Começando de onde a temporada passada parou, a 4ª temporada de F is for Family volta com os personagens que já conhecemos. O pai, Frank Murphy, a mãe grávida, Sue, e os filhos: Kevin continua sendo uma decepção; Bill é ansioso e Maureen é meiga mas com traços de maldade.
Porém, a temporada traz um novo elemento para desbalancear ainda mais essa família – se é que isso poderia acontecer. O pai de Frank, que fez de sua infância um completo pesadelo, reaparece em sua vida e se mostra o contrário disso: parece que a idade amoleceu seu coração. Agora, adorável e simpático, William é uma ótima companhia. Isso faz Frank perder a cabeça porque ninguém parece acreditar no monstro que ele teve que conviver no passado.
A instabilidade e o zero politicamente correto dessa família é o que traz as risadas que já estamos acostumados em temporadas passadas. Só que na 4ª temporada tem momentos que isso se perde. Em tempos, as piadas que se encaixam no “politicamente incorreto” parecem que estão lá mais para machucar quem as ofende. O sorriso forçado que aparece no rosto de cada um que assiste tem um quê de desconfortável.
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A falta de sensibilidade em certos momentos – principalmente tratando da perda de peso do chefe de Frank, Bob Pogo – talvez possa ser compensada no jogo de cintura muito atual que a série faz, ironizando o privilégio branco com muitas (muitas) piadas sobre Frank e outros personagens brancos. O vitimismo que Frank muitas vezes aparenta é motivo de indignação e piada na série pelos outros personagens racializados.
O protagonismo da realidade preta
Inclusive, personagens racializados – com o holofote nos pretos – foram quem realmente brilhou na 4ª temporada. A construção das piadas feitas das atitudes racistas, e do já antes mencionado privilégio branco, não poderiam ser mais atuais. O episódio 7 é dedicado inteiramente a Rosie, homem preto que trabalha com Frank e é eleito vereador em pleno anos 70. A série dedica um episódio inteiro ao protagonismo preto, como se a série fosse, de fato, protagonizada por Rosie e sua família. Fora da zona de conforto da série, mas surpreendentemente familiar, o episódio trata das questões raciais vividas por Rosie, com um tom certeiro em absolutamente todas as piadas. Diferente e inteligente, o episódio é, com certeza, o ponto alto da temporada.
Pautas revelantes em plenos anos 70
Além do protagonismo preto, a série se passa nos anos 70, mas suas pautas são extremamente relevantes, porque a corrupção, sistema racista e preconceituoso e o machismo continuam muito presentes. Outro ponto positivo de F is For Family é a profundidade que dão em Sue, que está grávida de seu quarto filho e passa a temporada inteira reavaliando suas escolhas de vida e se perguntando se foi bem sucedida mesmo.
Sue tem a quantidade de força e feminismo exata colocando no contexto dos anos 70 para uma família branca de subúrbio. Vê-la querer ter mais autonomia sobre seu corpo na hora do parto – em vez de tomar uma injeção que a faz esquecer o sofrimento de dar a luz – faz Sue ter um protagonismo merecido e atual.
F is For Family soube trabalhar a divisão de protagonismos durante sua temporada inteira, dando histórias mais desenvolvidas tanto para a família que já conhecemos como pra os personagens flutuantes da série. Então pudemos conhecer mais de Vic, Rosie, William e outros personagens, que deu a lapidada que a temporada precisava.
Por mais que em certos momento a série tenha se perdido na necessidade de fazer piada de tudo e acabar ofendendo quem não precisava, a 4ª temporada de F is for Family se encontra na boa execução de divisão de protagonismos, até porque trabalhar pela quarta vez o esteriótipo de pai bravo de sitcom de Frank poderia ficar desgastante.
Título: F is for Family
Elenco: Bill Burr, Healey Reinhart, Sam Rockwell, Justin Long, Laura Dern, Debi Derryberry
Nota: 3/5
A 4ª temporada de F is for family está disponível na Netflix.