Indicado ao Oscar 2025, Sem Chão é um soco no estômago. Dirigido por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, registra a destruição do vilarejo palestino Masafer Yatta, na Cisjordânia, transformado em campo de treinamento militar israelense. Filmado ao longo de três anos, o longa acompanha a expulsão forçada de diversas famílias, expondo a violência e o desespero de um povo que, mais uma vez, se vê sem lar.
Desde o final de 2024, o longa vem se destacando no cenário cinematográfico internacional, acumulando prêmios importantes, como o Festival de Berlim e Festival de Londres. Além disso, conquistou o Independent Spirit Award 2025 e concorreu ao BAFTA 2025. Considerado um forte candidato ao Oscar 2025, as expectativas vem aumentando para a premiação.
História e Roteiro
Primeiramente, vale destacar a escolha da tradução do título do filme. Lançado no Brasil como Sem Chão, a tradução literal seria Sem Outra Terra. Essa adaptação foi acertada, pois transmite não apenas a perda de um lar físico, mas também a sensação de desamparo e instabilidade vivida pelos personagens.
Se a maioria dos documentários de guerra foca na política e nos líderes, deixando os civis como coadjuvantes, Sem Chão inverte essa lógica. Aqui, as vítimas são o centro da narrativa. Aliás, a câmera não se distancia do sofrimento das pessoas – pelo contrário, mergulha em suas dores e incertezas. Contudo, algumas cenas são particularmente difíceis de assistir, como a demolição de uma escola e o tiro que deixa o primo de um dos diretores tetraplégico.
Outro ponto forte do documentário é a forma como constrói o contraste entre seus diretores. De um lado, Basel Adra, palestino, que vê sua terra ser destruída. Do outro, Yuval Abraham, israelense, cuja presença na equipe gera desconfiança entre os próprios palestinos. Há momentos em que essa tensão fica evidente, como quando Abraham é confrontado por ter uma casa para voltar, enquanto os palestinos não têm mais para onde ir. Entretanto, o filme não se aprofunda nessa dualidade, mantendo o foco no impacto humano da destruição.
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Parte técnica do longa
Visualmente, Sem Chão combina gravações caseiras, feitas no calor do momento, com registros antigos do vilarejo, criando um contraste poderoso entre o passado e o presente. A fotografia, mesmo simples, é eficiente ao transmitir a solidão, a precariedade e a resistência das famílias. Um dos momentos mais comoventes é quando o primo de Adra, recém-saído do hospital, precisa morar em uma caverna improvisada por falta de alternativas.
O documentário também apresenta a escalada do conflito na região. Poucos dias após as filmagens, Israel iniciou a guerra contra o Hamas. Como consequência, forçou as últimas famílias que ainda resistiam em Masafer Yatta a sair definitivamente.
Mesmo com sua estética amadora, Sem Chão é um filme poderoso, que incomoda e exige reflexão. Ao dar voz às vítimas, ele expõe uma ferida que continua aberta e nos lembra que, quase dois anos depois, a guerra ainda não terminou.
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‘No Other Land’/ “Sem Chão”
Diretores: Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor
Onde Assistir: MUBI
Nota: 4,5/5
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