Poucas histórias tem um impacto tão forte, como aquelas que assistimos quando criança e jamais nos esquecemos… Ponte para Terabítia é sem dúvida uma delas.
O filme completa hoje,16, 14 anos desde o lançamento nos cinemas do Brasil, e não podíamos deixar de trazer nossa homenagem ao filme.
O filme acompanha um período da vida de Leslie e Jesse, ambos vítimas de bullyng na escola que encontram um no outro uma aliança e amizade que nunca tiveram com ninguém.
Ao atravessar um riacho, os dois encontram uma grande floresta e começam a criar seu próprio reino secreto para onde os dois fugiam todos os dias após as aulas.
A perseguição com Leslie e Jesse
Jesse era um dos garotos mais excluídos da sala por ser extremamente tímido. E Leslie, a novata começou a também ser o alvo da sala por sua maneira excêntrica de se vestir e agir. Após certa relutância de Jesse os dois começam uma estranha amizade.
Na escola, o famigerado bullyng e perseguição com os dois faz com que estes retraiam cada vez mais sua personalidade, tornando quase impossível mostrar quem são de verdade e serem vistos como realmente são.
De forma delicada e realista, o filme mostra a realidade de muitos jovens em escolas. Crianças e adolescentes podem ser muito cruéis diante do que é diferente. Não é a toa que o suicídio é a segunda maior taxa de morte entre os jovens no mundo.
A Válvula de escape de Leslie e Jesse
Leslie é filha de escritores de ficção, não é a toa que tem uma das imaginações mais férteis, estilo Anne Shirley. Apesar de acreditar que seus pais não tiveram tanta influência em sua personalidade não há como negar que sua inteligência e facilidade para criar um universo tenha um dedo de seus pais.
“Nós não somos o retrato de nossos pais, somos quem somos e ponto final. Não quero ser a réplica deles. ”
Mesmo que a garota não se deixe levar por toda a perseguição, está claro que é uma coisa que a deixa desconfortável, ela nitidamente quer fazer amigos, mas não consegue simplesmente ignorar tudo que está a sua volta.
Sua imaginação flui de uma maneira tão natural que consegue levar Jesse junto com ela sem muito esforço, um exemplo disso é o momento em que a garota lê sua redação em voz alta para a turma e Jesse fica completamente encantado. E antes mesmo que os dois chegassem no seu reino secreto é nítido que a garota já usava desses pequenos truques para escapar de sua realidade.
Ela é o retrato perfeito da coragem, inteligência, genuinamente gentil, perspicaz e capaz de enxergar o lado bom nas coisas e pessoas.
Enquanto Jesse tem 5 irmãs, e mora longe da cidade, é perseguido por ser o ‘caipira’ da escola. É extremamente retraído, e vítima da masculinidade tóxica de seu pai, que mesmo sendo uma criança, carrega as responsabilidades de uma pessoa mais velha por ser o único filho homem. Jesse tem dificuldade de mostrar seus sentimentos e sua única forma de se expressar é pela arte. Ele tem os olhos e as mãos de um artista, e mais uma vez perseguido dentro de sua própria casa por fazer algo tão “inútil” como os desenhos.
Jesse encontra em Leslie algo que nunca teve na vida, uma amiga, uma confidente e alguém que aprecia seu talento ao ponto dele poder ser ele mesmo.
Enquanto Leslie aprende com Jesse a conseguir enxergar as reais intenções das pessoas, o garoto aprende com ela o prazer da ingenuidade e de deixar a mente aberta para a imaginação.
O Mundo de Terabítia
Quando os dois criam esse universo de fantasia exclusivamente para eles, conseguem fugir da maldade do mundo e sentir que de fato pertencem a algum lugar. Os dois são os reis de Terabítia e não só no reino, passam a ver um no outro o único motivo para realmente ser quem são.
Essa relação dos dois ao mesmo tempo que fortalece as brincadeiras também os tornam cada dia mais corajosos para enfrentar as situações do cotidiano principalmente na escola. Chega um momento em que os dois parecem estar alheios a tudo que acontece e são apenas os dois contra o mundo.
Um dos reflexos dessa confiança recém conquistada é quando o garoto começa a se evolver mais nas aulas de música. Quando antes só permanecia em silêncio, começa a cantar, participar e se divertir na aula mais esperada de todas.
A ida deles para esse outro universo, depois do rio sempre é mostrada com uma riqueza de detalhes, para enfatizar a transição dos dois para seu refúgio.
É interessante observar o quanto cada um dos personagens lida com as suas frustrações de seu próprio jeito, a valentona do colégio é na verdade insegura com sua aparência e sofre maus tratos em casa, o pai de Jesse tenta resolver uma crise financeira e acaba descontando tudo no garoto, os pais de Leslie por mais que sejam ótimos ainda não dão a atenção necessária para a garota. Cada uma dessas coisas influência em um determinado ponto da personalidade e acontecimentos do filme.
O Efeito borboleta dentro do filme
O Efeito borboleta é um termo que se refere à dependência sensível às condições iniciais dentro da teoria do caos. Resumidamente, cada ação gera uma reação.
A tragédia no final do filme foi inevitável (e realmente muito sensível para um filme infantil), e Jesse começa a se perguntar se ele tivesse convidado a garota para ir ao museu com a professora ela ainda estaria com ele. O que não deixa de ser realidade, mas muito além de Jesse não a ter convidado. A necessidade de aprovação do garoto parte desde as humilhações sofridas no colégio como na desprezo de seu pai dentro de casa, que nunca direciona uma palavra de carinho para ele durante todo o filme. Fica claro que Jesse não saberia o que estava prestes a acontecer. No entanto, o garoto estava tão animado com a possibilidade de passar algumas horas com um adulto que admira tanto seu talento, era maior do que qualquer coisa no momento.
Leslie possuía uma visão única da realidade, ela acredita que apenas a imaginação e a capacidade de sonhar poderia trazer algo significativo para o mundo, e só isso poderia salvar cada pessoa perdida.
Sentir que tudo a sua volta dentro de Terabítia era real, fez com que a garota tivesse uma percepção maior sobre a vida, pois por mais que seja importante tanto para as crianças quanto os adultos estar focados na realidade, é indispensável se permitir fazer parte da fantasia, seja em um livro, um filme ou em um universo inteiro inventado. Porque o mundo está doente, e manter-se 100% diante desse caos é capaz de deixar qualquer um estarrecido.
Ponte para terabítia é uma história cativante, e tem a capacidade de nos levar para lugares distantes não importa a idade.
“Apenas feche os olhos e deixe a mente bem aberta. ”
Já assistiram o filme? Conta pra gente nos comentários!
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