A série Cara Gente Branca da Netflix, ganhou merecidamente sua última temporada esta semana. Mesmo depois de um começo turbulento e muitas pessoas acreditando veementemente que a série se tratava sobre racismo reverso, ela chegou à sua quarta temporada.
A moda dos anos 90 está voltando aos poucos, e com ela, o racismo emergente e brusco. E apesar de bagunçado e pouco valorizado, o roteiro mostra cirurgicamente isso.
Os anos 90 foram anos de expansão para a cultura e empoderamento negro. Por outro lado, tivemos momentos chocantes e marcantes na história, como Rodney King e a brutalidade policial à mostra. Soa familiar?
Esse é praticamente o mesmo retrato que estamos acompanhando nos dias de hoje. Rappers negros voltaram para o Top10, elencos diversificados estão finalmente ganhando tela e negros continuam sendo vítimas de policiais racistas.
Assim como Rodney, a morte de pessoas da comunidade como George Floyd, Breonna Taylor e muitos outros vieram à tona, às telas e às mídias sociais.
O Roteiro
Se você não está bravo com o que está acontecendo, você claramente não está prestando atenção. Essa frase foi palco para milhares de manifestantes do mundo inteiro irem à rua em meio a uma pandemia para protestos, onde a intenção era ser pacífico.
Além disso, a série sabiamente aproveitou a ascensão do movimento Black Lives Matters e todos os protestos para continuar sua narrativa firme e real do racismo nas universidades. Mas, o roteiro também soube aproveitar um cenário atual que ainda não tínhamos visto na comunidade negra.
Mulheres e Queers.
Se comparado à última explosão do movimentos e dos protestos, onde a maioria eram homens cis, vemos mais uma evolução em meio à comunidade e a indústria do entretenimento.
Ainda mais com personas como Cardi B, Doja Cat, Megan Thee Stallion, Lis Nas X e Lizzo sendo exemplos.
Cara Gente Branca aproveitou mais um gancho, e focou mais ainda na história pessoal das mulheres e queers do campus de Wiston High.
Por outro lado, a história falha na montagem e coerência do enredo. Ao intercalar presente, futuro e fazer referências ao passado, muitas cenas que deveriam ser impactantes, ficam sem sentido. E muitas referências que foram feitas, ao mesmo tempo foram perdidas.
Sem contar as cenas de dança e canto no meio dos diálogos. As coreografias e as músicas ficaram admiráveis, mas a montagem falhou com ambas. É literalmente um musical onde começam a cantar do nada. Isso pode ser uma sátira aos musicais brancos dos anos 90, mas, novamente, se foi uma referência, ela foi perdida.
Os personagens
A militância repetitiva e dura das outras temporadas, é abordada de maneira diferente. Como todo movimento, temos o ponto de vista e realidade de pessoas e vivências diferentes. O exemplo das mulheres, queers e homens é válido aqui.
Também temos o lado onde cada um faz a sua parte de sua maneira, e nem todos estão contentes com isso. Mas, no final, tudo é uma forma de protesto, e tudo que for feito para o bem do movimento e da comunidade, é válido.
Essa foi uma lição importante para todos os personagens, e para nós, que estávamos assistindo.
Do mesmo jeito que vemos uma Sam White agressiva, sem papas na língua e ousada nas primeiras temporadas, agora vemos uma Sam White que quer ser neutra. Porém, isso não excluiu seu discurso, calou sua voz ou a impediu de passar a mensagem que sempre passou.
Já por por outro lado, vemos Iesha, a caloura da casa, que se inspira em Sam e podemos dizer que age de modo extremamente igual. Comprando brigas, organizando protestos e fazendo trabalhos para seus irmãos e irmãs.
Ainda mais, temos Coco, onde seu maior objetivo do semestre é ser a primeira negra a ganhar o reality show, Big House.
Em suma, todos são atos contra a sociedade supremacista branca onde vivemos, expostos e abordados de maneiras diferentes. Mas nenhum está errado.
Da mesma forma como a série retrata fielmente sua intenção, a história dos personagens não mantém a mesma fidelidade. Assim como as pontas soltas da temporada passada.
Confira também:
Praticamente todos os personagens foram repaginados e completamente modificados para essa nova temporada, suas características fortes diminuídas, e novos atributos implantados. O único salvo foi Reggie, onde inclusive podemos ver um meio de gerar o plot twist do episódio final, que infelizmente, não impressionou.
Dessa forma, Cara Gente Branca se mantém à linha de pensamento da primeira temporada, mas peca ao tentar inovar, e se perde no caminho.
Crítica
Título: Cara Gente Branca
Direção: Tina Mabry; Barry Jenkins; Charlie McDowell
Elenco: Logan Browning, Brandon P. Bell, DeRon Horton, Marque Richardson, Ashley Blaine
Nota: 2,5