Resenha | Cinderela está Morta é uma releitura empoderadora

Cinderela está Morta

O livro Cinderela está Morta, da escritora Kalynn Bayron foi finalmente lançado no Brasil pela editora Record. A história é uma releitura de um dos contos mais famosos do mundo, que ganhou diversas adaptações cinematográficas.

Em um universo onde já se passaram 200 anos desde a morte de Cinderela, uma sociedade arcaica, onde as mulheres são vistas como objetos, nossa protagonista, Sophia está cansada de como as coisas funcionam, e pretende dar um basta nisso. Confira nossa resenha do livro.

Duzentos anos após a encantadora Cinderela deixar um legado para todas as garotas da futura geração, o atual rei Manford, assim como seus antecessores, estabeleceram leis para colocar as mulheres na linha dentro das suas rédeas.

Ao completar 16 anos, todas as garotas do reino são obrigadas a comparecer ao baile de inverno e serem ofertaras como mercadorias para futuros pretendentes. O baile acontece anualmente, e as garotas possuem três chances para conseguir um marido, se não serão deserdadas e viverão como indigentes às margens do reino, sentenciando não só sua própria reputação como a de sua família.  

Além disso, as garotas não precisam apenas comparecer, e sim estarem vestidas como verdadeiras princesas. Mesmo que, parte dessa sociedade esteja tão afundada na miséria sem ter o mínimo de dinheiro para alimentar a família. Mas, aos olhos do rei, isso não é um impedimento para sua pequena noite de luxo.

Então temos nossa protagonista, Sophia. Desde criança soube que seu destino não era estar casada obedecendo um marido. Mesmo que seus pais tentassem colocar isso em sua cabeça, apesar de só quererem ver a filha feliz, é preciso seguir as leis do rei para continuar vivo.

A Representatividade

O primeiro ponto para ser comentado sobre esse livro é definitivamente a representatividade. Nossa protagonista é preta e lésbica. Além dela, a maioria dos personagens também são pretos, o que torna a história ainda mais interessante. E o melhor de tudo é que a narrativa não é sobre racismo, (porque cá entre nós, ninguém aguenta mais histórias com pretos sofrendo racismo).

Já a questão da orientação sexual de Sophia é vista mais como um risco de rebeldia. Já que, se duas mulheres estiverem juntas não há um homem para controlar a relação. Outro aspecto é que: não dá mais para engolir histórias com a comunidade LGBTQIA+ sofrendo represália o tempo todo. Em nenhum momento sua orientação é uma grande questão, ela está simplesmente lá, como deve ser.

A Revolução

Cinderela está Morta
Imagem: Reprodução

Com um discurso sobre meritocracia, desigualdade social, a posição do rei, as leis rígidas para as mulheres e flexível para os homens. Sophia poderia apenas fugir do baile, porque ela definitivamente conseguiria se esconder pelos reinos vizinhos. Mas, ela quer fazer a diferença. Realmente anseia pela mudança de toda hierarquia e de como as mulheres são tratadas.

Não demora muito para que Sophia encontre pessoas que assim como ela, não conseguem se acomodar com a situação.

Parafraseando uma frase dita por Duda Reis, em uma entrevista ao Fantástico:

“Onde uma mulher sai ferida, nenhuma outra consegue ficar bem”

E apesar do Baile Anual incitar essa rivalidade entre essas garotas, o clima de tensão faz com que todas se sintam no mesmo barco. Sophia principalmente, sente isso. Ela poderia se contentar apenas em se livrar do rei, mas ela escolhe lutar por todas que foram silenciadas.

O Romance

E quem não gosta de umas boas migalhas de romance no meio de todo esse caos? Sophia e Constance desenvolvem um carinho extraordinário uma pela outra. E suas personalidades opostas trazem o equilíbrio perfeito para uma relação engraçada, encantadora e principalmente revolucionária!

A História

Com uma história original completamente cativante, Kalynn Bayron consegue passear e brincar com nossos desejos mais profundos. Nossos desejos de mudança! Por mais que a história seja contada em um universo diferente, não estamos tão distantes de um mundo que tenta silenciar as mulheres.

Cinderela está Morta traz esperança e principalmente vontade de fazer a diferença por todas as nossas iguais. É um grito no escuro buscando por novas vozes que possam se juntar e torná-lo mais forte e mais alto.

Kalynn nos desafia a questionar todas as histórias que conhecemos. Reconstruindo esses contos com mais representatividade, mais garra e mais empoderamento, do jeito que deveriam ser.

Resenha

Título: Cinderela está Morta

Autora: Kalynn Bayron

Editora: Record

Nota: 5

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Júlia Oliveira
Redatora d' O Quarto Nerd. Apaixonada por música e séries. Completamente viciada em livros. 'I go to seek a Great Perhaps'.