Crítica | Arcane é totalmente envolvente e não desaponta

Que a Riot Games já flerta com produções multimídia há anos – que vão desde histórias em textos e curtas animados até grupos musicais com direito a clipes e músicas inéditas – já é fato, mas isso apenas evidencia o trabalho mais ousado até então da desenvolvedora de jogos: Arcane. A série, que finalizou sua temporada no último dia 20 na Netflix, balanceia de forma extraordinária a expectativas dos fãs com uma história única que encanta até aqueles que esbarraram com ela no catálogo.

Dividida em três arcos, Arcane é estruturada por duas narrativas simultâneas: a primeira é alocada em Piltover (o lado alto da região). Assim, mostra Jayce e Viktor, dois cientistas que decidem estudar a magia através da ciência para tornar essa tecnologia, denominada Hextec, utilizável por todos. Já a segunda, na subferia (o lado baixo, futuramente conhecida como Zaun), mostra as irmãs órfãs Vi e Powder, que tem Vander como figura paterna, mas que criam problemas com o lado alto por um roubo que deu errado.

Ao longo dos nove episódios, a série desenvolve os acontecimentos que antecedem esses já estabelecidos personagens, chamados de “campeões” em League of Legends (2009). Apesar das várias histórias individuais simultâneas à construção daquele mundo ainda não conhecido por certa parte da audiência, um dos grandes prós de Arcane é justamente a narrativa envolvente, que amparada pelo visual arrepiante e personagens muitíssimo interessantes, não obriga um pré-conhecimento de quem está assistindo. Claro, conhecer todo aquele ambiente e seus personagens pelos jogos da desenvolvedora adiciona uma outra camada à experiência de assistir Arcane, mas não saber de nada oferece uma experiência igualmente excelente.

Foto: Divulgação
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Aliás, o mesmo acontece em Homem-Aranha no Aranhaverso (2018), que para aqueles que conhecem o personagem Miles Morales já das HQs, o longa foi um presente. Já aos que apenas apreciam um bom filme de super herói, foram envoltos pela animação, trilha sonora e tudo de encantador que o longa promovia. E é gratificante dizer que Arcane está neste mesmo patamar. A série é o guia definitivo de como trabalhar uma história que se originou em uma mídia e agora está sendo apresentada para outra. Isso se dá principalmente dado o já tão caótico histórico de produções audiovisuais de jogos que deram errado nas últimas décadas.

Arcane se passa em um ambiente fantasioso, mas explora relações conhecidas, que humanizam os personagens. Conhecendo previamente eles ou não, a audiência embarca nessa jornada de cabeça e corpo inteiro, comprometida com os personagens até o último segundo, compartilhando de suas angústias e vibrando com suas conquistas. E essa relação audiência-obra foi intensificada pelo modo de divisão da série. Cada “Ato” – nome dado a trinca de episódios lançados semanalmente – continha um sub-arco. Ele permitia ao público entender a evolução da obra ao mesmo tempo que criava expectativas e teorias para o grande Ato final.

O maior exemplo dessa maestria é a maneira que foi encontrada para que o fan service não se sobrepusesse à narrativa, deslocando a história apenas para que o personagem fizesse algo já conhecido ou ansiado pelos fãs de plantão. Pelo contrário, a história caminhou para que quando esses momentos chegassem – como quando Vi coloca suas luvas, Jayce empunha seu martelo ou Viktor manipula uma mão robô – eles não se destoassem do ponto focal da cena, ao mesmo tempo que não tirasse aquela importância.

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Mas essas camadas só seriam possíveis graças à colaboração da Riot e Netflix com a produtora Fortiche, responsável pelo design único de Arcane, que mistura elementos 3D com 2D. Além disso, desafia o conceito de animação, buscando referência na cinematografia de live actions. O visual com efeitos de pintura utiliza 3D para os personagens e arquitetura e 2D para texturas como fumaça e água, além do show a parte que são as alucinações de Jinx, que possuem um estilo mais simples – não confunda com simplório – com as cores características da personagem. Já a cinematografia da série utiliza de um deck de movimentos com a câmera que intensificam as emoções de dada cena. Câmeras menos estáticas para evidenciar uma cena mais intensa; slow motion para intensificar cenas de ação e câmeras 360 que são bastante conhecidas nos filmes de Vingadores são alguns dos exemplos.

Não é atoa que a série estreou como top 1 em 37 países. Toda a experiência construída pela Riot para a série contribuiu para esse feito. Houve um convite para celebrar Arcane para aqueles que jogam LoL ou qualquer outro jogo da desenvolvedora através do evento multijogo RiotX Arcane, estratégia audaciosa de inserir elementos da série nos próprios jogos da Riot.

Assim, o universo expandido da Riot parou novembro inteiro e direcionou todos os olhos para a eletrizante Arcane. A série escolheu ser pioneira em vários sentidos, e não desapontou em nenhum. Mesmo sendo densa demais para ser consumida em um dia inteiro, a experiência dividida da série agrega ao montante, direcionando para um final claramente em aberto que rapidamente teve sua segunda temporada confirmada. Então é seguro dizer que este não é o fim da série. E honestamente? Ainda bem.

A primeira temporada de Arcane já se encontra completa na Netflix. Clique aqui e assista o trailer.

Crítica

Título: Arcane
Produtora: Riot Games
Estúdio: Fortiche, Riot Games

Nota: 5/5

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Gabrielle Yumi
Jornalista e sócia do Quarto Nerd, sou apaixonada por cultura pop e whovian all the way. Busco ativamente influenciar e ampliar a voz de mulheres no meio geek/nerd. Cabelo colorido e muito pop é quem eu sou dentro do meu quarto nerd.