
Hoje se completam as trinta e duas voltas ao redor do sol de Cari Fletcher – que, na indústria musical, é conhecida apenas como FLETCHER.
A cantora pop, nos últimos três anos, teve uma rápida ascensão, sendo reconhecida por colocar, em suas letras, relatos de seus relacionamentos com outras mulheres – cheios de sentimentos de paixão, loucura, inveja, injustiça, traição, corações partidos e um milhão de redflags. Em resumo, ela alcançou a fama por conseguir exprimir de um jeito único e sincero coisas que toda sáfica consegue se reconhecer tendo vivenciado em algum momento canônico da vida.
E nós achamos isso lindo. <3
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Um dos mais polêmicos relacionamentos de FLETCHER foi, inclusive, com a fotógrafa e influencer Shannon Beveridge, a quem a música “Birthday Girl” (do álbum Girl of My Dreams, 2022) se destina. Isso porque, como conta na canção, 385.000 pessoas nascem no mesmo dia, e mesmo assim as duas piscianas de 19 de março deram a sorte de se encontrarem nesse mundo enorme e de viverem um grande amor. (Então, com a informação dada, celebramos, também, o aniversário da Shan!)
Em detrimento da data, traremos, neste artigo, um panorama da vida e carreira de FLETCHER, que é um importante nome na cena lésbica da atualidade.
A vida de Cari e sua discografia

(Imagem: Billboard / Reprodução)
Cari Elise Fletcher – que assina artisticamente como FLETCHER – é uma cantora e compositora norte-americana de 32 anos, natural do estado de New Jersey. Ela tem uma vida pública desde 2011, ano em que participou do The X Factor estadunidense como uma das competidoras. Em 2016, lançou seu primeiro EP autoral – Finding Fletcher, que aborda temas como identidade e autoaceitação –, sendo conhecida em especial pela música “War Paint”.
No entanto, sua fama foi escalonada alguns anos mais tarde com o lançamento do segundo EP – You Ruined New York City For Me, de 2019. Neste, em versos honestos e intensos, ela conta episódios de seu primeiro grande relacionamento afetivo com outra mulher, ressaltados por narrativas abusivas que retratam os altos e baixos de um amor em meio à traição e ao abuso psicológico, como na música “If You’re Gonna Lie” e os singles “Undrunk” e “All Love“.
Depois, e nas idas e vindas de seu namoro público com Shannon, Cari lançou, durante a pandemia, um terceiro EP tão polêmico quanto o anterior – THE S(EX) TAPES, 2020 –, que contém diversas canções produzidas em parceria com a então namorada / ex-namorada, tendo em vista que as letras são baseadas no romance de cerca de três anos das duas.
Em 2022, FLETCHER lançou seu primeiro álbum, Girl of My Dreams. Nele, ela explica, de sua forma mais nua, o processo de se reconhecer após três custosos relacionamentos, dividida entre reconstruir a si própria, lamentar os sentimentos mal resolvidos pela última namorada e entender quem será Cari dali em diante – tanto em relações, quanto na vida.
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Ela já participou de importantes colaborações, como a coautoria do single “Cherry” (2021) com a Hayley Kiyoko, cantora cujo vulgo na cena LGBT é “Lesbian Jesus“. Também fez uma participação especial na festa de Ano Novo de Miley Cyrus em 2022, acompanhando a artista na apresentação de “Midnight Sky” – uma dança de acasalamento sáfica, se você me perguntar. Além disso, durante o ano de 2023, ela acompanhou a banda Panic! At The Disco durante seu tour de despedida na Europa, entregando um show de abertura cheio de simpatia e sinceridade.
O estilo musical de FLETCHER é uma mistura de pop, indie e música eletrônica, e sua voz única e poderosa, bem como a vulnerabilidade das composições, contribuem para a singularidade de sua abordagem.
O quarto coração partido de FLETCHER

(Imagem: FLETCHER / Reprodução)
Já que os relacionamentos são um assunto chave na obra discográfica de FLETCHER, vale darmos uma atenção especial aos que ela conta ter vivido em ordem cronológica – algo revelado em detalhes pela letra do hit “Girl of My Dreams“, décima track do álbum homônimo.
Ela inicia a canção dizendo que o “número um era um menino / e ele tinha os olhos verdes / como uma floresta / mas eu sabia que estava perdida” – explicando, portanto, que seu primeiro romance foi hétero, embora ela soubesse que aquilo não lhe cabia.
Depois, o trecho é dedicado à primeira namorada de FLETCHER, cuja identidade não é pública: “a segunda rodada foi na cidade / ela era louca, mas fazia isso lindamente / me deixou mais vazia e solitária em Nova York”.
Pode-se, assim, assumir que o EP You Ruined New York City For Me, que conta com diversas alusões a um namoro abusivo, é sobre ela. Importante destacar que esse EP foi lançado em 2019, época em que Cari já estava com Shannon – alguém sempre retratada como forte apoiadora os sonhos da artista – então nenhuma dessas referências de traição e toxicidade poderiam vir de seu relacionamento com ela.
Em seguida, temos os versos que falam sobre Beveridge – que namorou do final de 2016 até início de 2020: “e três, ela era um anjo / sim, ela poderia ter sido minha pessoa certa / mas o para sempre só durou algumas viagens ao redor do Sol / e agora estou cantando músicas de garota triste, que exagero!”.
Algumas músicas que comprovam o sentimento romântico não superado, do qual ela afirma na estrofe, são o single “Forever” (2020), e praticamente todas do EP THE S(EX) TAPES, que a cantora contou em entrevista ser um retrato da sua maior vulnerabilidade durante o período pandêmico (entre momentos de completa solidão e ocasionais remembers) no qual ela tentava digerir o fim.
A canção que encerra o EP, “Sex (With My Ex)“, documenta para todo o mundo a última vez das duas, bem como sua despedida definitiva. Nesta obra prima da música lésbica, ela trata do delicado término que supostamente ainda envolve muito amor e apego, embora a cantora esteja decidida a viver uma nova etapa da vida, sozinha.
O videoclipe, que foi dirigido, fotografado e protagonizado por Shannon, resume tudo isso de uma forma dura e pura, mascarada pela batida dançante e pela sensualidade do amor sáfico:
Por fim, mas não menos importante, chegamos no respiro da cantora ao lançar seu primeiro álbum: “eu estou no coração partido número quatro / a tequila não faz efeito mais / eu tenho um novo rebote / tô me apaixonando por mim mesma agora”.
Aqui, entendemos que Girl of My Dreams é, de fato, uma fotografia melódica desse momento de recomeço de FLETCHER – que, é claro, é gente como a gente e sofre pela ex mesmo três anos depois, mas está tentando se sentir bem de novo, sozinha. Ufa, ela é a nossa “Taylor queer“, mesmo! <3
Afinal, quem é Becky e por que ela é tão gostosa?
No primeiro semestre de 2022, a internet quebrou com o lançamento sem precedentes do single “Becky’s So Hot” e, em seguida, o explícito videoclipe protagonizado por ninguém menos que Bella Thorne, que impersona essa “hot Becky“.
Na canção, FLETCHER conta sobre como, num belo dia, stalkeando a atual da ex-namorada – a influencer vegana Becky Missal –, percebeu que, em algumas fotos, ela utilizava a camiseta vintage de estampa de carro conversível vermelho, que ela sabia pertencer a Shannon. Sendo, ela própria, atraída pela beleza única de Becky, ela entoa nos versos que também transaria com ela.
A polêmica letra causou muita comoção e êxtase da comunidade queer, até mesmo de quem nunca ouvira falar de FLETCHER. Do outro lado, Shannon e Becky sentiram-se extremamente violadas e bloquearam a cantora de todas as redes sociais. Com relação aos fãs de ambas, não houve muita tomada de lados – todos queriam ver a casa pegar fogo e, secretamente, talvez ainda shippassem as autoras do THE S(EX) TAPES.
Mas é claro que os holofotes concentrados em Cari também foram um importante diferencial na carreira digital daquele casal. Não obstante, Becky lançou, no final de 2021, uma versão comercial da “vintage T-shirt” referenciada na música, cujas vendas seriam revertidas, em doações para o The Trevor Project – organização voltada para o acolhimento psicológico de indivíduos vulneráveis na comunidade LGBTQ+.
Acatando, portanto, à farpa, a cantora fez um repost da ação e formalizou um pedido da camiseta, mas Shannon, irritada com a intromissão em seu relacionamento, pessoalmente fez um vídeo de dueto no TikTok, ressarcindo o dinheiro da ex e cancelando sua compra. Isso fez a internet questionar a intenção por trás do merchandising, que deveria ser uma forma de arrecadar fundos para a caridade…
Shannon explica a sua versão
Como mencionado nos tópicos acima, o relacionamento entre FLETCHER e Shannon Beveridge deu – e dá, até hoje – o que falar para os fãs e pessoas queer fofoqueiras de plantão nas redes sociais.
Devido a tantas músicas dedicadas para a ex, a maioria dos ouvintes acredita que Cari claramente não superou Shannon. Por vezes, inclusive, retratam esta como a causadora do término e, consequentemente, do sofrimento da artista pop.
Um evento importante e que pareceu ser a gota d’água para isso foi o encontro das duas no camarote de um show da Taylor Swift na The Eras Tour, no qual Shannon recepcionou a ex com um abraço e elas trocaram uma conversa amigável. Isso foi documentado por um fã, e logo estava bombando no TikTok.
Dias depois, FLETCHER lançou um single de nome “Eras of Us“, que basicamente fala dos encontros e dos desencontros de ambas, o que basicamente significa que o amor que ela sentia, de tempos em tempos, volta – ou melhor, nunca deixou de existir.
Para trazer a sua versão da história com clareza para todos (e também para revelar o recente rompimento com Becky), depois disso tudo, Beveridge decidiu iniciar a transmissão de um podcast semanal em dezembro de 2023. Intitulado “exes and o’s“, a mídia pode ser acessada nas mais diversas plataformas de streaming, inclusive em uma versão audiovisual pelo YouTube – canal primordial da influenciadora, que começou, afinal das contas, como youtuber.
No episódio número quatro, com participação da artista Zolita, a host expressa estar exausta dos fãs constantemente pedirem que ela vá recuperar Cari, mesmo depois de anos, porque – rufem os tambores – foi a cantora quem a deixou. Depois disso, ainda reforçou: “ela não me quer!“.
Alguns meses depois, Shannon decidiu acabar de vez com a torta de climão, e chamou uma convidada especial para o exes and o’s. Em dois episódios extremamente esclarecedores, Cari e Shan passaram longas quase duas horas abrindo o coração e deixando águas passadas – vejam só – passarem!
Esses detalhes já podiam ser assumido com uma leitura minuciosa das músicas de THE S(EX) TAPES e Girl of My Dreams (como, por exemplo, “Silence“, “I Think I’m Growing?“, “Healing” e, a mais importante, “For Cari“) que são evidências nuas e sensíveis sobre alguém lidando com as diversas etapas do fim de um romance que não queria se acabar, mas teve que ser posto no passado porque uma das partes precisava se priorizar.
De toda forma, agora a internet teve o seu ponto final. (Ufa, se essas duas tiveram um closure quatro – talvez cinco? – anos depois de terminarem, talvez isso signifique que nós podemos ter um fechamento com nossas exes… Em algum momento da vida.)
Um antídoto para redflags?

(Imagem: FLETCHER / Reprodução)
Em fevereiro de 2024, FLETCHER divulgou a data de seu novo álbum – In Search of The Antidote. Contando com os singles “Eras of Us” e “Lead Me On“, o álbum promete trazer onze faixas que refletem as dores e as felicidades da cantora nesse processo constante de se redescobrir individualmente no mundo. É necessário pontuar que Cari não se envolveu com ninguém depois de Shannon – pelo menos, não de forma pública e duradoura –, então, ela vem traçando uma jornada de autodescoberta ladeada com o crescimento de sua fama e sucesso na indústria musical.
Essa rápida relevância que teve nos últimos três anos, em especial depois da polêmica de “Becky’s So Hot“, fez com que, no final de 2023, FLETCHER pudesse sair em uma solo Eurotour de Girl of My Dreams – e foram, ao todo, 21 shows em pouco mais de um mês!
Em paralelo com o trabalho musical (que, sabemos, tem fases), FLETCHER está sempre ativa nas redes sociais. Entre shades no X e vídeos-pílula no TikTok fazendo memes com vivências sáficas e dublando suas músicas, seu nome se mantém em alta entre fãs, lésbicas, bissexuais e outras espécies – até mesmo héteros!
FLETCHER plz come (back) to Brazil

(Imagem: Lollapalooza Brasil / Reprodução)
Há exatamente um ano, FLETCHER estava chegando às terras tupiniquins, se apresentando pela primeira vez para uma multidão de sáficas se estapeando para disputar lugar na sua seleta estreia em um sideshow no Cine Joia, em São Paulo. Dias depois, estava no palco de um dos maiores festivais brasileiros – o Lollapalooza.
Eu, como grande fã e (queira Deus) futura ex da FLETCHER, fui uma dessas lésbicas arrumando confusão para pegar grade tanto no Cine Joia, quanto no Lolla. Agora, sou também uma das lésbicas que sofre com o silêncio criativo de quase um ano da nossa maluca, que não lançou nada depois de ISOTA.
Então, Cari, onde quer que você esteja – feliz aniversário! This one’s for you.
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