Crítica | Bridgerton moderniza o gênero, deixando-o divertido e atual

Bridgerton

Produções de época sempre são um colírio para os olhos, com todos as casas gigantes, vestidos esplêndidos e títulos de nobreza. E quando se tratam de romances, a audiência praticamente já sabe o que esperar, mas com Bridgerton foi diferente. A série da Netflix apresentou o mesmo cliché com um twist moderno: nesse romance, as mulheres não são frágeis e, principalmente, os personagens não são todos brancos. Essa versão, claro, teve o dedo de Shonda Rhimes.

A cineasta é conhecida por seus trabalhos como Scandal, How To Get Away With Murder e Grey’s Anatomy, um portfólio nada básico. Então, quando em 2017 Rhimes assinou um contrato milionário com a Netflix, as expectativas eram altas. Três anos depois, Bridgerton lançou. Criada por Chris Van Dusen, a série é uma adaptação da saga literária de Julia Quinn, que acompanha a alta sociedade londrina do século XIX durante a época de encontrar os pretendentes certos para as jovens que acabaram de entrar na sociedade.

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Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor) entra nesse jogo de pretendentes esperando casar por amor, o que acaba se mostrando algo muito difícil de alcançar. Por isso, ela faz um acordo com o recém chegado duque de Hastings, Simon (Regé-Jean Page), onde eles fariam aparições juntos. Assim, ele pararia de ser rodeado por garotas e suas mães procurando-o como pretendente e ela se tornaria mais desejável aos olhos de outros homens. No começo, ambos juram desprezar o outro, mas como em todo romance, acabam se apaixonando e casando. No entanto, ao mesmo tempo que isso ocorre, surge uma anônima, Lady Whistledown (voz de Julie Andrews), que escreve sobre todos os segredos e fofocas que acontecem na alta sociedade – e que dá um gosto de como seria Gossip Girl no século XIX.

Com um ambiente cheio de segredos, fofocas e muito protagonismo feminino, Shonda faz questão de nos fornecer uma história divertida de assistir embalada em um pacote moderno. Para isso, a produtora não hesita em colocar diversidade nos personagens e narrativa, e principalmente, sem fazer da cor de suas peles, o único fator em suas personalidades.

Diversidade nos lugares que importam

Imagem: LIAM DANIEL/NETFLIX © 2020

À primeira vista, Bridgerton parece ter a mesma abordagem do musical Hamilton, com a famosa fala “Essa é a história da América do passado, contada pela América de agora” – no caso, Londres. Isso porque muitos dos personagens da historia são racializados, isto é, ou eram negros, miscigenados ou não eram brancos, com o principal fator sendo que aquela sociedade não ligava para esse fato. Em Hamilton, a maioria dos personagens são interpretados por atores racializados, mesmo seus personagens serem historicamente brancos.

Porém, no meio do oitavo episódio da série – já muito tarde na temporada -, é explicado que aquela sociedade possui muitos racializados em lugares de poder porque o rei George III, branco, se casou com a rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), que é miscigenada. Isso permitiu que pessoas racializadas, a maioria negra, possuíssem títulos de poder, incluindo a família de Simon.

Foi um método inteligente, moderno e sutil para ter um elenco diverso em um gênero de época sem que a cor dos personagens fosse mais importante para a narrativa que o personagem em si. O único problema reside na informação tardia, que levou o público a fazer suposições e ir por dois caminhos diferentes: ou era “um caso igual Hamilton” ou simplesmente a série ignorou o racismo existente na época, preferindo mostrar apenas uma versão bonita do que poderia ser uma verdade, mas que na nossa história não era.

As mulheres usam do poder que tem

Imagem: LIAM DANIEL/NETFLIX © 2020

É assim, também, que Rhimes adiciona sua dose conhecida de presença – utilizar do sutil para trazer tópicos importantes. Durante os episódios, é possível ver em Daphne sua maturidade crescendo e ingenuidade diminuindo. Ao mesmo tempo, ela se torna o símbolo do que a sociedade pode fazer com uma mulher para controlá-la. Os homens podem exercer sua sexualidade livremente. Já as mulheres só descobrem que tal coisa sequer existe somente no dia de seu casamento.

Por isso, conforme Daphne descobre mais, ela questiona o lugar da mulher naquela sociedade da forma que pode. Seja defendendo o que acredita ou ajudando outras mulheres com os poderes que tem, a personagem não é a ‘donzela em busca de resgate’ em nenhum momento, já que muitas vezes age de forma madura e propõe soluções para os eventuais problemas que surgem em seu casamento com Simon.

Imagem: LIAM DANIEL/NETFLIX

Para além do elenco e narrativa, outro ponto positivo é a ambientação da história. Apesar das versões orquestradas de musicas atuais (como “Thank U, next” e “Girls Like You“) serem escolhidas para a trilha que pareceram forçadas demais para as cenas que tocavam, tudo era magicamente impressionante. Os bailes, as casas, a realeza. Toda a ambientação fez juz a competitividade da época de casamento e, mais tarde, a maturidade de Daphne.

Aliás, confira o trailer aqui.

Apesar dos intermináveis clichês que andam juntos às produções de época, Bridgeton conseguiu superar as expectativas. Assim, trouxe uma primeira temporada jovem a cada descoberta da ingênua Daphne; divertida a cada fofoca falada por Lady Whistledown; e atual pelo seu elenco diverso e pautas relevantes.

A primeira temporada Bridgerton já está disponível na Netflix.

Título: Bridgerton
Temporadas: 1
Criação: Chris Van Dusen
Elenco: Golda Rosheuvel, Jonathan Bailey, Luke Newton, Claudia Jessie, Nicola Coughlan, Ruby Barker, Sabrina Bartlett, Ruth Gemmell, Adjoa Andoh, Polly Walker, Ben Miller, Bessie Carter, Harriet Cains e a participação especial de Julie Andrews.

Avaliação: 4 de 5.

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Gabrielle Yumi
Jornalista e sócia do Quarto Nerd, sou apaixonada por cultura pop e whovian all the way. Busco ativamente influenciar e ampliar a voz de mulheres no meio geek/nerd. Cabelo colorido e muito pop é quem eu sou dentro do meu quarto nerd.