Amarelo – É tudo pra ontem chegou à plataforma da Netflix, e antes de começar falar sobre esse documentário precisamos contextualizar algumas histórias que aconteceram no Brasil, começar falando um pouco sobre o MNU.
O MNU é o Movimento Negro Unificado, um grupo de ativismo social, político e cultural de extrema importância para a luta do povo preto no Brasil. Fundado em 1978 o MNU sempre buscou defender a comunidade afro-americana brasileira da exploração e descriminação que eram submetidos durante a ditadura militar no Brasil.
O primeiro grande ato do MNU foi uma manifestação em frente ao theatro municipal, onde lutaram contra a represália que acontecia com a população negra, após quatro meninos do time de voleibol infantil do Clube de Regatas Tietê serem descriminados e contra um homem acusado de roubar frutas em uma feira, que acabou preso, torturado e morto. O manifesto aconteceu na escadaria do Theatro Municipal, local esse frequentado apenas pelos mais ricos na época.
O documentário da Netflix, tem como cenário justamente o mesmo teatro que recebeu o MNU durante sua manifestação, só que dessa vez a luta acontecia do lado de dentro e em cima do palco, mostrando os bastidores da produção do álbum faixa a faixa do cantor Emicida, durante o show que aconteceu em 2019, logo após o lançamento do álbum Amarelo, em outubro do mesmo ano.
Trazendo uma narrativa instrutiva e essencial, Amarelo contextualiza a história preta no Brasil, indo desde a chegada da população que foi roubada de seu lar para ser escravizada até o surgimento das manifestações culturais desse povo.
Emicida representa uma geração que quer reescrever a história e que acredita verdadeiramente em um futuro mais justo, Amarelo traz esperança e ouso dizer que ele consegue devolver o direito de sonhar à todos que assistem.
A imagem de um cantor de rap, da periferia de São Paulo em cima do palco do Theatro Municipal é extremamente marcante e com certeza entrará para a história.
O Álbum Amarelo, traz canções honestas e com mensagens de amor, esperança e sentimentos que nos faz querer lutar pela mudança, trazendo a verdade, carregado com a essência de Emicida e permitindo que jovens com a mesma vivência se enxerguem e acreditem que há esperança para seu futuro.
Amarelo é tudo para ontem chega transcendendo a história e o lugar da juventude em uma sociedade com valores duvidosos.
Uma das partes mais interessantes do documentário é quando Emicida conta como a história do samba está entrelaçado com a do rap no Brasil e a maneira como os dois foram marginalizados e criminalizados, o que vemos em uma das faixas do seu álbum, Quem tem um amigo tem tudo, com participação de Zeca Pagodinho. Uma verdadeira exaltação da cultura preta e seus valores, todas as manifestações culturais e suas vertentes que foram sendo moldadas com os anos porém nunca deixando de lado seus verdadeiros valores.
Dividido em três atos, plantar, regar e colher, Emicida compara a vida com um jardim germinando.Nos permite conhecer histórias de grandes nomes como o baterista Wilson das Neves que foi um grande músico e inspiração para os projetos de Emicida, Leila Gonçalves que foi uma intelectual política, professora e antropóloga brasileira que fez história no movimento negro, que começou uma discussão sobre a descriminação elevada à terceira potência, social, racial e de gênero. Contando as histórias de pessoas que foram oprimidas no passado e trazendo novas vozes como representantes atuais dessa luta, como a participação da cantora Majur e Pablo Vittar.
Produzido pela Laboratório Fantasma, Amarelo é tudo pra ontem, é uma caixa com uma infinidade de sonhos, esperança e aprendizado. Sintetiza as entrelinhas de cada pedaço que compôs a história da negritude no Brasil, dando espaço para que essas histórias sejam contadas, trazendo reflexões sobre gênero, classe e raça sem deixar de ser sensível e honesto.
Crítica: Amarelo – É tudo pra ontem
Direção: Fred Ouro Preto
Produção: Laboratório Fantasma
Nota: 5/5
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