Para alguém que é novo no mundo da comédia, é difícil saber logo de cara quem Katherine Ryan é. E a divulgação da Netflix para sua série semi-autobiográfica é de escasso para nenhum, quase. Consequentemente, quando A Duquesa na última sexta, 11, ninguém esperava muita coisa. O que talvez tenha sido o maior erro cometido. A semi-autobiografia é a comédia necessária para os dias de hoje, mesmo que exagere em certos momentos.
Em A Duquesa, Olive (Katy Byrne) é fruto do relacionamento de Katherine com Shep (Rory Keenan), um ex-integrante de uma boyband de muito sucesso no passado, mas que hoje é um homem falido. A filha então, se sente sozinha e quer ter um irmão/irmã, decisão que Katherine embarca para fazer Olive feliz. Porém ela não é a mãe perfeita: Katherine, que tem o pior relacionamento possível com seu ex, solta pelo menos 1 xingamento a cada fala na posição de melhor e, ao mesmo tempo, pior mãe do mundo.
As Gilmore Girls de 2020 – com uma dose de palavrões
Seu relacionamento com Olive logo se mostra muito promissor, com uma vibe de Gilmore Girls – se Lorelai tivesse muito menos pudor. O paralelismo que pode ser feito é o fato da história ser sobre o relacionamento das duas, Katherine e Olive, em comparação com Rory e Lorelai. Além disso, suas conversas contém falas muito rápidas (que as Gilmore são craques em fazer também) e sobre temas muitos atuais e necessários. Dentre as pautas, feminismo, maternidade, empoderamento e sororidade são recorrentes.
Katherine é dona de si mesma e a verdadeira estrela da série. Sua evolução ao longo dos seis episódios é, surpreendentemente, muito relacionável, depois que todo o plot quem-vai-ser-o-doador-de-espermatozoides-para-eu-ter-minha-segunda-filha tem um “final” – Shep. Sim, muito estranho, mas totalmente lógico no mundo da série, porque Katherine é uma mãe que está disposta a fazer tudo para a felicidade de sua filha, até mesmo injetar os espermatozoides de seu ex nela própria.
Com uma órbita de personagens icônicos e caricatos, a lá Gilmore Girls, A Duquesa trouxe um pouco do que a série de Amy Sherman-Palladino criou. É claro que a série de Katherine é mais pesada e imprudente, mas a essência do relacionamento mãe e filha e seu empoderamento é o que faz lembrar de Gilmore Girls.
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O mundo gira em torno de Katherine
Uma das coisas que mais chama atenção na série é a necessidade de atenção que Katherine tem. Ser o centro de tudo sempre foi uma realidade para ela, e é impossível Katherine não fazer de tudo para continuar sendo. Consequentemente, isso gera momentos de arrancar um sorriso no rosto. Seja quando Bev (Michelle de Swarte), sua melhor amiga e sócia, quase morre e no dia seguinte Katherine veste preto, da forma mais elegante possível, dizendo que “Ela morreu por pelo menos um minuto” e essa era sua razão de “luto”, ou quando Katherine coloca na cabeça que Cheryl (Doon Mackichan), esposa de Shep, apoia a doação de sêmen do marido só para engravidar ela e roubar seu bebê – que gera uma sátira perfeita a filmes de terror e suspense junto com uma cena de The Handmaid’s Tale.
E é justamente pelo mundo girar em torno de Katherine, ou ela achar isso, que sua personagem tem o desenvolvimento pedido. Isso faz com que ela tenha todos os desfechos com cada outro personagem. Sua evolução em todas as esferas de sua vida (mãe, amiga, ex) faz com que a personagem cresça e perceba que nem tudo é sobre seu ódio pelo ex, ou um all-in em seu relacionamento com Evan, dentista que era só um caso para ela, mas que ele queria algo mais sério.
A Duquesa é a própria Fashion Week
Com certeza uma das coisas que mais chama a atenção é a qualidade extrema dos looks de Katherine. Suas roupas são as mais chamativas possíveis, ao mesmo tempo que elegantes e, inusitadamente, encaixam na Londres atual que a série se passa.
Para trazer sua personagem a vida, Katherine insistiu em trazer sua maquiadora (Fiona Eustace) e estilista (Jennifer Michalski-Bray) da vida real para a série. Isso fez com que a personagem fosse mais verossímil a quem Katherine é na vida real.
Assim, isso resultou em peças de roupa que encaixam na personagem. Além disso, faz a audiência inconscientemente esperar ansiosamente pelo próximo look que a personagem irá usar.
A Duquesa tem seus momentos desnecessários, com palavrões e cenas eróticas demais que saem do engraçado e caem no campo do vergonhoso, mas não são suficientes para superar o humor elevado a imprudência e mesclado com uma parceria de mãe e filha que faz a série abordar pautas atuais do jeito Katherine Ryan de ser.
Aliás, confira o trailer:
Nome: A Duquesa
Direção: Toby MacDonald
Elenco: Katherine Ryan, Rory Keenan, Katy Byrne, Steen Raskopoulos, Michelle de Swarte, Sophie Fletcher e Doon Mackichan
Nota: 3,5/5
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