Funk Carioca | Uma breve história do gênero

Funk Carioca

Presente no cotidiano de todo e qualquer indivíduo desde os primórdios, a música sempre apresentou uma grande relevância na sociedade, uma vez que, inicialmente, fora utilizada como objeto de comemorações e rituais culturais. Sendo capaz de representar desde os valores culturais de um povo até sentimentos, por possuir diversas ramificações de gêneros, estilos e melodias, ela proporciona ao ser humano uma compreensão mútua de todo e qualquer acontecimento presente em sua vida, o qual a considera uma arte de extrema relevância em sua existência.

Em grandes festivais brasileiros, por exemplo, é muito comum ouvir o chamado “Funk Carioca”, o qual já foi (e muitas vezes, ainda é) estereotipado e colocado sobre polêmicas em diversas situações por conta de algumas letras e suas batidas irreverentes. Contudo, mesmo sendo alvo de críticas constantemente, o Funk Carioca é um dos exemplos de gêneros de persistência, visto que conseguiu seu espaço no mundo da música contra tudo e contra todos e chegando, inclusive, aos ouvidos de outros países. 

Mas, apesar de possuir o mesmo nome e de ter sido originado com base em sua ascensão no Brasil, o Funk Carioca não é a mesma coisa que o Funk Americano, conhecido pelas performances de James Brown. Inicialmente, o ritmo foi derivado da Soul Music – a qual foi inspirado no Rhythm and Blues e no Gospel dos EUA entre, aproximadamente, 1950 e 1960 -, porém, com o passar dos anos, conquistou um ritmo único, diferente e bastante popular no Brasil. 

Como o Brasil sempre foi um País que incorporava a cultura de fora, tudo começou quando, em 1970 – uma época de Ditadura e que quase não havia formas de lazer no País -, começaram a rolar os primeiros bailes funks no Rio de Janeiro, em que tocavam músicas como Black, Soul, Shaft e Funk e que tinham como objetivo serem a melhor forma de entretenimento frente ao duro período que o Brasil estava passando. As festas aconteciam na Zona Sul da cidade, Com o crescimento da Música Popular Brasileira e com o uso do chamado “Canecão” (locais onde aconteciam os bailes), os bailes começaram a adentrar cada vez mais nos subúrbios cariocas, sendo comandados por DJs como Big Boy e Ademir Lemos. Mais tarde, em 1973, algumas equipes de som emergiram, como Furacão 2000, Black Power e Soul Grand Prix. 

Por conta da popularização que os bailes foram tomando, a imprensa brasileira começou a noticiá-los. Em um dos jornais mais importantes da época, a jornalista Lena Frias publicou uma matéria –  que sem saber, mudaria todos os rumos do gênero no País – intitulada “Black Rio: O orgulho (importado) de ser Negro no Brasil”, apresentando a movimento negro carioca e como o Black Power americano se transformou em uma expressão e em um estilo de vida brasileiro. 

Porém, com o surgimento da Disco Music, uma versão pop de soul e funk, o movimento deu uma caída, principalmente após o lançamento do filme “Os Embalos de Sábado à Noite” (Saturday Night Fever, 1977), protagonizado por John Travolta e Karen Lynn Gorney.

Anos depois, os bailes, mais uma vez, começaram a ser influenciados por novos ritmos e melodias, principalmente pelo Miami Bass, o qual era carregado de erotização e batidas rápidas. Havia, também, um novo gênero musical que surgia na época, que se resumia em uma junção de Música Eletrônica com as batidas do Funk Americano de James Brown, dando origem aos primeiros resquícios de Funk Brasileiro. Outro ritmo bastante influente no estilo em questão, é o Free Style Latino, que, basicamente, se formava a partir da criação de paródias das músicas americanas em formato de Rap

Por conseguinte, os bailes mudaram de nome e começaram a ser denominados como Baile Charme. Como não podiam ser realizados em um só lugar, por conta da quantidade de público, eles começaram a ser feitos em subúrbios cariocas, o que começou a originar o primeiro preconceito que rondou (e ainda ronda) o Funk Carioca: a violência. Muitas comunidades passaram a se enfrentar dentro dos bailes, e o que era para ser uma brincadeira carregada de gritos de guerra e danças, passou a ser palco de enfrentamentos violentos e mortes. 

E, então, surgiu uma nova onda. Como uma forma de pedir paz para as comunidades, os MCs começaram a surgir na indústria musical e, muitos deles, passaram a retratar,também, a pobreza e passaram a unir forças com as próprias comunidades para que a paz fosse disseminada. Em 1990, então, o movimento retomou, mais uma vez, as forças e surgiram novos tipos de MCs, com canções com letras mais melódicas e românticas, como as do MC Marcinho, um dos mais influentes da época. 

Entretanto, o pai do Funk Carioca é conhecido como DJ Marlboro (Fernando Luís Mattos da Matta), principal responsável por fazer o gênero se tornar o que é hoje. Ele introduziu a bateria eletrônica no Funk Carioca, o que perdura até hoje no gênero musical, além de seu primeiro LP, intitulado de “Funk Brasil 1”, ter batido o martelo do novo gênero que surgia no País. Daí em diante, as produções começaram a tomar forma 100% brasileira, desde as batidas até as letras. 

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Contudo, nos anos 2000, o Funk Carioca começou a passar por novas mudanças, atingindo as casas noturnas frequentadas pela classe média do País. Na mesma época, um novo grupo de música emergia, o chamado “Bonde do Tigrão”, dando origem ao que chamamos de “bondes” e fazendo com o que gênero tomasse uma proporção ainda maior. O grupo chegou a conquistar um espaço grande e fixo dentro da música brasileira, o que foi confirmado em 2001, com o seu disco de Platina pela Pró-Música Brasil. 

Em seguida, as mulheres, que já vinham sendo influenciadas pelo Miami Bass e incorporavam a dança sensual nos bailes, passaram a emergir, também, como cantoras do gênero. Tati Quebra-Barraco, por exemplo, foi uma das percursoras do Funk cantado por mulheres, tendo como principais sucessos “Bolodona” e “Sou feia, mas tô na moda”, que abordavam sexo, empoderamento e liberdade.

De lá para cá, o Funk Carioca começou a ser palco para que novos tipos do gênero emergissem no País, além de, por ter ser tão consumido pelas casas noturnas, festas, e até em academias, ser um dos maiores ritmos brasileiros na atualidade. Hoje em dia, por exemplo, há diversos tipos de cantores espalhados pelo Brasil que incorporam o Funk Carioca em suas melodias, trazendo novas visões do gênero ao público, como o Funk Ostentação (que surgiu em São Paulo e exalta o consumismo desenfreado, com letras que falam sobre o desejo da população periférica de melhor as condições de vida); o Funk Consciente (que muitas vezes é comparado ao Rap e que tem o objetivo de denunciar problemas sociais e o descaso com as favelas); o Funk Proibidão (que também é um dos percursores do gênero no Brasil e que possui letras que retratam uma vida de crime); e, por fim, o Funk Pop (o mais conhecido pelos gringos e que possui batidas mais suaves e semelhantes ao pop, além de ser o berço para artistas brasileiros que almejam uma carreira internacional, como a cantora Anitta). 

Hoje, no entanto, o Funk também é visto como um produto cultural, sendo posto à mesa para quem quer que chegue no território brasileiro. Não é atoa que, por exemplo, já teve sua dança e seu remix exposto na Copa do Mundo de 2014 que foi sediada no Brasil, e ser o lema da campanha de vacinação no País seja uma paródia de uns dos Funks mais populares do MC Fioti: “Bum Bum Tam Tam”. Mas, a verdade é que, apesar de ser altamente criticado pela classe A do País, o Funk é um gênero musical como qualquer outro e que busca sempre trazer alguma mensagem inspirada nas comunidades de sua origem, além de, é claro, estar sujeito a diversas mudanças ao longo de sua jornada. 

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E você? Sabia a história do Funk Carioca?
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Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.