e-Sports e LGBTQIA+ | Como as desenvolvedoras de têm apoiado

Já que junho foi o mês do Orgulho LGBTQIA+ e, no geral, é nesse momento em que as marcas decidem tomar ação em prol da diversidade sexual e de gênero, decidi compilar todas as ações relevantes que as desenvolvedoras de e-sports vêm fazendo para visibilizar a causa. 

É importante destacar que os jogos eletrônicos, principalmente MOBAs (Multiplayer Online Battle Arena) e FPS (First-Person Shooter), têm uma base de jogadores diversificada, e isso inclui pessoas LGBTQIA+. Embora não haja números exatos disponíveis, é razoável assumir que existe uma presença significativa de players que se enquadram em algum espectro da causa em questão.

Ainda que a indústria tome conhecimento disso e tente evoluir no discurso e na representatividade para ir de acordo com a demanda de seu público, de antemão, vale dizer que desenvolvedoras de jogos já consagrados e importantes para o cenário competitivo mundial, como a Valve (Counter-Strike e Dota II), e a Garena (Free Fire), ainda parecem congeladas no tempo… Infelizmente.

A Riot lidera no storytelling inclusivo

Print de tela de Campeões de League of Legends saindo da base e deixando um rastro de bandeiras do espectro LGBTQIA+, uma ação de 2022 do game.

(Imagem: Riot Games / Reprodução)

Após muitos escândalos envolvendo a antiga diretoria da Riot Games, desenvolvedora responsável por sucessos como League of Legends, Valorant e muitos outros, a empresa vem, desde 2020, se comprometendo com a inclusão e a diversidade em seus jogos, na comunidade de jogadores, e em ações para com a indústria como um todo.

I. As lores LGBTQIA+ de Summoner’s Rift

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Quem joga MOBA e não lê as histórias de seus personagens preferidos é maluco! Uma coisa que a Riot tem mostrado excelência é na composição do storytelling de seus games, principalmente em LoL. Nos últimos anos, inclusive, diversos campeões têm sido apontados como parte da comunidade LGBTQIA+ desde a sua lore (termo utilizado para descrever “a história por trás”), como é o caso de Neeko e Taliyah, mas outros também são “tirados do armário” em ações pontuais, como no lançamento de skins e em campanhas do mês de junho.

II. Orgulho 2021: Diana e Leona em “Ascenda Comigo”

Arte oficial de "Ascenda Comigo", conto no qual Diana e Leona se apaixonam. (Ação do Pride LGBTQIA+ de 2021 do League of Legends.)

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Em junho de 2021, a Riot divulgou seu primeiro conto lésbico, na qual as duas campeãs de Targon, Leona e Diana, desenvolvem uma relação homoafetiva enquanto lidam de formas diferentes com a fé em torno do culto da deusa do Sol.

Dispensa comentários… É ler para se emocionar.

III. Orgulho 2022: Graves e Twisted Fate em “Bombolini e os Rapazes”

Arte oficial de "Bambolini e os Rapazes", na qual Graves e Twisted Fate são introduzidos como um potencial casal. (Ação do Pride LGBTQIA+ de 2022 do League of Legends.)

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

Já no Mês do Orgulho de 2022, o conto divulgado sugere que Graves e Twisted Fate, parceiros do crime, poderiam vir a ser um casal. Na narrativa, Graves é assumido gay e, após um comentário de seu chefe, passa a enxergar seu companheiro com um potencial romantismo.

É uma história intrigante, mas não tanto quanto a anterior, já que deixa que os fãs imaginem o desfecho. No entanto, vale a leitura.

IV. O sucesso de Arcane é graças a CaitVi?

Cena de Arcane onde Vi e Caitlyn estão deitadas no chão, uma de frente para a outra, sorrindo e conversando.

(Imagem: Riot Games e Fortiche Productions / Reprodução)

Eu não diria que , mas também. A primeira telessérie da Riot deu aos fãs e jogadores de LoL uma confirmação para um ship que existe desde o lançamento dessas duas Campeãs, que, no jogo, colaboram para defender a cidade-alta de Piltover (e as periferias Zaun) do crime.

Em Arcane (2021), as personagens, que vêm de mundos quase opostos, acabam trabalhando juntas em uma história de heroísmo que flerta com um romance sáfico pra lá de interessante. Ainda assim, a primeira temporada acaba sem uma concretização dessa história. Claramente há muita tensão e sentimento envolvido, mas as personagens não chegam a ficar juntas… Ainda.

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Até então, só há uma temporada lançada e disponível na Netflix, porém, já foi confirmado que a segunda, prevista para 2023 ou 2024, vem regada de “sexo e magia”. Aproveite para entender mais no artigo abaixo:

V. A tradição do Valorant Pride

Cards LGBTQIA+ do Valorant. Ação de 2021, que se repetiu em 2022 e 2023.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

“Vista seu Orgulho” – é o que diz a tradição do Valorant nas ações para o mês de junho. Desde 2021 (um ano após o lançamento do game, em 2020), a Riot introduz uma ação de visibilidade ao público e ao movimento LGBTQIA+ no formato de cards da tela de carregamento e ícones de jogador com as cores de diferentes bandeiras do espectro.

Deu muito certo em 2021, e a ação se repetiu em 2022.

Já em 2023… Se repetiu de novo.

VI. O casal sáfico de Valorant

Arte oficial de Killjoy e Raze, duas Agentes do Valorant, se beijando.

(Imagem: Riot Games / Divulgação)

A lore de Valorant, jogo de tiro da Riot, também possui personagens pertencentes à causa. Porém, como o compêndio de Agentes ainda é muito limitado e muito menor do que o de Campeões do LoL, uma vez que o jogo ainda é bastante recente, a representatividade, até então, se concentra em um único casal: Killjoy e Raze.

A revelação aconteceu durante uma ação em dezembro de 2022 nas redes sociais de Valorant, na qual diversas situações do dia a dia da perspectiva da personagem Killjoy eram postadas – entre elas, interações com diversos outros Agentes. A especulação de um relacionamento entre Killjoy e a personagem brasileira, Raze, já era muito forte dentro da comunidade de players do FPS, que, mais uma vez, foram deleitados por um ship bem sucedido.

Epic Games e o case do Fortnite: “Orgulho Royale”

Pôster dos personagens sob o evento do Orgulho Royale, do Fortnite.

(Imagem: Epic Games / Divulgação)

Atualmente, a Epic Games, desenvolvedora do Fortnite, realiza um evento anual chamado “Orgulho Royale” em celebração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+. Durante esse evento, o jogo apresenta conteúdo temático, como trajes, gestos e itens cosméticos relacionados à causa.

O Orgulho Royale é uma iniciativa para demonstrar apoio e solidariedade à comunidade LGBTQIA+ dentro do jogo, cuja faixa etária de jogadores se centraliza num público adolescente, sendo, sobretudo, uma ação bastante educativa. Vale acrescentar que, além dos itens temáticos, a empresa também costuma fazer doações a organizações que apoiam o movimento com os lucros obtidos.

A Blizzard também corre atrás

Merchandising do Pride LGBTQIA+ de 2022 da Blizzard Entertainment.

(Imagem: Blizzard Entertainment / Divulgação)

Blizzard Entertainment é a desenvolvedora de renomados jogos como Overwatch II, World of Warcraft e Hearthstone. Como tal, a companhia também possui algumas iniciativas de defesa e visibilidade à causa LGBTQIA+, principalmente fora dos games, com campanhas de conscientização promovidas e protagonizadas pelos próprios funcionários, que inclusive marcham em Paradas pelo mundo, desfilando com cartazes da empresa.

Em 2022, a Rede de Funcionários LGBTQ+ da Blizzard lançou uma coleção especial para celebrar o Mês do Orgulho. A coleção incluía itens temáticos de merchandising e itens cosméticos e skins in-game. Parte da receita das vendas desses itens foi doada à LGBTQ+ Center OC, uma organização sem fins lucrativos que fornece suporte e serviços à comunidade.

Cadê as ações de Pride LGBTQIA+ em 2023?

Apesar de, nos últimos anos, ter assumido a dianteira em tirar seus Campeões do Rift e de Runeterra do armário, em 2023, as ações de Pride da Riot Games perderam a força ao se tornarem mais do mesmo.

Novamente, a empresa disponibilizou ícones de invocador, bandeiras LGBTQIA+ personalizáveis, etc. Nem mesmo para o Valorant tentou-se inovar lançando contos reveladores acerca da lore, explorando a fluidez da sexualidade dos Agentes.

Talvez esse fosse o ano de outras desenvolvedoras buscarem espaço em levantar a bandeira da representatividade e inclusão… Se foi, elas pareceram não ter recebido o briefing

Print de tela de uma cena do mapa Midtown conforme a decoração do Pride 2023, de Overwatch 2.

(Imagem: Blizzard Entertainment / Divulgação)

Timidamente, no entanto, a Blizzard adicionou novos itens desbloqueáveis no catálogo de Overwatch 2 – ícones de jogador, itens cosméticos e sprays. Além disso, o mapa Midtown foi transformado para representar um cenário imediatamente após a parada LGBTQIA+ no mundo do jogo. Essa atmosfera viva e vibrante adiciona um toque de festividade à experiência do gameplay

E… É isso. Acabaram a lista de ações. 🙁

Crítica: jogadores profissionais LGBTQIA+ e as organizações

Sete célebres figuras da indústria do e-sports brasileiro que se entitulam como LGBTQIA+. A palavra "ORGULHO" está escrita na montagem.

(Imagem: UOL / Reprodução)

Nos últimos anos, a indústria de jogos eletrônicos tem se esforçado para promover a diversidade, e várias iniciativas surgiram para criar espaços seguros e inclusivos para jogadores que se enquadram no espectro LGBTQIA+. 

Sobretudo, pertencendo a esse guarda-chuva de diversidade, proplayers e outros profissionais dos e-sports têm se tornado mais visíveis e ativos na cena competitiva, contribuindo para uma maior representatividade da comunidade LGBTQIA+. Você pode ler algumas dessas histórias nesta matéria da UOL. No entanto, pouco é comentado e mobilizado por parte das organizações…

De pouco em pouco, as organizações no exterior têm se associado a iniciativas de inclusão, por vezes fazendo contribuições financeiras a ONGs e grupos de luta da causa. Nesse sentido, um exemplo muito bom disso é a Complexity Gaming, que possui uma equipe de Rainbow Six Siege chamada “Complexity LGBT+” que, como o próprio nome indica, é apenas composto de players LGBTQIA+. A Team Liquid, a Cloud9 e a Fnatic, algumas das organizações mais proeminentes, também costumam dar declarações de apoio.

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No entanto, apenas incluir postagens de conscientização na época do Mês do Orgulho não é o bastante, e a evolução, nesse sentido, é muito lenta. O mundo está demandando por evolução na diversidade… O que está faltando para que a indústria do e-sports, como um todo, acompanhe essa evolução?!

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Iana Maciel
Bacharelanda de Comunicação Social pela ECA/USP. Filha de Zeus, tributo do Distrito 1 e artilheira de Quadribol da Grifinória. Escondo um passado de jogadora de RPG por trás da cara de brava e da prática de esportes, mas quem me conhece sabe que eu adoro marcar de jogar um LoLzinho nas horas vagas.