Chega amanhã (24), na plataforma de streaming da Amazon Prime Video, os dois filmes sobre o crime que chocou o país em 2002. O Menino Que Matou Meus Pais e A Menina Que Matou Os Pais conta a história do homicídio cometido por Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. Mas, cada um dos filmes conta a versão da Suzane e do seu namorado na época, Daniel. E o mais interessante de tudo é que os roteiros foram baseados nos próprios depoimentos, verdadeiros, colhidos no tribunal em 2006, ano que o caso foi a julgamento.
Uma coisa é certa. Se você não conhecia a história desse crime, com certeza vai ficar em choque quando assistir aos filmes. E se você já conhece mas pouco se lembra, os dois filmes vão trazer detalhes muito específicos. O choque é o mesmo, como se fosse a primeira vez que a história do crime tivesse sido contada. E o horror, ao lembrar cada detalhe dos julgamentos, da espera pela sentença. O desespero da família dos Cravinhos, tudo volta à tona como se fosse 2006 mais uma vez.
Não importa a ordem pelo qual você assiste os filmes. Inclusive, os dois têm algumas cenas idênticas, principalmente o começo com a chegada dos três ao tribunal. E claro, tanto a Suzane como o Daniel tentam convencer os jurados de que eles não são culpados. E é justamente isso que prende o telespectador do começo ao fim nos dois filmes. Querer ouvir cada palavra, e prestar atenção em cada detalhe. Tudo para descobrir no final quem está mentindo e quem está falando a verdade.
A Menina Que Matou Os Pais
Nesse filme, o telespectador conhece a versão que Daniel contou ao juiz e aos jurados. Nessa história conhecemos um Daniel completamente apaixonado pela Suzane. E uma Suzane completamente rebelde e revoltada, adolescente mesmo, que não aceita a ditadura imposta pelos pais. Conhecemos uma história de amor que nasce entre os dois, mas que claramente uma das partes amava muito mais do que a outra. É nessa trama que conhecemos a verdadeira Suzane, que nunca sequer deixou de pensar na morte dos pais.
Também conhecemos o perfeito exemplo de um relacionamento tóxico, onde Suzane era completamente abusiva com Daniel. Mostrando para ele as drogas, o dinheiro, e tudo o que ela poderia dar para ele em troca do maior favor que ele poderia fazer para ela. Ao longo do filme todo, conseguimos ver que Suzane fala muito sobre os pais dela finalmente sumirem do mapa, para que os dois possam ser livres. Mas Daniel, por outro lado, é um menino muito simples, que não entende a revolta da garota com os pais. Claro, ele se incomoda um pouco com a falta de liberdade da namorada. Mas não concorda com a vontade de Suzane de sumir com eles.
Nesse filme, o telespectador consegue não só entender, mas ver a manipulação que Daniel sofreu ao longo de todos os anos de relacionamento, até a fatídica noite de junho de 2002. E claro, Daniel não poderia cometer o crime sozinho, mas Suzane também não poderia deixar rastros. Então seu irmão, Cristian, o ajudou com o homicídio. E na versão de Daniel, Suzane estava observando tudo, esperando para comemorar quando o crime acabasse.
O Menino Que Matou Meus Pais
Já nesse filme, conhecemos a versão de depoimento da Suzane. Aqui, conhecemos uma menina completamente diferente do que Daniel contou no tribunal. Inclusive, conhecemos um lado de Daniel que o telespectador jamais poderia imaginar. Nessa versão, Suzane conta a todos que sempre teve um bom relacionamento com os pais. Que os dois sempre foram a sua base. Que era praticamente impossível viver sem eles. E claro, conhecemos também uma versão bastante ingênua de Suzane. Uma menina que realmente não conhecia de nada além dos estudos e obrigações com as outras atividades.
O telespectador também conhece uma versão rebelde de Daniel. Mostra que se apaixona por Suzane do mesmo jeito em que ele conta, através das aulas de aeromodelismo do seu irmão. Mas, Suzane conta que ao longo dos anos do relacionamento dos dois, os pais de Suzane faziam de tudo para separar os dois. E que isso o irritava demais. E cada vez esse ódio ficava ainda maior. Até porque, as duas famílias tinham realidades completamente diferentes.
A versão de Suzane mostra um Daniel manipulador, que mostrou as drogas para a menina enquanto ela não queria nada disso. Mostra um Daniel que queria fazer de tudo para colocar ela contra os pais, e que a vida de estudos não levaria ela a nada. Apresentou todos os tipos de droga que Suzane poderia experimentar. Assim, aos poucos, Daniel foi conseguindo arrancar todo o dinheiro que podia dela. E, por conta das grandes alucinações com as drogas, era cada vez mais fácil convencer ela de que o problema dos dois eram os pais. E que foi assim que Daniel conseguiu convencer o seu irmão e ela de matarem os pais da Suzane.
A produção
O caso já é chocante por si só. Mas, para retratar todos esses detalhes em dois filmes diferentes, é preciso de uma grande produção por trás. O roteiro é de Ilana Casoy e Raphael Montes, e só de mencionar estes nomes já dá para imaginar a perfeição que é. Os dois construíram a história de uma forma perfeita, sem deixar um detalhe sequer por fora. E, tudo aquilo que foi dito no tribunal, conseguiu ser muito bem reproduzido em forma de filme. E é justamente esse roteiro maravilhoso que deixa tudo ainda mais chocante. Os mínimos detalhes, coisas como uma toalha que um dizia que era branca e outra preta, isso faz e fez toda a diferença. E claro, se você não prestar atenção enquanto assiste, perde tudo e não entende mais nada.
Mas não é só de um roteiro impecável que se vive um filme. A direção de A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais é de se invejar. Cada ângulo, cada foco. Tudo pensando perfeitamente para passar exatamente o que Suzane e que Daniel sentiam. Como era cada família, cada ambiente que os dois viviam. Como eram as coisas na época, sem celulares smartphones, ou então com telefones fixos enormes dentro de casa. Sem carros modernos, sem nada do que conhecemos hoje. E com a intenção de retratar exatamente o que aconteceu em 2002, o roteiro e a direção não poderiam ter sido melhores.
Sem falar na trilha sonora, que também encaixou perfeitamente bem com todos os acontecimentos dos filmes. Como se as letras fossem compostas exatamente para descrever tudo o que aconteceu com Suzane e Daniel Cravinhos. E o que seria de um bom filme sem uma boa trilha sonora, não é mesmo?
Considerações Finais
Não se pode esquecer da brilhante atuação de Carla Diaz no papel da Suzane, enquanto Leonardo Bittencourt interpretou Daniel Cravinhos. A inteligência e a esperteza dos dois atores é algo impressionante. Principalmente pelo fato de que atuaram nos mesmos papéis, mas em versões completamente diferentes uma da outra. Não tem como negar a química que os dois construíram para fazer esses papéis, e como outra dupla não chegaria nem aos pés dos dois. A forma que Carla dá vida a Suzane é assustadora, mas com certeza não poderia ser diferente.
A Menina Que Matou Os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais é tão chocante quanto o crime que aconteceu há quase 20 anos atrás. As histórias prendem o telespectador nas quase uma hora e meia de cada filme. Faz com que todos queiram entender de fato o que aconteceu, apesar de hoje sabermos que tudo aconteceu conforme Suzane mandou. É o verdadeiro significado de relacionamento tóxico, ou então de como ficamos cegos por amor. Mas, que nada justifica tirar a vida de outro ser humano, seja este quem for.
São dois filmes para você assistir se quiser conhecer o caso, ou relembrar de tudo o que aconteceu. E trazer para a discussão um assunto que, na verdade, nunca morreu para os brasileiros. Como foi possível planejar tão friamente a morte de pessoas que deram tudo do bom e do melhor para Suzane. E que a ganância e a ingratidão são sentimentos horríveis, que destrói qualquer pessoa.
Confira também:
Título: A Menina Que Matou Os Pais; O Menino Que Matou Meus Pais
Direção: Maurício Eça
Roteiro: Ilana Casoy; Raphael Montes
Elenco: Carla Diaz; Leonardo Bittencourt; Kauan Ceglio; Vera Zimmermann; Leonardo Medeiros; Allan Souza Lima; Augusto Madeira; Débora Duboc.
Nota: 5/5
Mas e vocês, vão assistir a esses filmes? Não esquece de contar tudo para nós aqui do QN depois, hein! Deixe nos comentários!