O Quarto Nerd https://oquartonerd.com.br/ As Nerds da Cadeira Tue, 10 Jun 2025 21:48:08 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://i0.wp.com/oquartonerd.com.br/wp-content/uploads/2021/11/cropped-cropped-cropped-oqnPrancheta-7-1.png?fit=32%2C32&ssl=1 O Quarto Nerd https://oquartonerd.com.br/ 32 32 163939925 Como as ANAVITÓRIA reinventaram o MPB contemporâneo https://oquartonerd.com.br/como-as-anavitoria-reinventaram-o-mpb-contemporaneo/ https://oquartonerd.com.br/como-as-anavitoria-reinventaram-o-mpb-contemporaneo/#respond Thu, 12 Jun 2025 14:02:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68347 As ANAVITÓRIA fizeram algo que parecia impossível: transformaram uma geração inteira de jovens em fãs de MPB sem que eles sequer percebessem. Em uma época em que a música brasileira....

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As ANAVITÓRIA vestidas de vermelho em uma foto promocional da Turnê dos Namorados.

As ANAVITÓRIA fizeram algo que parecia impossível: transformaram uma geração inteira de jovens em fãs de MPB sem que eles sequer percebessem.

Em uma época em que a música brasileira parecia dividida entre o saudosismo erudito e o pop internacional, essas duas universitárias do Tocantins encontraram uma terceira via que ninguém imaginaria. Enquanto o mundo musical se fragmentava entre algoritmos e trends virais, Ana Caetano e Vitória Falcão escolheram o caminho oposto: a simplicidade sofisticada, embora multiplataforma, que redefiniu completamente o que significava fazer MPB em pleno século XXI.

E isso transpassa o que se cataloga como música e acabou se tornando parte da cultura brasileira até mesmo no dialeto.

Por exemplo, eu tenho uma ex-namorada – inclusive, hoje, uma das minhas melhores amigas, rs – que sempre se refere ao dia 12 de junho (popularmente conhecido como o “Dia dos Namorados”) como o dia oficial das ANAVITÓRIA. Isso porque as divas folk-pop se consagraram as mães do mês de junho ao tornarem recorrente e quase anual a sua Turnê dos Namorados, que convida todos, principalmente os solteiros, a virem cantar sobre amor junto com elas.

(E não, elas não são um casal, só têm uma química artística absurda mesmo!) 

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O que torna ANAVITÓRIA um fenômeno cultural único não são apenas os números impressionantes – bilhões de reproduções nos streamings de música e no YouTube, discos de platina, shows esgotados, feats. babilônicos – mas a forma como conseguiram fazer música brasileira de qualidade soar contemporânea sem soar artificial. 

E é isso, toda essa trajetória revolucionária, que analisaremos neste artigo do QN!

Ana e Vitória: o encontro que mudou tudo

Foto promocional do álbum Esquinas (2025) das ANAVITÓRIA, na qual Vitória aparece de um lado de uma esquina, e Ana de outro.

(Imagem: “Esquinas”, o novo álbum das ANAVITÓRIA / Reprodução)

A história das ANAVITÓRIA é uma daquelas que prova como os caminhos da música podem ser imprevisíveis.

Ana Clara Caetano e Vitória Falcão se conheceram ainda na escola em Araguaína, interior do Tocantins, mas naquela época a música não era nem de longe o foco principal de suas vidas. Uma vez na universidade, Ana seguia os estudos em Medicina, Vitória cursava Direito, e ambas pareciam destinadas a carreiras completamente diferentes do palco. Foi apenas em 2013 que descobriram na música uma linguagem comum que as uniria para sempre.

O que começou como um hobby entre amigas rapidamente ganhou seriedade. As duas passaram a gravar vídeos interpretando canções de seus artistas favoritos, ainda assinando com seus nomes separados, sem imaginar que aqueles covers caseiros chamariam a atenção de quem realmente importava na indústria musical. Em 2014, um vídeo em que interpretavam “Um Dia Após o Outro”, de Tiago Iorc, chegou às mãos de Felipe Simas, produtor que gerenciava a carreira do próprio Tiago. Era o momento que mudaria tudo.

Felipe não apenas as descobriu, mas enxergou um potencial que nem elas mesmas vislumbravam. Logo as convidou para gravar um EP e, em um movimento estratégico genial, chamou Tiago Iorc para produzir o trabalho, criando a gravadora independente Forasteiro especificamente para o projeto. Foi também Felipe quem batizou a dupla: ANAVITÓRIA – a fusão dos nomes que se tornaria sinônimo de uma nova forma de fazer música brasileira.

O EP Anavitória, lançado em 2 de abril de 2015, já demonstrava a identidade artística em formação. Com duas músicas próprias (“Singular” e “Chamego Meu”) e duas regravações cuidadosamente escolhidas (“Cores”, da mineira Lorena Chaves, e “Tententender”, do duo gaúcho Pouca Vogal), o trabalho revelava uma dupla que sabia equilibrar composição autoral com curadoria refinada. O vídeo da performance ao vivo de “Singular”, publicado no YouTube, foi o estopim que atraiu definitivamente a atenção do público para aquela sonoridade única.

O sucesso do EP de estreia abriu as portas para o primeiro álbum homônimo, agora com distribuição da Universal Music – um salto significativo que mostrava como a indústria havia abraçado o projeto. Misturando música interiorana, MPB e pop, as próprias artistas definem seu som simplesmente como “pop“, uma escolha que revela tanto humildade quanto estratégia.

A primeira turnê nacional que se seguiu ao lançamento do disco confirmou que aquelas duas jovens do interior do Tocantins haviam conquistado o Brasil inteiro. Quando “Agora Eu Quero Ir” entrou na trilha sonora de Malhação: Pro Dia Nascer Feliz (2016), estava claro que as ANAVITÓRIA não eram mais apenas uma promessa – eram uma realidade consolidada no cenário musical brasileiro.

Contexto: MPB em crise de identidade

As ANAVITÓRIA e Nando Reis.

(Imagem: G1 / Reprodução)

Os anos 2010 encontraram a Música Popular Brasileira em uma encruzilhada. Enquanto os gigantes do movimento – Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque – continuavam produzindo, suas vozes ecoavam cada vez mais distantes dos ouvidos jovens. O cenário musical havia se polarizado: de um lado, o sertanejo universitário dominava as paradas com duplas como Jorge & Mateus; do outro, o funk carioca explodia com artistas como Anitta construindo impérios baseados em batidas irresistíveis e diálogos com latinidades.

Entre esses extremos, o MPB tradicional flutuava em um limbo cultural. Mantinha sua sofisticação harmônica e profundidade lírica, mas havia perdido algo fundamental: a capacidade de dialogar organicamente com as novas gerações. Era como se o gênero tivesse se tornado refém de sua própria grandeza, preservando-se em uma redoma que o protegia, mas também o isolava.

A distância estabelecida não era apenas questão de idade – era um abismo cultural que refletia transformações na forma como a música era consumida. A geração Spotify desenvolveu uma relação baseada na descoberta algorítmica e experiência imediata. Para esses jovens, a música precisava funcionar em múltiplos contextos: stories do Instagram, treinos, estudos, trajetos urbanos.

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O MPB tradicional, com suas complexidades harmônicas e narrativas elaboradas, exigia um tipo de atenção contemplativa que não se alinhava com o ritmo acelerado da vida digital. Além disso, os temas forjados durante a ditadura militar não necessariamente ressoavam com jovens enfrentando ansiedade digital, incertezas profissionais e relacionamentos líquidos.

Nesse contexto, emergiu uma busca por uma nova linguagem musical que servisse como ponte entre mundos irreconciliáveis. Alguns artistas experimentavam essa síntese: Criolo misturava rap com samba; Emicida trazia poesia das ruas para arranjos sofisticados; Céu explorava sonoridades eletrônicas sem abrir mão da brasilidade.

A sonoridade buscada precisava ser intimista para funcionar nos fones de ouvido, ter melodias cativantes para streaming e shows ao vivo, abordar temas universais com perspectiva contemporânea e, principalmente, soar autêntica. Era preciso encontrar artistas que não tentassem fazer MPB para jovens, mas que expressassem sua experiência de mundo de forma honesta – artistas que cresceram ouvindo tanto Djavan quanto Coldplay.

O mercado brasileiro estava maduro para uma revolução silenciosa que viria através da emergência natural de vozes capazes de falar simultaneamente para coração e mente, presente e futuro. Era nesse cenário que duas jovens do Tocantins descobririam ter exatamente a voz que o país procurava.

Afinal, o que tocam as ANAVITÓRIA?

As ANAVITÓRIA com sua vestimenta de shows mais emblemática: Vitória de preto, Ana de branco.

(Imagem: ANAVITÓRIA; Felipe Simas / Reprodução)

Harmonias sofisticadas em arranjos minimalistas

A genialidade de ANAVITÓRIA está em transformar complexidade harmônica em simplicidade melódica. Onde o MPB clássico usava arranjos densos, elas constroem paisagens sonoras com poucos elementos: violão, voz, piano e uma base sutil. Cada acorde é escolhido não apenas por sua função harmônica, mas por sua capacidade de criar atmosfera.

O resultado são canções que respiram, funcionando tanto no fone de ouvido quanto no show ao vivo.

Letras intimistas que falam universal

Suas letras navegam entre o pessoal e o universal, transformando experiências íntimas em narrativas amplas. Abordam temas eternos – amor, saudade, crescimento – através de uma linguagem contemporânea que foge do rebuscamento excessivo e da simplicidade vazia.

É a poesia do cotidiano: nervosismo de primeiras conversas, melancolia de despedidas, ansiedade do futuro incerto. Situações universais ganham contornos específicos que qualquer jovem reconhece: mensagens não respondidas, playlists compartilhadas, solidão urbana.

Estética visual que conversa com redes sociais

A dupla compreendeu que música na era digital é também imagem e experiência visual completa. Mantêm uma estética clean e intimista que reflete sua sonoridade: cores suaves, cenários minimalistas, fotografia natural, shows cantados com os pés descalços. É uma identidade que funciona tanto na tela do celular quanto em formatos maiores, adaptando-se aos diferentes contextos digitais sem parecer calculada.

Produção musical que abraça o digital sem perder o orgânico

O maior trunfo de ANAVITÓRIA é criar sonoridade simultaneamente moderna e atemporal. Suas produções abraçam as possibilidades do digital – precisão, clareza para fones baratos, funcionamento no streaming – sem perder a organicidade da música brasileira. É uma produção que entende o jovem: músicas que funcionam nos primeiros segundos, mantêm atenção e soam bem em qualquer sistema.

O resultado é música que pertence ao seu tempo sem ser escrava dele. Uma sonoridade íntima e grandiosa, simples e sofisticada, brasileira e universal.

Assim, as ANAVITÓRIA não tocam apenas música – elas tocam o coração de uma geração que finalmente encontrou sua trilha sonora.

Os marcos de reinvenção e outras atuações transmidiáticas das ANAVITÓRIA

Banner promocional do Festival NAVE, produzido por Felipe Simas em colaboração com Ana Caetano e Vitória Falcão.

(Imagem: Felipe Simas / Divulgação)

A trajetória discográfica de ANAVITÓRIA revela uma evolução artística consistente e calculada. O álbum de estreia homônimo (2016) estabeleceu sua identidade sonora: harmonias delicadas, arranjos minimalistas e letras que capturam a sensibilidade de uma geração. Foi o marco zero que conquistou o público e a crítica simultaneamente.

“O Tempo É Agora” (2018) representou a consolidação e expansão dessa fórmula. Mais maduro sonoramente, o álbum explorou territórios mais amplos sem perder a essência intimista. Aqui, a dupla provou que não era um fenômeno passageiro, mas um projeto artístico sólido com potencial de longevidade.

As parcerias de ANAVITÓRIA revelam uma visão estratégica sofisticada do mercado musical. Com Tiago Iorc, em “Trevo (Tu)”, Rubel, em “Partilhar”, e as músicas colaborativas com a banda LAGUM, exploraram a sinergia entre vozes da nova MPB. Já o dueto com Rita Lee em “Amarelo, azul e branco” representou a benção de uma lenda, legitimando-as no panteão da música brasileira. Mas foi a colaboração com Jorge Drexler que demonstrou ambição internacional, explorando músicas em espanhol e abrindo portas para o mercado latino-americano. Essas parcerias não foram apenas encontros musicais, mas movimentos estratégicos que expandiram seu território artístico e comercial.

Nesses movimentos, a parceria com Nando Reis foi especialmente significativa, conectando-as ao legado dos Titãs através das regravações de covers no álbum “N” (2019) e consolidando sua posição no mainstream alternativo. Além disso, a Turnê dos Namorados, realizada em junho de 2018 conectando os três artistas no palco, tornou-se um fenômeno cultural próprio, tanto que foi repetida seis anos depois, em 2024. Mais que shows, são celebrações do amor e da música brasileira contemporânea. 

Ainda, a expansão de ANAVITÓRIA para além da música demonstra compreensão sofisticada do entretenimento contemporâneo. O filme “Ana e Vitória” (2018) representa um marco nessa estratégia: uma autobiografia ficcional que, como definido pelas próprias artistas, navega entre realidade e criação artística, e ainda serviu para lançar, em uma narrativa cinematográfica, o seu segundo álbum de estúdio – o emblemático e já citado “O Tempo É Agora” (2018). Assim, o longa não apenas documenta o início de sua trajetória musical, mas constrói uma narrativa que amplifica a mitologia pessoal do duo.

Outro marco importante foi o Festival NAVE, que consolidou sua posição como curadoras culturais. Mais que um evento musical sediado em São Paulo em 2019, o festival tornou-se plataforma para novos talentos e espaço de experimentação artística – cedendo palco para artistas àquela época, emergentes, como o próprio Jão, que hoje é um dos gigantes nomes da cena pop brasileira. 

Essas iniciativas transmidiáticas revelam artistas que compreenderam uma verdade fundamental da era digital: sucesso duradouro exige presença em múltiplas plataformas e formatos. Elas não apenas fazem música – constroem universo artístico completo que se desdobra em cinema, festivais e experiências que fortalecem sua marca e aprofundam a conexão com o público.

E é isso que nos leva à síntese…

Afinal, por que as ANAVITÓRIA são tão importantes para o novo MPB?

Selfie de Ana e Vitória.

(Imagem: Revista Caras / Reprodução)

Simples: porque são o elo perdido entre o MPB clássico e as gerações digitais. Para o futuro da Música Popular Brasileira, elas estabeleceram um novo paradigma: é possível ser brasileiro, sofisticado e popular simultaneamente. Com mais de 2 bilhões de reproduções nas plataformas digitais, discos de platina e shows esgotados em minutos, elas provaram que MPB de qualidade pode, sim, ser mainstream

Além do mais, as ANAVITÓRIA criaram um modelo replicável para artistas independentes. Sua trajetória inspirou uma geração de músicos que perceberam ser possível construir carreira sólida sem abrir mão da qualidade artística. O duo abriu caminho para projetos como Melim, Duda Beat e outros artistas que encontraram na fórmula “sofisticação acessível” uma alternativa viável ao pop descartável e ao MPB hermético.

Assim, grande revolução de Ana Caetano e Vitória Falcão foi tornarem o MPB palatável para quem cresceu no universo digital. Democratizaram não apenas o acesso, mas a própria concepção do que pode ser MPB no século XXI, provando que música brasileira de qualidade não precisa ser elitista ou nostálgica para ser relevante!

O legado mais importante de ANAVITÓRIA talvez seja a demonstração prática de que reinvenção e preservação não são conceitos antagônicos. Elas pegaram os elementos fundamentais do MPB – harmonia sofisticada, letra inteligente, melodia marcante – e os recontextualizaram para o presente.

Não rejeitaram a tradição nem se submeteram cegamente a ela. Criaram uma síntese que honra o passado enquanto também constrói o futuro. Provaram que a música brasileira pode ser simultaneamente raiz e contemporânea, local e universal, íntima e grandiosa. Enfim…

As ANAVITÓRIA não são apenas importantes para o novo MPB – elas são o novo MPB. 

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Clint Eastwood faz 95 anos hoje! O ator e também diretor de cinema é uma lenda e isso ninguém pode negar. Com 4 Oscars acumulados ao longo de 70 anos de carreira, Clint entra para a história do cinema como um grande realizador, dedicando sua vida a sétima arte. Para comemorar seu aniversário, o QN decidiu rever alguns filmes do diretor e dizer se eles têm relevância nos dias de hoje. Os filmes escolhidos abrangem os 40 anos de sua carreira como diretor, passando pelos anos 90 até seu possível último filme, lançado em 2024. Dessa forma, foram escolhidos os filmes Os Imperdoáveis (1992), Menina de Ouro (2004), Sniper Americano (2014), O caso de Richard Jewell (2019) e Jurado N° 2 (2024).

ALERTA: Esse artigo irá falar sobre alguns filmes que Clint Eastwood dirigiu que estão disponíveis no streaming na data de hoje. Portanto, caso não tenha assistido a algum filme, é importante ressaltar que haverá SPOILERS sobre a trama adiante. Por fim, vale lembrar também que esse artigo é do ponto de vista de uma pessoa e não contém a verdade absoluta. Caso tenha visto algum filme que discorde da interpretação, adoraríamos saber mais nos comentários.

Parâmetros de análise dos filmes de Clint Eastwood

Antes de analisar os filmes e chegar a um veredito, nada mais justo do que expor os parâmetros adotados na análise. Conforme dito anteriormente, escolhemos filmes que estavam disponíveis no streaming na data desta matéria. Além disso, tentamos abranger diversas épocas do diretor, para assim verificar se houve mudança tanto na forma de dirigir quanto nas temáticas abordadas. Porém o ponto central da análise é se o filme realizado conversa bem com o pensamento contemporâneo.

O pensamento contemporâneo da atualidade engloba assuntos que são mais relevantes para os dias de hoje. Podemos listas as questões sobre o meio ambiente e sustentabilidade; a diversidade, inclusão, igualdade e respeito às diferenças; questões sobre saúde mental e bem-estar e também inovação tecnológica aliada a ética digital como tópicos importantes para a discussão dos dias atuais. Um filme, por mais antigo que seja, pode exemplificar como antigamente as coisas funcionavam, mas se a mensagem final for de manter o status quo operante, não é um filme relevante para a atualidade de acordo com os parâmetros estabelecidos na análise.

Um exemplo é a série Bridgerton que, apesar de ser uma série que se passa nos anos 1800, atualiza a temática para os dias atuais e traz maior visibilidade para negros em papéis de destaque, inclusive na realeza, como também personagens femininas fortes que desafiam as normas sociais buscando independência.

Os Imperdoáveis (1992)

Clint Eastwood começa a dirigir na década de 70, em sua maioria filmes de faroeste e ação. Por isso não é surpresa que Os Imperdoáveis, filme de 1992, fosse o filme que iria gerar sua primeira indicação ao Oscar e sua vitória nas categorias de melhor filme e direção. Por ser um filme de faroeste, gênero que o diretor domina, é inegável que sua direção está ótima, com uso de enquadramentos abertos e movimentação de câmera lenta, tornando o filme quase como se fossem quadros em movimento. Aliás, Clint consegue uma proeza que é conseguir dirigir um ator quase inexperiente de forma tão natural, fazendo de Jaimz Woolvett parecer quase um ator veterano no filme. Porém, como diversos filmes deste gênero, o filme peca por não conversar bem com os temas da atualidade.

No filme, Clint interpreta Bill Munny, um pistoleiro aposentado que volta ao crime para buscar vingança contra dois homens que mutilaram uma prostituta. Junta-se a ele seu antigo parceiro, interpretado por Morgan Freeman e um jovem pistoleiro, interpretado por Woolvett. Bill largou a vida do crime quando se casou, abandonando assim sua arma, sua bebida e adotando uma vida cristã. Ele decide aceitar essa missão não pelo dinheiro, mas fato de um crime ter sido cometido e quem o cometeu ficar impune. Ainda assim, é crime buscar justiça com as próprias mãos, mas isso não o impede.

Assim temos um primeiro tema muito explorado pelo diretor, que é a questão da moralidade, justiça e virtude. Em um mundo violento em que mulheres não são ouvidas, é necessário que Bill faça justiça com suas próprias mãos, mas essa mensagem não envelhece bem atualmente, visto que temos diversas pessoas tornando-se justiceiras, justificando suas ações com aquilo que elas acreditam ser o correto.

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Em primeiro lugar, o papel da mulher no filme fica restrito a ser uma vítima que precisa da ajuda de um homem para salvar sua “honra”. Mais do que isso, as únicas mulheres que aparecem no filme são prostitutas, como se naquela época houvesse apenas dois tipos de mulheres: prostitutas ou esposas. Soa também condescendente o fato de Bill, que largou a vida bandida pela sua esposa, voltar a ativa não pela recompensa, mas sim pela honra, como se aquelas mulheres não conseguissem se defender. Ora, tem uma cena em que elas colocam homens para correr e uma delas inclusive atira. Será que era realmente necessário um homem nesta situação? Assim, o filme fica datado e não envelhece bem.

O filme está disponível para assistir no MAX

Menina de Ouro (2004)

Um dos filmes mais famosos de Clint Eastwood, Menina de Ouro é uma pérola para assistir e chorar por dias. Hilary Swank é Maggie, uma determinada garota que quer se tornar uma lutadora de boxe profissional. Frank é dono de uma academia que treina e agencia boxeadores há anos. Porém Frank, vivido pelo próprio Clint, não aceita treinar mulheres. E Maggie só aceita ser treinada por ele.

No filme, Frank é um católico que já deixou de acreditar em Deus há muito tempo. Cheio de questionamentos, ele frequenta a Igreja como hábito, talvez tentando buscar alguma ajuda divina com sua filha, por quem ele não tem notícias há anos. Sua principal “falha” é ser cuidadoso demais e nunca arriscar, fazendo com que o grande boxeador que está treinando troque-o por outro, que o coloca para disputar o medalhão. Quando aceita treinar Maggie, ele continua com o seu traço cauteloso e seu amigo, interpretado por Morgan Freeman, relembra que ele perdeu a visão de um olho em uma luta, mas que foi a melhor luta de sua vida. Assim, ele decide arriscar e colocar Maggie para lutar contra uma boxeadora que não joga limpo. Resultado? Maggie sofre um acidente e nunca mais poderá andar ou lutar.

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Este é dos poucos filmes do diretor em que a personagem principal é uma mulher. Com uma escolha maravilhosa, Swank consegue transmitir uma força e vulnerabilidade emocionantes. Sua trajetória de luta, persistência e dedicação ao sonho de ser uma boxeadora retrata uma mulher determinada e inspiradora. Assim, mostra que, com dedicação, conseguimos chegar e realizar nossos sonhos. No entanto, o filme também traz uma mensagem de meritocracia, que não é verdadeira.

No filme, Maggie é garçonete há anos e guarda todo dinheiro que recebe. Ela come restos de comidas deixados na lanchonete em que trabalha e fica até de noite treinando, sendo a última pessoa a deixar a academia. Essa crença de que, se alguém for bom e batalhador, automaticamente terá sucesso, é uma falácia, pois muitas pessoas esforçadas, batalhadoras e guerreiras não chegam lá. A ideia da meritocracia só faz com que a sociedade adoeça e tenha uma saúde mental lastimável.

Contudo, o filme aborda a questão da eutanásia, tabu nos dias atuais. Maggie explica para Frank que ela não é nada sem o boxe e, se não pode lutar, não quer mais viver. Em um ato de misericórdia, Frank aceita injetar uma quantidade absurda de medicação em sua veia para que ela morra. Uma das cenas mais emocionantes do cinema e também uma das mais importantes, mostrando que eutanásia não é assassinato e sim um ato de amor ao próximo. Apesar do discurso da meritocracia, o filme envelheceu bem.

O filme está disponível para assistir no MUBI.

Sniper Americano (2014)

Baseado na vida real de Chris Kyle, Bradley Cooper vive Chris, um atirador de elite condecorado por sua atuação na Guerra do Iraque, na qual matou mais de 150 pessoas. O filme é muito bem interpretado por Cooper que, se não fosse por ele, tornaria as mais de 2 horas de duração insuportáveis. Isso porque o filme é repleto de mensagem pró exército. Os treinamentos desumanos e abusos proferidos pelos treinadores são mostrados como se fosse algo rotineiro, necessário a se passar para se tornar um bom soldado. Não há crítica no filme, como se esse rito de passagem fosse necessário.

Em outros filmes, um herói é aquela pessoa que salva uma cidade, um planeta ou até a humanidade. Temos inúmeros exemplos na ficção como Batman, Superman, As meninas super poderosas. E também na vida real como Malala, Ghandi, Jesus. A semelhança entre eles? Todos lutam com um ideal e salvam vidas, não a tiram. Já Chris é considerado herói nacional por ter matado 150 pessoas. Claro, podemos ver pela ótica norte americana de que Kyle estava lutando pelo seu país e as mortes foram em decorrência da guerra. Dessa forma ele estaria salvando vidas, porém a guerra em si e seus motivos geopolíticos é questionável. Além disso, com tantos jovens com acesso a armas nos EUA, é perigoso exaltar uma pessoa justamente pela sua destreza em manusear armas e saber usá-las em pessoas.

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Por fim, termino com a anedota contada pelo pai de Chris no começo do filme. Existem três tipos de pessoas. Os cordeiros são aqueles que acreditam que não há mal no mundo e, por isso, não conseguem se proteger. Há os lobos, que são predadores e utilizam violência para intimidar e subjugar os mais fracos. E há os abençoados pelo dom da agressão, que usam disso para proteger o rebanho de cordeiros. Esses últimos são raros. Esse último é Chris Kyle que, com uma fábula bonita, justifica o uso da violência e celebra a morte de pessoas como um ato de proteção. Esse filme não só não envelheceu bem como também é um grande perigo para jovens que irão desculpar suas ações violentas com um discurso de “proteção” daquilo que acredita.

O filme está disponível para assistir no MAX

O caso de Richard Jewell (2019)

Clint Eastwood dedica boa parte da sua filmografia para retratar heróis norte americanos, como foi o caso de Sully e Sniper Americano. Desta vez, temos mais um filme de herói. Baseado em um artigo da revista Vanity Fair, Richard é um segurança que sonha em se tornar policial. Em um evento musical, ele descobre uma mochila abandonada durante as Olimpíadas de Atlanta de 1996. Seguindo o manual a risca, ele decide chamar os policiais presentes no local e convence eles a chamarem esquadrão antibombas. Infelizmente a bomba explode, mas com a rápida ação de Richard ele consegue diminuir drasticamente o número de mortos e acidentados com a explosão.

Em uma escolha pessoal do diretor, Clint Eastwood decide mostrar desde o começo que Richard não foi o responsável pela bomba. Assim, o diretor tira toda a potência da história, pois não há suspense. O filme todo fica restrito a ver como a mídia e o FBI culpam uma pessoa inocente. Mais do que isso. O filme mostra como uma pessoa bem intencionada, mas que preenche todos os requisitos de suspeito clássico (homem branco, não casado, sem namorada, mora com a mãe, gosta de armas) dos perfis policiais. Em um mundo onde temos políticos questionando resultado de eleições, a população desacreditando a mídia tradicional e disputas de narrativas que se beneficiam de fake news, um filme que coloca agentes da mídia e segurança como vilões se torna problemático.

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Aliás, a mídia é massacrada neste filme. Ela é retratada de duas maneiras no filme. A primeira é uma massa que não deixa Richard nem sua mãe saírem de casa. Muito visto em casos de paparazzis, essa é aquela mídia intrusiva, que tira a rotina e tranquilidade da pessoa que está em destaque. A outra é através de uma jornalista interesseira que troca sexo com um agente do FBI em busca de informação privilegiada e que só se importa em escrever o grande furo da vez.

A jornalista em questão é interpretada por Olivia Wild que, apesar de ser uma atriz incrível, fica presa ao maniqueísmo de sua personagem. Em pleno 2019, já deu de retratar mulheres assim, não? Ela até tem seu arco de redenção ao refazer os passos e ver que não daria tempo de Richard ter feito a ligação e estar presente no evento. Ainda assim, o estrago estava feito e ela fica presa ao que fez. Definitivamente esse é um filme que não conversa bem com os dias atuais.

O filme está disponível para assistir no MAX

Jurado N° 2 (2024)

O último filme de Clint Eastwood, por enquanto, sofreu quase que um boicote do estúdio por se tornar o primeiro filme do diretor que não foi lançado nos cinemas. Independente se o filme seja bom ou ruim ou se ele dialoga com os dias atuais, Clint é um diretor de prestígio que já trouxe diversos prêmios para o estúdio. Além disso, ele sempre faz filmes com orçamento reduzido e entrega o filme antes do prazo estabelecido pelo estúdio, ética de trabalho pouco vista hoje em dia. Em linhas gerais é um desrespeito com o diretor e com sua carreira.

Falando especificamente do filme, ele conta a história do Jurado número 2, um rapaz que espera o nascimento de seu primeiro filho e é chamado para julgar um caso que ele não sabe do que se trata. O homem que está sendo julgado jura que não matou a namorada, mas as evidências apontam para o contrário. Até que o Jurado número 2 percebe que, não só ele estava no local do crime, como ele pode ter um certo envolvimento com ele. E aí começa um dos filmes mais interessantes do diretor, que questiona até que ponto iremos falar a verdade e como conviver com ela.

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Enquanto o jurado tenta colocar dúvida nos demais quanto ao que realmente aconteceu no dia, ele tenta descobrir o que aconteceu de fato. Isso porque no dia em questão ele, voltando para casa, atropela algo. Até então ele acreditava ser algum animal, mas agora fica na dúvida. Junto com ele um outro jurado, um ex policial, descobre algumas informações que colocam em evidência essa teoria. Isso porque o carro do Jurado número dois foi levado para a oficina um dia depois da data do desaparecimento da vitima.

É interessante ver como cada pessoa trabalha com aquilo que é verdade. O homem que foi acusado jura que ele não é culpado e insiste ir a julgamento para provar sua inocência. A advogada da acusação aceita que ele é culpado pelas provas rasas que possui. O Jurado número 2 quer descobrir a verdade, mas não contá-la. Ele só não quer que uma pessoa inocente pague pelo seu crime. Os demais jurados só querem ir para casa e não pensar mais nisso. Depois de passar pela fase do herói, em que todos podem cometer erros, mas no geral são sempre cidadãos exemplares, Jurado N° 2 é uma grata surpresa para questionarmos a moralidade.

O filme está disponível para assistir no MAX

Veredito dos filmes de Clint Eastwood

Independente do veredito, Clint Eastwood é um excelente diretor e deve ser assistido. Sua filmografia é super diversificada e com certeza terá um filme que entrará no seu TOP 10 da vida. Infelizmente, pelo recorte feito por nós, dois filmes dialogam com os dias atuais e três não. Assim, por essa análise, os filmes de Clint não envelheceram bem, pois estão contemplando temáticas que não dialogam com a realidade atual. Mas insisto: isso não quer dizer que não devemos assisti-los, apenas precisamos vê-los e ter senso crítico para não internalizar um discurso retrógrado.

Mas é você, assistiu algum filme de Clint Eastwood? Conta para a gente o que achou deles nos comentários!

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Com o início confirmado das gravações da terceira temporada de House of the Dragon, muito volta a se debater sobre a tensão sexual entre as protagonistas da série.

Quando os créditos de Game of Thrones subiram pela última vez em 2019, muitos fãs pensaram que era o fim da jornada pelo universo televisivo baseado nos livros de George R. R. Martin. Mas a HBO tinha outros planos. Em 2022, House of the Dragon (baseada no livro A Dança dos Dragões, de 2019) chegou para nos transportar 200 anos antes dos eventos que acompanhamos por oito temporadas, mergulhando nas raízes da Casa Targaryen e seu domínio sobre Westeros sobre o lombo de dragões.

A série estreou em agosto de 2022 e rapidamente se tornou um fenômeno global. O primeiro episódio atraiu quase 10 milhões de espectadores apenas na noite de estreia – o maior lançamento da história da HBO. Ao longo de sua primeira temporada, a produção conquistou um Globo de Ouro de Melhor Série Dramática e garantiu uma base sólida de fãs ansiosos pela continuação, que veio em 2024.

Além da nostalgia, House of the Dragon acertou em cheio naquilo que muita gente queria (e sentia falta): dragões de verdade, não só como apêndices digitais, mas como forças motrizes da narrativa, personagens centrais. Visuais impecáveis, figurinos de cair o queixo e uma trilha sonora que remete à antiga Westeros contribuem para a imersão total nesse mundo brutal.

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Só que talvez o grande trunfo da série seja outro: o roteiro intimista. Ao invés de espalhar a atenção por múltiplas casas e regiões, o foco é (quase) absoluto na Casa Targaryen e suas disputas internas. Isso permite mergulhar fundo em personagens complexos, sempre à beira do abismo da loucura – tradição muito bem enraizada no sangue dourado dos Targaryen, que todos presenciaram na pele de Emilia Clarke (intérprete de Daenerys em Game of Thrones) em 2019.

Rainhas de Sangue: o poder (e o preço) de ser mulher em Westeros

Cartaz de divulgação de House of the Dragon, na qual Alicent e Rhaenyra estão em lados opostos.

(Imagem: HBO / Divulgação)

No centro de toda a trama de HOTD estão duas figuras femininas, cujas trajetórias transformam afeto em rivalidade mortal: Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower.

Rhaenyra (Milly Alcock jovem, Emma D’Arcy adulta) carrega toda a pressão de ser a primeira mulher nomeada herdeira do Trono de Ferro. Nessa transição de adolescente “louca por bolos” para líder endurecida pela guerra e pela traição, ela segue um arco que ecoa o dilema de sua sucessora Daenerys: afirmar-se num campo minado por homens, desafiando a ordem vigente. 

Por outro lado, temos Alicent Hightower (Emily Carey jovem, Olivia Cooke adulta), cuja trajetória é marcada por manipulação, desconforto e, em última instância, sobrevivência. Filha de Otto Hightower, ela é usada pelo pai para se aproximar do rei recém-viúvo, resultando no emblemático casamento com o muito mais velho Viserys – pai de sua melhor amiga de infância, que é ninguém menos que Rhaenyra. 

A série não se esquiva de mostrar o desconforto de Alicent com sua situação. Em uma cena um tanto quanto perturbadora, vemos Otto praticamente prostituindo a própria filha, enviando-a aos aposentos do rei em luto. A expressão de Alicent de nojo (e tristeza) enquanto se prepara para “confortar” o rei diz tudo sobre como ela se sente sendo usada como peão político.

É essa dinâmica que torna a deterioração da amizade entre Rhaenyra e Alicent tão dolorosa de assistir. Duas jovens mulheres, inicialmente unidas por um vínculo genuíno, são separadas por circunstâncias além de seu controle e transformadas em peças de trincheiras opostas de uma guerra de rainhas.

Queerbait ou tensão legítima nas protagonistas de House of The Dragon?

As versões jovens de Alicent e Rhaenyra se abraçando e se olhando no espelho.

(Imagem: HBO / Divulgação)

E aqui chegamos ao cerne da questão proposta: seria House of the Dragon mais um caso de queerbait na televisão?

A série começa estabelecendo uma conexão profunda entre Rhaenyra e Alicent que beira o romântico. Em uma cena memorável logo no primeiro episódio, Rhaenyra confessa a Alicent que gostaria de levá-la na garupa de seu dragão e fugir para longe, escapando das responsabilidades e expectativas que as cercam. O olhar trocado entre as duas adolescentes carrega uma intensidade que muitos espectadores interpretaram como algo além da amizade.

“Vamos voar para Pedra do Dragão. Você pode se sentar atrás de mim em Syrax. Podemos comer bolos e alimentar os dragões e nunca mais olhar para trás.”

(Rhaenyra Targaryen, House of The Dragon – S01E01)

Em uma entrevista para o site Digital Spy, as atrizes Emma D’Arcy e Olivia Cooke, que interpretam as personagens em etapa adulta, confessam que há, de fato, uma conexão erótica entre as personagens:

“Acho que sempre há uma energia erótica dentro dessas intensas amizades adolescentes”, disse Emma (Rhaenyra) ao site. Em segundo momento, Olivia (Alicent) confirmou: “Há um senso de propriedade, há um ciúme. Você está interpretando relacionamentos românticos adultos um com o outro. Sim, sempre há espaço para isso”.

Essa proposta de fuga, feita antes que o peso da coroa caísse sobre Rhaenyra (após a trágica morte de sua mãe Aemma durante o parto) e antes que Alicent fosse forçada ao casamento político que inicia a ruptura entre as duas, carrega uma nostalgia de possibilidades não realizadas que permeia toda a série.

No entanto, a narrativa nunca desenvolve explicitamente esse subtexto romântico. A relação entre as duas permanece em um território ambíguo, permitindo múltiplas interpretações. Para alguns, isso é um exemplo clássico de queerbait – insinuar uma relação queer para atrair certo público, sem nunca concretizá-la na narrativa.

Outros argumentam que essa ambiguidade é proposital e reflete a realidade histórica (mesmo em um mundo fantasioso) onde tais sentimentos frequentemente precisavam permanecer não ditos – e talvez nunca serão. Além disso, a complexidade da relação entre Rhaenyra e Alicent – de amigas íntimas a inimigas mortais – ganha camadas adicionais com esse “ei, tu é?…” eterno nas entrelinhas.

Rhaenyra é LGBTQIAP+: e agora?

A cena de confirmação da bissexualidade da personagem principal de House of The Dragon.

(Imagem: HBO / Divulgação)

Na segunda temporada, a série dá um passo além. Em um momento marcante, no episódio 6, Rhaenyra beija Mysaria (vivida por Sonoya Mizuno), sua conselheira e antiga affair de Daemon Targaryen.

Aqui está o reconhecimento canônico de que Rhaenyra é bissexual, algo nunca abordado nos livros originais. Para quem busca representatividade, é uma evolução; mas o roteiro ainda é tímido, não aprofunda muito esse elemento – fica claro que há terreno fértil para explorar melhor esse lado na personagem, principalmente em tempos contemporâneos em que representatividade efetiva faz diferença.

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O potencial para histórias LGBTQIAP+ é imenso, não apenas para Rhaenyra, mas quem sabe também para Alicent. Agora, cabe à HBO e aos seus roteiristas decidirem se vão avançar e construir novas camadas nessas trajetórias ou se manterão certas possibilidades apenas nos detalhes, alimentando o, até então, inegável, queerbait.

House of the Dragon e um legado de reticências

Rhaenyra e Rhaenys Targaryen.

(Imagem: HBO / Divulgação)

A versão em cores de A Dança dos Dragões ainda está traçando seu legado nas telas – e faz isso colocando as mulheres na linha de frente do poder, de maneira que poucas séries de fantasia épica ousaram até hoje.

A trama não apenas gira em torno de uma guerra civil, mas de uma guerra civil entre duas facções lideradas por mulheres. Assim, tanto o livro quanto a própria série revelam, capítulo após capítulo, que, embora figuras masculinas como Viserys, Otto Hightower, Daemon Targaryen e Criston Cole gostem de acreditar que detêm as rédeas da história, são Rhaenyra e Alicent quem realmente determinam o curso dos eventos em Westeros.

Esse protagonismo feminino desconstroi preconceitos persistentes, mostrando que mesmo num cenário medieval, patriarcal e tradicionalmente hostil às mulheres, elas exercem um poder político real e transformador. Elas podem não estar sempre sentadas no trono, mas são suas estratégias, alianças e decisões que escrevem o destino do reino. Em tempos tão atuais de debate sobre espaço e voz feminina na política, a série não poderia ser mais pertinente: ainda hoje, vemos essa tentativa de apagamento e sub-representação de figuras femininas nos grandes centros de tomada de decisão.

Um dos maiores símbolos dessa luta é Rhaenys Targaryen, a célebre “Rainha-Que-Nunca-Foi” (originalmente “The-Queen-That-Never-Was”), interpretada por Eve Best. Décadas antes dos eventos principais da série, Rhaenys deveria ter herdado o trono, mas foi preterida unicamente por ser mulher. Sua presença funciona como um lembrete constante – e incômodo – do que as mulheres podem conquistar e de tudo que pode lhes ser negado, alimentando discussões não só sobre o ciclo do poder em Westeros, mas sobre o próprio ciclo do poder no nosso mundo real, onde a exclusão feminina da política ainda é uma batalha cotidiana.

À medida que House of the Dragon avança, especialmente agora com a segunda temporada já encerrada e a terceira temporada em fase de produção (com previsão de estreia apenas para meados de 2026), o impacto da série cresce também fora do streaming.

As versões jovens de Alicent e Rhaenyra, em um dos primeiros episódios de House of The Dragon.

(Imagem: HBO / Divulgação)

Fica a expectativa de que o roteiro aprofunde ainda mais essas temáticas de representatividade – tanto no campo do empoderamento feminino quanto no campo queer. O público já viu Rhaenyra expressar sua bissexualidade ao beijar Mysaria mas, até agora, esse lado da personagem e suas consequências narrativas seguem pouco explorados.

Se House of the Dragon vai se eternizar como queerbait ou ousar ir além, só o tempo dirá. O que é certo, entretanto, é que o fogo Targaryen segue prometendo derreter tabus, desafiar expectativas e, sobretudo, lembrar que lugares de poder podem – e devem – ser femininos.

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As etapas de produção de um “boneco” da Riot Games https://oquartonerd.com.br/as-etapas-de-producao-de-um-boneco-da-riot-games/ https://oquartonerd.com.br/as-etapas-de-producao-de-um-boneco-da-riot-games/#respond Fri, 16 May 2025 14:07:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68319 Ah, os “bonecos” da Riot Games… Se você joga League of Legends ou Valorant, sabe: cada novo campeão ou agente não é só mais um personagem na tela — é....

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Ah, os “bonecos” da Riot Games… Se você joga League of Legends ou Valorant, sabe: cada novo campeão ou agente não é só mais um personagem na tela — é um evento, é ansiedade, é discussão infinita no X (ou no grupo do Discord).

Isso vale tanto para quem joga League of Legends quanto para Valorant, outro fenômeno da Riot, em que cada novo Agente tem potencial para chacoalhar o meta, criar memes instantâneos e bater recordes de hype mundial.

Mas você já parou pra pensar no trabalhão que dá criar um desses bonecos? Não é só juntar habilidades aleatórias e botar um nome legal. É arte, é roteiro, é criatividade, é debate interno e, ainda mais importante: é carinho pela comunidade. O próprio site oficial da Riot Games conta: “A criação de um Campeão novo do League of Legends começa com seu DNA: Design, Narrativa e Arte”.

Em 2022, a Millenium.gg entrevistou o Rioter August, então recém-promovido líder de design das personagens de LoL, e ele explicou o passo a passo da produção de cada um deles. Como inicia o artigo escrito por Zelsh: “Criar um Campeão de League of Legends significa pegar um desenho simples e adicionar um lança-foguetes nele”. Mas, ao passo que a entrevista se desenrola, fica evidente que esse processo não é tão simplista assim.

Com o sucesso de Arcane e a confirmação de pelo menos mais duas séries de animação da Netflix baseadas no universo de Runeterra, fica ainda mais comum o debate e a exaltação pela criatividade e pela complexidade colocada nas narrativas da Riot Games. Por isso, o QN decidiu ir à fundo para tentar explicar como se dá a composição de seus universos.

O passo-a-passo da produção de um novo personagem da Riot Games, segundo o Rioter August

O nascer da ideia

K'Sante, o Campeão de LoL. inspirado em Lil Nas X.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Tudo começa com uma pergunta: “o que está faltando no nosso universo?”

Pode ser uma função que ninguém preencheu, um tipo de mecânica que ainda não apareceu, ou até um “representa aí, Riot!” vindo forte da comunidade. Nem sempre a motivação é só técnica — pode ser emocional, temática, política (sim, dá pra discutir política em criação de boneco, e tem Rioter que adora esse caos construtivo).

É nesse momento que conceito e oportunidade se misturam. Lembra quando a Senna chegou? Foi pra preencher a saudade de suporte atirador. E quando Lil Nas X foi divulgado como o “novo presidente” do LoLzinho, em collab com o lançamento do K’Sante? Ou quando conversamos sobre a representatividade em personagens como Akshan ou Rell? Tudo isso é um mapa de necessidades que guia a equipe de design no começo, quando tudo é apenas uma faísca.

Junta todo mundo na Riot e bora viajar

Ilustração de personagem de League of Legends, que pertence à Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Agora, é mesa cheia.

Designer, roteirista, artista, animador, todo mundo misturado: listam referências, criam os primeiros rabiscos, discutem desde o nível de poder de ataque até a cor da roupa — e, claro, já começam a sonhar com as skins. Tem sempre aquela guerra entre equilibrar inovação e manter o que faz sentido pro universo do jogo. Todo personagem é um quebra-cabeça sem manual.

O mesmo vale para Valorant: cada novo Agente nasce de brainstorms caóticos (do jeito bom!), misturando ideias de gameplay, história da personagem e identidade cultural. O visual, a voz, o país de origem e até a forma de falar de cada agente são debatidos com consultores culturais e influências da comunidade global — como aconteceu com Gekko, que homenageia a cena jovem e latina de Los Angeles no visual e nas falas.

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Se o conceito é aprovado, vão surgindo mockups, descrições de personalidade, sketches (que mais parecem a fanart que você queria, mas feita com o dobro de orçamento). E não duvide: às vezes, a lore muda três vezes antes do boneco sequer ganhar nome oficial.

Prototipando e testando até doer (nos estagiários também)

Prototipação do rework de Viktor, um dos mais falados "bonecos" da Riot.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Aqui o bicho pega. Literalmente.

A equipe interna recebe uma build tosca pra testar as novas mecânicas — e correm lendas de bugs tão surreais que nunca vão pro ar. É na base da repetição: cria, testa, quebra, corrige. Ajusta habilidade, muda passiva, mexe nas interações até tudo fazer sentido (e não quebrar o servidor, claro).

Essa parte é menos glamour e mais suor: balancear gameplay, garantir que ninguém criou um novo “Yasuo desbalanceado”, dar aquele toque de novidade sem virar meme negativo.

Arte, animação, voz… Enfim, a vida do boneco!

Animação colada sobre foto – Rioters em estúdio da Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Você achou que era só escolher uma skin bonita? Achou errado, otário!

O time de arte pega o conceito e transforma em modelo 3D, detalhe de textura, animação fluida, efeitos psicodélicos, referências mitológicas ou tenebrosas (olha o Viego aí, gente). E não para por aí: em Valorant, além dos visuais insanos, cada agente é dublado por artistas de diferentes países, sempre ligados ao pano de fundo daquele personagem. Exemplo é a Fade, cuja concepção envolveu pesquisa profunda em temas de medo, pesadelos e cultura turca — resultando em uma personagem assustadora não só nas skills, mas em toda sua ambientação.

Enquanto isso, a equipe de áudio caça a voz perfeita. Não é à toa que alguns agentes de Valorant têm sotaque marcante ou dublagem de cantores e atores protagônicos da região de inspiração. É narrativa, é diversidade – é botar vida no boneco antes mesmo dos jogadores.

E também falando em áudio, há de se pensar na música tema do personagem! Um artigo produzido pela própria desenvolvedora em 2023 detalha o processo artístico da criação dos sons de instrumentos de sopro do Campeão Milio. É surreal entender como as músicas dão vazão à criatividade de toda a equipe de arte da Riot!

Feedback, ajustes e aquela ansiedade pré-lançamento

Ilustração em esboço de Agente de Valorant.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Pensa que acabou? Essa é a hora de testar até a tecla R cair do teclado.

Feedback de jogadores internos, mudanças emergenciais, olhar atento do balanceamento e, em muitos casos, o famoso PBE (ambiente de teste aberto). O personagem passa por afinamentos, tanto no visual quanto no gameplay, já imaginando como vai afetar o meta.

É também nesse ponto que surgem memes, teorias, fãs criando fanarts antes do boneco sequer ir pro live — e, claro, o time de comunicação e marketing preparado pra soltar teaser, vídeo lore e skin nova: tudo junto pra explodir o X.

E falando em ações transmídia, enquanto LoL expande Runeterra com animações como Arcane, em Valorant, o universo se constrói fragmentado: cada cinemática, diálogo, cartão de Agente ou easter-egg do mapa adiciona uma peça a um quebra-cabeça narrativo que a comunidade ama decifrar.

Lançou: agora é stan, é ship, é treta e é amor

Capa de vídeo-divulgação de fã sobre um novo "boneco" de lançamento da Riot Games.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

O boneco foi lançado. Agora, é só paz e tranquilidade? Errou feio, errou rude!

O monitoramento é constante: hotfix para corrigir bugs, ajustes de balanceamento — e aquela enxurrada de comentários apaixonados, indignados ou surpresos nas redes sociais. Mas isso faz parte: um “boneco” só é perfeito porque a história dele se constroi entre o time da Riot e a comunidade que vive imersa entre a lore e a jogabilidade.

A Riot Games como uma potência da narrativa digital – e o referencial teórico por trás

Ilustração de personagens e ambientes conhecidos da narrativa do mundo de Runeterra (universo de LoL) – Demacia e Noxus.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Entender o processo de criação dos “bonecos” da Riot Games é mergulhar no que de mais vanguardista existe na indústria dos games. Não à toa, a Riot se tornou uma das mais renomadas produtoras do planeta — e cada etapa desse pipeline criativo, dos brainstorms iniciais ao monitoramento pós-lançamento, revela o porquê.

Esse êxito criativo tem respaldo teórico e cultural. Dentro dos estudos culturais, pioneiros como Stuart Hall e Henry Jenkins nos lembram que personagens não são só pixels animados: são signos, espelhos e agentes de transformação social. Não é apenas sobre desenhar um campeão com habilidades inéditas ou um agente com personalidade cativante — é sobre criar representatividade, valorizar identidades e pressionar o próprio segmento a expandir horizontes. Como analisei naquele texto sobre o Orgulho Royale em Fortnite, a visibilidade impacta a comunidade e faz estúdios como a Riot repensarem seu casting.

A genialidade da Riot está em compreender, também, a narrativa como força vital. Brenda Laurel (“Computers as Theatre”) e o próprio Jenkins (“Game Design as Narrative Architecture”) demonstram quanto a experiência do jogador é moldada, principalmente, pela imersão no universo do jogo. LoL e Valorant são exemplos vivos, expandindo fronteiras entre gameplay e storytelling, onde design visual, lore e mecânicas se alimentam mutuamente para engajar (e emocionar).

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No coração dessa máquina criativa, estão ainda as teorias de UX, como de Jesse Schell (“The Art of Game Design”) e Kremers (“Level Design for Games”), que fundamentam a obsessão da Riot por testes e refinamentos. Não basta criar arte — é preciso garantir que cada personagem reverbere no psicológico do jogador, que cada habilidade e skin seja não só funcional, mas inesquecível.

E, claro, tudo isso potencializado por uma cultura participativa pulsante, como diz (novamente) Henry Jenkins: aqui, meme, hype e amor de fã são combustíveis valiosíssimos. Na “attention economy” dos tempos digitais, cada lançamento da Riot é um evento global porque mobiliza, aproxima, viraliza. Não é só jogabilidade — é pertencimento, é história contada a muitas mãos.

Toda esse organismo de engrenagens coloca a Riot Games no topo da indústria. Mais do que criar personagens, ela cria cultura, entretenimento e experiência coletiva.

Não é à toa que, seja no MOBA ou no FPS, a Riot cria experiências que vão além da tela. Seja nas inovações mecânicas da Senna, nos duelos de lore entre Yoru e Phoenix, ou nos debates acalorados sobre a ascendência da Reyna, cada novo personagem se torna um evento porque mistura mecânicas inovadoras e histórias profundas, feitos para conversar com uma comunidade global, diversa e realmente interessada.

E é por isso que, entre teorias, pixels e paixão, seguimos esperando — e vibrando — por cada novo “boneco”.

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Todas as formas que This Is Us pega em traumas – até de quem não tem nenhum https://oquartonerd.com.br/todas-as-formas-que-this-is-us-pega-em-traumas/ https://oquartonerd.com.br/todas-as-formas-que-this-is-us-pega-em-traumas/#respond Sat, 10 May 2025 13:30:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68302 Quem nunca olhou para a própria vida dizendo “nossa, eu sou tão tadinho” sem nem ser depois de assistir algum episódio de This Is Us, que atire o primeiro lenço! ....

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Quem nunca olhou para a própria vida dizendo “nossa, eu sou tão tadinho” sem nem ser depois de assistir algum episódio de This Is Us, que atire o primeiro lenço! 

Se você já assistiu a série, sabe que provavelmente ela te pegou de surpresa – mesmo se você for daquela pessoa menos dada às lágrimas. A real é: ninguém escapa ileso de TIU. Nem os espectadores, nem os próprios personagens, que são praticamente tratados de laboratório emocional em tempo real.

Mas, se você ainda nunca ouviu falar, vale explicar: a série de televisão, categorizada como drama estadunidense, foi roteirizada por Dan Fogelman, foi do ar de setembro de 2016 até maio de 2022 pela NBC, totalizando seis temporadas, e é conhecida por abordar com sensibilidade e profundidade questões familiares, relações interpessoais e os impactos do passado no presente.

This Is Us, que conta com um elenco afiadíssimo – Mandy Moore, Milo Ventimiglia, Chrissy Metz e Justin Hartley –, venceu diversos prêmios, incluindo o Emmy de “Melhor Ator em Série Dramática” para Sterling K. Brown (ator que dá vida a Randall), e recebeu múltiplas indicações ao Globo de Ouro e a outros importantes prêmios da TV. O sucesso se deve ao “choro coletivo” provocado por seus roteiros, que transformaram experiências banais e traumas silenciosos em protagonistas da narrativa.

[Este artigo contém spoilers, então, se você ainda não começou, agora é um ótimo momento para maratonar!]

Senta, pega o lencinho e me acompanha

Os protagonistas de This Is Us.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Mais do que uma série – This Is Us se tornou, para muitos que se emocionaram com a família Pearson, aquele espelho cruelmente generoso.

Não é exagero.

Em tempos frenéticos, cheios de conteúdo vazio e roteiros que só descartam pessoas, Dan Fogelman criou um universo onde até respirar dói. É quase como se, a cada episódio, alguém estivesse te dizendo: “calma, sentir desesperança também faz parte”; ou então: “tá tudo bem não estar tudo bem, tá?”.

TIU virou sinônimo de “série pra chorar” pois mexe nas feridas universalmente humanas, nas falhas, perdas, pequenas violências cotidianas e traumas de todos os tipos com autenticidade, fugindo dos clichês melodramáticos tradicionais e apresentando personagens esféricos. Luto, abandono, adoção, identidade racial, dependência, distúrbios alimentares, pressões familiares e traumas silenciosos do cotidiano, são alguns dos temas tratados nos diversos arcos da série. 

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É empatia pura. Quase incômoda, porque acaba sendo obrigatória. A série potencializa ao máximo o poder do “poderia ser eu” a cada flashback, a cada salto temporal, a cada novo segredo que aparece, a cada briga de família que lembra… bem, todas as famílias.

Conheça The Big Three e seus pais

O núcleo Pearson (família principal de This Is Us), com os trigêmeos ainda bebês.

(Imagem: NBC / Reprodução)

A família Pearson é formada inicialmente por Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore), um casal que espera trigêmeos. No dia do parto, um dos bebês não sobrevive, e o casal decide adotar um recém-nascido negro abandonado no hospital, nascido no mesmo dia. Assim nascem “Os Três Grandes” (The Big Three) – Kevin, Kate e Randall.

A estrutura narrativa é o grande diferencial da série: constantemente alterna entre diferentes períodos, mostrando os personagens em várias fases da vida. Vemos os pais jovens, os filhos crianças, adolescentes e adultos, todos conectados por decisões e eventos que ecoam através do tempo. Essa abordagem não-linear permite que o público descubra gradualmente como o passado moldou quem os personagens se tornaram no presente.

Jack Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Jack Pearson é o patriarca carismático e dedicado da família, que morre tragicamente quando os filhos são adolescentes. Sua causa mortis só é revelada depois de muuuitas temporadas a fio, quando o espectador já criou várias teorias e zerou todas as possibilidades possíveis na sua cabeça. Não vou falar como foi, mas fica o spoiler: é, realmente, mais triste e inesperado do que você imagina. 

Assim, Jack é, apesar de não existir no tempo “presente” da cronologia da série, o fantasma que molda toda a história. Ele é o símbolo de paternidade idealizada. Mas nenhum personagem foge do peso emocional: o trauma não é só ferida aberta – é tentativa, muitas vezes frustrada, de fazer o melhor e falhar. Jack entrega o luto do passado, o medo de se tornar o pai ausente que teve, e o alcoolismo como resposta à dor – mesmo (ou especialmente) tentando proteger todo mundo.

Três fases de idade de Rebecca Pearson.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Rebecca Pearson é a matriarca que, após a morte de Jack, precisa criar os três filhos sozinha, e posteriormente (tempo futuro da série) enfrenta o avanço do Alzheimer em idade avançada. Rebecca transborda culpa. Carrega a dor de ser mãe, conselheira, companheira e, às vezes, vilã da própria família. Suas escolhas reverberam em todos os filhos, e ela precisa aprender a lidar com o fato de que não há roteiros prontos para acertar.

Três fases de idade de Randall Pearson.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Randall (Sterling K. Brown) é aula de trauma moderno: o menino negro adotado pela família branca, intelectualizado, bem-sucedido, mas nunca totalmente pertencente. É o filho nota dez que sempre carrega medo do abandono, crise de ansiedade, laços frágeis com origens que nunca pôde compreender de verdade.

Três fases de idade de Kevin Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Kevin (Justin Hartley), o galã de aparência perfeita, carrega o vazio clássico de quem vive à sombra do outro. O abandono paterno, a busca por aceitação, o vício mascarado em conquistas rasas. O trauma dele é a pergunta cotidiana “será que eu sou suficiente?”, e nunca, de fato, ser.

Três fases de idade de Kate Pearson.

(Imagem: NBC / Reprodução)

Kate (Chrissy Metz) tem sua vida calcada em traumas invisíveis para todos, menos para ela. A pressão pela aprovação, os distúrbios alimentares, a culpa imensa por carregar memórias que doem mais do que qualquer deslize. Sem falar da trajetória sobre maternidade, gordofobia, insegurança e, principalmente, o medo (e desejo) de ser notada.

Os não-Pearsons, mas que também são Pearsons

Além do núcleo principal dos Pearson, This Is Us brilha ao desenvolver personagens “agregados” que se tornam fundamentais para a narrativa e trazem novas camadas aos traumas e afetos da série. Quatro deles merecem destaque especial:

Beth Pearson, esposa de Randall.

Beth Pearson (Susan Kelechi Watson) é a esposa de Randall e, sem dúvida, um dos personagens mais bem construídos da série. Mulher negra forte, inteligente e com personalidade marcante, Beth equilibra a ansiedade e perfeccionismo de Randall com pragmatismo e humor afiado. Seu arco explora desde a perda do pai na adolescência até a frustração de abandonar o sonho da dança, culminando na abertura de sua própria escola de ballet. Beth representa a parceira que não apenas complementa, mas desafia e fortalece seu cônjuge, formando com Randall um dos casais mais sólidos e admirados da TV recente. Sua relação com a mãe Carol (interpretada por Phylicia Rashad) também revela ciclos de exigência e aprovação que se repetem com suas próprias filhas, especialmente Tess.

Toby Damon, marido de Kate Pearson.

Toby Damon (Chris Sullivan) entra na vida de Kate como um raio de otimismo e humor em meio à sua luta constante com a autoestima. Inicialmente apresentado como alívio cômico, Toby ganha profundidade ao enfrentar depressão, problemas cardíacos e os desafios da paternidade. Seu relacionamento com Kate passa por altos e baixos intensos – desde a alegria do casamento e nascimento do filho Jack (que nasce prematuro e com deficiência visual) até o doloroso processo de divórcio nas temporadas finais. Toby representa como os agregados também trazem suas próprias bagagens emocionais para a dinâmica familiar, e como o amor, por mais genuíno que seja, nem sempre é suficiente para superar diferenças fundamentais.

Sophie Inman, o principal interesse amoroso de Kevin Pearson.

Sophie Inman (Alexandra Breckenridge) é o amor de infância de Kevin e representa o “e se…” que persegue sua vida. Desde crianças na escola, passando pelo casamento precoce que termina com a infidelidade de Kevin, até os reencontros na vida adulta, Sophie simboliza a busca por redenção e segunda chance. Seu arco mostra como alguns laços resistem ao tempo e aos erros, mesmo quando parecem definitivamente rompidos. Após relacionamentos fracassados de Kevin com outras mulheres (incluindo Madison, mãe de seus gêmeos), a série fecha o ciclo romântico dele justamente com Sophie, sugerindo que certos amores precisam de tempo e amadurecimento para funcionarem.

Miguel Rivas, o segundo marido de Rebecca Pearson.

Miguel Rivas (Jon Huertas), inicialmente apresentado como o melhor amigo de Jack, evolui para uma das figuras mais complexas da série ao se casar com Rebecca anos após a morte do patriarca. Seu relacionamento com ela representa um amor nascido da amizade e do cuidado mútuo, sempre sob a sombra da memória de Jack e a desconfiança inicial dos filhos de ambos. Com paciência infinita, Miguel aceita ser eternamente “o segundo”, nunca competindo com a memória coletiva tão forte do primeiro marido, mas construindo seu próprio espaço no coração de Rebecca. Nas temporadas finais, ele se torna seu guardião incansável durante o Alzheimer, sacrificando sua própria saúde até seus últimos dias, quando a série finalmente dedica um episódio inteiro para contar sua história completa, desde a infância em Porto Rico até sua morte, abordando temas como imigração, identidade cultural e a beleza dos amores que acontecem na maturidade.

Esses quatro personagens não são meros coadjuvantes – são pilares que sustentam e expandem o universo emocional dos Pearson, frequentemente servindo como espelhos que refletem traumas não resolvidos ou como catalisadores de crescimento.

Além disso, a magia de This Is Us também reside nos personagens que, mesmo em passagens breves, deixam marcas permanentes na trama e em nossos corações.

William Hill (Ron Cephas Jones), o pai biológico de Randall que surge apenas na primeira temporada antes de sucumbir ao câncer, é talvez o exemplo mais poderoso dessa dinâmica. Em poucos episódios, William transforma completamente a vida do filho que nunca pôde criar, oferecendo-lhe não apenas respostas sobre suas origens, mas também uma filosofia de vida marcada pela poesia, música e aceitação da impermanência.

Outros personagens como Dr. K (Gerald McRaney), o obstetra que ajuda Jack a transformar a tragédia em esperança no nascimento dos trigêmeos; Nicky Pearson (Griffin Dunne), o irmão de Jack dado como morto no Vietnã e redescoberto décadas depois; e Deja (Lyric Ross), a adolescente adotada por Randall e Beth, carregam histórias que, embora não ocupem o centro da narrativa durante toda a série, são fundamentais para entendermos como traumas podem ser tanto herdados quanto curados através de gerações.

Esses personagens “de passagem” ou não, nos lembram que, na vida real, algumas das pessoas mais transformadoras em nossas jornadas são aquelas que, às vezes, estão conosco por apenas uma estação – mas cuja influência permanece para sempre. Através deles, This Is Us reforça que família vai muito além dos laços de sangue, sendo construída também por escolhas, compromissos e pelo amor que resiste às imperfeições de todos.

Mas, nem tudo são flores em This Is Us… (Ou melhor, arco-íris)

O curto arco LGBTQIAP+ de This Is Us – Tess Pearson com Alex.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Apesar de todas as suas qualidades, This Is Us apresenta uma falha significativa que não pode ser ignorada: a falta de personagens LGBTQIAP+ na trama. O único arco revolve em Tess Pearson (interpretada por Eris Baker), filha de Beth e Randall, mas mesmo ele patina na falta de aprofundamento.

Tess vive seu rito de passagem ao se reconhecer lésbica na pré-adolescência, o que já é um ponto positivo por trazer uma jovem negra e queer para o centro das atenções de uma grande série dramática. Contudo, esse potencial é rapidamente desperdiçado em função de escolhas narrativas que abafam o arco próprio da personagem.

Em vez de colocar Tess no centro de uma discussão mais profunda sobre autoconhecimento, aceitação e os desafios de ser uma jovem queer, o roteiro transfere o peso do drama para Beth, sua mãe. Assim, os conflitos de Tess deixam de ser realmente seus e tornam-se uma extensão do “mommy issue” de Beth – problemática que, por sua vez, ecoa a criação da própria Beth, também cheia de cobranças maternas e busca por aprovação. A situação de Tess vira pano de fundo para mais um ciclo geracional de insegurança, e não um mergulho no que significa ser uma adolescente lésbica.

Confira também:

Inclusive, os momentos em que Tess traz à tona suas ansiedades e medos de não ser aceita mal têm tempo de se desenvolver na tela. Logo após surgirem, são rapidamente engolidos por tramas familiares mais amplas ou se perdem em debates sobre “rebeldia” adolescente, como se a orientação sexual dela fosse apenas mais um traço típico do coming-of-age, e não um ponto de vulnerabilidade, orgulho e crescimento individual.

Outro exemplo de oportunidade perdida é o relacionamento entre Tess e Alex, uma pessoa não-binária apresentada como seu interesse romântico. Essa relação surge e desaparece quase sem impacto, sem qualquer aprofundamento sobre as nuances de viver um relacionamento LGBTQIAP+ na adolescência, sobre construção de identidade ou enfrentamento do preconceito. Para efeitos de comparação, o arco de Deja (Lyric Ross), irmã adotiva de Tess, com o namorado Malik (Asante Blackk), ganha muito mais desenvolvimento, tempo de tela e emoção — mostrando um nítido desequilíbrio narrativo.

Essa superficialidade empobrece a experiência e reforça a sensação de que This Is Us priorizou, acima de tudo, histórias heteronormativas e traumas já considerados “clássicos” na TV, relegando a vivência queer aos bastidores, quase como um “checkbox” de diversidade e não como genuína vontade de discutir novas camadas da experiência humana. Como apontam outras análises, fica evidente o quanto o tema gay é subaproveitado, mesmo numa série conhecida por jogar luz sobre todas as formas de traumas familiares.

O resultado, portanto, é uma falta sentida: havia espaço de sobra para transformar a trajetória de Tess – e de outros possíveis personagens LGBTQIAP+ – em algo tão intenso, rico e emocionalmente relevante quanto os arcos centrais da série. O pouco que se aborda fica eclipsado por questões mais amplas, e a ausência de outras narrativas queer reforça ainda mais esse déficit representativo.

Enfim… por que dói (tanto) assistir This Is Us?

A família Pearson, com os trigêmeos por volta de 8 anos de idade, posando num cenário de festa de aniversário como em uma foto de família.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Cada personagem central de This Is Us representa um trauma específico: Jack carrega o peso esmagador da responsabilidade; Rebecca enfrenta as culpas infinitas da maternidade; Randall luta constantemente com questões de pertencimento; Kevin persegue incansavelmente a aprovação que nunca parece suficiente; e Kate navega pelas águas turbulentas da insegurança com o corpo e os desafios da maternidade. Porém, o verdadeiro gênio da série está em como esses traumas individuais se entrelaçam para formar uma tapeçaria familiar complexa e reconhecível.

Um dos maiores méritos é conseguir tirar lágrimas até de quem jura que não se abala. E não é à toa: cada episódio é cheio de cotidiano, de situações banais (quem nunca discutiu por causa de uma receita de família, por exemplo?) e diálogos tão familiares que é impossível não se reconhecer ali. Nesse sentido, This Is Us transcende o rótulo de “dramalhão” para se tornar um espelho sincero da experiência humana.

O uso alternado de passado, presente e futuro serve principalmente para ilustrar que cicatrizes não desaparecem – elas só mudam de formato. O trauma não tem idade certa, não avisa, não pede licença: às vezes é um olhar atravessado, outras vezes um aniversário esquecido, às vezes só um “desculpa” que ficou engasgado por anos. E é justamente nessa honestidade brutal sobre como carregamos nossas feridas que a série encontra sua universalidade.

Mesmo tendo encerrado sua jornada em maio de 2022, This Is Us permanece tão relevante quanto no dia de sua estreia. Disponível no Brasil através do Star+ (Disney+), a série continua sendo uma experiência essencial para quem busca narrativas que não apenas entretêm, mas também curam.

Os atores adolescentes dos trigêmeos de This Is Us.

(Imagem: NBC / Divulgação)

Nunca é tarde para conhecer os Pearson e, através deles, talvez entender melhor suas próprias histórias familiares, seus próprios traumas – mesmo aqueles que você jurava não ter.

Afinal, como This Is Us nos ensinou ao longo de seis temporadas: somos todos feitos de memórias imperfeitas, decisões questionáveis e pequenos momentos de redenção.

E this is exatamente que nos torna humanos.

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Biotecnologia | A “desextinção” dos lobos de Game of Thrones https://oquartonerd.com.br/biotecnologia-a-desextincao-dos-lobos-de-game-of-thrones/ https://oquartonerd.com.br/biotecnologia-a-desextincao-dos-lobos-de-game-of-thrones/#respond Wed, 07 May 2025 13:45:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68284 Nos últimos dias, a internet quebrou completamente de fofura e especulação com a divulgação do nascimento de três lobos pré-históricos! Sabe aquele momento em que a ficção científica pula o....

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Nos últimos dias, a internet quebrou completamente de fofura e especulação com a divulgação do nascimento de três lobos pré-históricos!

Sabe aquele momento em que a ficção científica pula o muro, invade a nossa realidade e você se vê tentando entender se está lendo uma hard news, uma crônica da HBO ou o roteiro de um novo capítulo de Black Mirror?

A notícia do nascimento de Romulus, Remus e Khaleesi, os três filhotes de lobo-terrível (a espécie de lobo extinto há cerca de 12 mil anos), reproduzidos a partir de manipulação de DNA em laboratórios da Colossal Biosciences, foi assim!

Se você é fã de Game of Thrones, aposto que lembrou rapidinho dos lobos gigantes, companheiros letais (e adoráveis) da família Stark. A diferença? Agora, não é CGI, efeito prático de set ou truque de edição. De repente, a ideia de encontrar um lobo desses não é exclusiva das terras geladas de Winterfell, mas, quem sabe, do seu próximo rolê no zoológico?

Pois é. A ciência está, mais uma vez, elevando os limites entre o que é possível e o que é pura especulação nerd. Por isso, nós do QN resolvemos reunir as últimas descobertas do mundo da biotecnologia, para você poder embarcar com a gente nessa jornada pelo mundo louco da “desextinção”, onde todo bicho extinto tem uma chance e todo geneticista é um pouco Dr. Frankenstein (ou Dr. Wu, para os apaixonados por Jurassic Park). 

Desextinção – ou “quando a biotecnologia decide bancar George R. R. Martin”

Romulus e Remus filhotinhos, dois dos "lobos-terríveis" recriados pela Colossal Biosciences.

(Imagem: USA Today / Reprodução)

A primeira pergunta que muita gente faz é: desextinção existe mesmo ou é só nome de banda indie? Resposta direta: existe e está caminhando a passos de mamute (rs)!

Antes, “laboratório” era sinônimo de cientistas rabugentos cercados de tubos de ensaio coloridos. Hoje, esses mesmos laboratórios reúnem equipes multidisciplinares com hackers do DNA, engenheiros de dados, paleontólogos, ecólogos e, claro, investidores sonhadores (ou doidos). O objetivo? Ressuscitar espécies que sumiram do mapa — algumas graças à natureza, outras por conta direta da ação humana.

E como isso funciona? A lógica é assim:

  • Recuperação do DNA: cientistas vasculham fósseis, ossos preservados ou até dentes eternizados no gelo em busca de fragmentos de DNA.
  • Reconstrução genômica: com esses pedacinhos de material genético, uma equipe de nerds do bem usa bioinformática para reconstruir o “manual de montagem” da espécie perdida.
  • Edição genética e clonagem: usando tecnologias como CRISPR (a “tesoura” genética que virou protagonista de toda aula de biologia moderna), fragmentos desse DNA são inseridos em células de um parente vivo — lobos, elefantes, cangurus, o que der!
  • Gestação e nascimento: com sorte, o novo embrião pode se desenvolver, ser gestado por uma mãe substituta (de outra espécie, geralmente), e voilà — você tem sua “criatura ressuscitada”.

Simples?

De jeito nenhum.

É uma engenharia genética que faz Hogwarts parecer jardim de infância.

Leia também:

O curioso caso dos lobos-terríveis: de Westeros para sua timeline

Os lobos Romulus e Remus descansando sobre uma réplica do Trono de Ferro da série Game of Thrones.

(Imagem: CNN / Reprodução)

Agora sim, aos holofotes: o lobo-terrível, que atende pelo nome pomposo de Aenocyon dirus.

Esqueça o cachorro-quente de Osasco ou o pastor alemão da vizinha — esse dinossauro em versão canina foi o topo da cadeia alimentar por milhares de anos, caçando mamutes, bisões e, quem sabe, até humanos paleolíticos desavisados.

Você pode até nunca ter ouvido falar do animal antes dos livros e séries, mas na cultura pop ele virou sinônimo de bravura selvagem. Em Game of Thrones, os “direwolves” (nome popular desses lobos em inglês) não são só mascotes: são símbolos dos Stark, mistura de força, lealdade e mitologia ancestral.

Quando uma empresa de biotecnologia anunciou que conseguiu combinar DNA fossilizado do lobo-terrível com o de lobos modernos, rebatizou o projeto como se fosse campanha de marketing de Westeros: direwolves de volta à vida. George R. R. Martin entrou como investidor, posou para fotos, a internet foi à loucura, memes choveram e, claro, reabriram debates sobre os limites da ética científica.

Mas, espera: o que é real e o que é “fanservice científico”?

Na prática, não estamos vendo um clone perfeito do Aenocyon dirus original, pois o DNA antigo é muito fragmentado. O que sai do laboratório, no fundo, é um animal híbrido – um lobo-cinzento inspirado no terrível –, reconstruído a partir de tudo que a ciência conseguiu colar junto. Se é 100% igual ou só parente distante? Eis o debate. Mas pro Instagram já vale, né? E para o avanço científico, mais ainda.

Assim, entendemos que a escolha pelo lobo-terrível não é por acaso. Seu parentesco com lobos modernos é suficiente para preencher lacunas genéticas, e a aura mítica ajuda a transformar ciência em entretenimento — e, claro, a levantar fundos para próximas rodadas de investimento.

Outras espécies quase saindo do laboratório

O lobo-terrível está surfando na onda midiática, mas há uma galera na fila (ou na prancheta digital dos laboratórios):

Mamute-lanoso (Mammuthus primigenius)

Mamute-lanoso.

(Imagem: Revista Planeta / Reprodução)

Estrela dos filmes como A Era do Gelo e de tudo quanto é documentário Discovery Channel, o mamute é praticamente o mascote da desextinção — talvez porque é peludo, carismático e um pouco menos assustador que um velociraptor. Projetos estão tentando criar híbridos de mamute com elefantes asiáticos, na esperança de restaurar funções ecológicas perdidas no Ártico (como pisotear o solo e manter o permafrost congelado). Quem tá tocando esse projeto é ninguém menos que a própria Colossal Biosciences e o laboratório Revive & Restore (ambos dos Estados Unidos), com a previsão de divulgar um mamute-bebê até 2028.

Tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus)

Tigre-da-tasmânia.

(Imagem: XXX / Reprodução)

Não satisfeito em protagonizar episódios de O Mundo Perdido, esse marsupial australiano extinto nos anos 1930 tem defensores apaixonados. Pesquisadores tentam extrair DNA de peles, ossos e até de bichos conservados em álcool — tudo para um dia cloná-lo (e pedir desculpas pelo extermínio causado por humanos sem-noção). A pesquisa também está sendo aprofundada pela Colossal Biosciences – dessa vez, em parceria com a Universidade de Melbourne (Austrália). 

Pombo-passageiro (Ectopistes migratorius)

Pombo-passageiro.

(Imagem: Brasil Escola; UOL / Reprodução)

Já pensou milhares de pássaros sobrevoando o céu norteamericano como antigamente? Biólogos já tentam ressuscitar o pombo-passageiro, símbolo de como a ação humana tem o poder de dizimar… e talvez restaurar. Quem lidera esse estudo atualmente é a Revive & Restore, usando técnicas de edição de DNA e reprodução com pombos modernos.

Dodô (Raphus cucullatus)

Dodô.

(Imagem: Superinteressante; Abril / Reprodução)

O pássaro que virou lenda urbana por ser “desastrado e burro”, extinto séculos atrás, ainda é tema de sonho de consumo em laboratórios (e ilustra memes dos limites da ciência). A Colossal Biosciences recentemente recebeu financiamento específico para sequenciar o genoma do dodô e trabalha no desenvolvimento de embriões geneticamente modificados que possam resultar numa reintrodução dessa espécie extinta.

Auroque (Bos primigenius)

Auroque.

(Imagem: Wikipédia / Reprodução)

Diferenciando-se das demais em abordagem, a Fundação Taurus (empresa holandesa) aposta em reprodução seletiva para ressuscitar características do auroque em raças de gado modernas, sem apelar diretamente à engenharia genética. Esse bovino que deu origem a todos os bovinos que conhecemos hoje foi extinto no século XVII devido à caça excessiva e à perda de habitar – o último exemplar morreu em 1627 na Polônia.

Se o mercado de nostalgia genética pegar, podemos ver mil e uma espécies desfilando por aí — só falta o cupom de desconto para pré-venda das “novas” velharias biológicas. 😛

Ética, impacto ambiental e aquele eterno “será que devemos?”

Cena de Jurassic Park: T-Rex rugindo.

(Imagem: Universal Pictures / Divulgação)

Que atire a primeira pedra quem nunca sonhou em ver um dinossauro ao vivo — mas antes de abrir as portas do Jurassic Park (de preferência sem bug de segurança, obrigada), precisamos olhar para os desafios éticos e ambientais que tal situação poderia nos gerar.

Confira agora:

É de se pensar: é justo focar recursos em ressuscitar espécies extintas enquanto tantas vivas estão morrendo agora mesmo? O risco disso é a desextinção virar solução mágica que mascara problemas reais, como desmatamento, tráfico de animais, poluição e crise climática.

Além disso, esses animais “ressuscitados” teriam bem-estar? Lobos-terríveis do século XXI teriam espaço suficiente, comida adequada, companhia da sua espécie? Ou viveria como peça de museu, prisioneiro do próprio sucesso midiático?

E mais uma porção de perguntas: A quem pertence geneticamente uma nova criatura dessas? Se alguém criar um mamute, ele é “natureza preservada” ou propriedade privada da empresa criadora? 

Por fim, e os impactos ambientais? E o ecossistema, aguenta? Animais “retornados” podem portar doenças históricas, ou se tornarem competitivos demais, ameaçando espécies de hoje. Pro mundo em 2025, introduzir um predador gigante pode ser o mesmo que instalar um aplicativo experimental no seu PC velho: resultado imprevisível, bugs, e aquele “trava tudo e reza”.

A ficção já avisou: é fácil criar problemas tentando solucionar outros, especialmente com o mesmo pensamento mágico que nos trouxe até aqui.

Um futuro de lobos gigantes, dinossauros e… responsabilidade

(Imagem: HBO / Reprodução)

Nerd que é nerd respira curiosidade, e o avanço da biotecnologia é puro combustível para teorias sobre o que poderíamos ver daqui a alguns anos: mamutes na Sibéria, lobos-terríveis em reservas, tigres-da-tasmânia pulando por parques australianos. Quem sabe até dinossauro, se algum geneticista for muito ambicioso (ou tiver assistido todos os filmes da franquia errada, rs).

Não falo que acredito nisso, mas se alguém te oferecer um tour de domingo por um parque com réplicas fidedignas dos monstros do passado, já sabe: vá pronto para correr, tirar foto e, de preferência, não acionar nenhum botão vermelho.

Enquanto isso, que tal usarmos esse poder de “roteiristas genéticos” para salvar as tantas espécies que estão na beira do abismo? A ficção nos ensina — nem sempre mexer com a linha do tempo termina bem. Mas, quem sabe, com um pouquinho de juízo, conseguimos resgatar o melhor do passado sem deixar o presente para trás. :))

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Quarteto Fantástico | Porque o filme Josh Trank fracassou? https://oquartonerd.com.br/quarteto-fantastico-porque-o-filme-josh-trank-fracassou/ https://oquartonerd.com.br/quarteto-fantastico-porque-o-filme-josh-trank-fracassou/#respond Fri, 25 Apr 2025 13:30:00 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68286 O tão aguardado novo longa do Quarteto Fantástico, da Marvel Studios, chegará aos cinemas em um pouco mais de um mês do aniversário de 10 anos de sua última adaptação,....

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O tão aguardado novo longa do Quarteto Fantástico, da Marvel Studios, chegará aos cinemas em um pouco mais de um mês do aniversário de 10 anos de sua última adaptação, dirigida por Josh Trank. Mas afinal, o que realmente aconteceu para que aquela versão se tornasse um fracasso retumbante e fosse praticamente esquecida pelo público?

Quem é o diretor Josh Trank?

Josh Trank é um diretor e roteirista norte-americano que ganhou notoriedade ao dirigir “Poder Sem Limites” (2012), um sucesso de crítica com 85% de aprovação no Rotten Tomatoes. Antes disso, teve uma breve carreira como ator, com participações na dramédia “Big Fan” (2009) e na série de comédia “Arrested Development” (2003–2019).

Em 2009, a 20th Century Fox anunciou que pretendia rebootar o universo do Quarteto Fantástico nos cinemas. A princípio, o roteiro ficaria por conta de Akiva Goldsman (vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2001), Michael Green e Jeremy Slater. Embora Josh Trank estivesse em negociações desde o início, sua contratação como diretor só foi oficializada em 2013, e as filmagens foram logo programadas para começar.

Trank vs. Fox/Marvel

Os primeiros problemas do longa surgiram ainda na fase criativa. Desde o início, o diretor Josh Trank deixou claro que não era fã de filmes de super-heróis. Sua única inspiração era a série animada do Quarteto Fantástico de 1994, que assistira quando criança. Enquanto isso, o roteirista Jeremy Slater, que já havia começado a desenvolver o roteiro, tinha uma abordagem mais voltada ao universo dos quadrinhos. Ele queria incluir vilões clássicos como Galactus e o Toupeira, além de cenas de ação grandiosas, inspiradas no sucesso de Os Vingadores (2012).

Trank, por outro lado, tinha uma visão mais sombria e introspectiva, com foco no drama psicológico dos personagens — um tom bem diferente do que Slater propunha, gerando infelizmente a demissão do roteirista.

De acordo com uma fonte do Hollywood Reporter, o diretor mantinha-se frequentemente incomunicável no set e pouco interagia com os atores, que se sentiam perdidos. Rumores também apontavam que ele enfrentava problemas de bastidores, como processos por barulho causado por seus cães nos sets.

Conflitos com o elenco também surgiram, especialmente com Miles Teller, que não era a escolha inicial de Trank para viver Reed Richards. O diretor ainda teria sugerido uma atriz negra para interpretar Sue Storm, mas o estúdio teria vetado a ideia, gerando mais tensão.

Diante do corte entregue por Trank, a Fox se mostrou insatisfeita e exigiu refilmagens para suavizar o tom do roteiro. No entanto, as mudanças atrasaram devido à agenda dos atores principais, como Kate Mara, Teller e Michael B. Jordan.

O estúdio então convocou os experientes produtores Matthew Vaugham, Simon Kinberg e Hutch Parker para finalizar o projeto, que sequer estava totalmente editado quando o elenco começou a promovê-lo.

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As consequências pós-lançamento

Lançado em agosto de 2015, o longa foi um verdadeiro desastre. Com dois tons narrativos completamente diferentes, personagens sem carisma, efeitos visuais inacabados e um roteiro frágil, o filme foi duramente criticado por público e imprensa especializada. Tornou-se um dos maiores fracassos da Marvel/Fox antes da compra do estúdio pela Disney.

O desempenho nas críticas foi ainda mais decepcionante: apenas 9% de aprovação no Rotten Tomatoes — muito inferior às versões anteriores dirigidas por Tim Story nos anos 2000, que, apesar das críticas, conseguiram 27% e 37% e conquistaram a simpatia dos fãs pela leveza e carisma do elenco.

Em termos financeiros, a bilheteria também foi um fracasso: arrecadou cerca de US$ 168 milhões mundialmente — valor abaixo do esperado para um blockbuster. Em comparação, o filme de 2005 fez quase US$ 160 milhões apenas nos EUA e US$ 334 milhões no total, segundo o Box Office Mojo. A consequência foi inevitável: uma possível sequência foi cancelada.

Em 2016, o filme foi indicado a diversos prêmios no infame Framboesa de Ouro, vencendo em três categorias: Pior Filme, Pior Direção e Pior Reboot/Continuação. Entre os concorrentes estavam obras como “Cinquenta Tons de Cinza”, “Alvin e os Esquilos 2” e “O Destino de Júpiter”.

Já Trank, teve apenas um lançamento desde 2015, o longa ‘Capote’ que chegou com uma recepção mista, recebendo um 4,7/10 do site Rotten Tomatoes. Até hoje,fãs pedem o ‘Trank cut’, mas Trank pelo X disse que ‘ eles não deveriam fazer campanha para a divulgação ‘ dessa versão.

Quarteto de novo nos cinemas

Com o novo filme do Quarteto Fantástico chegando pelas mãos da Marvel Studios, muitos se perguntam: será que finalmente veremos uma versão digna da Primeira Família da Marvel? A resposta ainda está por vir. Mas se o passado nos ensinou algo, é que até mesmo os maiores heróis podem tropeçar… e que toda grande equipe merece uma segunda chance.

Resta saber se, desta vez, o Quarteto conseguirá salvar não só o mundo — mas também sua reputação nas telonas. Quarteto Fantastico: Primeiros Passos estreia dia 25 de julho nos cinemas.

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RUPTURA E A REGRA 60:30:10 https://oquartonerd.com.br/ruptura-e-a-regra-603010/ https://oquartonerd.com.br/ruptura-e-a-regra-603010/#respond Wed, 16 Apr 2025 20:02:06 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68262 RUPTURA encerrou a segunda temporada no último dia 20 de Março trazendo mais dúvidas do que esclarecimentos acerca de qual é a real intenção da Lumon e o que se....

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RUPTURA encerrou a segunda temporada no último dia 20 de Março trazendo mais dúvidas do que esclarecimentos acerca de qual é a real intenção da Lumon e o que se dará com os “internos”, como são chamados os funcionários dentro da empresa. Caso ainda não tenha conferido, RUPTURA é uma serie de ficção científica da Apple TV+ em que funcionários são submetidos a um procedimento em que suas memórias pessoais e profissionais são separadas. Dessa forma, quem realiza o procedimento tem permanentemente sua consciência fragmentada, não conseguindo lembrar o que acontece na empresa enquanto está fora dela e vice-versa. Por isso, a série traz diversos questionamentos sobre identidade, controle da corporação sobre o funcionário, abusos dessas corporações e livre arbítrio.

Com tantos temas importantes sendo discutidos, não é de se espantar que a série seja um sucesso de crítica e também de público. Recentemente tornou-se a série mais vista da história da Apple TV+, ultrapassando a antiga queridinha Ted Lasso. Desse modo, o streaming conseguiu um aumento de 126% de novos assinantes, uma marca importante para a Apple TV+. Felizmente o serviço de streaming confirmou que haverá a 3° temporada de RUPTURA. E Ben Stiller (A Vida Secreta de Walter Mitty), diretor da série, disse que não irá demorar muito para sabermos o que aconteceu com Mark Helly e Dylan na Lumon.

Confira também:

Um dos motivos da série ter tanto sucesso é a perfeita sinergia entre a direção com a direção de arte e a fotografia. Assim, unindo esses três elementos, temos a entrega de uma história densa e tensa feita com perfeição.  Ao utilizar a regra 60:30:10, que guia com maestria nosso olhar para aquilo que os criadores querem chamar a atenção, a série consegue transmitir emoção sem desviar o foco da narrativa. Dessa forma, cria-se a atmosfera perfeita para você absorver todas as informações que são passadas (e olha que são muitas) sem ficar com aquela sensação de que não está acompanhando a trama.

O que é a regra 60:30:10

A regra 60:30:10 é muito utilizada no design de interiores para criar paletas de cores que sejam, ao mesmo tempo, visualmente agradáveis e equilibradas. Nela, utilizam-se três cores em proporções diferentes. Como exemplo imagine uma sala. 60% dos elementos dela serão a cor dominante, ou seja, que irá prevalecer no ambiente. 30% dos elementos será a cor secundária (ou complementar). Neste caso a cor secundária serve para destacar algum elemento, como um sofá. É importante dizer que a cor escolhida para ser a secundária deve ser harmoniosa com a cor dominante, pois irá adicionar contraste e profundidade ao ambiente. Por último, 10% dos elementos terão uma cor de impacto, usada para atrair a nossa atenção para detalhes específicos do ambiente, como uma almofada ou uma obra de arte. Neste caso, a cor escolhida geralmente é ousada e contrasta em relação às duas anteriores.

Crédito: Avenue Realty Group

Na imagem acima é possível ver o uso da regra em prática. O azul da parede e do tecido da poltrona marcam a cor dominante, em maior quantidade. Já o marrom, utilizado pelos móveis de madeira, compõe a cor complementar. Para finalizar, temos o amarelo da almofada, cor esta que contrasta com o azul e atrai nossa atenção.

Como Ruptura usa a regra na série

O cérebro humano processa milhares de detalhes visuais de uma só vez. Em uma série ou filme onde há o uso excessivo das cores, pode causar uma confusão visual, que faz com que a gente não consiga focar na história. Assim, usando apenas algumas cores dominantes mantemos a atenção na narrativa sem distrações. Ao utilizar uma paleta com cores limitadas, as cores individuais ficam com um significado maior devido ao princípio psicológico da relativização da cor. Uma única cor cercada por tons neutros parece mais viva e com um impacto emocional maior do que em uma cena cheia de cores. Isso ocorre, pois o cérebro processa a cor contextualmente e quanto menos cores competindo numa cena, mais força a cor terá. Quando menos cores estão presentes o olho naturalmente foca nos contrastes e elementos chaves.

Confira também:

Isso cria uma hierarquia visual em que certos elementos saltam da tela enquanto outros permanecem de fundo. Isso é especialmente importante para conduzir a atenção do espectador quanto ao fio narrativo. E é aí que o princípio do 60:30:10 se aplica. Uma diretriz amplamente usada em design e cinema, a regra 60:30:10 organiza as proporções de cores para criar harmonia visual e guiar a atenção do espectador. Ao estabelecer uma cor dominante, uma cor secundária e uma cor de destaque, os cineastas podem criar uma paleta visual coesa que parece equilibrada e intencional.

Temporada 2, episódio 3 – Quem está viva?

Na imagem acima é possível ver que o enquadramento escolhido pelo diretor conta com 60% de branco, vindo das paredes e animais, 30% de verde, da drama e 10% de azul, da roupa dos funcionários. Dessa forma, é possível notar que a cor majoritária é aquela que personifica a empresa, enquanto as cores de realce é notada naquilo que destoa da imagem. No caso desta cena específica, Mark e Helly estão fora de seus lugares de trabalho. Sendo assim, são os que estão destacados no enquadramento.

Outros exemplos do uso do 60:30:10?

Apesar de RUPTURA utilizar a teoria 60:30:10 com maestria, não é o primeiro produto audiovisual que utiliza a teoria. Mad Max: Estrada da Fúria e La La Land também utilizam a regra. Abaixo temos o exemplo de ambos os casos:

O amarelo é a cor dominante em Mad Man – Estrada da Fúria, o que faz sentido com a trama, pois o filme se passa no deserto. O azul acizentado é a cor complementar, vista principalmente pelo céu. Por fim, o vermelho é a cor de realce, vista tanto pelo uniforme do guitarrista quanto nas explosões que ocorrem. Em um filme de ação, faz sentido que chame a atenção para as cenas de ação, principalmente aquelas que envolvem explosões.

Já em La La Land, a cor que domina a cena é o azul, seguido pelo rosa do entardecer. A cor que contrasta com o azul e que chama a nossa atenção é o amarelo, visto no vestido de Mia. Assim, com a regra do 60:30:10 em mente, podemos ver os filmes e séries com outros olhos, analisando uma camada a mais.

Mas e você? Já notou o uso do 60:30:10 em algum filme ou série? Conte para nós!

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Invencível teve sua primeira temporada lançada em março de 2021 e, após quatro anos, chegou à terceira temporada, trazendo a adaptação de um dos maiores pontos de virada da história original. Com essa nova temporada, fica evidente que a Prime Video está realizando uma adaptação bastante fiel aos eventos da obra original.

Se você tem curiosidade sobre o que esperar da próxima temporada da animação, confira abaixo os próximos passos dessa história!

[Atenção! A partir daqui spoilers da história em quadrinhos de Invencível! Siga por sua conta e risco!]

Confira também:

Na terceira temporada da série, chegamos a um momento crucial para o crescimento de Mark como super-herói: a Guerra dos Invencíveis. Apesar de ser um evento marcante, especialmente pela chegada de Conquest e seu embate com Mark, essa guerra não se compara ao impacto da Guerra contra os Viltrumitas, o próximo grande arco da história. Por isso, é esperado que esse conflito seja abordado na quarta temporada.

A Guerra contra os Viltrumitas

Seguindo a ordem cronológica dos quadrinhos, veremos o início (e provavelmente também o desfecho) da guerra entre a Coalizão de Planetas e o Império Viltrumita. No entanto, antes do conflito em si, acompanharemos Nolan e Allen se preparando para enfrentar os quase invencíveis viltrumitas, buscando aliados e armas capazes de derrotá-los.

É muito provável que tudo isso aconteça em paralelo à história de Mark na Terra, enquanto ele lida com as consequências dos eventos do final da terceira temporada. E é claro que veremos mais do relacionamento de Mark e Eve nessa quarta temporada, porém tudo vai ficar de lado com a chegada da guerra.

Se tudo acontecer como nos quadrinhos, veremos Nolan e Allen indo para a terra para recrutar Mark, Oliver e Tech Jacket para o seu lado. E na viagem de ida para a Coalizão dos Planetas nós teremos uma grande revanche….

Conquista retorna para sua revanche

Como vimos no final da terceira temporada, Conquista não morreu e está preso no subsolo da terra se recuperando. No entanto, a prisão feita por Cecil não vai segurar o psicopata por muito tempo e ele vai escapar e voltar para reportar seu fracasso.

E com isso teremos mais uma batalha entre Mark e Conquista, e dessa vez o vilão terá um final definitivo, mas não sem deixar sequelas em Mark. No final da batalha Mark quase morre e tem que ficar durante meses em repouso com seu pai e irmão cuidando dele.

O breve momento de recuperação do Invencível vai durar alguns meses enquanto a guerra continua sem perde fôlego. Contudo, o Conquista não é a maior ameaça que veremos nessa temporada, mas sim outro personagem que é muito mais perigoso do que ele.

O grande vilão de Invencível finalmente dá as caras

Invencivel

Em meio ao caos da guerra interplanetária, testemunharemos a primeira aparição do maior vilão de Invencível: Regent Thragg. Ele é a figura responsável por manter Viltrum como a maior força bélica do universo após a devastação causada pelo Vírus Praga.

Treinado desde o nascimento para governar Viltrum até que um herdeiro de sangue do falecido Rei Argall fosse encontrado, Thragg representa o ápice da força viltrumita. Habilidoso, implacável e extremamente astuto, ele é um oponente à altura de qualquer herói.

Além de sua ameaça direta, Thragg também desencadeia um perigo oculto para a Terra. Após o fim da guerra e a destruição do planeta Viltrum pela Coalizão, ele toma uma decisão que coloca Mark e toda a humanidade em xeque: levar os viltrumitas sobreviventes para a Terra.

Com o plano de repopular os viltrumitas, Thragg e seus seguidores vão todos para a terra e vão começar a viver como humanos disfarçados. Com a promessa se não atacarem e nem defenderem a terra de qualquer ameaça externa, no final Viltrum está na terra e o Invencível não poder nada sobre isso.

Provavelmente o arco envolvendo toda o núcleo dos Viltrumitas se encerre nesse momento. Contudo o final da terceira temporada deixou em aberto mais uma coisa que não existe na obra original.

Invencível contra o Inferno?

Invencivel

Na cena pós-crédito do último episódio, nós vemos que Damian Darkblood está em contato com o que parece ser um grande demônio. Na conversa entre Damian e esse demônio eles falam sobre possuir uma pessoa que possui um coração negro, e tudo indica que essa pessoa possa ser o Invencível.

Como esse é um arco que não existe nos quadrinhos, essa história ainda está meio no escuro para qual lado ela irá seguir. É provavél que vejamos esse arco acontecendo antes da Guerra Viltrumita e talvez seja apenas um meio arco para termos um “esquenta” para coisas maiores.

Mas e você, o que achou da terceira temporada de Invencível? Está esperando grandes coisas das próximas temporadas? No conte nos comentários.

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Por que gostamos tanto de reality shows? https://oquartonerd.com.br/por-que-gostamos-tanto-de-reality-shows/ https://oquartonerd.com.br/por-que-gostamos-tanto-de-reality-shows/#respond Tue, 25 Mar 2025 21:47:01 +0000 https://oquartonerd.com.br/?p=68257 Em época de BBB sempre em alta nas redes sociais, nós, do QN, decidimos elaborar alguns dos motivos pelos quais amamos reality shows… Antes de mais nada, é importante contextualizar:....

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Mulher assistindo TV com um sorriso no rosto.

Em época de BBB sempre em alta nas redes sociais, nós, do QN, decidimos elaborar alguns dos motivos pelos quais amamos reality shows

Antes de mais nada, é importante contextualizar: afinal, o que é um programa reality? Esse gênero de programa é conhecido por sua abordagem não roteirizada e, portanto, por capturar a vida cotidiana, as interações sociais, os desafios estipulados pelos diretores entre os participantes. 

Confira também:

Nesse sentido, devido à exposição intensiva e, muitas vezes, sem cortes, às câmeras, bem como a premissa de isolamento (isto é, na maioria dos realities, os participantes não sabem qual é a receptividade do público), muitas questões em relação à ética e à privacidade são abordados…

A história dos reality shows

John de Mol, criador do BBB, o reality show mais famoso do Brasil.

(Imagem: Terra / Reprodução)

A “reality TV” tem raízes na tradição do documentário, mas o formato evoluiu ao longo do tempo para se tornar uma forma de entretenimento popular. O termo “reality show” refere-se a programas de televisão que retratam situações da vida real, muitas vezes envolvendo pessoas comuns em vez de atores profissionais.

O conceito começou a se desenvolver na década de 40 e 50, com programas como Candid Camera (CBS, 1960), que capturava as reações de pessoas a situações inusitadas e era uma forma inicial de reality show cômico. No entanto, o verdadeiro boom dos realities ocorreu nas últimas décadas do século XX e início do século XXI.

O pioneiro moderno muitas vezes citado é The Real World, que estreou em 1992 na MTV. Este programa colocava um grupo de estranhos em uma casa juntos e documentava suas interações diárias. Já Survivor, um reality show de competição, onde os participantes precisavam trabalhar para sobreviver frente às adversidades de uma ilha deserta, também desempenhou um papel significativo na popularização do gênero. Ele estreou nos Estados Unidos em 2000 e rapidamente se tornou um sucesso global.

John de Mol é um proeminente produtor de televisão e bilionário holandês, amplamente reconhecido como o “pai dos reality shows“. Sua notoriedade advém de sua influência na criação de diversos programas desse gênero por meio da empresa de comunicações Endemol. Um de seus maiores feitos foi a concepção do Big Brother, cuja primeira edição foi ao ar em 1999 e desencadeou uma revolução no mundo dos reality shows.

Após a venda da Endemol, John não apenas consolidou sua reputação como um visionário na indústria televisiva, mas também estabeleceu seu próprio canal de TV. Nesse canal, ele lançou com grande sucesso o The Voice, outro que se destacou internacionalmente e foi licenciado para transmissão em vários países.

A partir daí, a evolução da tecnologia e a proliferação dos canais de televisão e plataformas de streaming também contribuíram para a diversificação e popularidade contínua dos reality shows. Eles agora abrangem uma ampla variedade de temas, desde competições e relacionamentos até programas que exploram o cotidiano de famílias e comunidades.

Reality shows por gênero

Os reality shows abrangem uma ampla variedade de gêneros, cada um focando em diferentes aspectos da vida real, buscando mesclá-la com entretenimento e competição. Abaixo estão alguns dos principais:

Colagem de diversas figuras proeminentes dos reality shows.

(Imagem: Collider / Reprodução)

  • Talent Shows

Exemplos: American Idol, The Voice, The X Factor, RuPaul’s Drag Race.

Participantes competem em performances artísticas ou desafios para demonstrar talentos específicos, como cantar, dançar e performar lip syncs!

  • Dating Shows

Exemplos: The Bachelor, Love Island, Casamento Às Cegas, O Ultimato, The Circle

Os participantes buscam relacionamentos afetivos duradouros, passando por encontros e desafios relacionados ao amor, muitas vezes até antes de se verem pessoalmente.

  • Confinamento/ Experimento social

Exemplos: Big Brother, Too Hot To Handle, A Fazenda, No Limite.

Os participantes são colocados em um ambiente controlado, como uma casa ou ilha, e são filmados enquanto interagem e competem entre si. Por vezes, o público decide quem ganha.

  • Estilo de Vida/ Transformação

Exemplos: Queer Eye, The Biggest Loser.

Focado na transformação pessoal, seja na aparência, na saúde ou na vida cotidiana dos participantes.

  • Documentário de Vida Cotidiana

Exemplos: Keeping Up with the Kardashians, The Osbournes.

Mostra a vida diária de pessoas conhecidas ou de famílias comuns.

  • Policial/ Investigativo

Exemplos: Cops, Forensic Files.

Acompanham o trabalho de policiais, detetives e equipes de investigação.

  • Aventura/ Sobrevivência

Exemplos: The Amazing Race, Largados e Pelados.

Os participantes enfrentam desafios físicos e mentais enquanto viajam ou sobrevivem em condições extremas.

  • Alimentação/ Culinária

Exemplos: Top Chef, MasterChef, Cake Boss, Sugar Rush.

Competições culinárias onde chefs amadores ou profissionais mostram suas habilidades.

  • Moda/ Beleza

Exemplos: The Hype, Next In Fashion, Glow Up.

Competições fashion, onde estilistas ou maquiadores renomados e/ou em ascensão competem entre si, passando por diversos desafios do ofício, em busca de levar para casa um grande prêmio em dinheiro.

  • Esportes e Competições Físicas

Exemplos: The Challenge, American Ninja Warrior, Ultimate Beastmaster.

Competições que envolvem atividades físicas e desafios atléticos.

O Brasil é do BBB

Selfie tirada no BBB22, a edição que marcou o Brasil da pandemia.

(Imagem: Globo; Meio e Mensagem / Reprodução)

O Big Brother Brasil (BBB) é a versão brasileira do Big Brother, um reality de confinamento. A primeira edição do BBB foi ao ar em 29 de janeiro de 2002 pela Rede Globo, uma das principais emissoras de televisão do país.

A ideia central do programa é isolar um grupo de participantes em uma casa especialmente projetada, onde são monitorados 24 horas por dia por câmeras. Os participantes competem em desafios, interagem entre si e são submetidos a votações do público, que decide quem será eliminado a cada semana. O último participante restante é o vencedor e recebe um prêmio em dinheiro (quantia que, atualmente, ultrapassa os R$ 3 milhões).

A popularidade do Big Brother Brasil cresceu rapidamente desde sua estreia, tornando-se um fenômeno cultural no país. O formato inovador, que combina voyeurismo, estratégia de jogo e experimentação social, atraiu uma audiência diversificada. O programa também se tornou uma parte importante da cultura popular, gerando discussões, análises e debates em todo o país, e sendo uma importante plataforma de ativação e divulgação de marcas.

A cada temporada, o BBB passou por adaptações e introduziu novos elementos para manter o interesse do público. Da mesma forma, a mudança de apresentador, que aconteceu de tempos em tempos (com Marisa Orth no ano de estreia, Pedro Bial de 2002 a 2016, Tiago Leifert de 2016 a 2021, e Tadeu Schmidt a partir de 2022), também foi crucial para reinventar o programa – tanto a forma que as coisas acontecem dentro da casa, quanto os conteúdos que se geram do lado de fora, pela própria emissora ou organicamente, pelo público telespectador.

Confira também:

Segundo pesquisa elaborada pelo Wake Creators e divulgada em 2025, o Big Brother é o reality queridinho dos brasileiros, sendo escolhido como favorito por 61% dos entrevistados, o que choca zero pessoas, mas sinaliza uma certeza para grandes marcas continuarem investindo no programa – cuja audiência continua quebrando recordes mesmo após mais de vinte anos nas telinhas. 

Existem várias evidências do porquê o BBB acabou se consolidando como um marco para a televisão e a cultura do Brasil. Entre elas, estão o entretenimento e o drama – afinal, ele é projetado para ser um programa altamente envolvente –; a empatia – a exposição constante dos participantes às câmeras permite uma identificação dos telespectadores –; o formato interativo – que permite que o público se sinta parte do rumo do programa –; a interconexão digital; a cobertura de mídia; e recentemente a participação de celebridades e subcelebridades, que, no experimento, acabam se mostrando “gente como a gente”.

Assim, a Casa Mais Vigiada do Brasil, neste ano comemorando sua vigésima quinta edição, ou seja, debutando o seu primeiro “Massacre Quaternário”, se mantém como o elemento principal desse fenômeno tão duradouro na mídia brasileira. 

Há quem diga que reality shows são apenas alienação, mas…

Frame do filme Fahrenheit 451 (1966), que faz alusão à alienação de reality shows.

(Imagem: “Fahrenheit 451” (1966), Anglo Enterprises; Vineyard Film Ltd. / Reprodução)

A Psicologia explica.

De acordo com especialistas, o comportamento humano emerge como o principal atrativo nos reality shows. Esses programas nos apresentam a vida cotidiana de pessoas comuns, mostrando desde as atividades mais triviais, como comer e tomar banho, até momentos de festa, discussões e relacionamentos. A constante exposição dos participantes às câmeras proporciona uma identificação profunda, permitindo que os telespectadores se vejam refletidos em diversos aspectos da vida dos participantes.

Além disso, a atração é intensificada quando celebridades, amplamente conhecidas na “vida real”, participam de programas como o Big Brother Brasil. Essa experiência oferece ao público a oportunidade de conhecer as múltiplas facetas de seus ídolos, estabelecendo uma proximidade única. O desejo de se sentir mais próximo dos ídolos é satisfeito por meio da exposição detalhada proporcionada pelos reality shows.

Uma pesquisa conduzida pelo Professor de Psicologia Jonathan Cohen, da Universidade de Haifa, em Israel, revelou que os telespectadores desses programas desenvolvem fortes sentimentos de empatia pelos participantes, muitas vezes reconhecendo-se em suas escolhas e ações. O estudo, envolvendo 183 entrevistados e abrangendo 12 reality shows diferentes, como Big Brother, MasterChef e Supernanny, indicou que a afinidade com um programa está diretamente relacionada à identificação e ao desejo de participação.

Outro aspecto que contribui para o envolvimento do público é a capacidade dos reality shows de servirem como uma válvula de escape. Em momentos de estresse, intensa carga de trabalho e desafios na vida pessoal, esses programas oferecem uma pausa, permitindo que os espectadores se desconectem temporariamente de suas próprias preocupações para acompanhar as vidas e dilemas de outras pessoas.

Realities que você provavelmente já viu e não se lembra

Para nós que vivemos os anos 2000, escolhemos alguns realities shows muito especiais, e largados naquele tempo, para rememorarmos juntos. Vem com a gente!

Reprodução de foto do Disney Channel Games, um reality com as estrelas Disney.

(Imagem: Walt Disney World / Reprodução)

Um fruto da geração early millennial, gostaríamos de relembrar o High School Musical: A Seleção (2008), da Disney Channel, cujos episódios passavam no horário nobre da emissora, durante o programa Zapping Zone. Basicamente, foi uma grande competição para selecionar quem estrelaria a versão brasileira da franquia High School Musical – que foi o High School Musical: O Desafio (2010).

Gostaríamos de relembrar, ainda, o Disney Channel Games – “evento” televisionado que juntava todas as estrelas jovens da Disney daquela época em uma competição esportiva de verão, de 2006 a 2008. Eles não ganhavam nada, mas deveriam trabalhar em equipe para passar por desafios como corridas em bolas gigantes de hamster, por exemplo. Na época, chamada de “minissérie”, esse reality contou com diversos famosos, como os gêmeos Sprouse, Zac Efron, Miley Cyrus, Selena Gomez, Raven, etc.

Também houve a Temporada de Moda Capricho (que aconteceu de 2010 a 2016) – nele, estudantes de Moda que competiam por uma vaga de estágio na Revista Capricho, que estava em seu auge, afinal, aqueles eram tempos de Manu Gavassi e seu Garoto Errado. Era veiculado no site da revista, ou seja, não se precisava de TV a cabo, e o ganhador simplesmente se tornava o novo estagiário. (Sim, existem pessoas que entram em realities para competir por R$ 1,5 milhão, e existem pessoas que competem por um salário de mil e quinhentos.)

Frame da abertura de Colírios Capricho, um dos reality shows brasileiros que marcaram os anos 2000.

(Imagem: MTV / Reprodução)

E por falar em Capricho, temos que mencionar o casamento entre a MTV e a Revista, o que deu luz ao reality Colírios Capricho no ano de 2010! Dele, saiu a tríade Dudu Surita, Caíque Nogueira e Federico Devito, que hoje trabalham em carreiras diversas, mas também foi plataforma de influências que estão presentes na mídia até hoje, como Leonardo Picon.

Outro interessante reality foi o Projeto Adrenalina (2009), transmitido no Boomerang. Era uma espécie de No Limite juvenil. Os competidores passavam por desafios perigosos, difíceis e até mesmo nojentos, e isso sem nem ganhar nada – apenas o título de “Super Adrenalina do Ano”. Radical!

Por último, relembramos o Parental Control (2006), também da MTV. A narrativa era sempre a mesma: os pais odiavam o namorado da filha e, portanto, eles armavam alguns encontros às cegas com candidatos à escolha, para que a menina se apaixonasse por outra pessoa, desse um pé na bunda do atual e passasse a sair com alguém que seus responsáveis “aprovassem”. Saudável? Não. Icônico? Com toda certeza.

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