Até o momento, a Netflix reúne uma lista generosa de adaptações catastróficas, como o recente live–action de Cowboy Bebop (2021). Antes de seu lançamento, todos os materiais apresentados mostravam como a produção era fiel e que poderia ser um grande sucesso. E, dentro de seus tons escuros, sua história e criação garantindo a produção, The Sandman indicava tudo para ser mais um fracasso. Mas, talvez tenha sido a supervisão de Neil Gaiman ou o simples fato de até seus diálogos entrarem nessa adaptação que a série do Mestre dos Sonhos é a melhor produção que plataforma trouxe ao público este ano.
Assim como o sono pode nos alcançar em uma noite silenciosa, de um segundo para o outro, nos abraçando com sua calma e levando-nos aos sonhos e pesadelos – por vezes – inimagináveis. É assim que The Sandman captura à atenção. Não é necessário horas, nem longos episódios para que o telespectador caia em sua graça e que nos leve à conhecer seu reino.
O que é uma boa adaptação?
Se perguntarmos à qualquer leitor sobre adaptações, sobre como estúdios costumam transmitir sábias palavras, fantasiosas, românticas e até mesmo aquelas que fazem qualquer um roer as unhas, às telonas, suas reações e comentários serão similares. Alguns torcerão o nariz, outros irão choramingar entre seus questionamentos, assim, deixando claro que Hollywood é um grande fracasso quando o assunto é adaptar histórias. Algumas podem ir bem, podem pegar sua premissa e desenvolver algo novo, interessante, mas raramente manter sua essência.
Alguns autores já se colocaram à disposição de grandes estúdios de Hollywood, para guia-los, até porque, ninguém entende mais de suas obras que eles mesmos. Entre os jovens, a adaptação de Jogos Vorazes: Em Chamas (2016), é de longe a melhor que todos viram, até agora. Mas o que seria uma boa adaptação? É sobre copiar o que está nos livros e colar em um roteiro? Não! E por mais que Jogos Vorazes consiga captar MUITO BEM tudo o que é descrito no livro, siga todos os passos, The Sandman consegue se adaptar em outra era, em tempos que nem Neil Gaiman conseguiria imaginar que estariam ganhando destaque.
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A escolha sobre a melhor adaptação de todos os tempos, não cabe aos autores, nem as críticos mas sim ao público. Pode ser uma escolha individual ou coletiva, mas para este, The Sandman consegue trazer a vida tudo que Neil Gaiman escreveu, até mesmo seus diálogos, mas todo o visual criado e desenhado nos quadrinhos também são fiéis.
Usando as palavras de George R. R. Martin: “…Se você amou os quadrinhos, bem, essa é uma adaptação MUITO fiel. Neil cuidou disso. E se você nunca leu os quadrinhos, não se preocupe, não é obrigatório, a série de TV é independente. É uma fantasia fabulosa…”, não é necessário conhecer esse universo, não é como assistir The Witcher e demorar para conhecer os personagens, suas dores e premissas. The Sandman é claro para todos, para os que já amavam e aos que foram rapidamente introduzidos à este universo.
O elenco que se conecta e entende mais do que ninguém quem estão interpretando
Tom Sturridge já disse que a presença de Neil Gaiman, um conversa com o autor, é permitir ser a ‘abençoado’ com todo o conhecimento que se pode imaginar. E é claro que Tom usou de todo o conhecimento de Neil para o guiar durante o desenvolvimento de Morpheus. O ator consegue captar as dores mais profundas que o Mestre dos Sonhos está sentindo, após anos aprisionado. Não é necessário falas, sua postura e seus olhos garantem tudo o que telespectador precisa saber. O mesmo acontece com Kirby Howell-Baptiste, quem diria que a morte poderia ser tão ‘acolhedora”?
Essa é a magia de uma fantasia, The Sandman nos leva nessa jornada da descoberta para re-imaginarmos tudo que acreditamos e vemos, assim como Harry Potter um dia fez com todos. É uma jornada cheio de altos e baixos, com episódios bons e episódios que você verá várias vezes (Alô Morte, Alô ao inferno também e outros). A criação e evolução, de um personagem que começa se mostrando impetuoso, para aos poucos mostrar sua dor, e partir para uma postura mais amena.
A primeira temporada é de tirar o fôlego, estaria aqui nascendo algo grandioso? A nova ‘franquia’ de sucesso que Hollywood vem procurando nos últimos anos… Estamos – todos – torcendo para que sim.
Crítica: The Sandam – 1ª temporada
Elenco: Tom Sturridge, Kirby Howell-Baptiste, Jenna Coleman, Gwendoline Christie, Boyd Holdbrook, David Thewlis e outros.
Baseado nos quadrinhos de Neil Gaiman.
Nota: 5/5