Não é segredo pra ninguém que a Netflix está em busca de uma trama de fantasia de sucesso para chamar de sua. Desde seu crescimento imenso nos últimos anos a plataforma vem tentando criar tendências teen como As Crônicas de Narnia e Jogos Vorazes, mas até então, apenas produções mal feitas chegaram perto. Apesar de também ter criado sucessos como Shadow Hunters e Locke Key, convenhamos que ambas as produções estão longe de exemplo para o gênero. Mas agora, a Netflix tenha um shot com Sombra e Ossos, da autora Leigh Bardugo.
Nesse final de semana, a plataforma divulgou a sua primeira e completa temporada da série, trazendo algo que ainda não tinha feito antes, expectativa. Entretanto, não estamos falando da expectativa de trazer algo grande, mas apenas daquela boa esperança do telespectador de ver algo bom. E isso é trabalhado muito bem na série. Ao todo, tudo pode ser visto como um tabuleiro de xadrez bagunçado. Uma vez que todas as peças estão no lugar, e que alguns movimentos são feitos, a história pode começar a progredir. Nada mais do que a linda e esperada, paciência.
Veja bem, Sombra e Ossos começa com uma confusão de informação, por mais que tal produção seja obra de uma adaptação de livro, para aqueles que desconhecem é – inicialmente – confuso. Algumas das vezes, vimos séries trazer essa dinâmica confusa, e aos poucos entregam uma explicação, como foi feito em WandaVision. Mas, nem todas as suas jogadas são explicadas. E isso é um problema. Entretanto, mesmo que tais circunstancias apareçam, a trama consegue facilmente se desenvolver e despertar a curiosidade e interesse do telespectador.
Quem eu sou?
Desde o início vemos que a dupla principal sofre descriminação, parte por seres órfãos, e parte pela protagonista ser Shu – não tem explicação. Logo de cara, percebemos que o mundo está dividido entre humanos – entre diversos povos – e Grishas. E no meio de uma guerra entre povos, está Alina Starkov (Jessie Mei Li), a jovem órfão que não quer se separar da única pessoa que ela tem presente em sua vida, Mal. Veja bem, a série demora a explicar que todas as crianças (não se sabe se é algo só para órfãos, já que não sabem quem seus pais), devem ser testadas. Uma vez que, a criança é apresenta positivo como uma Grisha, a mesma deve ser levada ao pequeno castelo do povo. Entretanto, Alina não quer ser deixar Mal, então por puro medo, ela trapaça no teste.
Mesmo que tal jovem não tenha ideia de quem seja, o medo de perder quem ama faz com ela se afaste de saber quem realmente é. E tal ação continua por toda série, uma vez que a jovem é ‘a escolhida’, a primeira pergunta que é feita à Alina é: quem é você? Mas, a mesma não sabe responder. Não só por não saber suas origens, mas por não saber quem é ela como pessoa. Uma vez que a mesma não tem crenças e propósitos, manipular ela não é um desafio muito grande.
Veja também: How I Met Your Mother ganha spin-off com Hilary Duff no papel principal
E a jornada de Alina se inicia dessa forma, com uma jovem desesperada para voltar e evitando aceitar quem ela realmente é. Assim, a trama de Sombra e Ossos deixa claro que, não é uma série sobre uma jovem divida entre dois romances, uma santa, e uma decepção. A série é uma jornada de aceitação e auto descobrimento. Dessa forma, depois de arrumar todas as peças desse tabuleiro – a aceitação – e fazer algumas jogadas, essa personagem está pronta pra ser um símbolo.
A conexão das histórias
Entretanto, Alina não é a única personagem a ter seu background trabalho. Veja bem, a partir do momento que a protagonista se tornou o mito, que saiu dos livros para a realidade, acabou chamando mais atenção – além da escuridão que cerca um lado do país. Dessa forma, somos apresentados ao trio que consegue carregar essa trama – até mais do esperado – para o seu lado da história.
Um cafetão, uma jovem com habilidades espiãs – ala 007 – e um homem muito bom de mira, bem velho oeste. Mas, esse trio, com habilidades tão diferentes, funciona muito – e muito bem. Veja bem, o background de cada personagem é trabalhado, temos a jovem Inej que foi sequestrada e arrancada de sua família quando pequena, sendo levada para uma casa prostituição. E é aqui que Kaz entra em ação. O líder do grupo arrisca tudo que tem para comprar a liberdade dela. A relação entre os personagens é trabalhada de forma sensível, sem se apressar. Então, como a cereja do bolo desse grupo, temos Jesper, o jovem bom de mira. Enquanto os outros personagens carregam toda tensão necessária, Jesper é o alívio cômico da trama. Sem falar da representação do grupo juntos, não é necessário um episódio pra te fazer questionar de que lado você está.
As peças no lugar
Depois de juntar personagens que talvez você achou que não fariam sentidos juntos, a Netflix construiu uma conexão entre eles. Mas, levou uma temporada para que isso acontecesse – para que assim suas peças fossem encaixadas em seus lugares. Veja bem, a primeira temporada serve como um possível aquecimento para o que está por vir. Apesar de parte dos atores não impressionarem em suas representações, a construção dos personagens é boa, inicialmente confusa, mas vale total a pena.
Apesar do visual falhar um pouco em seu CGI, a construção e adaptação de seu tempo é coerente e exata, apesar de fugir da realidade. Mas, a grandiosidade técnica na série está em algo que a Netflix ainda não havia feito, ou pelo menos não bem. A construção de uma trilha sonora grandiosa. E isso, reflete muito bem ao que está sendo transmitido nas telas. Se encaixando perfeitamente, mostrando que uma boa trama também precisa de uma boa trilha sonora. Mas, apesar de não construir nenhum vinculo musical para nenhum de seus personagens, tirando a emoção das cenas que deveríamos temer por suas vidas.
Sombra e Ossos pode se embaralhar no começo, mas sua construção fará a viagem de 8h valer a pena. A sincronia e fotografia são temas a serem aplaudidos, apesar de falhar no CGI e na coordenação das cenas de ação. Entretanto, esse ainda é o primeiro passo, para algo que pode levar as coisas para algo grandioso. A tão e sonhada criação de universo para a Netflix se orgulhar e chamar de seu.
Crítica | Sombra e Ossos – 1ª temporada
Direção e produção: Lee Toland Krieger
Elenco: Jessie Mei Li, Archie Renaux, Freddy Carter, Amita Suman, Kit Young e Ben Barnes.
Nota: 4/5