Crítica | ‘Mosul’ vai além de uma história de guerra

Mosul

Com a chegada de novas plataformas de streaming, a Netflix vem investindo ainda mais em produções originais a fim de manter o público fiel ao seu canal. E, ainda que algumas produções tenha deixado a desejar, outras são feitas de modo a compensá-las, como é o caso do novo filme de ação da plataforma: “Mosul”.

Escrito e dirigido por Matthew Michael Carnahan (conhecido por suas produções em “Guerra Mundial Z”, 2013, e “O preço da verdade”, 2019) e produzido pelos diretores de “Vingadores: Ultimato” (Avangers: Endgame, 2019) – os Irmãos Russo -, o longa é baseado no artigo publicado em 2017 na The New Yorker, de Luke Mogelson, que gira em torno da equipe auto dirigida de SWAT Ninevah, um esquadrão de elite formado por soldados iraquianos que estão cansados das dores – físicas e psicológicas – que a guerra os expõem.

A trama começa com uma boa introdução sobre o cenário que o espectador irá encontrar nos próximos segundos, enquanto a câmera filma a cidade de Mosul por cima, ajudando a complementar o panorama do início. E, assim como os momentos angustiantes que a guerrar proporciona no País, o filme logo desenrola uma sessão de tiroteios e questionamentos sobre a atual situação em que se encontra.

Com o drama da guerra instalado após os combatentes do ISIS decidirem deixar a cidade ao final da primavera de 2017, a população – ou o que restou dela – ainda se sente vulnerável e rendida as dores iraquianas. E é assim que Kawa (Adam Bessa) é apresentado ao espectador. Após perder o próprio tio durante o tiroteio recém presenciado contra os combatentes do Estado Islâmico, o jovem policial é pego pelo esquadrão renegado liderado pelo Major Jasem (Suhail Dabbach), que convida o rapaz a se juntar a eles.

Carregado de vingança, raiva e dores, o longa se encarrega de mostrar ao espectador o desgaste dos soldados em tempo real, enquanto estes viajam das antigas fortalezas da ISIS para se certificarque estão realmente indo embora. Ainda que seguimos fielmente a trajetória do grupo – após a chegada de Kawa -, até o final do filme não sabemos qual seu objetivo, fato lembrado o tempo todo pelo novo integrante. Mas, isso não faz do longa uma produção massante e um roteiro sem saída.

Pelo contrário. Quando, finalmente, Kawa e o espectador entendem o propósito do grupo, tudo parece fazer parte de um cenário muito maior. Parte disso porque a cidade está em ruínas e rebeldes tentam escapar das mãos dos inimigos o tempo todo, ressaltando a ideia exposta durante o longa sobre como a equipe renegada está apenas lutando pela própria cidade e liberdade – principal ponto esquecido nos demais filmes americanos sobre as guerras iraquianas, que muitas vezes trazem a sensação de que toda a nação é a favor dos problemas ali causados -.

E isso é o que faz o arco narrativo ser muito mais proveitoso e eficaz. De forma genuína, a história contada faz jus a um tributo poderoso e comovente sobre o grupo de soldados que parecem estar ligados apenas pelo extinto de sobrevivência, mas que, aos poucos, durante a integração de Kawa com a equipe, se mostra muito mais profundo e coerente perante o artigo ao qual foi baseado.

Em suma, por ser o primeiro filme estadunidense sobre a guerra árabe que retrata o ponto de vista dos moradores e nativos do País – ideia perceptível já pelo idioma árabe presente durante todo o longa -, a produção soube exatamente como dar voz a história da cidade, permitindo, até, uma troca de farpos com os “americanos” e sua ideia de chegar bombardeando o que quiserem no País árabe porque não precisam se preocupar em como irão reconstruí-lo.

Com 70% de aprovação pelos críticos até o momento no site Rotten Tomatoes, a estreia de Carnahan como diretor é, indiscutivelmente, certeira em todos os aspectos, desde a fotografia impecável de Mauro Fiore (Avatar, 2009) – que consegue manipular a paleta de cores perfeitamente até o final do filme, quando consegue transformar todo a raiva acumulada em uma luta pelo amor com tons dourados – até a edição final do mexicano Alex Rodriguez (Filhos da Esperança, 2006) – que é capaz de alternar entre as cenas de ação e calmaria sem deixar que o longa se torne massante -, sem contar a perfeita harmonia dos produtores Anthony e Joe Russo com Mike Larocca.

Mosul (2020) | Tolookat.com


Título: Mosul
Direção: Matthew Michael Carnahan
Elenco: Waleed Elgadi, Hayat Kamille, Thaer Al-Shayei, Suhail Dabbach, Adam Bessa.

Nota: 5/5

Avaliação: 5 de 5.

Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.