Crítica | O Diabo de Cada Dia tenta trazer diversas sub-tramas em filme que ficaria melhor como série

Crítica | O Diabo de Cada Dia tenta trazer diversas sub-tramas em filme que ficaria melhor como série

Hoje, 16, chegou a plataforma da Netflix o filme “O Diabo de Cada Dia“, produção de Antonio Campos que é baseado no livro de mesmo nome de Donald Ray Pollock. Mesmo que Campos saiba trabalhar essa história cheia de problemas, sem inocenta-los, há confusão para tais acontecimentos, é claro. Com isso, o filme sofre com seu tempo, sua carga pesada de diversas histórias e personagens pesam para o pouco tempo de tela. Dessa forma, a produção de Campos é uma grande oportunidade perdida, mesmo com grandes atuações e uma ótima direção, o filme que não consegue se desenvolver.

As tramas
O Diabo de Cada Dia

Quantas vezes você viu produções com vários personagens e sub-tramas funcionarem em filmes? Claro que não funcionaria com “O Diabo de Cada Dia”, que precisa contar todas suas sub-tramas, que se passam em tempos e lugares diferentes. Mas, mesmo que o diretor tenha optado pela forma de narrativa para explicar e completar essas tramas, o filme fica um grande vazio. Não é como se nada acontecesse, acontece, e muito, o tempo todo. Porém, são tantos acontecimentos que acabam preenchendo as duas horas de filme, sem deixar espaço para os detalhes e explicações.

A produção precisaria de mais algumas horas para conseguir trabalhar cada sub-trama de forma apropriada. Ou seja, o que foi nos entregado no formato de filme ficaria melhor como série, em alguns episódios de 40m. O filme funciona como peças de dominó organizadas, uma a frente da outra, quando a primeira peça é derrubada todas atrás tem o mesmo destino. Cada vez que uma peça cai o filme presa pela emoção que cada personagem sente, mas com suas rasos desenvolvimentos o telespectador não presará por cada vida.

Atuações

Desde o anúncio do lançamento do filme e público ficou mais do que impressionado com o grande arsenal de nomes gigantescos nessa produção. Mas, apesar da falta de tempo interferir no desenvolvimento de seus personagens, cada ator/atriz traz o melhor para o filme. O grande destaque fica para Tom Holland. Mesmo com outros filmes de gêneros diferentes gravados – mas que ainda não foram lançados – é a primeira vez em muito tempo que vemos Holland em um filme tão intenso. Dando vida a Arvin, o ator traz o pouco dos traumas de sua infância em um personagem que é facilmente corrompido pela raiva e dor.

O Diabo de Cada Dia
The Devil All The Time (L-R) Bill Skarsgård as Willard Russell, Michael Banks Repeta as Arvin Russell (9 Years Old). Photo Cr. Glen Wilson/Netflix © 2020

Enquanto, Bill Skarsgard e Robert Pattinson que apesar de ficarem com papeis menores, não deixam de ter tanta importância na produção. Ambos são envolvidos nessa história movidos por sua fé, enquanto um engana as pessoas o outro perde o controle. Suas atitudes influenciam diretamente na vida de Arvin, mas ainda sim acabam não recebendo a devida atenção. Para transformar essa trama em um filme só esses personagens já era capaz de fazer acontecer. Porém, como o filme tem um ligação forte com seu título.

Mas, apesar de abrir espaço para tantos – grandes – nomes do cinema e da TV a produção não trás nenhum, ator ou atriz que não seja branco. A trama consegue abrir espaço para trazer diversos problemas, sendo alguns deles abuso sexual e feminicíidio, sem inocenta-los. Mas veja bem, o livro fala sobre o racismo, e mesmo que por breve momento, é inaceitável que um filme de uma grande produção como essa tenha desperdiçado a chance de mostrar a injustiça do racismo. Inclusão? Zero!

Direção

Apesar do filme focar mais em Arvin – o que não é uma surpresa já que o próprio está com sua carreira em alta – Campos tenta tratar cada personagem como protagonista de sua própria trama. Mesmo com todo o conteúdo para preencher cada lacuna necessária, a trama precisa correr para uma finalização. Mesmo trabalhando em seus personagens individualmente e depois marcando o encontro de seus personagens. Entretanto, apesar do filme utilizar uma narrativa para explicar as linhas temporais e a dar a introdução e finalização de cada personagem, não é o suficiente. A trama não consegue se sustentar no pouco tem que tem.

Quando sua ambientação ser completamente perfeita, trazendo traços, fotografia e paleta de cores tipicas de época. Nada em O Diabo de Cada Dia é reluzente, tudo é sombrio e por algumas vezes superficial. Mesmo quando a trama tenta ser mais madura, acaba sendo confundida com uma grande violência. Não há mocinhos e vilões na trama, todos estão errados, mesmo quando tentam fazer o certo. O Diabo de Cada Dia é um filme de natureza problemática e difícil. Mas, os esforços da direção de Antonio Campos e do roteiro de Paulo Campos, fazem a trama valer a pena por poucos momentos. É mais um tristeza que ninguém tenha sonhado mais para essa produção.

Crítica: O Diabo de Cada Dia
Elenco: Tom Holland, Robert PattisonBill Skarsgård, Mia Wasikowska, Sebastian Stan, Eliza Scanlen, Riley Keough, Harry Melling, Jason Clarke e Pokey LaFarge.
Direção: Antonio Campos
Roteiro: Paulo Campos
Netflix

Nota: 2,5/5

Marta Fresneda
Líder do site de entretenimento O Quarto Nerd. Apaixonada por cultura pop, com objetivo de influenciar e incentivar mulheres na área de comunicação voltado ao mundo nerd.