Exclusivo | Felipe Reis e Enéias Tavares falam sobre as dificuldades de gravar “A Todo Vapor!” e falam sobre planos da segunda temporada e inspirações

A Todo Vapor!

No começo desse mês, chegou a plataforma da Amazon Prime Video a primeira temporada da primeira série brasileiro de steampunk, “A Todo Vapor!“. O projeto é uma produção independente de Felipe Reis e Enéias Tavares, que nos trouxe fantasia, aventuras e mistérios com personagens da literatura brasileira. Confira detalhes aqui.

“A Todo Vapor!” traz e um ficção-científica a dupla Juca Pirama e Capitu Machado grandes investigadores do oculto. Composto por 8 episódios de 20 minutos, a série traz os investigadores em busca de solucionar assassinatos e crimes. Semana passada tivemos o prazer de entrevistar o protagonista e produtor Felipe Reis, e também produtor Enéias Tavares. A dupla contou pra gente as dificuldades que enfrentou para fazer essa produção independente acontecer, e quais planos eles tem para o futuro de “A Todo Vapor!”. Confira:

QN: A série “A Todo Vapor” é a primeira série brasileira steampunk. Dessa forma ambientando um cenário que costumamos ver em filmes e séries britânicos, além disso, a produção traz referências a grandes nomes como Sherlock Holmes. Vocês tiveram alguma inspiração para a criação e desenvolvimento da serie?

FELIPE REIS: O próprio steampunk já carrega consigo uma estética bem peculiar, e uma paleta de cores única. Isso foi essencial para a arte e fotografia da nossa série. Na pré-produção conversei bastante com o fotógrafo, Pedro Filizzola, e usamos como uma boa referência para o look, a série americana Penny Dreadful, que também se passa na era vitoriana. O filme Sherlock Holmes, do Guy Ritchie e a série Preacher, também americana, serviram como inspiração para a minha direção.

ENÉIAS TAVARES: Durante a pré-produção, enviei algumas referências minhas ao Felipe que acabaram dando também o tom do projeto. A Todo Vapor! tem um pouco da galhofa de James West, a versão com Will Smith e Kenneth Branagh, da fantasia da Liga Extraordinária com Sean Connery e da dinâmica de Van Helsing com Hugh Jackman, além dos quadrinhos de Alan Moore e Kevin O’Neill, claro. Por outro lado, há uma coisa das novelas de época brasileiras também e alguns espectadores, especialmente os mais velhos, estão pescando isso, o que acaba sendo um elogio pois a qualidade técnica das nossas novelas é inegável.

QN: Quais desafios vocês enfrentaram durante o processo de criação para encaixar o gênero no cenário brasileiro?

ENÉIAS TAVARES: Eu saí do ensino médio frustrado com a literatura brasileira. A ideia motivadora de Brasiliana Steampunk foi produzir algo que reinventasse nossa história, literatura e cultura para uma geração mais jovem. A Liga Extraordinária me deu o modelo: Por que não fazer o mesmo com os heróis de Álvares de Azevedo, Machado de Assis e Raul Pompeia? O desafio foi produzir algo que fosse igualmente respeitoso e divertido. Com A Todo Vapor! e com Juca e Capitu temos a dupla perfeita: Um herói disposto a tudo – até a morrer – e uma heroína que sofre na pele as dificuldades sociais e o machismo do nosso país. Não tem como não se conectar com essa dupla. Nosso país é rico e cheio de histórias incríveis. O desafio é escavar o passado e trazer de lá essas histórias e reinventá-las para os nossos dias.

QN: A Todo Vapor! faz parte do projeto transmidiático Brasiliana Steampunk, que vai desde a série até web-comics. Como foi o processo de produção deste projeto gigante de forma independente? E como foi oportunidade de distribuição da série pela Amazon Prime?

FELIPE REIS: Quando cheguei no Enéias com o argumento inicial de A Todo Vapor!, ele imediatamente já me propôs utilizarmos alguns personagens de seu livro “A Lição de anatomia do temível Dr. Louison”. Adorei pois já iniciaríamos o projeto com um material pré-existente. Foquei na parte da produção da série audiovisual, enquanto o Enéias ia desenvolvendo as HQs e o Card Game. Após 1 ano e meio tentando negociar a série, recebendo diversos não, e nem sempre conseguindo chegar nas pessoas que gostaríamos, já estávamos quase desistindo (importante ressaltar aqui que não tínhamos na equipe ninguém com experiência nesse quesito, o que só atravancava ainda mais o processo) quando vi que haveria uma palestra de alguns distribuidores durante um Festival de cinema que frequentava. Eu fui, e lá estava o responsável pela O2 Play. Acabando a palestra, fui atrás dele e vendi o peixe da série em 5 minutos, ele se interessou e a partir daí a coisa desenrolou. Com os 8 episódios prontos, eles comunicaram a Amazon, que adorou o projeto e de repente, estávamos lá.

ENÉIAS TAVARES: A Todo Vapor! é um projeto independente porque produzir audiovisual no Brasil é muito caro. Assim, contamos com o trabalho voluntário de todos, em especial da galera do Conselho Steampunk de SP e dos profissionais incríveis que Felipe Reis reuniu, comigo e com ele pagando algumas das contas, com algum ou outro apoio, como a da Blues Content, da Anim All, do Grupo Epic e da UFSM, onde sou professor. No todo, há marcas importantes que acreditam na série e já investiram nela, como a Jambô Editora, que lançou o romance Juca Pirama Marcado para Morrer e o portal CosmoNerd que publica nosso web quadrinho. Essas e outras parcerias – entre as quais culmina com a parceria com O2 e outras que estão surgindo – prenunciam um futuro muito bacana para A Todo Vapor!

QN: Em 2019 foi lançado o livro “Juca Pirama: Marcado para Morrer”, como forma de complementar o universo da série. Vocês possuem planos de lançarem mais histórias de outros integrantes da equipe?

ENÉIAS TAVARES: Sim. Há um novo romance de Brasiliana Steampunk chegando ainda em 2020 e um novo livro de A Todo Vapor! previsto para 2021, este dedicado a Capitu. Com título provisório de Capitu & O Enigma da Esfinge, ele deve chegar também pela Jambô no segundo semestre. Além disso, temos mais quadrinhos com arte de Fred Rubim e um suplemento de RPG em parceria com a New Order Editora que permitirá criar aventuras no mundo de Brasiliana Steampunk e de A Todo Vapor! usando as regras de The Strange, jogo idealizado pelo mestre Bruce Cordell. Eu e Felipe temos muitos outros planos, vamos ver o que o futuro trará.

QN: No final, logo após o trio decidir o nome para a empresa deles, vemos ao fundo Emília, lendo um livro do Monteiro Lobato. O grupo menciona que ainda há assassinatos em São Paulo que precisam ser resolvidos. Teremos uma segunda temporada? Se sim, já estão trabalhando nela?

FELIPE REIS: Com certeza. Fizemos essa 1˚ temporada na garra, para conseguirmos produzir a 2˚ da forma como sonhamos, sem limitações e perrengues de uma produção independente. Já temos dois possíveis caminhos bem desenvolvidos para a história, e arco para mais 3 temporadas, além dessa segunda. O Enéias pode falar um pouco mais sobre isso.

ENÉIAS TAVARES: A segunda temporada de A Todo Vapor! tem um título provisório de A Igreja do Diabo, numa trama que continua diretamente o enredo da primeira. Nela, Monteiro Lobato, Machado de Assis, o arquiteto Ramos de Azevedo e uma série de replicantes robóticos irão atormentar a vida dos nossos heróis e de São Paulo dos Transeuntes Apressados! Quero muito ver essa temporada ser produzida e ir ao ar… dessa vez sem perrengues!

Mas e você, está ansioso para uma segunda temporada de “A Todo Vapor!”? Vale lembrar que a série já disponível na Amazon Pirme Video. Conta pra gente nos comentários.

Marta Fresneda
Líder do site de entretenimento O Quarto Nerd. Apaixonada por cultura pop, com objetivo de influenciar e incentivar mulheres na área de comunicação voltado ao mundo nerd.