Crítica: Socorro, Virei uma Garota traz roteiro previsível, mas diverte o público

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O novo longa do diretor Leandro Neri, Socorro, Virei uma Garota chega aos cinemas nesta quinta (22), e traz um roteiro conhecido pelo público brasileiro, porém que entretém do mesmo jeito. Não é de hoje a história de alguém que passa pela experiência de trocar de corpo com o sexo oposto. Os anos 2000 estão repletos de histórias assim e até mesmo o Brasil entrou na moda, com a trilogia Se Eu Fosse Você.

elenco Socorro Virei uma Garota

Socorro, Virei uma Garota conta a história de Júlio (Victor Lamoglia), o típico nerd da escola que só tem um amigo (CabeçaLéo Bahia), é apaixonado pela garota mais popular do colégio (MelinaManu Gavassi) e é um pária para o resto da sociedade. Numa viagem com sua turma, Júlio acaba se envolvendo num pequeno acidente que resulta em um mico pago na frente de todos os colegas, incluindo Melina. Fugindo, ele pede a uma estrela cadente que se tornasse a pessoa mais popular do colégio.

Ao acordar, Júlio percebe que não está no seu quarto, mas sim num quarto totalmente feminino, que possui até mesmo um banheiro próprio. Ao tentar fazer suas necessidades, ele nota que está faltando algo lá embaixo, e ao se olhar no espelho percebe que virou uma garota. O desejo dele foi atendido, mas não da forma que ele esperava. Agora Júlio é Julia (Thati Lopes), a garota mais popular do colégio, melhor amiga de Melina e até mesmo estrela do YouTube.

Determinado a voltar ao seu corpo e sua vida anterior, Júlia procura Cabeça, e após convencê-lo de que veio de um mundo paralelo, os dois buscam uma forma de fazer com que as coisas voltem ao normal. Porém esta mudança fez com que Júlia se aproximasse de Melina, e então ele fará de tudo para conquistar o coração da amada, enquanto luta internamente para decidir se volta a vida de Júlio, ou se viver no corpo de Júlia era o melhor para ele.

O roteiro possui alguns furos, coisas superficiais, algumas coisas não foram bem exploradas, e outras pareceram que foram apenas jogadas no meio do filme para preencher um espaço, mas isso não estragou a experiência com o filme. Diferente dos outros filmes com essa temática, Socorro, Virei uma Garota explora os sentimentos da mulher, a perspectiva masculina sobre a mulher e como Júlio aprendeu a ultrapassar essa barreira. É a forma literal da frase “só sentindo na pele para saber” e foi exatamente isso que Júlio teve que enfrentar ao acordar como Júlia. Os olhares, a cumplicidade feminina, os comentários sobre o corpo e a vida das mulheres foram só algumas das coisas pelas quais Júlio teve de passar, e entender. O filme nos coloca numa reflexão muito importante, embora bem sutil, sobre como tratamos o nosso próximo.

Outro ponto importante, e talvez o mais bacana desse filme, foi a exploração da relação entre Júlia e Melina. Mesmo enquanto Júlia, Júlio não demonstrou um pingo de interesse pelo sexo oposto. Seu coração só tinha espaço para uma pessoa: Melina. E aí está a grande crítica: não importa o que é você é por fora, por dentro é o que realmente vale. A crítica não foi escancarada em nenhum momento do filme, você apenas se dá conta conforme as cenas vão passando e percebe que, em momento algum, era errado ou estranho o que Júlia sentia por Melina, muito pelo contrário.

A relação familiar também é um ponto explorado neste filme, principalmente a relação entre irmãos. Ver a diferença de Júlio com Deco (Kaiky Brito) e de Júlia com Deco é gritante: o machismo ao qual todos nós somos submetidos desde pequenos até nossa vida adulta. E isso não se resume somente a Deco, mas também a muitos outros personagens, que possuíam falas extremamente machistas, incluindo o próprio Júlio. Embora incômodo, é entendível o porquê dessas falas se fazerem tão presentes no filme. Afinal, estamos falando de um garoto criado num ambiente 100% masculino, do nada virar uma garota.

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Crédito: Reprodução

E já que estamos falando de garotas, os grandes destaques do filme com toda certeza vão para Thati Lopes e Lua Blanco (Renata, irmã de Cabeça). Thati entregou uma personagem formidável, trazendo todas as nuances masculinas para Júlia. Em entrevista para o Quarto Nerd, Thati falou um pouco da experiência dela com o papel:

“[…]Foi totalmente diferente, nunca tinha feito nada parecido, e precisei de ajuda, né. Recorri ao Victor [Lamoglia], meu namorado, que faz o Júlio, então ele me ajudou muito, assim, a construir tudo. A gente fez um mês de laboratório, antes, com o Marcelo Saback, foi quem preparou a gente. […] Eu perguntava, a gente tentava criar trejeitos, coisas assim. […]”

 Lua Blanco também se destacou muito em sua personagem, embora com uma pequena participação. Renata, a irmã mais velha de Cabeça, é assumidamente lésbica, e a princípio tenta cantar Júlia, mas ao perceber que não era recíproco, resolve ajudar a garota. As cenas de Blanco e Lopes foram muito interessantes pois mostraram um lado não-esteriotipado da mulher lésbica, ao mesmo tempo que mostrava a cumplicidade feminina, com Renata ajudando a Júlia a se produzir para encontrar Melina.

Mesmo com um roteiro pra lá de clichê, e previsível, Socorro, Virei uma Garota entrega uma comédia bacana, que entretém, e que prende o público do começo ao fim. Também é um prato cheio para os jovens dos anos 2000 que querem matar as saudades dos filmes com a temática troca de corpos.

Nota: 3/5

Socorro, Virei uma Garota estreia hoje (22) nos cinemas de todo o Brasil. Confiram o trailer abaixo:

 

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