Review | Lorde entrega um Solar Power artístico e dicotômico – mas coeso

Review | Lorde entrega um Solar Power artístico e dicotômico - mas coeso

Depois de seu inesperado comeback, a cantora neozelandesa Lorde nos presentou com seu mais novo álbum: Solar Power. Sem dúvidas, a obra era uma das mais esperadas do ano. Agora, depois de seu lançamento, com certeza é uma das mais divisoras de opiniões. Parte disso se dá porque o Melodrama e o Pure Heroine — seu álbum anterior e seu debut, respectivamente — são aclamadíssimos do gênero indie pop, com faixas introspectivas, mas, ao mesmo tempo, cheios de sintetizadores. O mais novo álbum traz uma Lorde muito diferente. Para entender do que estamos falando, escute o lançamento aqui.

Solar Power é o trabalho resultante de alguns anos de reclusão da Lorde para as câmeras e mídia, o que aumentou ainda mais o hype em cima desse lançamento. Talvez, ou justamente por isso, ninguém imaginava o que estava por vir. O álbum é diferente de tudo que a cantora já fez, mas não deixa de ser artístico e íntimo. Antes de seu lançamento, já havíamos sido apresentados a algumas faixas. Apesar disso, mesmo já tendo uma noção inicial da mudança de estilo, não tínhamos noção do quanto. Agora, temos.

Back to the skies in the clouds in a whole new way

A primeira faixa do álbum, intitulada The Path, traz um ritmo misterioso e lento, com letra claramente autobiográfica. Logo nos primeiros versos, a cantora fala sobre a fama que lhe veio cedo e as consequências disso. Logo mais temos uma virada no ritmo, que se torna dançante — mas a letra continua íntima, ressaltando o quanto estamos todos perdidos e esperando que nos mostrem o caminho. É uma ótima faixa de início, revelando como a experiência sonora do álbum será — bem mais acústica do que tudo antes, com letras e ritmos que vão rapidamente do drama ao otimismo.

Em seguida, temos a conhecida Solar Power e California. Enquanto a primeira traz uma mensagem de abertura e novos tempos — quase que profética — , a segunda fala sobre a mudança, ao passo que compartilha um pouco do que passou. Solar Power vem como um convite a nos abrirmos e abraçarmos sua nova era, e California expõe sua experiência nos melhores momentos. Ao mesmo tempo que havia fama, prêmios, viagens, também havia muita crítica. A cantora canta sobre como ela não quer mais isso, e como volta aos céus de um jeito totalmente diferente.

But how can I love what I know I am gonna lose?

A partir daí, temos músicas que passam por tópicos parecidos, porém, de um jeito único em cada uma delas. Uma das coisas mais presentes na temática do álbum é a ode a natureza. Se reparar, em cada letra tem alguma referência a isso, indiretamente ou diretamente. Um bom exemplo do segundo caso é a faixa Fallen Fruit, que é uma carta aberta sobre como o mundo está mudando climaticamente, os comportamentos danosos dos humanos com o lugar que ele mais deveria zelar. Como eu vou amar algo que eu sei que irei perder?, se pergunta, fazendo referência à eco-ansiedade que afeta a muitos ao ver os efeitos das mudanças climáticas no planeta.

A consciência política e social da cantora não vem sozinha. Durante o álbum, acompanhamos que Lorde está cada vez mais imersa e conhecendo a si mesma, mudando a maneira que ela enxerga o mundo ao seu redor. Entre canções carta como The Man with the Axe, Dominoes, Big Star e Lider of a New Regime — endereçadas a diferentes destinatários — há confissões e reflexões sobre sua vida, envoltas em sons cada vez mais experimentais.

Watch the sunset, look back on my life

Stoned at the Nail Saloon é o retrato perfeito de uma das maiores dicotomias da vida de Lorde. Agora, ela traz passagens que mostra como sua vida é calma, o contrário de quando ela fazia vários shows em turnê. Nessa faixa, assim como em outras, os versos fazem paralelos com músicas de outros álbuns, de forma subliminar ou não. A Secret’s of a Girl (Who’s Seen it All), segundo a cantora, é uma resposta dela à ela mesma, para a canção Ribs.

Mas, uma das melhores coisas da experiência do disco é ouvir o álbum crescer. As últimas faixas Mood Ring e Oceanic Feeling são verdadeiras jornadas por si só, e não poderia ter jeito melhor de finalizar essa obra de arte. A forma como a Lorde se mostra contemplativa, transformadora e artística é única. Então, primeiramente, vamos comentar Mood Ring. É sua saudação — e que saudação — ao pop dos anos 90/00. Com harmonias e violão acústico, essa faixa poderia facilmente ser interpretada pelas Spice Girls. Sua letra é cheia de referências aos millennials e a elementos holísticos, como cristais e astrologia, e seu ritmo é certo de cativar a quem está ouvindo.

Por fim, Oceanic Feeling nos dá os melhores 6 minutos de experiência de todos. Então, a cantora finaliza seu álbum em grande estilo, provando que realmente é uma das maiores promessas do mundo da música, como David Bowie já disse. Mas, a melhor coisa na experiência do disco é ouvir o álbum crescer, então, não poderia ter jeito melhor de finalizar essa obra. Oceanic Feeling reúne todos os pontos altos de Lorde como cantora, produtora e compositora. Assim, Solar Power nos apresenta à sua nova versão, com um vislumbre encantador e coeso de sua arte.

Confira também:

Lorde

Título do álbum:
 Solar Power
Faixa:
 12 faixas
Nota: 5/5

Mas e você, qual foi a sua opinião sobre o Solar Power? Comenta com a gente!

Gabriela Fortalesa
Redatora d'O Quarto Nerd. Apaixonada por música, filmes, jogos e tudo que envolve o universo geek.