Crítica | M8 – Quando a Morte Socorre a Vida traz a inquietude espiritual de um jovem negro em meio aos brancos

O filme M8 – Quando a Morte Socorre a Vida, que está sendo distribuído pela Paris Filmes, veio para mostrar o Brasil em que estamos vivendo, onde um inquieto jovem negro faz de tudo para fazer justiça em sua universidade predominantemente branca, enquanto lida com seu lado espiritual.

O elenco conta com Juan Paiva, Raphael Logam e Henri Pagnoncelli e conta com a participação de Lázaro Ramos, João Acaiabe e Dhu Moraes.

Recentemente tivemos o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos, o qual inspirou muitos brasileiros a saírem na rua e protestarem sobre o racismo e discriminação que ainda está presente e clara em nosso país. Para saber mais sobre o movimento, visite o card, Vidas Negras Importam, também vale lembrar que esta semana, no dia 20, em alguns estados, é comemorado o Dia da Consciência Negra, exerça essa consciência não apenas no feriado, e sim, todos os dias.

O longa conta a história de Maurício, jovem negro que mora na favela carioca e entrou para medicina na federal, um ambiente predominantemente frequentado por brancos de classe média alta e classe alta. Lá, ele entra em um conflito espiritual ao notar que os corpos que serão dissecados são todos de jovens negros, ao mesmo tempo que na vizinhança, um grupo de mães protestam pacificamente para saber do paradeiro de seus filhos, jovens negros, desaparecidos.

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Esse conflito espiritual dá corda à história, Maurício sente incômodo ao não poder dar um velório digno para os corpos que ocupam as mesas, principalmente o de M-8, o cadáver de seu grupo, e constantemente se via no lugar deles.

M-8 possui um nome e uma história, e Maurício foi o único a se importar com isso.

Desde os primeiros minutos o racismo é explícito, ao longo do filme é fácil de enxergar nos pequenos detalhes e nas grandes ações, e aos poucos, vai mostrando o verdadeiro Brasil e suas lutas rotineiras e reais, o Brasil colorido, desigual e sem justiça.

Marielle Vive!

O longa também coloca em evidência o racismo estrutural, onde a maioria das vezes é causado por suposições e a bolha fechada das pessoas de classe alta que não enxergam os morros da cidade do Rio de Janeiro. Também vemos o racismo e preconceito entre os negros, onde os que trabalham e convivem com os brancos, foram influenciados a desconfiar de outros, envergonhando seu próprio sangue.

Fonte: Divulgação

O protagonista engata um romance com uma menina branca, colega de classe, onde vemos um paralelo: os dois são filhos de mãe solteira, a mãe branca, possui um apartamento de luxo com vista para a praia, empregada e a filha tem um carro, a mãe negra mora na favela e lutou para dar o mínimo para o filho, mas não deixa faltar nada.

A trilha sonora é marcante, o funk volta à suas raízes onde o principal objetivo é dar voz à favela, não difamar, sexualizar e banalizar as mulheres. É um verdadeiro grito de guerra das comunidades e dos negros brasileiros.

Os personagens não possuem um arco complexo e detalhado, onde apenas suas classes e posições na sociedade já é suficiente para termos uma noção de como ele será abordado na história, porém alguns deixam a desejar e nos sentimos perdidos ao vê-los em cena.

M8 – Quando a Morte Socorre a Vida é um filme simples, com um enredo pouco abordado e cenários repetitivos, que é capaz de fazer você se debulhar em lágrimas e analisar seus atos e as pessoas ao seu redor. Ou você sentirá a injustiça que Maurício sentiu na pele, ou fará você pensar sobre seu privilégio branco cotidiano.

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Crítica: M8 – Quando a Morte Socorre a Vida

Direção: Jeferson De

Elenco: Juan Paiva, Raphael Logam, Henri Pagnoncelli.

Nota: 4/5

Avaliação: 4 de 5.
Isabela Caroline
Tradutora e redatora d' O Quarto Nerd. Viciada em música, clipes, séries, teorias, entrevistas e tudo que seja um escape da realidade. Currently listening to any pop songs.