Crítica | The Wilds: a nova aposta (essencial) teen da Amazon

The Wilds

Imagine o seguinte cenário: você e mais 7 garotas, no auge dos seus 16/17 anos, em pleno século XXI, com diversos problemas e situações proporcionadas pela adolescência ou traumas da infância, viajando rumo a um retiro no Havaí apenas para mulheres, com a intenção de desligar a mente e descansar um pouco, até que o avião particular em que estavam, cai no mar e vocês sobrevivem, ficando presas em uma ilha deserta. Esse é o roteiro da nova série da Amazon Prime: “The Wilds”.

A série, que foi lançada na última sexta-feira (11), vem ganhando muitos elogios dos críticos, deixando-a cada vez mais chamativa aos olhos adolescentes. Mas, antes de iniciarmos aqui a nossa avaliação, vale lembrar que, apesar das primeiras impressões ditas em nosso perfil do Instagram sobre o primeiro episódio disponibilizado pela plataforma, cada segundo da série permitiu um novo olhar e um novo entendimento sobre ela, o que nos acarretou a sinalizar apenas alguns pontos principais essenciais para avaliá-la de forma geral.

Trailer “The Wilds”

As personagens como arco principal do enredo

Dividida em 10 episódios de aproximadamente 50 minutos cada, “The Wilds” transforma o drama adolescente em um alerta sobre a pressão social exacerbada da sociedade atual e como essas expectativas altas de pais e amigos acabam acarretando diversos problemas psicológicos nos adolescentes. Mesmo que tenha 8 personagens principais, a trama não deixa a desejar quando se trata de detalhar a vida íntima de cada uma, levando o espectador para dentro da realidade individual de cada uma ao mesmo tempo que o arco coletivo se encaixa.

A série, de primeiro momento, intermedia os acontecimentos da ilha com o interrogatório que as jovens sofrem após serem resgatadas. E, assim, o espectador conhece Leah (Sarah Pidgeon), uma jovem de 16 anos extremamente inteligente e sagaz, mas, que acaba cometendo um dos mais comuns erros adolescentes: se apaixonar por alguém que não pode ter. Apesar de esse ser o estopim para os pais decidirem enviá-la para o retiro feminino, ao longo dos episódios o espectador começa a entender que, na verdade, Leah precisava a qualquer custo estar entre as 8 sobreviventes, mesmo com seu jeito obsessivo de lidar com as coisas.

Em seguida, é a vez de Rachel (Reign Edwards) e sua irmã gêmea, Nora (Helena Howard) serem apresentadas. Enquanto Rachel é a gêmea que mais se destaca por ser uma atleta de natação, Nora é lembrada por seu conhecimento vasto e profundo em diversos assuntos e esse é o verdadeiro problema entre ambas. Tanto Rachel como Nora, acreditam ser a segunda filha preferida e sempre se veem ofuscadas pelo brilho uma da outra, o que na verdade, o espectador passa a entender que não é bem assim. Rachel, na verdade, fica encarregada de abordar a bulimia como um assunto que parece ter sido esquecido na mídia contemporânea, e Nora, por outro lado, fica com o papel de apoio familiar em questões difíceis como essa.

Depois, mudando totalmente a ideia de mais uma série com dramas simples de adolescentes, o espectador conhece Dot (Shannon Berry), uma jovem de 17 anos que passou os três primeiros anos do ensino médio cuidando de seu pai doente e que busca conforto no retiro após de perdê-lo. Berry dá vida a sua personagem de forma graciosa, atraindo a atenção do espectador aos motivos que a levaram até a ilha.

Por fim, conhece Fatin (Sophia Ali), que de primeira impressão leva o espectador a imaginá-la como mais uma patricinha que ama sexo, se torna o elo principal das sobreviventes, visto que ela é a primeira a encontrar a própria mala, emprestando suas roupas para as demais, e por ser a única que enxerga a situação com humor, tornando tudo mais suportável.

A partir daí, as apresentações começam a interligar os acontecimentos da ilha com as vidas pessoais de cada uma, o que acaba resultando em um jeito eficaz de contar a história e de fazer o espectador entender o verdadeiro motivo para que tudo esteja acontecendo “calmo” demais. Claro que, logo no primeiro episódio, o roteiro já prega algumas dúvidas no indivíduo que está do outro lado da tela, como por exemplo: “Como é possível que todas saibam realizar um RCP?” ou “Como é possível que todas as tripulantes tenham sobrevivido, mas o piloto e os comissários de bordo não?”.

Um roteiro intrigante sem lacunas para preencher

Desde a primeira cena, o espectador – ainda que não perceba – é colocado diante de pistas que mostraram o rumo que a história poderá tomar. Com pequenas dicas ao longo de cada cena, é importante que o espectador preste atenção em cada detalhe, fala e até expressão das personagens, uma vez que é através delas que ele encontrará a resposta para um dos maiores mistérios presente na temporada.

Além disso, um dos acertos que a série possui é trazer um grande trauma para o momento atual, já que até mesmo as personagens se questionam o tempo inteiro sobre como ainda estão presas na ilha com tanta tecnologia presente atualmente. E é claro, caro leitor, que a resposta está nas entre linhas.

Mas, de maneira geral, ainda que tenha deixado muitas perguntas sem resposta, insinuando uma possível segunda temporada, “The Wilds” é aquele tipo de série que possui um roteiro impecável, sem deixar que nada fique sem resposta. Ao longo dos episódios, alguns momentos acabam ficando esquecidos com o passar da série, visto que o amplo conteúdo de informações prende o espectador sem deixar que ele se lembre de momentos importantes. Mas, isso não é um empecilho para a série, já que ela faz questão de trazer de volta tais pontos e explicá-los corretamente.

Por outro lado, apesar das lacunas terem sido preenchidas – pelo menos grande parte delas -, o roteiro deixa a desejar em alguns pontos, como por exemplo ao tratar de assuntos como o veganismo. Em uma das cenas – ALERTA DE SPOILER -, Martha (Jenna Cláusula), a jovem vegana que enxerga o mundo como deveria ser, põe a prova os seus princípios para matar um animal por conta da fome de suas colegas. Apesar de ter sido uma metáfora para a vida pessoal da menina, tal cena reforça a ideia de que o veganismo é um estilo de vida adaptável apenas para o século XXI.

Em outros momentos, o roteiro consegue abordar temas muito importantes, como homofobia, religião, pedofilia, drogas, padrões de beleza, entre outros, o que faz com que a trama seja ainda mais interessante e se enriqueça de conteúdos relevantes.

Empoderamento feminino e a luta pela sobrevivência

Por fim, um dos pontos mais importantes – ou, talvez, o mais importante – é o motivo para que tudo aconteça: Grecthen Klein (Rachel Griffiths). A personagem misteriosa interpretada por Griffiths, traz toda a construção de uma mulher cansada de se “curvar” perante a uma sociedade patriarcal. De início, essa ideia realmente é um tanto quanto intrigante e traz muita identificação das mulheres que assistem a série.

Entretanto, como nem tudo são flores, isso começa a tomar uma proporção muito maior do que apenas o empoderamento feminino. Enquanto de um lado o espectador assiste a sororidade entre as sobreviventes crescer, por outro, ele se vê diante de uma mulher que é capaz de ultrapassar limites para acabar com o patriarcado. E isso não está errado, mas, faz o espectador se questionar sobre até onde nós, mulheres, precisamos chegar para conseguir ter o mínimo de respeito? E até onde todos os nossos traumas internos são causados pelo patriarcado?

De modo geral, “The Wilds” é uma série intrigante e extremamente importante que precisa ser assistida. Ainda que seja uma mistura de “Lost” com “Maze Runner”, a série aborda temas relevantes e aplica grandes doses de conhecimento através de suas personagens, seja através de um livro, ou de um trauma vivido.

“The Wilds” não é o tipo de série que você vai assistir quando está cansada ou pretende colocar algo na televisão sabendo que vai dormir. Da mesma escrito de “Demolidor”, Sarah Streicher, a produção serve como base para entendermos que precisamos enfrentar os nossos traumas de cabeça erguida e não fugir deles, além de mostrar como o trabalho em equipe é importante para o nosso desenvolvimento em qualquer lugar.

Então, deixo aqui duas dicas para vocês, caro leitores: 1º Ao assistir a série, preste atenção em cada detalhe, olhar e diálogo, mas, deixe sua cabeça limpa para os próximos momentos que virão; 2º Se você, assim como eu, não é um fã de “Lost” e está receoso em começá-la, não fique! Apesar de se parecer algumas vezes com a antiga produção, “The Wilds” possui características que tornam a série única e importante, além de uma trilha sonora de tirar o fôlego, que casa com todos os momentos da produção.

Título: The Wilds
Temporadas: 1
Direção: Susanna Fogel, John Polson, Cherie Nowlan, Haifaa Al-Mansour, Alison MacLean, Ed Wild, Tara Nicole Weyr, Sydney Freeland
Elenco: Sophia Ali, Shannon Berry, Jenna Clause, Reign Edwards, Mia Healey, Helena Howard, Erana James, Sarah Pidgeon, David Sullivan, Troy Winbush, Rachel Griffiths.

Nota: 4,5/5

Avaliação: 3.5 de 5.

Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.