Metaverso | De IAs até as lives NPC: como tudo se conecta

“Metaverso” é um termo que está em alta desde 2021, e vem sendo repaginado e utilizado por grandes marcas para reinventar seus produtos na direção de dar um grande passo para a evolução da internet.

A verdade é que, enquanto o todos nós nos ocupávamos em acompanhar os motivos pelos quais a Lindsay Lohan estava sendo presa dessa vez, ou achávamos que o iPhone 10 era a maior inovação tecnológica que poderia haver, os estudos sobre as inteligências artificiais aconteciam ocultos dos olhos dos desavisados. Foi só com a pandemia, o estouro de usuários do TikTok e os apontamentos públicos de Zuckerberg para os novos objetivos de sua empresa, que o mundo se viu abraçado por uma nova grande era digital. 

Caminhamos, então, em sentido ascendente em direção ao que tantas séries e filmes uma vez preconizavam – um mundo que mescla realidade com tecnologia, e cada vez mais se torna difícil diferenciar o que é produto humano e o que é fruto das máquinas.

Neste artigo, falaremos sobre como tudo isso – as celebridades incorporadas nesse metaverso em construção, as inteligências artificiais replicando identidades, e até o caminho inverso, das lives NPCs, se conectam. Assim, entenderemos onde estamos dentro desse novo universo tecnológico.

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Dentro da Matrix: afinal, o que é metaverso?

Fundo preto numerado em verde, retirado do filme Matrix.

(Imagem: Warner Bros. Pictures / Reprodução)

Metaverso é um ambiente virtual 3D onde indivíduos têm a oportunidade de interagir e realizar uma ampla gama de atividades, que englobam desde tarefas laborais até compras e momentos de lazer, através da utilização de avatares personalizados. Esse conceito é frequentemente descrito como o “próximo estágio da internet”.

A ideia de criar ambientes virtuais envolventes não é uma novidade e já foi explorada em jogos como Habbo e Second Life durante os anos 2000. Ainda assim, o termo só alcançou a sua notoriedade em 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou a alteração do nome da sua companhia, Facebook, para Meta, e explicitou que a principal missão da empresa a partir desse momento seria a construção de um metaverso.

Mas a Meta não é a única concorrente no desenvolvimento desse universo. Outros gigantes da tecnologia, como a Microsoft e a Roblox também disputam por uma fatia desse “next level” da internet global. Inclusive, em 2021, a Microsoft colocou no mercado um produto chamado Mesh, que permite que reuniões sejam feitas através de hologramas.

Atualmente, já existem plataformas 3D de funcionamentos semelhantes. The Sandbox é um jogo de criação e exploração parecido com o Minecraft, com sua própria moeda chamada SAND. Por fim, o Decentraland, lançado em 2017, é considerado o maior projeto de metaverso atual, acessível via navegador e baseado na blockchain Ethereum, com economia de criptomoedas e NFTs disponíveis. Lá, os usuários já podem comprar terrenos!

Celebridades no metaverso dos games

Recentemente, dois games com significativo renome no mundo do e-sports constam no imaginário coletivo e são ainda mais visibilizados por parcerias com celebridades – Fortnite (desenvolvido pela Epic Games) e Free Fire (da Garena). Isso porque, desde que a palavra “metaverso” vem ganhando mais significados, ambas as plataformas fizeram o possível para acompanhar as demandas dos jovens e incorporar um pouco da cultura pop em seu ecossistema virtual.

Representações de Ariana Grande, J Balvin e Marshmello no metaverso de Fortnite, além de fotos de divulgação de Tones and I e Emicida.

(Imagem: Iana Maciel, Epic Games)

Nos anos de 2020 e 2021, durante o auge da pandemia da Covid-19, a Epic Games reinventou a ideia de shows online no Fortnite, trazendo dezenas de artistas globais para performar suas músicas no modo Criativo do jogo, sob avatares 3D feitos à sua imagem, para que qualquer um pudesse assistir.

A primeira edição se deu pelo evento Festa Royale, que se associou com a boyband de k-pop, BTS, para lançar o clipe coreografado de seu single Dynamite. Depois, no ano seguinte, Fortnite ousou ao fazer uma série de shows interativos que integravam o mundo real com o virtual. O maior deles foi performado por Ariana Grande, que apresentou em três dias a Turnê da Fenda e liberou uma série de cosméticos ao jogo.

Alguns dos nomes trazidos no final daquele ano, no evento Onda Sonora, foram Emicida e Tones and I, além de Marshmello e J Balvin.

Representações de Alok, Like Mike, Cristiano Ronaldo, Anitta, Dimitri Vegas e Justin Bieber no metaverso de Free Fire.

(Imagem: Iana Maciel, Garena / Reprodução)

Em 2022, Anitta criou uma música exclusiva para o Free Fire, intitulada Tropa. O clipe mescla elementos visuais do mundo digital (cores exuberantes, interfaces tecnológicas, estética gangster-futurista) com o contexto armado e zona de guerra próprio do battle royale.

Além disso, a parceria com a Garena também rendeu uma personagem exclusiva para a beldade brasileira, conhecida como A Patroa. Esta personagem possui a habilidade de quatro slots para personalizar suas habilidades, permitindo aos jogadores combiná-las com seu estilo de jogo, ademais dos itens cosméticos inspirados na carreira da artista pop, como a “Granada Meiga e Abusada”. 

Também no ano passado, e em comemoração aos 5 anos do game, a Garena convidou Justin Bieber para performar ao vivo, em um show no metaverso do jogo. Junto ao evento, a estrela pop lançou a música Beautiful Love e teve o seu personagem, J. Biebs, consagrado para a jogabilidade de todos.

Outras celebridades que já chegaram a se associar com a desenvolvedora do Frifas são Cristiano Ronaldo, e os DJs Alok, Dimitri Vegas, Like Mike e KSHMR, ganhando personagens feitos à sua aparência.

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IAs em animações e música

Montagem de mão humana comandando, em balões digitais, o ChatGPT, o Leonardo.AI e o Midjourney.

(Imagem: IBS Americas / Reprodução)

Com essas aparições das celebridades cuja imagem e voz são tão bem reproduzidas no mundo virtual, a pergunta que começa a pipocar a mente dos curiosos é: mas, como?

Quem usa o TikTok ativamente vai saber do que estou falando: a influência das IAs não se limitam apenas a chatbots que facilitam o trabalho de escritório ou os estudos, como é o caso do ChatGPT. Elas começaram a dominar imagem e som, e já conseguem suprimir o trabalho de horas e mais horas de edição de fotos e músicas – um labor operacional outrora 100% dependente de mão-de-obra humana.

Nessa rede social, inclusive, está crescendo a quantidade de perfis que utiliza o Midjourney ou o Leonardo.AI para criar desenhos realistas e surrealistas, a partir de simples comandos dados à IA, que em seguida são animados por outro software gratuito, como o Studio D-ID.

Mas quem só quer criar uma versão personalizada de um avatar consegue facilmente fazer isso através de aplicativos intuitivos como o Photoleap, que, além de editar fotos, já opera transformações grandiosas sobre mídias, com uso de IAs. É assim que a trend de The Last of Us teve seus quinze minutos de fama em maio deste ano.

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No que diz respeito ao som, o software mais utilizado é o SoftVC VITS Singing Voice Conversion (ou So-VITS-SVC). Com ele, aplicando um arquivo de áudio de um cantor, é possível transferir o timbre vocal para outra música. Assim, bizarrices (ou maravilhas) musicais, como o Freddy Mercury fazendo um dueto com a Adele, viralizam na rede.

Ao executar o programa So-VITS-SVC em um ambiente local, é possível treinar a inteligência artificial para criar modelos que se baseiem na voz de um artista de sua escolha. Um tutorial em vídeo, disponível em inglês, demonstra de forma detalhada o procedimento a ser seguido.

Processo inverso: as lives NPC do TikTok

Três printscreens de lives NPC distintas

(Imagem: Jornal Estado de Minas, TikTok / Reprodução)

Nas últimas semanas, um fenômeno interessante começou a aparecer mais e mais no TikTok – outra forma que a geração Z descobriu para capitalizar na plataforma: as lives NPC.

A sigla “NPC” vem do universo gamer, e significa “non-playable character” (que, em tradução livre, seria “personagem não-jogável”). Em outras palavras, um NPC é uma figura limitado por falas e funções pré-definidas pelo código do jogo, ativado apenas pela interação do jogador.

Da mesma forma, as lives NPCs consistem em usuários do TikTok que se vestem a caráter de algum personagem (às vezes, retirado de um universo ficcional, como Pokémon; às vezes, inventado por eles próprios), e ficam, por horas, fazendo transmissões na qual eles só reagem, com falas prontas e repetidas, a partir de interações e “envio de presentes” por parte dos espectadores internautas. 

É interessante pontuar que esses presentes são, na realidade, “moedas” da rede social. Então, os usuários que fazem as lives NPC conseguem converter todos os ganhos em dinheiro ao final das transmissões.

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Do nosso ponto de vista, é comparável como as empresas de tecnologia passam tanto tempo tentando imitar a realidade no mundo virtual, enquanto a geração que cresceu rodeada dessas invenções tenta, justamente, copiá-las. Percebe-se, então, um trajeto inverso – a humanidade buscando se adequar ao instinto da máquina, e não o contrário.

É claro que a realização dessas transmissões é, sim, impulsionado pelo retorno financeiro que alguns novos influenciadores estão conseguindo receber, mas esse retorno só existe porque milhares de pessoas estão assistindo e bonificando a sua atuação “robótica” com dinheiro real. Curioso, não?

O metaverso entre realidade e ficção

Cena de Black Mirror. No frame, há um homem negro com barba, cujos olhos prateados indicam que ele está entre mundo real e metaverso.

(Imagem: Black Mirror, Netflix / Reprodução)

E já que estamos falando de desumanização e inserção gradual da pessoa à rede, é importante trazermos um paralelo visto nas superproduções de ficção científica, cujos enredos, nos últimos anos, começaram a soar assustadoramente possíveis de acontecer.

O primeiro grande exemplo é Black Mirror, uma das mais renomadas séries de direitos comprados pela Netflix (2011) – que incentivou o bordão “isso é tão Black Mirror!”, utilizado como meme para dizer que uma coisa é muito disruptiva. Na franquia, que até então conta com seis temporadas, cada episódio traz uma história independente, embora todos compartilhem a premissa de explorar as consequências inesperadas e muitas vezes perturbadoras do avanço tecnológico.

Além dela, Years and Years (2019), veiculada em temporada única pela Prime Video é uma minissérie de drama e ficção científica que aborda temas políticos, sociais e tecnológicos ao longo de várias décadas. Ela também oferece uma visão provocativa do que o futuro pode reservar, muitas vezes apresentando cenários distópicos plausíveis.

Uma das personagens, inclusive, é uma adolescente viciada por inovações, que aos poucos vai modificando seu corpo para se tornar meio-humana, meio-máquina. Já outra, ao fim da vida, tem a sua consciência incorporada à rede, tornando-se imortal.

E isso nos leva à pergunta…

Pessoas digitais vão povoar o metaverso?

A empresa neozelandesa de tecnologia, Soul Machines, diz que sim.

Sam é a primeira “pessoa digital” desenvolvida por ela – e opera por um cérebro digital chamado Humans OS 2.0. Essas pessoas digitais podem interagir quase em tempo real, observando as expressões das pessoas pela webcam.

Greg Cross, fundador da Soul Machines, acredita que essas pessoas digitais podem desempenhar um papel importante no metaverso. Ele as vê como uma “força de trabalho digital” que pode preencher esse ambiente digital e se tornar extensões de nós mesmos, como NPCs em videogames. No entanto, ainda precisam de treinadores humanos e a capacidade de tomar decisões com base em objetivos finais está em desenvolvimento. 

Em suas entrevistas, Cross reconhece que existem limitações para profissões que podem ser substituídas por pessoas digitais, com áreas como educação e saúde ainda sendo exclusivas para seres humanos.

Estamos curiosos para saber como a indústria da tecnologia, em parceria com a do entretenimento, vai continuar se recriando para atingir a máxima performance do metaverso, mas e você? Deixe suas opiniões nos comentários!

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Iana Maciel
Bacharelanda de Comunicação Social pela ECA/USP. Filha de Zeus, tributo do Distrito 1 e artilheira de Quadribol da Grifinória. Escondo um passado de jogadora de RPG por trás da cara de brava e da prática de esportes, mas quem me conhece sabe que eu adoro marcar de jogar um LoLzinho nas horas vagas.