QN Independente | Nicolas Silva fala sobre seu primeiro livro, ‘O Começo de Tudo’

Nicolas

Nicolas Silva é um escritor independente brasileiro. Agora, em 2021, está lançando seu primeiro livro, ‘O Começo de Tudo’, pela Editora Artelogy.

Nós tivemos a oportunidade de conversar com o Nicolas, e neste bate-papo o autor compartilhou um pouco do processo criativo e também sobre as dificuldades na hora de publicar um livro.

Confira a entrevista abaixo:

QN: Em que momento você percebeu que suas experiências pessoais poderiam influenciar na criação desse projeto?

Nicolas: Desde sempre. Já reparou que por mais que uma história seja boa, o que te deixa mais preso a ela é quando você se identifica com alguma situação ou algum personagem? Então. Não acho que, por exemplo, eu, seja uma das únicas pessoas no mundo na qual já se apaixonou por duas pessoas e no fim quebrou a cara, entende? Eu precisava desabafar e sentia que mais pessoas se identificariam com minha situação, então só juntei o útil ao
agradável e aí aconteceu.

QN: Além das suas experiências pessoais, algum outro aspecto da nossa cultura influenciou durante a escrita do livro?

Nicolas: Foram poucas as coisas “de fora” que me ajudaram com algo no livro, mas essas poucas causam muito impacto. Infelizmente a sociedade demora muito para “evoluir”. Parece que damos 1 passo para frente e 2 para trás, sabe? O que eu vejo hoje em dia é o impacto que séries e filmes trazem para a sociedade e por isso decidi trazer histórias um tanto quanto pesadas para mostrar ao mundo que “certas coisas realmente acontecem e são reais”. Que, “não é porque não aconteceu comigo ou com um conhecido que não é verdade”, entende o que eu quero dizer? Mas na nossa cultura… Não, não tive influencia.

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QN: Qual foi o maior desafio na hora da publicação, sendo um autor novo em um país que não valoriza tanto escritores independentes?

Nicolas: Aí entramos em duas questões… A primeira dificuldade foi comigo mesmo, porque querendo ou não, a história envolve pessoas que passaram pela minha vida e mesmo não falando sobre elas, situações que aconteceram entre a gente sairia no livro e aí vinha o impedimento de: “E aí? O que eu faço depois?” Mas chega uma hora que você precisa escolher entre tomar uma atitude e seguir em frente ou ficar estagnado num lugar, se todos eles seguiram suas vidas pensando no que seria melhor para eles, porque eu não podia fazer o mesmo? E aí eu fiz.

Agora, falando sobre ser autor num país que não arrisca no novo/desconhecido, é algo bem complicado, mais ainda se sua situação financeira não colaborar tanto, porque qualquer coisa que você vá fazer hoje em dia requer um capital e isso é algo bem complicado. Agora deixando o dinheiro de lado e focando pela parte do “desconhecido”, temos que começar de algum lugar, e “alcançar o topo” jamais será uma tarefa fácil. Mais ainda se tiver nascido no Brasil e sem o famoso “contato”.

QN: Qual personagem dos livros você se sentiu mais conectado quando estava escrevendo?

Nicolas: Essa é a pergunta mais fácil de todas para mim, e é obvio que o Tyler. Por mais que o Tyler seja quase 100% inspirado em mim, temos algumas diferenças como o fato de que eu não me arrisco por conta das consequências e ele já se deixa levar pelo momento e as consequências ele resolve depois. Mas fugindo do obvio, não tem um personagem em especifico porque todos carregam uma pequena parte minha, seja nas qualidades ou nos defeitos, nos sonhos e nos medos. Impossível escolher apenas um quando se é apaixonado por todos.

QN: Como o seu livro vai tocar as pessoas? Qual a mensagem que mais te marcou e que você
espera que marque outras pessoas?

Nicolas: Existem várias mensagens no livro. Na verdade, na história toda. Meu medo é soltar algum spoiler aqui, mas acho que consigo falar algo sem ser algo tão gritante. Uma das mensagens que mais me marcou é a de “ser você mesmo”. É difícil. Não é fácil ser você mesmo num mundo tão hipócrita quanto o nosso. E quando eu digo sobre “ser você mesmo” eu não digo apenas em relação a sexualidade, não… Se você ama, ame. Se você é louco, seja louco, mostre sua loucura para o mundo. É um menino e gosta de brincar de boneca? Vamos montar uma casinha e fazer histórias. É uma menina e gosta de esportes? Cara, joga. Mas o principal, seja você.

Minha mãe sempre disse que “me criou para o mundo e que eu poderia fazer o que eu quisesse desde que não fosse algum crime ou que eu não machucasse o próximo” e eu demorei muito para sair do lugar escuro que eu estava e sabem como isso aconteceu? Quando eu conheci pessoas que eram elas mesmas e que não se importavam com os julgamentos e eu queria aquilo, eu sentia inveja daquilo, eu queria ser feliz. Ai, chegou uma hora que eu fiz.

Então não tenha medo de ser você mesmo e nesse processo acabar afastando algumas pessoas… Se eles se afastaram era porque eles nunca deveriam ter permanecido e leve isso como um livramento. Uma hora, com toda sua loucura ou seu jeito de ser, você vai encontrar pessoas que façam as mesmas coisas. Então, seja você mesmo independente dos olhares e dos julgamentos. A pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos.

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QN: O livro é narrado por vários pontos de vista, de que maneira você moldou a personalidade de
cada um deles, você deixou seus próprios valores ditarem esse desenvolvimento?

Nicolas: Na verdade o primeiro livro é narrado apenas pelo Tyler. Conforme as coisas vão acontecendo com ele, assim que ele chega em casa ele joga tudo no word e “seja o que Deus quiser”. Agora, a personalidade de cada um foi moldada baseado nas pessoas que conheci. Juntei um fragmento de cada pessoa, fui vendo “o que combinava” e foi assim que cada um “nasceu”. Se eu deixasse algo apenas baseado em mim e na minha personalidade, ficaria algo
muito sem graça e “nos meus padrões” e eu gosto do diferente.

QN: Falando sobre o mercado editorial brasileiro, o que você acha que falta em todo esse processo desde o surgimento de um novo escritor independente até a hora de publicar um livro?

Nicolas: Confiança das editoras, sendo que eu tenho visto muita editora apostando em autores novos e, ou, desconhecidos. Mas sendo mais sincero ainda, em partes falta muita coragem do escritor em si que tem medo de todo o desafio que é até publicar um livro. Hoje em dia existem muitas maneiras de se publicar um livro e não precisa ser necessariamente uma editora. Existem muitas formas de se fazer isso, mas o que eu mais vejo é o medo do início. O
“e se ninguém gostar?”. Se as pessoas pegassem esse “e se” e usassem pra coisas boas, muita coisa seria diferente.

QN: O seu livro tem representatividade LGBTQIA+, e de uns tempos pra cá isso vem sendo muito cobrado das produções, no cinema, nos livros e séries. Pra você, qual a importância desses personagens serem introduzidos em um contexto do dia a dia na história?

Nicolas: Engraçado vocês comentarem isso mais ainda por conta do episódio que rolou há alguns dias onde até a sigla foi “motivo de piada”… “LGDBTYH”… Engraçado que essa “geração mais antiga” teve paciência para se adaptar com as coisas tecnológicas, mas algo tão antigo quanto a homossexualidade ninguém dá a mínima para saber do básico e ainda dizem que NÓS temos que ser mais compreensivos com eles por terem preguiça de aprender algo tão básico? Então assim, o livro tem N assuntos que pra mim a sociedade precisa sim saber que EXISTEM, como por exemplo, a homossexualidade do Tyler. Toda a dúvida, todos os conflitos que ele passa até “saber quem é”. Então assim, tá mais que na hora de entender que somos todos iguais independente de qualquer diferença. E enquanto não entenderem isso, enquanto taxarem como “piada”, vamos continuar com nosso barulho sim!

Você pode adquirir “O Começo de Tudo”, de Nicolas Silva, no site da Artelogy.

Karina Sena