Crítica | “A Maldição da Mansão Bly” é perfeitamente surpreendente

Ontem, 09, a Netflix disponibilizou a segunda temporada de sua antologia “A Maldição”, a qual foi nomeada como “A Maldição da Mansão Bly”. Após o sucesso da primeira temporada – baseada no livro de mesmo nome e escrito por Shirley Jackson, que conta a história da família Crain e sua vivência na Residência Hill -, a plataforma traz uma nova adaptação de um novo livro: o intitulado “A volta do parafuso” de Henry James.

Ambientado nos anos 80 na Inglaterra, a temporada gira em torno de Dani (Victoria Pedretti), uma jovem americana que é contratada por um advogado amargurado (Henry Thomas) para cuidar de seus sobrinhos órfãos (Amelie Bea Smith e Benjamin Evan Ainsworth) na Mansão Bly, onde moram junto do motorista e cozinheiro Owen (Rahul Kohli), a jardinheira Jamie (Amelia Eve) e a governanta Hannah Grose (T’Nia Miller). Porém, como já era de se esperar, a mansão contém diversos segredos sombrios, escondidos e enterrados com o passar do tempo.

https://www.youtube.com/watch?v=5QHl7wRBfOU
Vídeo: Trailer oficial – Netflix

Enredo

Assim como a sua antecessora, “A Maldição da Mansão Bly” é dirigida por Mike Flanagan, um dos mais respeitados diretores do gênero e, por isso, o público esperava uma temporada à altura, o que torna tudo ainda mais difícil. Mas, para Flanagan, nada é impossível.

Nessa nova história, o diretor, junto com o produtor Trevor Macy, conseguiu introduzir um roteiro digno de fazer parte da antologia. Claro que, por terem propostas extremamente diferentes, não tem como comparar a primeira temporada com a segunda temporada. Enquanto “A Maldição da Residência Hill” traz um clima familiar e um terror psicológico perfeitamente bem estruturado, a Mansão Bly traz, em nove episódios, uma ideia mais descontruída de família e mexe menos com o psicológico do espectador, focando mais nos elementos clássicos do terror: o suspense e a vingança.

Em um primeiro momento, o espectador sente o peso do roteiro em cada episódio que chega até ser cansativo, ainda que estes sejam narrados por uma personagem a todo momento. Isso, com toda a certeza, é um dos maiores pecados cometidos na série, visto que não tem a angústia chave das produções de Flanagan, demorando, ainda, quatro episódios para introduzir a história. Mas, com uma dose certeira de reviravolta, Flanagan consegue trazer a atenção de volta para o enredo, chamando o espectador para dentro das agonias e aflições dos personagens.

Outro destaque do enredo é a ordem cronológica com o qual foi submetido. Diferente da temporada anterior, o passado e o presente não são ligados de forma linear, onde as ações de um interferem nas consequências do outro. Nesta nova temporada, Flanagan traz uma mistura de eventos que servem como armadilhas feitas especialmente para confundir a cabeça do espectador, além de detalharem ainda mais os fatos imprevisíveis da Mansão Bly.

Personagens e atuações

Trazendo cinco atores de volta ao elenco, a temporada, ainda, conta com novos rostos e atuações que compõem a trama. Assim como a escolha perfeita da ordem de cada acontecimento da série, os atores são escolhidos de forma precisa, sendo impecáveis em suas atuações.

Por conta do sucesso da primeira temporada da antologia e da segunda temporada da série “Você”, também da Netflix, todos os holofotes estavam voltados para a protagonista Victoria Pedretti. Entretanto, não é apenas a atriz que se destaca na série. Além de ser possível comparar os personagens de cada ator que retornou para a antologia e, consequentemente, observar a evolução de suas atuações, também é possível ressaltar a interpretação de ambas as crianças ao longo dos episódios. Amelie e Benjamin atuam de forma graciosa e, com tanta pouca idade, conseguem fazer o espectador enxergar as mudanças de humor – e alma – que os personagens sofrem durante a série.

Em paralelo, também nota-se como a performance “perfeitamente esplêndida” de T’Nia Miller como a Sra. Grose. Sua personagem traz um plot twist de tirar o fôlego e, mesmo com todas as dicas colocadas na cara do espectador logo no primeiro episódio, é surpreendente como a atriz consegue transformar cada momento agoniante em uma calma irritante.

Por outro lado, o único que deixa a desejar em sua atuação é Henry Thomas. Claro que não é uma tarefa muito fácil interpretar um mesmo personagem duas vezes, mas, o ator conseguiu transformar o que seria um sorriso psicopata em um sorriso forçado sem a má animação que deveria ter por ali. Ainda sim, isso é uma das poucas horas que podemos notar uma atuação ruim ao longo dos nove episódios.

Cinematografia e trilha sonora

Apesar de se tratar de duas histórias distintas, Mike Flanagan soube exatamente como padronizar a antologia. Uma das primeiras semelhanças fácil de se encontrar é a paleta de cores presente em ambas as produções. Assim como na Residência Hill, a Mansão Bly traz tons quentes e saturados aos anos 80, remetendo ao passado da família Crain na antiga moradia, com exceção do episódio oito, onde as cores são deixadas de lado e o preto e branco se fazem presentes para ajudar na construção do cenário da história apresentada.

Simultaneamente, a trilha sonora, mesmo com algumas canções fora do “Padrão Flanagan”, se manteve a mesma na nova temporada, desde a música de abertura até a música ao qual a história se encerra, construindo um ambiente narrativo em torno de ambos os contos.

https://www.youtube.com/watch?v=T9PezBRRV6k
Abertura “A Maldição da Residência Hill”
https://www.youtube.com/watch?v=DmV8YEb7deY
Abertura “A Maldição da Mansão Bly”

Por último, é preciso realçar a fotografia presente e ambientação da série.

O episódio cinco é, de longe, o melhor episódio da temporada e isso não é atoa. Flanagan utiliza passagens de tempo-espaço com objetos e simples e essenciais, que destacam o episódio dos demais. Além disso, a construção de cenário dos anos 80 é extremamente marcante, uma vez que a linguagem se faz apropriada para Inglaterra da época, com palavras-chave e uma cultura ignorante – como quando eles retratam o Alzheimer como demência -.

Conclusão

Com a alta expectativa após uma temporada esplendorosa e com um marketing típico da Netflix, os fãs da antologia, com certeza, esperavam algo de tirar o fôlego, o que não foi exatamente isso. Ressaltando aqui – mais uma vez – apesar de serem dirigidas por Flanagan, cada temporada tem sua história e seus momentos de destaque. É claro que, com tantos easter eggs espalhados pela Residência Hill, o público esperava algo do tipo. Mas, Flanagan mostrou que cada conto é único e possui suas particularidades. Nesta nova temporada não havia espaço para plantar referências e fantasmas escondidos em cada cena, porém, teve espaço suficiente para explorar a narrativa, o que foi feito muito bem.

Contudo, Flanagan soube utilizar o roteiro a seu favor e fez com que a temporada se destacasse pelos pontos de interrogações que pairam sobre a cabeça do espectador durante a série. A cada episódio, a curiosidade aumenta e, conforme uma nova explicação surge, mais sentido é aplicado a história. Flanagan não trouxe uma nova identidade para o gênero, mas, com certeza, trouxe uma nova experiência para o espectador ao manter a ideia principal de que cada um possui um fantasma interno que se alimenta de traumas e medos pessoais e, certamente, haverá uma grande espera para uma nova temporada.

Título: A Maldição da Mansão Bly
Categoria: Antologia
Temporadas: 2
Elenco: Victoria Pedretti (Danielle Clayton), Henry Thomas (Henry Wingrave), Oliver Jackson-Cohen (Peter Quint), T’Nia Miller (Hannah Grose), Rahul Kohli (Owen), Amelie Eve (Jamie), Amelie Bea Smith (Flora Wingrave), Benjamin Evan Ainsworth (Miles Wingrave) e Tahirah Sharif (Rebecca Jessel).

Nota: 4,5/5

E você? Já assistiu “A Maldição da Mansão Bly”?
O que achou? Conte nos comentários!

Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.