Porque os mangás demoram tanto para chegar no Brasil?

Mangás

Atualmente, acompanhar animes no Brasil é muito mais fácil e legalizado. Com a chegada dos serviços de streaming, tornou-se possível assistir aos lançamentos de séries animadas quase em tempo real. Assistir animes no Brasil ficou fácil com os streamings, mas acompanhar mangás oficialmente ainda é complexo, dificultando o acesso simultâneo ao Japão.

Como é o atual mercado de mangás no Brasil?

Atualmente, os mangás chegam no Brasil por editoras como Panini, JBC, NewPop, Pipoca e Nanquim, além da Editora Veneta. Cada editora foca em tipos distintos de mangás: algumas em mangás mais comerciais como One Piece, outras, em obras de nichos como Yaoi e Yuri.

No entanto, independente do estilo, gênero ou autor(a) que fez o mangá, é importante lembrar que eles chegam no Brasil no mesmo modelo de venda. No Brasil, os mangás costumam ter sua publicação no formato de volumes, que agrupam vários capítulos em um único livro. Assim, independentemente de a história do mangá ter mais de 100 volumes ou apenas 1, quase sempre eles seguem esse modelo por aqui.

Abaixo um exemplo de como é uma revista de mangás feita no Japão.

Um problema recorrente dentro do mercado de mangás no Brasil

Apesar de o mercado brasileiro de mangás ter se consolidado ao longo do tempo, ainda existem alguns problemas. Entre os principais, está a demora no lançamento dessas histórias no Brasil.

Um exemplo disso é Jujutsu Kaisen. O mangá foi encerrado em setembro de 2024 e, até a data de publicação deste artigo, novembro de 2024, os últimos volumes ainda não foram lançados no Brasil. Mas, afinal, qual é o principal problema dessa demora? Justamente por causa dela, há um grande impacto no combate à pirataria de mangás e conteúdos correlatos.

Em uma sociedade cada vez mais conectada, o mercado de mangás também segue essa tendência. No entanto, no Brasil, embora esse mercado tenha crescido nos últimos anos, ele ainda é pequeno em comparação ao do Japão, país de origem dessas obras.

É claro que isso também ocorre com o mercado de livros. Autores consagrados entre o público brasileiro, como Stephen King e George R.R. Martin, por exemplo, têm seus lançamentos mais recentes publicados praticamente simultaneamente. Contudo, ainda há obras mais antigas que nunca receberam traduções oficiais. Assim como acontece com os livros, os mangás também recebem traduções não oficiais pela internet. No entanto, no caso dos mangás, o problema pode ser ainda mais profundo.

Scans Brasileiras e a pirataria: uma solução rápida ou um problema a longo prazo?

Hoje, um dos meios mais comuns para acompanhar os capítulos recém-lançados de um mangá é através do trabalho das scans. No Brasil, as scans geralmente são produzidas por fãs, que se dedicam a traduzir e editar essas obras de forma independente. Embora as scans sejam uma forma rápida e acessível de acompanhar obras, elas enfrentam um sério problema: a ilegalidade.

O impacto das scans vai além da questão econômica, afetando a localização e tradução, o que pode alterar completamente a história. Um exemplo disso é o mangá Chainsaw Man, que também impactou o anime. Embora o mangá Chainsaw Man tenha chegado ao Brasil pela Panini, inicialmente, ele foi disponibilizado através de scans. No entanto, ao ser publicado oficialmente, passou por um processo de tradução e localização, além de uma equipe especializada revisar e editar a obra para garantir a maior fidelidade possível ao original. Mas afinal qual o problema da scan ter traduzido Chainsaw Man antes do mangá chegar oficialmente para o Brasil? O problema foi a “liberdade criativa” que a scan trouxe para o mangá.

O limite entre o criativo e o preconceito

Como mencionado anteriormente, as scans oferecem uma tradução feita de fãs para fãs; no entanto, esse método pode ser bastante perigoso. Um ótimo exemplo é a tradução feita para Chainsaw Man, que assim que teve sua “primeira versão” disponibilizada de graça na internet trouxe várias piadas de cunho preconceituoso, assim como escolhas de falas que não condizem com o original como é o caso da frase “O futuro é pica” que levou Guilherme Briggs, umas das maiores vozes da dublagem brasileira, a abandonar a adaptação em anime de Chainsaw Man, mas isso é uma conversa para outro texto.

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Mas voltando ao tópico da tradução feita por fãs, a tradução de scans normalmente é a tradução de outros fãs em outra língua, normalmente inglês, mas pode ser francês ou espanhol, somente esse fato já torna a tradução um possível telefone sem fio, porque afinal você está lendo algo que é uma tradução de outra tradução. Com isso em mente ainda temos que levar em conta o fato de como essa tradução é algo que não passa por um crivo de um revisor mais sério, podemos ver várias vezes erros de digitação, erros de português, além é claro que dependendo de quem está fazendo a tradução ou revisão podemos ver piadas de mau gostos, para não dizer preconceituosas.

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O uso de gírias e memes pode, sim, gerar discussão sobre sua validade, já que podem marcar temporalmente a obra, tanto em traduções oficiais quanto nas feitas pelas scans. No entanto, não é justo afirmar que essas traduções não deveriam recorrer a esses artifícios de escrita; é apenas necessário ter bom senso ao utilizá-los. Porque como esse trabalho de tradução de fãs é um trabalho muitas vezes anônimo, pelo menos para quem está lendo o resultado final daquela obra, é muito difícil saber quem está fazendo aquilo e também o que ela pretendia ao fazer certas escolhas para certas falas e colocações dentro do mangá.

Apesar dos problemas as scans não são vilãs (pelo menos não necessariamente)

Apesar dos problemas citados sobre as traduções feitas por scans, não podemos generalizar e afirmar que todas entregam traduções mal feitas. No entanto, mesmo trazendo traduções não oficiais para a internet brasileira, as scans assumiram um papel importante no cenário de mangás no Brasil, funcionando como uma “peneira” para a seleção das obras que chegam oficialmente ao país. Mas como isso acontece, considerando que a maioria dessas traduções chega de forma não oficial?

O lançamento de um mangá no Brasil envolve a escolha da obra, compilação, tradução, revisão e, por fim, sua entrada no mercado nacional. Por outro lado, o trabalho das scans é bem mais simples, pois geralmente ocorre capítulo a capítulo, quase sempre no mesmo período em que os capítulos são lançados no Japão.

Para as editoras brasileiras, é difícil acompanhar o ritmo das scans na internet. Além disso, é preciso considerar o preço dos mangás no Brasil. Embora o valor varie por diversos fatores, atualmente é raro encontrar títulos mais simples custando menos de 30 reais.

Sob a perspectiva econômica, as scans oferecem uma alternativa mais acessível para quem não pode arcar com os preços, muitas vezes elevados. Por outro lado, estamos lidando com algo ilegal, o que traz à tona a discussão moral.

Não cabe aqui fazer juízo de valor sobre essa questão, mas é impossível discutir o tema sem incluir esse ponto na pauta. Portanto, o único ponto realmente válido que podemos levar sobre todo o tema em relação a scans e traduções piratas, é que no final depende de cada pessoa e qual são suas ideias e moral em cima desse ponto.

Conclusão (ou quase isso)

No final dessa breve discussão temos que salientar 2 pontos importantes. O primeiro é o fatoa de que o mercado brasileiro para mangás está ainda muito longe do mercado japônes, por isso essa demora para essas histórias chegarem aqui.

O segundo ponto é o fato de que apesar do mercado brasileiro demorar a trazer os mangás de forma oficial para o Brasil, as scans servem como um meio ilegal de ser ter acesso a obras. Entretanto, as scans trazem para o público brasileiro obras que provavelmente nunca chegarão ao Brasil de forma oficial.

Dessa forma podemos concluir que todo esse mercado de mangás no Brasil abre espaço para que as scans e outros meios ganhem cada vez mais forças entre o público. Contudo, a importação dessas obras tem ganhado cada vez mais espaço com o sucesso que os mais diversos tipos de animes em vários streamings como Netflix e Crunchyroll, por isso não é impossível de imaginar que em algum momento do futuro poderemos ver essas obras chegando ao Brasil de forma oficial e sendo lançadas quase simultaneamente ao Japão.

Max Rohrer
Redator do Quarto Nerd. Sou apenas um projeto de fã de Star Wars e Sons of anarchy, que gosta de escrever de vez em quando e gosta de teorizar sobre a Marvel e DC.