas de Winterfell, mas, quem sabe, do seu próximo rolê no zoológico?

Pois é. A ciência está, mais uma vez, elevando os limites entre o que é possível e o que é pura especulação nerd. Por isso, nós do QN resolvemos reunir as últimas descobertas do mundo da biotecnologia, para você poder embarcar com a gente nessa jornada pelo mundo louco da “desextinção”, onde todo bicho extinto tem uma chance e todo geneticista é um pouco Dr. Frankenstein (ou Dr. Wu, para os apaixonados por Jurassic Park). 

Desextinção – ou “quando a biotecnologia decide bancar George R. R. Martin”

Romulus e Remus filhotinhos, dois dos "lobos-terríveis" recriados pela Colossal Biosciences.

(Imagem: USA Today / Reprodução)

A primeira pergunta que muita gente faz é: desextinção existe mesmo ou é só nome de banda indie? Resposta direta: existe e está caminhando a passos de mamute (rs)!

Antes, “laboratório” era sinônimo de cientistas rabugentos cercados de tubos de ensaio coloridos. Hoje, esses mesmos laboratórios reúnem equipes multidisciplinares com hackers do DNA, engenheiros de dados, paleontólogos, ecólogos e, claro, investidores sonhadores (ou doidos). O objetivo? Ressuscitar espécies que sumiram do mapa — algumas graças à natureza, outras por conta direta da ação humana.

E como isso funciona? A lógica é assim:

  • Recuperação do DNA: cientistas vasculham fósseis, ossos preservados ou até dentes eternizados no gelo em busca de fragmentos de DNA.
  • Reconstrução genômica: com esses pedacinhos de material genético, uma equipe de nerds do bem usa bioinformática para reconstruir o “manual de montagem” da espécie perdida.
  • Edição genética e clonagem: usando tecnologias como CRISPR (a “tesoura” genética que virou protagonista de toda aula de biologia moderna), fragmentos desse DNA são inseridos em células de um parente vivo — lobos, elefantes, cangurus, o que der!
  • Gestação e nascimento: com sorte, o novo embrião pode se desenvolver, ser gestado por uma mãe substituta (de outra espécie, geralmente), e voilà — você tem sua “criatura ressuscitada”.

Simples?

De jeito nenhum.

É uma engenharia genética que faz Hogwarts parecer jardim de infância.

Leia também:

O curioso caso dos lobos-terríveis: de Westeros para sua timeline

Os lobos Romulus e Remus descansando sobre uma réplica do Trono de Ferro da série Game of Thrones.

(Imagem: CNN / Reprodução)

Agora sim, aos holofotes: o lobo-terrível, que atende pelo nome pomposo de Aenocyon dirus.

Esqueça o cachorro-quente de Osasco ou o pastor alemão da vizinha — esse dinossauro em versão canina foi o topo da cadeia alimentar por milhares de anos, caçando mamutes, bisões e, quem sabe, até humanos paleolíticos desavisados.

Você pode até nunca ter ouvido falar do animal antes dos livros e séries, mas na cultura pop ele virou sinônimo de bravura selvagem. Em Game of Thrones, os “direwolves” (nome popular desses lobos em inglês) não são só mascotes: são símbolos dos Stark, mistura de força, lealdade e mitologia ancestral.

Quando uma empresa de biotecnologia anunciou que conseguiu combinar DNA fossilizado do lobo-terrível com o de lobos modernos, rebatizou o projeto como se fosse campanha de marketing de Westeros: direwolves de volta à vida. George R. R. Martin entrou como investidor, posou para fotos, a internet foi à loucura, memes choveram e, claro, reabriram debates sobre os limites da ética científica.

Mas, espera: o que é real e o que é “fanservice científico”?

Na prática, não estamos vendo um clone perfeito do Aenocyon dirus original, pois o DNA antigo é muito fragmentado. O que sai do laboratório, no fundo, é um animal híbrido – um lobo-cinzento inspirado no terrível –, reconstruído a partir de tudo que a ciência conseguiu colar junto. Se é 100% igual ou só parente distante? Eis o debate. Mas pro Instagram já vale, né? E para o avanço científico, mais ainda.

Assim, entendemos que a escolha pelo lobo-terrível não é por acaso. Seu parentesco com lobos modernos é suficiente para preencher lacunas genéticas, e a aura mítica ajuda a transformar ciência em entretenimento — e, claro, a levantar fundos para próximas rodadas de investimento.

Outras espécies quase saindo do laboratório

O lobo-terrível está surfando na onda midiática, mas há uma galera na fila (ou na prancheta digital dos laboratórios):

Mamute-lanoso (Mammuthus primigenius)

Mamute-lanoso.

(Imagem: Revista Planeta / Reprodução)

Estrela dos filmes como A Era do Gelo e de tudo quanto é documentário Discovery Channel, o mamute é praticamente o mascote da desextinção — talvez porque é peludo, carismático e um pouco menos assustador que um velociraptor. Projetos estão tentando criar híbridos de mamute com elefantes asiáticos, na esperança de restaurar funções ecológicas perdidas no Ártico (como pisotear o solo e manter o permafrost congelado). Quem tá tocando esse projeto é ninguém menos que a própria Colossal Biosciences e o laboratório Revive & Restore (ambos dos Estados Unidos), com a previsão de divulgar um mamute-bebê até 2028.

Tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus)

Tigre-da-tasmânia.

(Imagem: XXX / Reprodução)

Não satisfeito em protagonizar episódios de O Mundo Perdido, esse marsupial australiano extinto nos anos 1930 tem defensores apaixonados. Pesquisadores tentam extrair DNA de peles, ossos e até de bichos conservados em álcool — tudo para um dia cloná-lo (e pedir desculpas pelo extermínio causado por humanos sem-noção). A pesquisa também está sendo aprofundada pela Colossal Biosciences – dessa vez, em parceria com a Universidade de Melbourne (Austrália). 

Pombo-passageiro (Ectopistes migratorius)

Pombo-passageiro.

(Imagem: Brasil Escola; UOL / Reprodução)

Já pensou milhares de pássaros sobrevoando o céu norteamericano como antigamente? Biólogos já tentam ressuscitar o pombo-passageiro, símbolo de como a ação humana tem o poder de dizimar… e talvez restaurar. Quem lidera esse estudo atualmente é a Revive & Restore, usando técnicas de edição de DNA e reprodução com pombos modernos.

Dodô (Raphus cucullatus)

Dodô.

(Imagem: Superinteressante; Abril / Reprodução)

O pássaro que virou lenda urbana por ser “desastrado e burro”, extinto séculos atrás, ainda é tema de sonho de consumo em laboratórios (e ilustra memes dos limites da ciência). A Colossal Biosciences recentemente recebeu financiamento específico para sequenciar o genoma do dodô e trabalha no desenvolvimento de embriões geneticamente modificados que possam resultar numa reintrodução dessa espécie extinta.

Auroque (Bos primigenius)

Auroque.

(Imagem: Wikipédia / Reprodução)

Diferenciando-se das demais em abordagem, a Fundação Taurus (empresa holandesa) aposta em reprodução seletiva para ressuscitar características do auroque em raças de gado modernas, sem apelar diretamente à engenharia genética. Esse bovino que deu origem a todos os bovinos que conhecemos hoje foi extinto no século XVII devido à caça excessiva e à perda de habitar – o último exemplar morreu em 1627 na Polônia.

Se o mercado de nostalgia genética pegar, podemos ver mil e uma espécies desfilando por aí — só falta o cupom de desconto para pré-venda das “novas” velharias biológicas. 😛

Ética, impacto ambiental e aquele eterno “será que devemos?”

Cena de Jurassic Park: T-Rex rugindo.

(Imagem: Universal Pictures / Divulgação)

Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou em ver um dinossauro ao vivo — mas antes de abrir as portas do Jurassic Park (de preferência sem bug de segurança, obrigada), precisamos olhar para os desafios éticos e ambientais que tal situação poderia nos gerar.

Confira agora:

É de se pensar: é justo focar recursos em ressuscitar espécies extintas enquanto tantas vivas estão morrendo agora mesmo? O risco disso é a desextinção virar solução mágica que mascara problemas reais, como desmatamento, tráfico de animais, poluição e crise climática.

Além disso, esses animais “ressuscitados” teriam bem-estar? Lobos-terríveis do século XXI teriam espaço suficiente, comida adequada, companhia da sua espécie? Ou viveria como peça de museu, prisioneiro do próprio sucesso midiático?

E mais uma porção de perguntas: A quem pertence geneticamente uma nova criatura dessas? Se alguém criar um mamute, ele é “natureza preservada” ou propriedade privada da empresa criadora? 

Por fim, e os impactos ambientais? E o ecossistema, aguenta? Animais “retornados” podem portar doenças históricas, ou se tornarem competitivos demais, ameaçando espécies de hoje. Pro mundo em 2025, introduzir um predador gigante pode ser o mesmo que instalar um aplicativo experimental no seu PC velho: resultado imprevisível, bugs, e aquele “trava tudo e reza”.

A ficção já avisou: é fácil criar problemas tentando solucionar outros, especialmente com o mesmo pensamento mágico que nos trouxe até aqui.

Um futuro de lobos gigantes, dinossauros e… responsabilidade

(Imagem: HBO / Reprodução)

Nerd que é nerd respira curiosidade, e o avanço da biotecnologia é puro combustível para teorias sobre o que poderíamos ver daqui a alguns anos: mamutes na Sibéria, lobos-terríveis em reservas, tigres-da-tasmânia pulando por parques australianos. Quem sabe até dinossauro, se algum geneticista for muito ambicioso (ou tiver assistido todos os filmes da franquia errada, rs).

Não falo que acredito nisso, mas se alguém te oferecer um tour de domingo por um parque com réplicas fidedignas dos monstros do passado, já sabe: vá pronto para correr, tirar foto e, de preferência, não acionar nenhum botão vermelho.

Enquanto isso, que tal usarmos esse poder de “roteiristas genéticos” para salvar as tantas espécies que estão na beira do abismo? A ficção nos ensina — nem sempre mexer com a linha do tempo termina bem. Mas, quem sabe, com um pouquinho de juízo, conseguimos resgatar o melhor do passado sem deixar o presente para trás. :))

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Quarteto Fantástico | Porque o filme Josh Trank fracassou? https://oquartonerd.com.br/quarteto-fantastico-porque-o-filme-josh-trank-fracassou/ https://oquartonerd.com.br/quarteto-fantastico-porque-o-filme-josh-trank-fracassou/#respond Fri, 25 Apr 2025 13:30:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68286 O tão aguardado novo longa do Quarteto Fantástico, da Marvel Studios, chegará aos cinemas em um pouco mais de um mês do aniversário de 10 anos de sua última adaptação,....

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O tão aguardado novo longa do Quarteto Fantástico, da Marvel Studios, chegará aos cinemas em um pouco mais de um mês do aniversário de 10 anos de sua última adaptação, dirigida por Josh Trank. Mas afinal, o que realmente aconteceu para que aquela versão se tornasse um fracasso retumbante e fosse praticamente esquecida pelo público?

Quem é o diretor Josh Trank?

Josh Trank é um diretor e roteirista norte-americano que ganhou notoriedade ao dirigir “Poder Sem Limites” (2012), um sucesso de crítica com 85% de aprovação no Rotten Tomatoes. Antes disso, teve uma breve carreira como ator, com participações na dramédia “Big Fan” (2009) e na série de comédia “Arrested Development” (2003–2019).

Em 2009, a 20th Century Fox anunciou que pretendia rebootar o universo do Quarteto Fantástico nos cinemas. A princípio, o roteiro ficaria por conta de Akiva Goldsman (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2001), Michael Green e Jeremy Slater. Embora Josh Trank estivesse em negociações desde o início, sua contratação como diretor só foi oficializada em 2013, e as filmagens foram logo programadas para começar.

Trank vs. Fox/Marvel

Os primeiros problemas do longa surgiram ainda na fase criativa. Desde o início, o diretor Josh Trank deixou claro que não era fã de filmes de super-heróis. Sua única inspiração era a série animada do Quarteto Fantástico de 1994, que assistira quando criança. Enquanto isso, o roteirista Jeremy Slater, que já havia começado a desenvolver o roteiro, tinha uma abordagem mais voltada ao universo dos quadrinhos. Ele queria incluir vilões clássicos como Galactus e o Toupeira, além de cenas de ação grandiosas, inspiradas no sucesso de Os Vingadores (2012).

Trank, por outro lado, tinha uma visão mais sombria e introspectiva, com foco no drama psicológico dos personagens — um tom bem diferente do que Slater propunha, gerando infelizmente a demissão do roteirista.

De acordo com uma fonte do Hollywood Reporter, o diretor mantinha-se frequentemente incomunicável no set e pouco interagia com os atores, que se sentiam perdidos. Rumores também apontavam que ele enfrentava problemas de bastidores, como processos por barulho causado por seus cães nos sets.

Conflitos com o elenco também surgiram, especialmente com Miles Teller, que não era a escolha inicial de Trank para viver Reed Richards. O diretor ainda teria sugerido uma atriz negra para interpretar Sue Storm, mas o estúdio teria vetado a ideia, gerando mais tensão.

Diante do corte entregue por Trank, a Fox se mostrou insatisfeita e exigiu refilmagens para suavizar o tom do roteiro. No entanto, as mudanças atrasaram devido à agenda dos atores principais, como Kate Mara, Teller e Michael B. Jordan.

O estúdio então convocou os experientes produtores Matthew Vaugham, Simon Kinberg e Hutch Parker para finalizar o projeto, que sequer estava totalmente editado quando o elenco começou a promovê-lo.

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As consequências pós-lançamento

Lançado em agosto de 2015, o longa foi um verdadeiro desastre. Com dois tons narrativos completamente diferentes, personagens sem carisma, efeitos visuais inacabados e um roteiro frágil, o filme foi duramente criticado por público e imprensa especializada. Tornou-se um dos maiores fracassos da Marvel/Fox antes da compra do estúdio pela Disney.

O desempenho nas críticas foi ainda mais decepcionante: apenas 9% de aprovação no Rotten Tomatoes — muito inferior às versões anteriores dirigidas por Tim Story nos anos 2000, que, apesar das críticas, conseguiram 27% e 37% e conquistaram a simpatia dos fãs pela leveza e carisma do elenco.

Em termos financeiros, a bilheteria também foi um fracasso: arrecadou cerca de US$ 168 milhões mundialmente — valor abaixo do esperado para um blockbuster. Em comparação, o filme de 2005 fez quase US$ 160 milhões apenas nos EUA e US$ 334 milhões no total, segundo o Box Office Mojo. A consequência foi inevitável: uma possível sequência foi cancelada.

Em 2016, o filme foi indicado a diversos prêmios no infame Framboesa de Ouro, vencendo em três categorias: Pior Filme, Pior Direção e Pior Reboot/Continuação. Entre os concorrentes estavam obras como “Cinquenta Tons de Cinza”, “Alvin e os Esquilos 2” e “O Destino de Júpiter”.

Já Trank, teve apenas um lançamento desde 2015, o longa ‘Capote’ que chegou com uma recepção mista, recebendo um 4,7/10 do site Rotten Tomatoes. Até hoje,fãs pedem o ‘Trank cut’, mas Trank pelo X disse que ‘ eles não deveriam fazer campanha para a divulgação ‘ dessa versão.

Quarteto de novo nos cinemas

Com o novo filme do Quarteto Fantástico chegando pelas mãos da Marvel Studios, muitos se perguntam: será que finalmente veremos uma versão digna da Primeira Família da Marvel? A resposta ainda está por vir. Mas se o passado nos ensinou algo, é que até mesmo os maiores heróis podem tropeçar… e que toda grande equipe merece uma segunda chance.

Resta saber se, desta vez, o Quarteto conseguirá salvar não só o mundo — mas também sua reputação nas telonas. Quarteto Fantastico: Primeiros Passos estreia dia 25 de julho nos cinemas.

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RUPTURA E A REGRA 60:30:10 https://oquartonerd.com.br/ruptura-e-a-regra-603010/ https://oquartonerd.com.br/ruptura-e-a-regra-603010/#respond Wed, 16 Apr 2025 20:02:06 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68262 RUPTURA encerrou a segunda temporada no último dia 20 de Março trazendo mais dúvidas do que esclarecimentos acerca de qual é a real intenção da Lumon e o que se....

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RUPTURA encerrou a segunda temporada no último dia 20 de Março trazendo mais dúvidas do que esclarecimentos acerca de qual é a real intenção da Lumon e o que se dará com os “internos”, como são chamados os funcionários dentro da empresa. Caso ainda não tenha conferido, RUPTURA é uma serie de ficção científica da Apple TV+ em que funcionários são submetidos a um procedimento em que suas memórias pessoais e profissionais são separadas. Dessa forma, quem realiza o procedimento tem permanentemente sua consciência fragmentada, não conseguindo lembrar o que acontece na empresa enquanto está fora dela e vice-versa. Por isso, a série traz diversos questionamentos sobre identidade, controle da corporação sobre o funcionário, abusos dessas corporações e livre arbítrio.

Com tantos temas importantes sendo discutidos, não é de se espantar que a série seja um sucesso de crítica e também de público. Recentemente tornou-se a série mais vista da história da Apple TV+, ultrapassando a antiga queridinha Ted Lasso. Desse modo, o streaming conseguiu um aumento de 126% de novos assinantes, uma marca importante para a Apple TV+. Felizmente o serviço de streaming confirmou que haverá a 3° temporada de RUPTURA. E Ben Stiller (A Vida Secreta de Walter Mitty), diretor da série, disse que não irá demorar muito para sabermos o que aconteceu com Mark Helly e Dylan na Lumon.

Confira também:

Um dos motivos da série ter tanto sucesso é a perfeita sinergia entre a direção com a direção de arte e a fotografia. Assim, unindo esses três elementos, temos a entrega de uma história densa e tensa feita com perfeição.  Ao utilizar a regra 60:30:10, que guia com maestria nosso olhar para aquilo que os criadores querem chamar a atenção, a série consegue transmitir emoção sem desviar o foco da narrativa. Dessa forma, cria-se a atmosfera perfeita para você absorver todas as informações que são passadas (e olha que são muitas) sem ficar com aquela sensação de que não está acompanhando a trama.

O que é a regra 60:30:10

A regra 60:30:10 é muito utilizada no design de interiores para criar paletas de cores que sejam, ao mesmo tempo, visualmente agradáveis e equilibradas. Nela, utilizam-se três cores em proporções diferentes. Como exemplo imagine uma sala. 60% dos elementos dela serão a cor dominante, ou seja, que irá prevalecer no ambiente. 30% dos elementos será a cor secundária (ou complementar). Neste caso a cor secundária serve para destacar algum elemento, como um sofá. É importante dizer que a cor escolhida para ser a secundária deve ser harmoniosa com a cor dominante, pois irá adicionar contraste e profundidade ao ambiente. Por último, 10% dos elementos terão uma cor de impacto, usada para atrair a nossa atenção para detalhes específicos do ambiente, como uma almofada ou uma obra de arte. Neste caso, a cor escolhida geralmente é ousada e contrasta em relação às duas anteriores.

Crédito: Avenue Realty Group

Na imagem acima é possível ver o uso da regra em prática. O azul da parede e do tecido da poltrona marcam a cor dominante, em maior quantidade. Já o marrom, utilizado pelos móveis de madeira, compõe a cor complementar. Para finalizar, temos o amarelo da almofada, cor esta que contrasta com o azul e atrai nossa atenção.

Como Ruptura usa a regra na série

O cérebro humano processa milhares de detalhes visuais de uma só vez. Em uma série ou filme onde há o uso excessivo das cores, pode causar uma confusão visual, que faz com que a gente não consiga focar na história. Assim, usando apenas algumas cores dominantes mantemos a atenção na narrativa sem distrações. Ao utilizar uma paleta com cores limitadas, as cores individuais ficam com um significado maior devido ao princípio psicológico da relativização da cor. Uma única cor cercada por tons neutros parece mais viva e com um impacto emocional maior do que em uma cena cheia de cores. Isso ocorre, pois o cérebro processa a cor contextualmente e quanto menos cores competindo numa cena, mais força a cor terá. Quando menos cores estão presentes o olho naturalmente foca nos contrastes e elementos chaves.

Confira também:

Isso cria uma hierarquia visual em que certos elementos saltam da tela enquanto outros permanecem de fundo. Isso é especialmente importante para conduzir a atenção do espectador quanto ao fio narrativo. E é aí que o princípio do 60:30:10 se aplica. Uma diretriz amplamente usada em design e cinema, a regra 60:30:10 organiza as proporções de cores para criar harmonia visual e guiar a atenção do espectador. Ao estabelecer uma cor dominante, uma cor secundária e uma cor de destaque, os cineastas podem criar uma paleta visual coesa que parece equilibrada e intencional.

Temporada 2, episódio 3 – Quem está viva?

Na imagem acima é possível ver que o enquadramento escolhido pelo diretor conta com 60% de branco, vindo das paredes e animais, 30% de verde, da drama e 10% de azul, da roupa dos funcionários. Dessa forma, é possível notar que a cor majoritária é aquela que personifica a empresa, enquanto as cores de realce é notada naquilo que destoa da imagem. No caso desta cena específica, Mark e Helly estão fora de seus lugares de trabalho. Sendo assim, são os que estão destacados no enquadramento.

Outros exemplos do uso do 60:30:10?

Apesar de RUPTURA utilizar a teoria 60:30:10 com maestria, não é o primeiro produto audiovisual que utiliza a teoria. Mad Max: Estrada da Fúria e La La Land também utilizam a regra. Abaixo temos o exemplo de ambos os casos:

O amarelo é a cor dominante em Mad Man – Estrada da Fúria, o que faz sentido com a trama, pois o filme se passa no deserto. O azul acizentado é a cor complementar, vista principalmente pelo céu. Por fim, o vermelho é a cor de realce, vista tanto pelo uniforme do guitarrista quanto nas explosões que ocorrem. Em um filme de ação, faz sentido que chame a atenção para as cenas de ação, principalmente aquelas que envolvem explosões.

Já em La La Land, a cor que domina a cena é o azul, seguido pelo rosa do entardecer. A cor que contrasta com o azul e que chama a nossa atenção é o amarelo, visto no vestido de Mia. Assim, com a regra do 60:30:10 em mente, podemos ver os filmes e séries com outros olhos, analisando uma camada a mais.

Mas e você? Já notou o uso do 60:30:10 em algum filme ou série? Conte para nós!

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Invencível | O que podemos esperar a partir de agora https://oquartonerd.com.br/invencivel-o-que-podemos-esperar-a-partir-de-agora/ https://oquartonerd.com.br/invencivel-o-que-podemos-esperar-a-partir-de-agora/#respond Fri, 28 Mar 2025 13:37:49 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68251 Invencível teve sua primeira temporada lançada em março de 2021 e, após quatro anos, chegou à terceira temporada, trazendo a adaptação de um dos maiores pontos de virada da história....

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Invencível teve sua primeira temporada lançada em março de 2021 e, após quatro anos, chegou à terceira temporada, trazendo a adaptação de um dos maiores pontos de virada da história original. Com essa nova temporada, fica evidente que a Prime Video está realizando uma adaptação bastante fiel aos eventos da obra original.

Se você tem curiosidade sobre o que esperar da próxima temporada da animação, confira abaixo os próximos passos dessa história!

[Atenção! A partir daqui spoilers da história em quadrinhos de Invencível! Siga por sua conta e risco!]

Confira também:

Na terceira temporada da série, chegamos a um momento crucial para o crescimento de Mark como super-herói: a Guerra dos Invencíveis. Apesar de ser um evento marcante, especialmente pela chegada de Conquest e seu embate com Mark, essa guerra não se compara ao impacto da Guerra contra os Viltrumitas, o próximo grande arco da história. Por isso, é esperado que esse conflito seja abordado na quarta temporada.

A Guerra contra os Viltrumitas

Seguindo a ordem cronológica dos quadrinhos, veremos o início (e provavelmente também o desfecho) da guerra entre a Coalizão de Planetas e o Império Viltrumita. No entanto, antes do conflito em si, acompanharemos Nolan e Allen se preparando para enfrentar os quase invencíveis viltrumitas, buscando aliados e armas capazes de derrotá-los.

É muito provável que tudo isso aconteça em paralelo à história de Mark na Terra, enquanto ele lida com as consequências dos eventos do final da terceira temporada. E é claro que veremos mais do relacionamento de Mark e Eve nessa quarta temporada, porém tudo vai ficar de lado com a chegada da guerra.

Se tudo acontecer como nos quadrinhos, veremos Nolan e Allen indo para a terra para recrutar Mark, Oliver e Tech Jacket para o seu lado. E na viagem de ida para a Coalizão dos Planetas nós teremos uma grande revanche….

Conquista retorna para sua revanche

Como vimos no final da terceira temporada, Conquista não morreu e está preso no subsolo da terra se recuperando. No entanto, a prisão feita por Cecil não vai segurar o psicopata por muito tempo e ele vai escapar e voltar para reportar seu fracasso.

E com isso teremos mais uma batalha entre Mark e Conquista, e dessa vez o vilão terá um final definitivo, mas não sem deixar sequelas em Mark. No final da batalha Mark quase morre e tem que ficar durante meses em repouso com seu pai e irmão cuidando dele.

O breve momento de recuperação do Invencível vai durar alguns meses enquanto a guerra continua sem perde fôlego. Contudo, o Conquista não é a maior ameaça que veremos nessa temporada, mas sim outro personagem que é muito mais perigoso do que ele.

O grande vilão de Invencível finalmente dá as caras

Invencivel

Em meio ao caos da guerra interplanetária, testemunharemos a primeira aparição do maior vilão de Invencível: Regent Thragg. Ele é a figura responsável por manter Viltrum como a maior força bélica do universo após a devastação causada pelo Vírus Praga.

Treinado desde o nascimento para governar Viltrum até que um herdeiro de sangue do falecido Rei Argall fosse encontrado, Thragg representa o ápice da força viltrumita. Habilidoso, implacável e extremamente astuto, ele é um oponente à altura de qualquer herói.

Além de sua ameaça direta, Thragg também desencadeia um perigo oculto para a Terra. Após o fim da guerra e a destruição do planeta Viltrum pela Coalizão, ele toma uma decisão que coloca Mark e toda a humanidade em xeque: levar os viltrumitas sobreviventes para a Terra.

Com o plano de repopular os viltrumitas, Thragg e seus seguidores vão todos para a terra e vão começar a viver como humanos disfarçados. Com a promessa se não atacarem e nem defenderem a terra de qualquer ameaça externa, no final Viltrum está na terra e o Invencível não poder nada sobre isso.

Provavelmente o arco envolvendo toda o núcleo dos Viltrumitas se encerre nesse momento. Contudo o final da terceira temporada deixou em aberto mais uma coisa que não existe na obra original.

Invencível contra o Inferno?

Invencivel

Na cena pós-crédito do último episódio, nós vemos que Damian Darkblood está em contato com o que parece ser um grande demônio. Na conversa entre Damian e esse demônio eles falam sobre possuir uma pessoa que possui um coração negro, e tudo indica que essa pessoa possa ser o Invencível.

Como esse é um arco que não existe nos quadrinhos, essa história ainda está meio no escuro para qual lado ela irá seguir. É provavél que vejamos esse arco acontecendo antes da Guerra Viltrumita e talvez seja apenas um meio arco para termos um “esquenta” para coisas maiores.

Mas e você, o que achou da terceira temporada de Invencível? Está esperando grandes coisas das próximas temporadas? No conte nos comentários.

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Por que gostamos tanto de reality shows? https://oquartonerd.com.br/por-que-gostamos-tanto-de-reality-shows/ https://oquartonerd.com.br/por-que-gostamos-tanto-de-reality-shows/#respond Tue, 25 Mar 2025 21:47:01 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68257 Em época de BBB sempre em alta nas redes sociais, nós, do QN, decidimos elaborar alguns dos motivos pelos quais amamos reality shows… Antes de mais nada, é importante contextualizar:....

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Mulher assistindo TV com um sorriso no rosto.

Em época de BBB sempre em alta nas redes sociais, nós, do QN, decidimos elaborar alguns dos motivos pelos quais amamos reality shows

Antes de mais nada, é importante contextualizar: afinal, o que é um programa reality? Esse gênero de programa é conhecido por sua abordagem não roteirizada e, portanto, por capturar a vida cotidiana, as interações sociais, os desafios estipulados pelos diretores entre os participantes. 

Confira também:

Nesse sentido, devido à exposição intensiva e, muitas vezes, sem cortes, às câmeras, bem como a premissa de isolamento (isto é, na maioria dos realities, os participantes não sabem qual é a receptividade do público), muitas questões em relação à ética e à privacidade são abordados…

A história dos reality shows

John de Mol, criador do BBB, o reality show mais famoso do Brasil.

(Imagem: Terra / Reprodução)

A “reality TV” tem raízes na tradição do documentário, mas o formato evoluiu ao longo do tempo para se tornar uma forma de entretenimento popular. O termo “reality show” refere-se a programas de televisão que retratam situações da vida real, muitas vezes envolvendo pessoas comuns em vez de atores profissionais.

O conceito começou a se desenvolver na década de 40 e 50, com programas como Candid Camera (CBS, 1960), que capturava as reações de pessoas a situações inusitadas e era uma forma inicial de reality show cômico. No entanto, o verdadeiro boom dos realities ocorreu nas últimas décadas do século XX e início do século XXI.

O pioneiro moderno muitas vezes citado é The Real World, que estreou em 1992 na MTV. Este programa colocava um grupo de estranhos em uma casa juntos e documentava suas interações diárias. Já Survivor, um reality show de competição, onde os participantes precisavam trabalhar para sobreviver frente às adversidades de uma ilha deserta, também desempenhou um papel significativo na popularização do gênero. Ele estreou nos Estados Unidos em 2000 e rapidamente se tornou um sucesso global.

John de Mol é um proeminente produtor de televisão e bilionário holandês, amplamente reconhecido como o “pai dos reality shows“. Sua notoriedade advém de sua influência na criação de diversos programas desse gênero por meio da empresa de comunicações Endemol. Um de seus maiores feitos foi a concepção do Big Brother, cuja primeira edição foi ao ar em 1999 e desencadeou uma revolução no mundo dos reality shows.

Após a venda da Endemol, John não apenas consolidou sua reputação como um visionário na indústria televisiva, mas também estabeleceu seu próprio canal de TV. Nesse canal, ele lançou com grande sucesso o The Voice, outro que se destacou internacionalmente e foi licenciado para transmissão em vários países.

A partir daí, a evolução da tecnologia e a proliferação dos canais de televisão e plataformas de streaming também contribuíram para a diversificação e popularidade contínua dos reality shows. Eles agora abrangem uma ampla variedade de temas, desde competições e relacionamentos até programas que exploram o cotidiano de famílias e comunidades.

Reality shows por gênero

Os reality shows abrangem uma ampla variedade de gêneros, cada um focando em diferentes aspectos da vida real, buscando mesclá-la com entretenimento e competição. Abaixo estão alguns dos principais:

Colagem de diversas figuras proeminentes dos reality shows.

(Imagem: Collider / Reprodução)

  • Talent Shows

Exemplos: American Idol, The Voice, The X Factor, RuPaul’s Drag Race.

Participantes competem em performances artísticas ou desafios para demonstrar talentos específicos, como cantar, dançar e performar lip syncs!

  • Dating Shows

Exemplos: The Bachelor, Love Island, Casamento Às Cegas, O Ultimato, The Circle

Os participantes buscam relacionamentos afetivos duradouros, passando por encontros e desafios relacionados ao amor, muitas vezes até antes de se verem pessoalmente.

  • Confinamento/ Experimento social

Exemplos: Big Brother, Too Hot To Handle, A Fazenda, No Limite.

Os participantes são colocados em um ambiente controlado, como uma casa ou ilha, e são filmados enquanto interagem e competem entre si. Por vezes, o público decide quem ganha.

  • Estilo de Vida/ Transformação

Exemplos: Queer Eye, The Biggest Loser.

Focado na transformação pessoal, seja na aparência, na saúde ou na vida cotidiana dos participantes.

  • Documentário de Vida Cotidiana

Exemplos: Keeping Up with the Kardashians, The Osbournes.

Mostra a vida diária de pessoas conhecidas ou de famílias comuns.

  • Policial/ Investigativo

Exemplos: Cops, Forensic Files.

Acompanham o trabalho de policiais, detetives e equipes de investigação.

  • Aventura/ Sobrevivência

Exemplos: The Amazing Race, Largados e Pelados.

Os participantes enfrentam desafios físicos e mentais enquanto viajam ou sobrevivem em condições extremas.

  • Alimentação/ Culinária

Exemplos: Top Chef, MasterChef, Cake Boss, Sugar Rush.

Competições culinárias onde chefs amadores ou profissionais mostram suas habilidades.

  • Moda/ Beleza

Exemplos: The Hype, Next In Fashion, Glow Up.

Competições fashion, onde estilistas ou maquiadores renomados e/ou em ascensão competem entre si, passando por diversos desafios do ofício, em busca de levar para casa um grande prêmio em dinheiro.

  • Esportes e Competições Físicas

Exemplos: The Challenge, American Ninja Warrior, Ultimate Beastmaster.

Competições que envolvem atividades físicas e desafios atléticos.

O Brasil é do BBB

Selfie tirada no BBB22, a edição que marcou o Brasil da pandemia.

(Imagem: Globo; Meio e Mensagem / Reprodução)

O Big Brother Brasil (BBB) é a versão brasileira do Big Brother, um reality de confinamento. A primeira edição do BBB foi ao ar em 29 de janeiro de 2002 pela Rede Globo, uma das principais emissoras de televisão do país.

A ideia central do programa é isolar um grupo de participantes em uma casa especialmente projetada, onde são monitorados 24 horas por dia por câmeras. Os participantes competem em desafios, interagem entre si e são submetidos a votações do público, que decide quem será eliminado a cada semana. O último participante restante é o vencedor e recebe um prêmio em dinheiro (quantia que, atualmente, ultrapassa os R$ 3 milhões).

A popularidade do Big Brother Brasil cresceu rapidamente desde sua estreia, tornando-se um fenômeno cultural no país. O formato inovador, que combina voyeurismo, estratégia de jogo e experimentação social, atraiu uma audiência diversificada. O programa também se tornou uma parte importante da cultura popular, gerando discussões, análises e debates em todo o país, e sendo uma importante plataforma de ativação e divulgação de marcas.

A cada temporada, o BBB passou por adaptações e introduziu novos elementos para manter o interesse do público. Da mesma forma, a mudança de apresentador, que aconteceu de tempos em tempos (com Marisa Orth no ano de estreia, Pedro Bial de 2002 a 2016, Tiago Leifert de 2016 a 2021, e Tadeu Schmidt a partir de 2022), também foi crucial para reinventar o programa – tanto a forma que as coisas acontecem dentro da casa, quanto os conteúdos que se geram do lado de fora, pela própria emissora ou organicamente, pelo público telespectador.

Confira também:

Segundo pesquisa elaborada pelo Wake Creators e divulgada em 2025, o Big Brother é o reality queridinho dos brasileiros, sendo escolhido como favorito por 61% dos entrevistados, o que choca zero pessoas, mas sinaliza uma certeza para grandes marcas continuarem investindo no programa – cuja audiência continua quebrando recordes mesmo após mais de vinte anos nas telinhas. 

Existem várias evidências do porquê o BBB acabou se consolidando como um marco para a televisão e a cultura do Brasil. Entre elas, estão o entretenimento e o drama – afinal, ele é projetado para ser um programa altamente envolvente –; a empatia – a exposição constante dos participantes às câmeras permite uma identificação dos telespectadores –; o formato interativo – que permite que o público se sinta parte do rumo do programa –; a interconexão digital; a cobertura de mídia; e recentemente a participação de celebridades e subcelebridades, que, no experimento, acabam se mostrando “gente como a gente”.

Assim, a Casa Mais Vigiada do Brasil, neste ano comemorando sua vigésima quinta edição, ou seja, debutando o seu primeiro “Massacre Quaternário”, se mantém como o elemento principal desse fenômeno tão duradouro na mídia brasileira. 

Há quem diga que reality shows são apenas alienação, mas…

Frame do filme Fahrenheit 451 (1966), que faz alusão à alienação de reality shows.

(Imagem: “Fahrenheit 451” (1966), Anglo Enterprises; Vineyard Film Ltd. / Reprodução)

A Psicologia explica.

De acordo com especialistas, o comportamento humano emerge como o principal atrativo nos reality shows. Esses programas nos apresentam a vida cotidiana de pessoas comuns, mostrando desde as atividades mais triviais, como comer e tomar banho, até momentos de festa, discussões e relacionamentos. A constante exposição dos participantes às câmeras proporciona uma identificação profunda, permitindo que os telespectadores se vejam refletidos em diversos aspectos da vida dos participantes.

Além disso, a atração é intensificada quando celebridades, amplamente conhecidas na “vida real”, participam de programas como o Big Brother Brasil. Essa experiência oferece ao público a oportunidade de conhecer as múltiplas facetas de seus ídolos, estabelecendo uma proximidade única. O desejo de se sentir mais próximo dos ídolos é satisfeito por meio da exposição detalhada proporcionada pelos reality shows.

Uma pesquisa conduzida pelo Professor de Psicologia Jonathan Cohen, da Universidade de Haifa, em Israel, revelou que os telespectadores desses programas desenvolvem fortes sentimentos de empatia pelos participantes, muitas vezes reconhecendo-se em suas escolhas e ações. O estudo, envolvendo 183 entrevistados e abrangendo 12 reality shows diferentes, como Big Brother, MasterChef e Supernanny, indicou que a afinidade com um programa está diretamente relacionada à identificação e ao desejo de participação.

Outro aspecto que contribui para o envolvimento do público é a capacidade dos reality shows de servirem como uma válvula de escape. Em momentos de estresse, intensa carga de trabalho e desafios na vida pessoal, esses programas oferecem uma pausa, permitindo que os espectadores se desconectem temporariamente de suas próprias preocupações para acompanhar as vidas e dilemas de outras pessoas.

Realities que você provavelmente já viu e não se lembra

Para nós que vivemos os anos 2000, escolhemos alguns realities shows muito especiais, e largados naquele tempo, para rememorarmos juntos. Vem com a gente!

Reprodução de foto do Disney Channel Games, um reality com as estrelas Disney.

(Imagem: Walt Disney World / Reprodução)

Um fruto da geração early millennial, gostaríamos de relembrar o High School Musical: A Seleção (2008), da Disney Channel, cujos episódios passavam no horário nobre da emissora, durante o programa Zapping Zone. Basicamente, foi uma grande competição para selecionar quem estrelaria a versão brasileira da franquia High School Musical – que foi o High School Musical: O Desafio (2010).

Gostaríamos de relembrar, ainda, o Disney Channel Games – “evento” televisionado que juntava todas as estrelas jovens da Disney daquela época em uma competição esportiva de verão, de 2006 a 2008. Eles não ganhavam nada, mas deveriam trabalhar em equipe para passar por desafios como corridas em bolas gigantes de hamster, por exemplo. Na época, chamada de “minissérie”, esse reality contou com diversos famosos, como os gêmeos Sprouse, Zac Efron, Miley Cyrus, Selena Gomez, Raven, etc.

Também houve a Temporada de Moda Capricho (que aconteceu de 2010 a 2016) – nele, estudantes de Moda que competiam por uma vaga de estágio na Revista Capricho, que estava em seu auge, afinal, aqueles eram tempos de Manu Gavassi e seu Garoto Errado. Era veiculado no site da revista, ou seja, não se precisava de TV a cabo, e o ganhador simplesmente se tornava o novo estagiário. (Sim, existem pessoas que entram em realities para competir por R$ 1,5 milhão, e existem pessoas que competem por um salário de mil e quinhentos.)

Frame da abertura de Colírios Capricho, um dos reality shows brasileiros que marcaram os anos 2000.

(Imagem: MTV / Reprodução)

E por falar em Capricho, temos que mencionar o casamento entre a MTV e a Revista, o que deu luz ao reality Colírios Capricho no ano de 2010! Dele, saiu a tríade Dudu Surita, Caíque Nogueira e Federico Devito, que hoje trabalham em carreiras diversas, mas também foi plataforma de influências que estão presentes na mídia até hoje, como Leonardo Picon.

Outro interessante reality foi o Projeto Adrenalina (2009), transmitido no Boomerang. Era uma espécie de No Limite juvenil. Os competidores passavam por desafios perigosos, difíceis e até mesmo nojentos, e isso sem nem ganhar nada – apenas o título de “Super Adrenalina do Ano”. Radical!

Por último, relembramos o Parental Control (2006), também da MTV. A narrativa era sempre a mesma: os pais odiavam o namorado da filha e, portanto, eles armavam alguns encontros às cegas com candidatos à escolha, para que a menina se apaixonasse por outra pessoa, desse um pé na bunda do atual e passasse a sair com alguém que seus responsáveis “aprovassem”. Saudável? Não. Icônico? Com toda certeza.

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Um tributo à FLETCHER, a nossa Birthday Girl https://oquartonerd.com.br/um-tributo-a-fletcher-a-nossa-birthday-girl/ https://oquartonerd.com.br/um-tributo-a-fletcher-a-nossa-birthday-girl/#comments Wed, 19 Mar 2025 12:54:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68243 Hoje se completam as trinta e duas voltas ao redor do sol de Cari Fletcher – que, na indústria musical, é conhecida apenas como FLETCHER. A cantora pop, nos últimos....

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Cari Fletcher em uma fotografia de divulgação do seu primeiro álbum de estúdio, "Girl of My Dreams" (2022).

Hoje se completam as trinta e duas voltas ao redor do sol de Cari Fletcher – que, na indústria musical, é conhecida apenas como FLETCHER.

A cantora pop, nos últimos três anos, teve uma rápida ascensão, sendo reconhecida por colocar, em suas letras, relatos de seus relacionamentos com outras mulheres – cheios de sentimentos de paixão, loucura, inveja, injustiça, traição, corações partidos e um milhão de redflags. Em resumo, ela alcançou a fama por conseguir exprimir de um jeito único e sincero coisas que toda sáfica consegue se reconhecer tendo vivenciado em algum momento canônico da vida.

E nós achamos isso lindo. <3

Confira também:

Um dos mais polêmicos relacionamentos de FLETCHER foi, inclusive, com a fotógrafa e influencer Shannon Beveridge, a quem a música “Birthday Girl” (do álbum Girl of My Dreams, 2022) se destina. Isso porque, como conta na canção, 385.000 pessoas nascem no mesmo dia, e mesmo assim as duas piscianas de 19 de março deram a sorte de se encontrarem nesse mundo enorme e de viverem um grande amor. (Então, com a informação dada, celebramos, também, o aniversário da Shan!)

Em detrimento da data, traremos, neste artigo, um panorama da vida e carreira de FLETCHER, que é um importante nome na cena lésbica da atualidade. 

A vida de Cari e sua discografia

FLETCHER em uma sessão de fotos no redcarpet do Billboard's Women in Music de 2024.

(Imagem: Billboard / Reprodução)

Cari Elise Fletcher – que assina artisticamente como FLETCHER – é uma cantora e compositora norte-americana de 32 anos, natural do estado de New Jersey. Ela tem uma vida pública desde 2011, ano em que participou do The X Factor estadunidense como uma das competidoras. Em 2016, lançou seu primeiro EP autoral – Finding Fletcher, que aborda temas como identidade e autoaceitação –, sendo conhecida em especial pela música “War Paint”.

No entanto, sua fama foi escalonada alguns anos mais tarde com o lançamento do segundo EP – You Ruined New York City For Me, de 2019. Neste, em versos honestos e intensos, ela conta episódios de seu primeiro grande relacionamento afetivo com outra mulher, ressaltados por narrativas abusivas que retratam os altos e baixos de um amor em meio à traição e ao abuso psicológico, como na música “If You’re Gonna Lie” e os singlesUndrunk” e “All Love“.

Depois, e nas idas e vindas de seu namoro público com Shannon, Cari lançou, durante a pandemia, um terceiro EP tão polêmico quanto o anterior – THE S(EX) TAPES, 2020 –, que contém diversas canções produzidas em parceria com a então namorada / ex-namorada, tendo em vista que as letras são baseadas no romance de cerca de três anos das duas.

Em 2022, FLETCHER lançou seu primeiro álbum, Girl of My Dreams. Nele, ela explica, de sua forma mais nua, o processo de se reconhecer após três custosos relacionamentos, dividida entre reconstruir a si própria, lamentar os sentimentos mal resolvidos pela última namorada e entender quem será Cari dali em diante – tanto em relações, quanto na vida.

Confira também:

Ela já participou de importantes colaborações, como a coautoria do singleCherry” (2021) com a Hayley Kiyoko, cantora cujo vulgo na cena LGBT é “Lesbian Jesus“. Também fez uma participação especial na festa de Ano Novo de Miley Cyrus em 2022, acompanhando a artista na apresentação de “Midnight Sky” – uma dança de acasalamento sáfica, se você me perguntar. Além disso, durante o ano de 2023, ela acompanhou a banda Panic! At The Disco durante seu tour de despedida na Europa, entregando um show de abertura cheio de simpatia e sinceridade.

O estilo musical de FLETCHER é uma mistura de pop, indie e música eletrônica, e sua voz única e poderosa, bem como a vulnerabilidade das composições, contribuem para a singularidade de sua abordagem.

O quarto coração partido de FLETCHER

Recorte da capa do primeiro álbum de estúdio de FLETCHER, "Girl of My Dreams" (2022).

(Imagem: FLETCHER / Reprodução)

Já que os relacionamentos são um assunto chave na obra discográfica de FLETCHER, vale darmos uma atenção especial aos que ela conta ter vivido em ordem cronológica – algo revelado em detalhes pela letra do hitGirl of My Dreams“, décima track do álbum homônimo.

Ela inicia a canção dizendo que o “número um era um menino / e ele tinha os olhos verdes / como uma floresta / mas eu sabia que estava perdida” – explicando, portanto, que seu primeiro romance foi hétero, embora ela soubesse que aquilo não lhe cabia.

Depois, o trecho é dedicado à primeira namorada de FLETCHER, cuja identidade não é pública: “a segunda rodada foi na cidade / ela era louca, mas fazia isso lindamente / me deixou mais vazia e solitária em Nova York”.

Pode-se, assim, assumir que o EP You Ruined New York City For Me, que conta com diversas alusões a um namoro abusivo, é sobre ela. Importante destacar que esse EP foi lançado em 2019, época em que Cari já estava com Shannon – alguém sempre retratada como forte apoiadora os sonhos da artista – então nenhuma dessas referências de traição e toxicidade poderiam vir de seu relacionamento com ela.

Em seguida, temos os versos que falam sobre Beveridge – que namorou do final de 2016 até início de 2020: “e três, ela era um anjo / sim, ela poderia ter sido minha pessoa certa / mas o para sempre só durou algumas viagens ao redor do Sol / e agora estou cantando músicas de garota triste, que exagero!”.

Algumas músicas que comprovam o sentimento romântico não superado, do qual ela afirma na estrofe, são o singleForever” (2020), e praticamente todas do EP THE S(EX) TAPES, que a cantora contou em entrevista ser um retrato da sua maior vulnerabilidade durante o período pandêmico (entre momentos de completa solidão e ocasionais remembers) no qual ela tentava digerir o fim.

A canção que encerra o EP, “Sex (With My Ex)“, documenta para todo o mundo a última vez das duas, bem como sua despedida definitiva. Nesta obra prima da música lésbica, ela trata do delicado término que supostamente ainda envolve muito amor e apego, embora a cantora esteja decidida a viver uma nova etapa da vida, sozinha.

O videoclipe, que foi dirigido, fotografado e protagonizado por Shannon, resume tudo isso de uma forma dura e pura, mascarada pela batida dançante e pela sensualidade do amor sáfico:

Por fim, mas não menos importante, chegamos no respiro da cantora ao lançar seu primeiro álbum: “eu estou no coração partido número quatro / a tequila não faz efeito mais / eu tenho um novo rebote / tô me apaixonando por mim mesma agora”.

Aqui, entendemos que Girl of My Dreams é, de fato, uma fotografia melódica desse momento de recomeço de FLETCHER – que, é claro, é gente como a gente e sofre pela ex mesmo três anos depois, mas está tentando se sentir bem de novo, sozinha. Ufa, ela é a nossa “Taylor queer“, mesmo! <3

Afinal, quem é Becky e por que ela é tão gostosa?

No primeiro semestre de 2022, a internet quebrou com o lançamento sem precedentes do singleBecky’s So Hot” e, em seguida, o explícito videoclipe protagonizado por ninguém menos que Bella Thorne, que impersona essa “hot Becky“.

Na canção, FLETCHER conta sobre como, num belo dia, stalkeando a atual da ex-namorada – a influencer vegana Becky Missal –, percebeu que, em algumas fotos, ela utilizava a camiseta vintage de estampa de carro conversível vermelho, que ela sabia pertencer a Shannon. Sendo, ela própria, atraída pela beleza única de Becky, ela entoa nos versos que também transaria com ela.

A polêmica letra causou muita comoção e êxtase da comunidade queer, até mesmo de quem nunca ouvira falar de FLETCHER. Do outro lado, Shannon e Becky sentiram-se extremamente violadas e bloquearam a cantora de todas as redes sociais. Com relação aos fãs de ambas, não houve muita tomada de lados – todos queriam ver a casa pegar fogo e, secretamente, talvez ainda shippassem as autoras do THE S(EX) TAPES.

Mas é claro que os holofotes concentrados em Cari também foram um importante diferencial na carreira digital daquele casal. Não obstante, Becky lançou, no final de 2021, uma versão comercial da “vintage T-shirt” referenciada na música, cujas vendas seriam revertidas, em doações para o The Trevor Project – organização voltada para o acolhimento psicológico de indivíduos vulneráveis na comunidade LGBTQ+.

Acatando, portanto, à farpa, a cantora fez um repost da ação e formalizou um pedido da camiseta, mas Shannon, irritada com a intromissão em seu relacionamento, pessoalmente fez um vídeo de dueto no TikTok, ressarcindo o dinheiro da ex e cancelando sua compra. Isso fez a internet questionar a intenção por trás do merchandising, que deveria ser uma forma de arrecadar fundos para a caridade…

Shannon explica a sua versão

Como mencionado nos tópicos acima, o relacionamento entre FLETCHER e Shannon Beveridge deu – e dá, até hoje – o que falar para os fãs e pessoas queer fofoqueiras de plantão nas redes sociais.

Devido a tantas músicas dedicadas para a ex, a maioria dos ouvintes acredita que Cari claramente não superou Shannon. Por vezes, inclusive, retratam esta como a causadora do término e, consequentemente, do sofrimento da artista pop.

Um evento importante e que pareceu ser a gota d’água para isso foi o encontro das duas no camarote de um show da Taylor Swift na The Eras Tour, no qual Shannon recepcionou a ex com um abraço e elas trocaram uma conversa amigável. Isso foi documentado por um fã, e logo estava bombando no TikTok.

Dias depois, FLETCHER lançou um single de nome “Eras of Us“, que basicamente fala dos encontros e dos desencontros de ambas, o que basicamente significa que o amor que ela sentia, de tempos em tempos, volta – ou melhor, nunca deixou de existir.

Para trazer a sua versão da história com clareza para todos (e também para revelar o recente rompimento com Becky), depois disso tudo, Beveridge decidiu iniciar a transmissão de um podcast semanal em dezembro de 2023. Intitulado “exes and o’s“, a mídia pode ser acessada nas mais diversas plataformas de streaming, inclusive em uma versão audiovisual pelo YouTube – canal primordial da influenciadora, que começou, afinal das contas, como youtuber.

No episódio número quatro, com participação da artista Zolita, a host expressa estar exausta dos fãs constantemente pedirem que ela vá recuperar Cari, mesmo depois de anos, porque – rufem os tambores – foi a cantora quem a deixou. Depois disso, ainda reforçou: “ela não me quer!“.

Alguns meses depois, Shannon decidiu acabar de vez com a torta de climão, e chamou uma convidada especial para o exes and o’s. Em dois episódios extremamente esclarecedores, Cari e Shan passaram longas quase duas horas abrindo o coração e deixando águas passadas – vejam só – passarem!

Esses detalhes já podiam ser assumido com uma leitura minuciosa das músicas de THE S(EX) TAPES e Girl of My Dreams (como, por exemplo, “Silence“, “I Think I’m Growing?“, “Healing” e, a mais importante, “For Cari“) que são evidências nuas e sensíveis sobre alguém lidando com as diversas etapas do fim de um romance que não queria se acabar, mas teve que ser posto no passado porque uma das partes precisava se priorizar.

De toda forma, agora a internet teve o seu ponto final. (Ufa, se essas duas tiveram um closure quatro – talvez cinco? – anos depois de terminarem, talvez isso signifique que nós podemos ter um fechamento com nossas exes… Em algum momento da vida.)

Um antídoto para redflags?

Vinil de "In Search of the Antidote" (2024), o segundo álbum de estúdio de FLETCHER.

(Imagem: FLETCHER / Reprodução)

Em fevereiro de 2024, FLETCHER divulgou a data de seu novo álbum – In Search of The Antidote. Contando com os singlesEras of Us” e “Lead Me On“, o álbum promete trazer onze faixas que refletem as dores e as felicidades da cantora nesse processo constante de se redescobrir individualmente no mundo. É necessário pontuar que Cari não se envolveu com ninguém depois de Shannon – pelo menos, não de forma pública e duradoura –, então, ela vem traçando uma jornada de autodescoberta ladeada com o crescimento de sua fama e sucesso na indústria musical.

Essa rápida relevância que teve nos últimos três anos, em especial depois da polêmica de “Becky’s So Hot“, fez com que, no final de 2023, FLETCHER pudesse sair em uma solo Eurotour de Girl of My Dreams – e foram, ao todo, 21 shows em pouco mais de um mês!

Em paralelo com o trabalho musical (que, sabemos, tem fases), FLETCHER está sempre ativa nas redes sociais. Entre shades no X e vídeos-pílula no TikTok fazendo memes com vivências sáficas e dublando suas músicas, seu nome se mantém em alta entre fãs, lésbicas, bissexuais e outras espécies – até mesmo héteros!

FLETCHER plz come (back) to Brazil

Banner de divulgação do sideshow do Lollapalooza 2024 da artista.

(Imagem: Lollapalooza Brasil / Reprodução)

Há exatamente um ano, FLETCHER estava chegando às terras tupiniquins, se apresentando pela primeira vez para uma multidão de sáficas se estapeando para disputar lugar na sua seleta estreia em um sideshow no Cine Joia, em São Paulo. Dias depois, estava no palco de um dos maiores festivais brasileiros – o Lollapalooza

Eu, como grande fã e (queira Deus) futura ex da FLETCHER, fui uma dessas lésbicas arrumando confusão para pegar grade tanto no Cine Joia, quanto no Lolla. Agora, sou também uma das lésbicas que sofre com o silêncio criativo de quase um ano da nossa maluca, que não lançou nada depois de ISOTA.

Então, Cari, onde quer que você esteja – feliz aniversário! This one’s for you.

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Jogos Vorazes e a música como ferramenta de revolução https://oquartonerd.com.br/jogos-vorazes-e-a-musica-como-ferramenta-de-revolucao/ https://oquartonerd.com.br/jogos-vorazes-e-a-musica-como-ferramenta-de-revolucao/#comments Fri, 28 Feb 2025 20:25:29 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68195 Jogos Vorazes foi um fenômeno, tanto literário quanto cinematográfico, e um dos principais elementos das histórias de Suzanne Collins é a relação dos personagens com a música. Seja a inesquecível....

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Jogos Vorazes foi um fenômeno, tanto literário quanto cinematográfico, e um dos principais elementos das histórias de Suzanne Collins é a relação dos personagens com a música. Seja a inesquecível A Árvore-Forca ou todas as canções presentes em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, cada uma delas tem uma função dentro dos livros e dos filmes. Seja como um meio de contar uma história ou como símbolo de algo maior, a música é uma avalanche dentro do mundo de Panem.

Mas afinal, as músicas, cantigas e poemas são tão relevantes assim para o mundo de Jogos Vorazes?

As músicas em Jogos Vorazes são mais do que apenas canções

Dentro da saga Jogos Vorazes, vemos um mundo que se rendeu completamente à barbárie. Após um aparente apocalipse, a América do Norte ressurgiu das cinzas como um novo país: Panem.

Porém, a desigualdade entre as classes sociais tornou-se ainda maior e mais arrasadora, sustentada por um frágil status quo entre a Capital e os Distritos. Quando somos apresentados a esse mundo, percebemos que a normalização da violência é tão intensa que a esperança é a última coisa que qualquer pessoa pode se lembrar.

Ao longo da história, porém, vemos que toda essa opressão, mantida por mais de 75 anos, dá origem a uma revolução que muda todo o continente. E, em meio ao caos da guerra, a música se torna algo além de um simples ato de contar histórias por meio de rimas e acordes. Ela se transforma em um símbolo de resistência.

Essa relação entre música e revolução sempre foi capaz de mudar a visão da sociedade como um todo. Trazendo para o mundo real, a música sempre impactou a sociedade e reflete a juventude de sua época. O Jazz, por exemplo, foi um estilo musical majoritariamente ligado à Comunidade Negra dos Estados Unidos. O Rock trouxe vertentes como o Punk, com suas letras antibelicistas, e o Rap, em suas origens, tornou-se um grito de resistência das periferias. A música sempre teve um papel que vai além de algo que simplesmente se escuta – ela é uma forma de expressão artística.

Confira também:

E como expressão artística, a música transmite uma mensagem – e é exatamente isso que vemos acontecer em Jogos Vorazes.

Seja em A Árvore-Forca , onde temos uma música original da história que se torna um dos símbolos da revolução, incluindo uma das cenas mais impactantes dos filmes, ou emO Velho Antes , que é cantada no momento da vitória de Lucy Gray nos jogos e também funciona como uma ameaça velada à Capital, todas essas músicas são cuidadosamente pensadas e possuem uma mensagem poderosa dentro da narrativa.

A Árvore-Forca (cuja origem é explorada em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes) começa como a história de um amor impossível, mas acaba se transformando em um hino de levante popular contra os opressores.

Já dentro da história de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, O Velho Antes funciona inicialmente como uma forma de reforçar a imagem de Lucy Gray como uma cantora tão talentosa que conquista até as mais vorazes serpentes. No entanto, além disso, a letra da música carrega um significado mais profundo: ela transmite a ideia de que, independentemente do que a Capital faça, Lucy Gray sempre encontrará uma maneira de superar suas opressões.

O Impacto da música na nossa sociedade

Mas, afinal, por que estou falando tanto sobre as músicas de Jogos Vorazes e como elas são mais do que apenas canções? Porque, assim como a vida imita a arte, também temos músicas que, em suas letras, expressam a revolta popular de uma sociedade.

No entanto, vou me afastar um pouco da temática norte-americana em que Jogos Vorazes está inserido e falar sobre a nossa realidade como brasileiros. Há não muitos anos, o Brasil passou pelo período da Ditadura Militar, e, mesmo que eu, assim como várias outras pessoas mais jovens, não tenha vivido nessa época, não podemos ignorar o impacto que esse período ainda tem nos dias de hoje.

Em tempos em que políticos, ex-presidentes e até mesmo jovens como eu idolatram esse período sombrio, é fundamental lembrar que também tivemos nossos revolucionários musicais. Alguns ainda estão vivos, como Milton Nascimento, Chico Buarque e Caetano Veloso, enquanto outros, como Raul Seixas e Rita Lee, já nos deixaram. No entanto, o impacto de suas músicas continua reverberando até hoje.

Afinal, mesmo que você não goste das músicas deles, por qualquer motivo que seja, é impossível ignorar sua relevância. Cálice, de Chico Buarque e Milton Nascimento, por exemplo, é uma crítica velada ao governo brasileiro da década de 1970, período de maior repressão durante a ditadura.

Cálice foi tão transgressora em sua época que, embora tenha sido escrita em 1973, só conseguiu passar pela censura cinco anos depois, em 1978.

Confira também:

Outro grande exemplo de música que aborda a resistência de forma velada é Mosca na Sopa, de Raul Seixas.

Uma música em que o sujeito se identifica como um inseto que surge para perturbar o sossego dos outros não pode ter outro significado senão o da resistência.

É claro que há muitos outros exemplos de músicos que, por meio de suas canções, buscaram expressar o sentimento de revolta diante da situação do país. Um exemplo mais recente é a banda Legião Urbana, que surgiu após o fim da Ditadura Militar, mas ainda abordava em algumas de suas músicas a insatisfação com um Brasil recém-saído desse período e que continuava enfrentando diversos problemas, além da repressão militar.

Que País é Este? foi escrita em 1978, mas só foi gravada nove anos depois, em 1987 – e ainda assim, sua letra permanecia tão atual quanto no momento em que foi composta.

A música sempre foi e sempre será um meio de revolta

No final das contas, o que quero dizer com este texto é que a música sempre desempenhou um papel fundamental como ferramenta de mudança cultural. Seja intencional ou não – e eu acredito que quase sempre seja intencional –, a música expressa os sentimentos de uma sociedade em determinado período.

Nosso papel, muitas vezes como ouvintes, é compreender que toda música tem sua importância dentro desse processo de transformação. É claro que sempre haverá músicos que preferem não “cutucar” esse vespeiro e escolhem direcionar sua arte para outros temas – e isso também é válido.

Porque, no fim das contas, a música, em sua essência mais pura, é algo que usamos para aliviar a dureza da realidade. Seja você um carvoeiro do Distrito 12 em Panem ou apenas um trabalhador CLT no Brasil, sempre buscamos na música uma válvula de escape para um mundo que, muitas vezes, se mostra cruel e opressor.

Mas e você, acha que a relação entre as músicas de Jogos Vorazes e o mundo real é válida? Conte para a gente nos comentários.

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