Os Cavaleiros do Zodíaco: Um colecionismo inflacionado

Com quase 30 anos nas costas e colecionando desde que este vós escreve se entende por gente, vi diversas fases do colecionismo, tanto no Brasil quanto no mundo afora. Uma atividade que veio se popularizando no começo desta década e que hoje, se tornou algo totalmente comum. Desde casas e quartos completamente decorados, até um cantinho com alguns ‘bonequinhos’ favoritos, tudo pode se categorizar como colecionismo.

É bastante comum encontrar bastante diversidade no mundo do colecionismo. Por exemplo, fãs da Marvel, DC Comics, ou até mesmo alguns animes, como Dragon Ball e Naruto. É possível encontrar dos mais diversos tipos de colecionáveis, desde brinquedos – desta vez falamos daqueles voltados para crianças – ou brindes de lanches de redes de Fast Food até estátuas com valores surreais. São opções para todos os gostos e claro, para todos os bolsos!

Porém, com o passar dos tempos, é notável que Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya, para os mais hardcore) que não se encaixa exatamente nesta vasta gama de opções. Mas por quê?! Primeiro, vamos aos fatos.

De volta aos anos 80, quando o mangá já estava sendo públicado e o anime caminhando para sua estreia. Os Cavaleiros do Zodíaco tiveram seus visuais, digo, suas armaduras, mudadas do mangá para o anime e os brinquedos (Calma! Estamos nos anos 80, ninguém usa o termo colecionável ainda.) produzidos pela Bandai tiveram sua parte de influência nisto. Os bonecos clássicos dos Cavaleiros foram um fênomeno – tanto no Japão quanto no Brasil e Europa -. Era a primeira vez que eram apresentados bonecos de plástico com armaduras de ferro e com um ‘sistema’ que permitia montar o traje tanto no boneco quanto no signo (ou object, para os fãs).

O sonho de praticamente toda criança dos anos 90

Durante todo o período de sucesso e glória d’Os Cavaleiros do Zodíaco no final dos anos 80 e durante a década de 90, os Vintages – os bonecos clássicos como são chamados hoje -, eram o único modelo de brinquedo dos personagens. Com o início dos anos 2000 e a produção da Saga de Hades,  novos produtos foram produzidos. Entre eles: os Gashapons, Candy Toys, Cloth Up, o próprio relançamento dos Vintages e o lançamento da principal linha hoje, os Cloth Myth.

Todo bom colecionador sabe uma das principais regras do colecionismo: Com o passar do tempo, tudo fica raro. Ou no mínimo, difícil de conseguir. Muito dos colecionáveis dos Cavaleiros não chegaram oficialmente no Brasil.

Na década de 90, os Vintages chegaram ao Brasil e durante um período onde o salário mínimo no país era R$100 e a garrafa de 2L de Coca-Cola custava aprox. R$2,00 (para termos uma noção da situação), os ‘bonequinhos’ chegavam às lojas no valor de R$36,00. (Pasmem!!!)

Confira o vídeo do programa ShopTour da época.

Até então, para aqueles que não podiam bancar esse valor na época, havia a opção dos saudosos ‘Saint Fighters‘, a versão dos Cavaleiros dos camelôs, onde fizeram a alegria de muita criançada.

Foto: Reprodução/Internet
Foto: Reprodução/Internet

Uma década depois, em 2004 quando a série retornava ao Brasil com força total e os brinquedos clássicos retornaram conforme o relançamento do Japão, conhecidos como os ‘HK DieCast‘ – versões de Hong Kong que trazia diferenças sutis nos bonecos e nas pinturas -. Nesta época, o salário mínimo que estava entre R$260,00 ~ R$300,00 (2004 ~2005), os Cavaleiros retornavam às lojas no valor médio de R$60,00. Ainda assim, caros!

Confira a matéria do CavZodiaco na época. (Clique aqui)

Enquanto no Japão e alguns países da Europa, as diversas linhas chegavam oficialmente às lojas, como os Gashapons. Bonecos de aprox. 10cm sem articulação que eram vendidos em máquinas. Sabem aquelas famosas máquinas de moedas de R$1,00? Com bolinhas, pokémons e etc…? Então, no Japão, os brindes são um pouquiiiiiinho melhores.

Foto: Reprodução/Internet

Ainda na época do relançamento da série e na tentativa de fazer a franquia atingir o sucesso esperado nos EUA (Comentamos sobre isso na crítica do anime da Netflixleia mais aqui), uma linha de brinquedos foi criada pela Bandai (desta vez, a divisão americana). A linha de brinquedos era formada pelos 5 Cavaleiros de Bronze em suas primeiras armaduras acompanhados de seus signos (ou objects, como preferir) e os 5 Cavaleiros Negros, cada um com uma parte da Armadura de Ouro, que ao comprar todos, você montava a armadura.

Foto: Reprodução (CavZodiaco)

A coleção foi uma ótima opção para os pais, pois eram mais baratos que os Vintages e eram correspondentes à temporada que era exibido na TV na época.

Os Gashapons e as demais miniaturas nunca chegaram oficialmente no Brasil. Por um período era possível encontrá-los em lojas de brinquedos e colecionáveis que importavam seus próprios produtos, e claro, com um preço um pouco mais salgado.

Os anos se passaram, e como havíamos comentando sobre a famosa regra, os Vintages, assim como os demais brinquedos saíram de linha e começaram a ficar raros. Alguns personagens específicos das Sagas de Asgard e Poseidon, como Alberich de Megrez, Krishna de Crisaor e Isaac de Kraken são o alvo de colecionadores até hoje.

Com o eminente sumiço dos brinquedos, os Cloth Myth ganharam espaço e destaque total no mundo. Versões atualizadas e constantemente melhoradas dos Vintages se tornaram o novo sonho de consumo das não-tão-mais-crianças dos anos 90. Porém, assim como a qualidade aumentou, bom, o preço também aumentou.

Recentemente, a Bandai apostou em uma opção B para os colecionadores. A linha D.D. Panoramation trazia versões “miniaturas” dos Cloth Myth, com armaduras fixas ao corpo e com a opção de criar um enorme cenário, combinando peças que acompanham cada personagem.

Colecionando todos os Cavaleiros, seria possível recriar as 12 Casas como na série

Porém, mesmo com o preço um pouco menor do que os Cloth Myth, a linha D.D. Panoramation não atingiu o sucesso esperado pela Bandai, levando a um “hiato”. A primeira ‘fase’ da coleção ficou incompleta, faltando o lançamento do Hyoga de Cisne e dos Cavaleiros de Ouro Mú de Áries, Aldebaran de Touro, Milo de Escorpião e Camus de Aquário.

Protótipos na época do lançamento foram apresentados em eventos, mostrando que personagens da Saga de Hades seriam lançados, assim como da Saga de Poseidon, permitindo recriar o Templo Submarino do Imperador dos Mares. É improvável que essa ‘fase 2’ chegue a ver a luz do dia.

Muitos colecionadores reclamaram da qualidade das figuras em comparação ao preço cobrado por elas. As miniaturas com aprox. 10cm e acessórios chegaram às lojas nacionais no valor médio de R$350,00. Ainda assim, caros.

Os Juízes do Inferno em suas versões Cloth Myth EX

Os Cloth Myth apesar de seus preços elevados, seguem a todo vapor, porém, a cada dia que se passa, perdendo consumidores. Principalmente no Brasil, onde as figuras continuam a encarecer. Os recentes lançamentos, como Minos de Griffon (versão EX) e Dante de Cérberus , chegaram com preços exorbitantes de aprox. R$1.000,00 e R$700,00 respectivamente.

Porém, a grande questão – ainda sem resposta – permanece sendo: Por quê Os Cavaleiros do Zodíaco possuem seus produtos tão inflacionados? Ainda assim, no Japão, os lançamentos mais “básicos” como o vindouro Siegfried de Dubhe (versão EX) anunciado esta manhã está previsto com o valor médio de 11,000 ienes (R$382,00 aprox.)

Uma série tão popular e com uma legião de fãs ao redor do mundo, menos nos EUA, não deveria possuir produtos mais acessíveis e diversos, para todos colecionadores, tal como a Marvel, Dragon Ball Z e outros?

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