Quando se entra na sala de cinema para assistir uma comédia adolescente cujo cenário é o Ensino Médio, já esperamos uma série de pontos na narrativa que são clichês em todo filme com o mesmo tema: sala dividida em suas panelinhas, garotas e garotos populares etc, além de um plot que gira em torno de algum outsider. É justamente com isso em mente que Fora de Série se destaca e Olivia Wilde entrega uma primeira produção cheia de personalidade e com construções de narrativa e cenas muito bem executadas.
Molly (Beanie Feldstein) e Amy (Kaitlyn Dever) estão prestes a se formar no Ensino Médio. Porém, quando Molly, feminista e presidente da turma, descobre que seus colegas de sala, que festejaram durante todo o ensino médio, também entraram em universidades excepcionais, repensa todos os seus anos que passara estudando e decide usar seu último dia de ensino médio para viver como adolescente e ir à uma festa junto com sua melhor amiga, Amy, lésbica assumida.
É com esse plot simples que a estreia de Olivia Wilde na direção de um longa parte para a produção. Apesar da direção segura e, em sua maioria, simples, Fora de Série não deixa de ser esteticamente e tecnicamente bonito. Seja com a câmera de baixo da piscina acompanhando Amy de forma dramática, ou com uma cena fantasiosa de Molly dançando com seu “príncipe encantado”, a direção de Olivia não poderia ser mais certeira em termos de criar laços entre o espectador e as personagens.
A narrativa de maneira nenhuma perde o fôlego, tanto que dá conta de apresentar coerentemente cerca de quinze personagens marcantes, o que não é nenhuma tarefa fácil. É aí que percebemos que a narrativa nega o clichê das panelinhas dos nerds, populares, bagunceiros e atletas para, ao invés disso, colocar todos no mesmo nível. Em Fora de Série, o garoto rico é Jared (Skyler Gisondo) e ele não tem amigos por tentar agradar o tempo inteiro; Triple A (Molly Gordon) é a garota mais desejada mas também é inteligente o suficiente para entrar nas universidades excepcionais; Nick (Mason Gooding) é o garoto mais almejado mas não é o ídolo esportivo e George (Noah Galvin) é gay assumido e tem todas as respostas na ponta da língua.
A qualidade dos diálogos juntamente com a narrativa visual garantem o timing perfeito de todas – todas – as cenas e piadas; não que as atrizes não tenham seu devido crédito, aliás, muito pelo contrário. A química entre Beanie e Kaitlyn é nítida e faz o espectador sentir cada uma das diversas emoções e situações que as personagens entram.
E por falar em situações, a escolha de criar divergências no caminho do que era para ser uma simples ida à festa é justamente o que garante a total atenção do espectador. As garotas escolhem viver por um dia como adolescentes típicas e é essa a deixa para a noite ser a mais insana de todas.
Molly e Amy são essas melhores amigas que embarcam nessa aparente loucura, mas que representam essa “nova adolescência” que existe nos dias atuais. O mundo mudou, os tempos não são mais os mesmos. Essas duas garotas sabem muito bem quem são e o que querem e estão dispostas a viver uma última aventura antes da porta da vida adulta se abrir. A sororidade é um dos temas principais do longa, que encontra o equilíbrio entre a ousadia na exploração da comédia em temas como sexo e na veracidade da sociedade e perfis que apresenta.
Uma diretora, duas atrizes principais, três produtoras e quatro roteiristas. Todas mulheres. A mensagem foi deixada com sucesso.
Fora de Série estreia dia 13 de junho nos cinemas brasileiros.