Dia Mundial da Poesia | O papel do Rap no gênero literário

Hoje (21) é comemorado o Dia Mundial da Poesia, criado para incentivar a leitura e o intercâmbio de culturas. Nesse dia, lembramos de Neruda, Drummond, Shakespeare e outros. Mas o que não lembramos é de uma poesia famosa que está presente em toda cultura e país, o rap.

Há quem se pergunta onde os poetas contemporâneos estão, mas a questão é saber onde procurá-los.

O rap surgiu no século passado na comunidade negra dos Estados Unidos, e mesmo sendo recente, gerou uma grande revolução na indústria musical, suficiente para se espalhar pelo mundo rapidamente. A palavra rap significa rythm and poetry, literalmente, ritmo e poesia.

A poesia

Só de analisarmos a história desse ritmo, vemos como ele é parecido com o papel que a poesia teve e tem durante todos esses anos. Alguns grandes nomes bem como João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Chico Buarque são exemplos de como é possível colocar a desgraça no papel e ainda soar melódico.

Assim como todo gênero literário, a poesia saiu dos livros para o som, tela e imagem e então, chegou a vez do rap nascer.

Graças a esses grandes nomes e às pessoas que recusaram calar suas vozes, podemos manifestar nossas frustrações com uma caneta, e hoje em dia, com um microfone.

“Eu canto porque o instante existe
 e a minha vida está completa.
 -Não sou alegre nem sou triste:
 sou poeta.”

– Cecília Meireles

O rap

Dia Mundial da Poesia
Fonte: Distribuição

Esse estilo musical veio com o intuito de fazer críticas sociais e apontar problemas no governo, civilização e no mundo atual. Além disso, com o passar dos anos, vimos o rap acatando o lado romântico das músicas e fazendo um grande papel na ressignificação de palavras e visões pré-definidas da sociedade.

E assim como a poesia, o rap tem suas vertentes como discurso, cantado, prosa e seus temas como racismo, feminismo, brutalidade policial, vício e descaso do governo.

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Desde sua raiz, seu papel está claro e em constante evolução. Um exemplo recente que podemos ver é como a palavra negra é trocada por preta sem manter a conotação ruim que um dia infelizmente foi criada, além disso, vemos grandes mudanças na língua inglesa, como a palavra bitch não ser usada necessariamente para ofender alguém. Afinal, você pode ser uma boss bitch.

Meu sentimento fala, conversa com a alma
E a minha mente conclui que eu mereço ser respeitada
Sou uma mulher de garra, preta de quebrada

– Preta de Quebrada, Flora Matos

A estrutura

Ao escrever uma poesia, vemos a ambiguidade, referências e universalidade, além disso, vemos melodia, ordenação de sons e sonoridade.

Da mesma forma, ao lermos a letra de um rap, encontramos esse fatores e outros que compõem a estrutura de uma poesia. Principalmente pelo rap moderno que começou a surgir no século XXI, incluindo o rap brasileiro.

Esse o qual é representado por nomes como Childish Gambino, Charlie Brown Jr., Baco Exu do Blues, Djonga, Flora Matos, Criolo, Emicida, Rico Dalasam, Quebrada Queer, Tawane Theodoro, Gabz e muitos outros.

Abriram (uuuuh) a caixa de Pandora
Simon diz: Saiam agora!
A chuva espalhando, todos os males
Ai ai, uiui (uiuiuiui), ai como isso arde
É bateria de celular, césio, similares
A peste invisível maculando os ares
Mercúrio nos rios, diesel nos mares, o solo estéril, é já fizeram sua parte

– Chuva Ácida, Criolo

Com o intuito de educar. Criolo cria arte e poesia, além de nos alertar da situação do planeta e do nosso país. Isso é literatura!

Precisamos levar em conta que a música, o rap e a poesia andam de mãos dadas. Isso já está sendo reconhecido, dado o prêmio Nobel ganho por Bob Dylan em 2016 e o prêmio Pulitzer que Kendrick Lamar recebeu por seu álbum DAMN. Mais um exemplo da ressignificação de palavras no rap.

É por isso que precisamos celebrar esse ritmo no Dia Mundial da Poesia. Por ser tão importante para nossa consciência e juventude, com amor para encher mil livros tipo Gabo ou Neruda, que mantém os morto na matéria mas vivo na memória, é o suficiente para cantarmos, mantermos e lembrarmos essas histórias. Pois a música e a poesia não morrem, consequentemente, o rap também não.

Isabela Caroline
Tradutora e redatora d' O Quarto Nerd. Viciada em música, clipes, séries, teorias, entrevistas e tudo que seja um escape da realidade. Currently listening to any pop songs.