Crítica: O Preço da Verdade convida à reflexão mas erra em trama paralela

A aposta em mais um filme-denúncia baseado em fatos reais já virou seu gênero próprio, mas não impediu Todd Haynes de dirigir O Preço da Verdade. Haynes escolhe abordar um dos maiores escândalos ambientais dos Estados Unidos – que ainda está fresco na mente de muita gente. Entre grandes acertos e alguns erros, o longa protagonizado por Mark Ruffalo traz novamente a tona uma luta que está acontecendo até hoje.

Baseado em um artigo do The New York Times, O Preço da Verdade segue o advogado Rob Billot (Mark Ruffalo), que defendia empresas do setor químico e ficou conhecido como “o terror da DuPont” quando se deparou com um caso histórico: um fazendeiro da cidade de Parkersburg entra em seu escritório – sua fazenda está morrendo, especialmente suas vacas, 190, para ser preciso – e ele está convencido que o terreno ao lado, que pertence à DuPont, está contaminando a água do rio com produtos químicos. Após achar provas irrefutáveis, Billot começa uma briga que dura 15 anos.

O longa começa e termina assim: provocando a audiência. Ele quer que você fique com raiva, e faz questão de mostrar o quão recente tudo aquilo é. Ainda hoje a DuPont permanece quase que intacta, mesmo após os 15 anos de luta e a comprovação que a cadeia química descoberta e nomeada Taflon , em longo prazo, poderia causar cânceres e outras doenças graves.

Mas não é somente com a direção que a fúria foi incitada, porque Mark Ruffalo fez muito bem seu papel. Na pele de Rob Billot, Ruffalo conduziu a drama em uma narrativa linear – onde demarcava claramente o começo de cada ano e a evolução e descobertas do caso – e mostra o desenvolvimento do personagem e o aumento da importância que ele dá para o caso. Conforme os anos se passam, Billot prioriza o trabalho à família – que são mostrados em cenas lamentáveis pela falta de aproveitamento de Anne Hathaway no papel de Sarah, esposa de Billot – e, talvez esse tenha sido o maior erro do longa.

Apesar de Ruffalo expressar muito bem as mudanças na vida do personagem, sobrou para Hathaway uma personagem má escrita colocada em uma situação e visão, em termos de direção, machista. Sarah, que também era advogada, escolheu largar a profissão para cuidar dos filhos, porém a problemática se desenvolve quando o roteiro utiliza as já poucas falas da personagem para estereotipá-la como “a esposa insensível que não entende o trabalho duro que o marido está fazendo”.

Além do mal uso da personagem, o roteiro peca no momento tão esperado – que, inclusive, esteve presente no trailer – quando Billot entra em seu carro e fica em dúvida se o veículo vai explodir se ele liga-lo ou não. A cena, assim como outras parecidas – como a invasão à casa do fazendeiro – parece fora de contexto, porque o roteiro esquece de mencionar o quão disposta DuPont está para manter Billot e quem ele representa, quietos.

Conforme o longa caminha para o fim, a falta de cuidado com a trama paralela – de Billot com sua família/esposa – torna-se evidente e não tem desfecho algum, deixando a audiência somente com a versão mal lapidada do que Anne Hathaway é capaz de realizar.

Mas a trama principal, do caso de parâmetro até global, incita a pensarmos em como grandes corporações estão dispostas a qualquer meio para lucrar, seja aos custos do meio ambiente ou de seres humanos.

O Preço da Verdade está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Gabrielle Yumi
Jornalista e sócia do Quarto Nerd, sou apaixonada por cultura pop e whovian all the way. Busco ativamente influenciar e ampliar a voz de mulheres no meio geek/nerd. Cabelo colorido e muito pop é quem eu sou dentro do meu quarto nerd.