Crítica | The Batman coloca em cheque a definição de herói

Existe uma rejeição e resistência quando se é falado de continuações/reboots/versões de produtos já amados pelo público. Então, para onde ir após a trilogia do Cavaleiro das Trevas de Chistopher Nolan, principalmente quando a versão seguinte, vivida por Ben Affleck, deixou um gosto amargo na boca? Certamente não foi a escalação de Robert Pattinson para viver o Batman de Matt Reeves que tranquilizou os fãs mais árduos – e resistentes – do herói. Porém, a resposta veio certeira: essa é a versão mais subjetiva do Morcego até então, que chegou para desafiar a própria definição de herói.

Se a DC hoje detém o título de dona de excelente vilões, muito se deve a criação de Bob Kane e Bill Finger, que precisou de antagonistas a altura. Isso, claro, fez com que muitos dos vilões de Gotham ganhassem força na cultura pop, tornando-se queridinhos e ganhando até longas como Coringa (2019). E, em paralelo, criou-se também o questionamento sobre Batman depender de seus vilões para ser um herói interessante ou não.

A verdade é que quando Reeves ousa dar os holofotes para o Morcego, a sua versão do Batman é a resposta mais precisa para um questionamento desses: a verdadeira batalha de Bruce não é nas ruas de Gotham, mas sim internamente, através das constantes indagações sobre estar ajudando a cidade ou apenas a tornando pior.

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A dualidade não corre para a já conhecida vida dupla de um herói, mas sim entre conceitos e crenças que Bruce tem. Por isso que em The Batman, Bruce Wayne é inexistente e dá lugar ao morcego e à persona que criou. Mas quando aparece, vemos a versão mais triste e deteriorada de Wayne até então: sua postura é arcada; sua pele é pálida; a face, constantemente preocupada e querendo ser escondida por seu cabelo; sua vida social inexistente. Já Batman comunica-se pelo olhar – traço fortemente marcado por Reeves em suas cenas – e presença, com passos lentos mas precisos. Essa distinção é feita sem muitas falas, e Pattinson maestra cada segundo na pele do herói.

Assim, quando o diretor opta por fazer do Charada (Paul Dano) a procura de Batman e James Gordon (Jeffrey Wright), o filme consegue se sustentar pela investigação noir completamente envolvente. É uma abordagem ambiciosa dado que o diretor não se limita a apenas um vilão. Portanto, ele introduz a cidade de Gotham de fato, com o sensacional Colin Farrel como Pinguim também fazendo parte da história.

Foto: Reprodução

O Batman é levado por Reeves em um caminho de descoberta, onde o protagonista vê a verdadeira face de sua cidade. E, apesar de Gotham já essencialmente ser corrupta, o diretor consegue fazê-la contemporânea. Isso acontece tanto sociologicamente, canalizando os medos e frustações sobre o cenário político e a criminalidade nas ruas, quanto fisicamente, com inspirações claras de Nova York, criando sua própria Times Square.

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Por isso que é fácil dizer que Gotham se sustenta sozinha e não precisa de um Batman para contar sua história. Mas, honestamente, não existe razão fazer isso, pois a essa altura, o relacionamento do Morcego com a cidade é mútuo, ambos trazendo o melhor e o pior no outro. E é desse modo que Reeves usa Gotham e seus residentes a seu favor: graças a incorporação de vários personagens icônicos da franquia – Mulher Gato (Zoë Kravitz), Pinguim (Colin Farrell), Alfred (Andy Serkis) – o diretor engatilha cenas verdadeiramente eletrizantes e sombrias, fazendo a audiência pedir por mais.

E o mais vem. Conforme o longa se estende, as cenas de ação também carregam mais simbolismo, significado e muitas vezes, beleza. Os movimentos são fiéis aos personagens e às suas histórias, fazendo cada corte valer a pena ser visto e não deixando a audiência sequer piscar, por medo de perder o que está acontecendo diante de seus olhos.

É por meio de todos os motivos acima que Reeves entrega a necessidade de quase três horas de filme. O diretor dá tempo para Batman entrar na charada do vilão, descobrindo as pistas conforme desvenda, também, a complexidade da corrupção da cidade. Ao mesmo tempo, dá pistas à audiência, que no final se encaixam e contam a evolução do personagem.

The Batman é o primeiro longa do Morcego que o julga pelo que ele se propõe a ser – um herói – e quem vemos nos primeiros dez minutos do longa – onde Reeves manifesta as dores de alguém que quer defender uma cidade mas ao mesmo tempo apenas confronta os efeitos colaterais de um sistema – busca vingança, quando no final, entende que é tão parte do problema quanto da solução.

The Batman estreia dia 3 nos cinemas nacionais. Clique aqui e confira o trailer.

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Crítica

Título: The Batman
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves, Mattson Tomlin
Elenco: Robert Pattinson, Jeffrey Wright, Zoë Kravitz, Paul Dano, Andy Serkis, Colin Farrell, John Turturro

Nota:  4,5/5

Gabrielle Yumi
Jornalista e sócia do Quarto Nerd, sou apaixonada por cultura pop e whovian all the way. Busco ativamente influenciar e ampliar a voz de mulheres no meio geek/nerd. Cabelo colorido e muito pop é quem eu sou dentro do meu quarto nerd.