Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo é mais uma vítima da Marvel

Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo é mais uma vítima da Marvel

Alerta de spoilers (por mais besta que seja, pode ter algum chatonildo online pra reclamar)

Nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, chega aos cinemas o mais novo lançamento da Marvel Studios: Capitão América: Admirável Mundo Novo, o quarto filme da franquia. Mas desta vez, estrelado por Anthony Mackie no papel de Sam Wilson, marcando assim, a primeira vez que vemos o herói empunhando o icônico escudo nas telonas. E o que a princípio, retrata a imagem de um homem negro à frente desse símbolo de esperança pode ser inspiradora, se perde em uma trama que é tudo menos inspiradora. Logo fica claro ao público que o filme é tão raso e desprovido de ousadia quanto os outros projetos recentes da Marvel. Para a tristeza e infelicidade daqueles que tanto esperavam e queria ver o crescimento desse personagem como o simbolo que ele merece ser. (veja o trailer aqui)

E é com pesar que as palavras a seguir são dirigidas tanto aos leitores quanto à Marvel. Se você acompanha o estúdio, sabe que, nos últimos anos, a Marvel, antes conhecida como “A Casa das Ideias”, passou a priorizar a quantidade em detrimento da qualidade. Como resultado, uma série de filmes e séries fracas, com histórias e vilões mal construídos, invadiram os cinemas e o streaming. A necessidade da Disney de preencher lacunas em seu serviço de streaming e a ganância por mais bilhões no box office deram um novo apelido ao estúdio: “A Casa Sem Ideias”. E, mais uma vez, escrevo isso com pesar.

O CAPITÃO AMÉRICA

Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo é mais uma vítima da Marvel

Agora, vamos ao ponto central dessa crítica. Sam Wilson retorna às telonas, mas desta vez com um papel mais importante: ele agora carrega o símbolo de esperança e coragem. No entanto, apesar de ter estrelado uma série ao lado de Bucky, que explorou questões sobre sua vida pessoal, Sam chega a este filme com um vazio imenso, algo que o estúdio simplesmente ignorou. Quais são as premissas e crenças desse herói? Por mais que o telespectador possa conhecer sua jornada, as palavras que colocam a boca do personagem são vazias e sem emoção.

Os filmes do Capitão América sempre abordaram, de alguma forma, a política. Sua primeira aparição nas HQs foi com ele socando Hitler. O Capitão América sempre foi político, desde o começo. E, por mais que você fosse de qualquer nação, ver aquele homem socando uma pessoa tão cruel unia os públicos. Nos cinemas, o DNA político do herói seguiu firme. Nos três filmes de Capitão América, vemos Steve enfrentando forças governamentais, espiões infiltrados e até o próprio governo. Desde o segundo filme, Sam Wilson esteve ao lado de Steve, abraçando essas ideias. Assim, já conhecíamos um pouco sobre sua índole e suas crenças. E aqui, era um grande lugar para vermos esse herói tomando o lugar e suas crenças de uma forma única e como o tal merecia. Mas já te adianto, que esse filme está bem longe de ser mais um posicionamento de personagem. A preocupação do estúdio para não fazer de Ross um reflexo de Trump é muito maior, então assim, a maior cai na maior cilada que ela mesmo construiu: criar um personagem extremamente político, mas que o estúdio tem medo de ser político.

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O SAM WILSON

Essa nova hostória se dá com a ida de Sam ao lados das forças armadas ao México pare recuperar uma arma, que logo de cara ele é informado que as informações sobre a mesma são de sigilo, até mesmo dele – e, sinceramente, Marvel, por que o México? A vitória nessa missão leva Sam e seu novo púpilo Joaquim Torres (que está assumindo o manto de Falcão) à casa branca, com os cortejos presidenciais pela missão bem sucedida. E aí assim, somos introduzidos a um Sam, um Capitão América que agora trabalha ao lado de Thaddeus Ross. Se você não lembra, Ross foi o responsável por acirrar a rixa entre os Vingadores em Guerra Civil. A diferença é que agora o personagem é interpretado por Harrison Ford, que claramente não parece entusiasmado com o papel. É claro que as piadas sobre a mudança do ator estarão tão sem graças (na boca de Ford) e bem servidas para o público.

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Agora, como aliado do governo, Sam Wilson posa para fotos ao lado do mesmo homem que causou a separação dos Vingadores. Por qual razão? Não sabemos, e provavelmente a Marvel também não sabe. A situação já é estranha o suficiente. Mas, como se não bastasse, toda a situação estranha que essa personagem se meteu, Sam decide que levar Isaiah Bradley para a Casa Branca é uma boa ideia. E vamos a um pequeno parenteses sobre o Bradley, torturado e usado como experimento pelo governo americano, na intenção de recriar o super soro que deu poderes ao Steve, ele e outros quase 300 soldados negros foram mantidos em cativeiro durante a segunda guerra mundial dentro dessas circuntancias. Quando conseguiu retornar aos Estados Unidos, foi preso e condenado a prisão perpetua.

Apesar das boas intenções e do coração generoso de Sam, a pergunta que fica é: por que ele levaria um homem torturado pelo governo dos EUA para o coração do poder que o colocou nessa situação? Não vou nem mencionar a conveniência de roteiro aqui, porque esse não é o ponto. A questão é: por que ele acha que isso seria algo bom para ele ou para os que ele defende? Mesmo após tudo o que ocorreu nos últimos anos, com o governo se recusando a aceitá-lo, por que ele estaria nesse contexto? A sua busca por uma aceitação parece muito maior do que a de seus principios.

A essa altura, a confusão de ideias e intenções de Sam impede que o telespectador se conecte com ele. É necessário se lembrar diversas vezes que esse é um personagem que você gosta e acredita, e é claro que essa foi uma das coisas que a Marvel precisou mexer no filme em suas regravações. A falta de evolução e discurso político na boca de Sam traz a necessidade de trazer outro personagem para lembre não só a ele mas também ao público o porque ele ser o capitão américa. E aí que, pela primeira vez ouvimos um: “É porque você inspira as pessoas.”. Mas, após mais de uma hora e meia de filme, com esse personagem claramente trabalhando ao lado do vilão, se colocando em situações que você não consegue acreditar, buscando uma aprovação popular e governamental… tudo que você não irá se sentir é inspirado.

Crítica | Capitão América: Admirável Mundo Novo é mais uma vítima da Marvel

Queremos torcer por ele, nos emocionar, rir e nos segurar na cadeira com seus desafios. No entanto, a Marvel Studios torna quase impossível essa conexão. O único momento em que lembramos por que gostamos dele é quando ele divide a tela com outro personagem. Claro, o estúdio tentou colocar Sam em uma posição de mentor para o Joaquin, algo que remete à dinâmica de Tony Stark e Peter Parker, com algumas risadas leves, mas com a falta de tudo que a há envolta, isso não é o suficiente para fazer o filme minimamente agradavel.

A CULPA AINDA É DA MARVEL

Tudo isso parece uma tentativa de dar ao público uma amostra do que seria Sam liderando os Vingadores. E, infelizmente, ficamos com dúvidas se isso vai funcionar. Uma das razões para esse filme existir é, além, claro, de fazer milhões (ou quase bilhões), continuar a história do Capitão América. Ele serve como uma ponte para a Marvel, que precisa reunir os Vingadores novamente, mesmo que a maioria das pessoas nem se lembre por que eles estão separados, e mostrar que Sam Wilson será o responsável por uní-los. É claro que o estúdio tem tentado construir algo como os Jovens Vingadores, mas sem os personagens clássicos que o público ama e sem uma conexão real com os novos heróis, o sucesso parece incerto. Talvez seja hora de deixar esse time em hiato e focar nos mutantes.

Está na hora de voltar a ouvir pitching de ideias, colocar a necessidade de procurar boas histórias para contar acima da necessidade de fazer milhões, e assim como antes, um será consequência do outro. Pois não podemos ser bobos, essa é a única razão pela qual grandes estúdios entram nessa jogada de produzir filmes investindo milhões. Talvez a consultória de pessoas que entendam de roteiros e desse universo antes de colocar seus filmes em produção possam salvar milhões e uma legião de exaustão do seu mais do mesmo.

Em Capitão América: Admirável Mundo Novo, o telespectador é guiado por uma jornada sem rumo, sem profundidade, com personagens mais frios que o próprio Capitão antes de ser resgatado do gelo. Ao final, fica a pergunta: Que admirável mundo novo é esse? E a verdade, meus caros leitores, é que nem a Marvel sabe. O que nos resta esperar é que este grande erro de priorizar a quantidade em detrimento da qualidade sirva de lição para a Marvel e outros estúdios apressados em entregar seus produtos. Esse caminho leva à queda, não à estabilidade.

Crítica: Capitão América: Admirável Novo Mundo

Diretor: Julius Onah
Elenco: Anthony Mackie, Giancarlo Esposito, Danny Ramirez, Harrison Ford e outros.

Onde Assistir: Cinemas

Nota: 2/5

Marta Fresneda
Líder do site de entretenimento O Quarto Nerd. Apaixonada por cultura pop, com objetivo de influenciar e incentivar mulheres na área de comunicação voltado ao mundo nerd.