Arcane II – review, pautas pertinentes e continuidade

Cena épica da segunda temporada de Arcane: o amor fraternal de Viktor e Jayce suprimindo o poder de Hextec.

Chegou a hora de falar sobre a segunda temporada de “Arcane” que, desde o seu lançamento, tem quebrado recordes e a própria internet com a introdução de histórias paralelas e outros elementos exploráveis das lendas de Runeterra.

Desde 2021, gamers e não-gamers esperam pela continuação de Arcane, série animada em streaming na Netflix, baseada no universo do jogo League of Legends. Lançada em novembro daquele ano em uma coprodução da Riot Games com a Fortiche Productions, ela se sustentou no top 1 das mais assistidas do Brasil por semanas, bateu recordes de notas em base de dados variados, e conquistou diversos prêmios no Annie Awards e no Emmy, que falei mais neste artigo.

Arcane explora a relação entre duas cidades-Estado: Piltover, conhecida como a “Cidade do Progresso”, e Zaun, uma subferia industrial marcada por pobreza e desigualdade, que fica na zona periférica e subterrânea de Piltover. A série foca na origem de personagens icônicos de League of Legends, e o enredo inicialmente se centraliza na relação conflituosa das irmãs Vi e Jinx, mostrando como eventos traumáticos moldaram suas personalidades e os colocaram em zonas extremas de uma guerra com muito mais do que dois lados.

Porém, enquanto, na primeira temporada, o desdobramento entre as irmãs (bem como a relação de Vi e Caitlyn, e a relação de Jinx e Silco) são o foco, com as demais personagens servindo para completar alguns arcos na ambientação, na segunda temporada, diversos outros núcleos têm maior destaque, mesmo que sem deixar o jogo político deixar de ser uma temática relevante. E é sobre esses núcleos, em especial àqueles que deixam o gostinho de quero-mais para séries paralelas, que falaremos neste artigo!

ATENÇÃO: Este artigo contém spoiler, então, caso você ainda não tenha visto a série, agora é um ótimo momento para começar a maratonar!

Crítica: a urgência de temas em Arcane II

Vi em sua "fase emo" da segunda temporada de Arcane.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Mas antes, precisamos falar sobre a velocidade em que a história se desenrola em Arcane II. Li esses dias uma resenha que criticava a rapidez da sucessão de acontecimentos, e tive a impressão que um fator que pode influenciar nessa sensação é a multiplicidade de planos de espaços-tempos nessa segunda temporada.

Há um trecho da série em que oscilamos entre plano real (crescente guerra entre Piltover e Zaun, ou seria Piltover e Noxus?), plano astral (Viktor consumido pelo arcano trabalhado em conjunto com a essência de Sky), dimensão paralela de Ekko e Heimerdinger, dimensão paralela de Jayce no pós-apocalipse, e a prisão mágica da Rosa Negra sobre Mel Medarda. Isso sem contar, é claro, com as idas e vindas do passado para explicar um pouco mais da relação familiar dos pais das meninas com Vander e Silco.

Para quem assiste sem muito repertório de LoL, algumas coisas podem parecer jogadas e sem muita amarração, mas meu lado fã fanático não permite julgar isso com negatividade, e sim busca entender a semiótica por trás. Afinal, estamos falando de uma guerra entre seres humanos (e hominídeos), mas que ao final se revela ser uma guerra da humanidade contra as máquinas. Típico clichê de qualquer distopia futurista, mas salientada em drama e fantasia, uma cor que só as lentes do universo produzido pela Riot poderiam dar. 

Mesmo assim, desde a temporada anterior, ficava claro que a série tinha muitas histórias para resolver… Para quem conhecia os Campeões do Rift pelo jogo, sabia-se que haviam personagens ainda não totalmente desenvolvidos, como Ekko, que terminou a primeira parte de Arcane muito antes de “estilhaçar o tempo”.

O segundo ato da temporada 2 trouxe um alívio nesse sentido, conectando enredos soltos e preparando o terreno para um desfecho convincente. Ainda assim, algumas subtramas poderiam ter sido trabalhadas de forma mais detalhada.

Os maiores problemas de Arcane II, eu diria, estão no desenvolvimento inconsistente de Jayce e no drama sáfico pouco explorado que permeia o arco romântico entre Caitlyn e Vi. 

Apesar de ser peça-chave por introduzir o Hextec, Jayce é facilmente manipulado pelas pessoas ao seu redor, e quando finalmente demonstra amadurecimento, não há tempo suficiente para tornar sua redenção crível. A série tenta resolver esse arco às pressas, mas o impacto fica aquém do esperado.

Já o casal que, desde a primeira vez que contracenou, demonstrou um alto teor de tensão sexual, deixa que o espectador adivinhe os sentimentos que existem por trás da passagem temporal abrupta entre os atos. Estamos entre uma Caitlyn, oficial condecorada e líder de sua casa, que é transformada pela perda de um ente familiar, e uma Vi solitária, que afoga as mágoas da própria existência entre se embebedar, dar porrada em homem e por vezes se fazer de saco de pancadas e, por trás de tantas palavras não ditas, não entendemos o que causa a súbita reconexão entre as duas e a mudança que faz Caitlyn “voltar a ser boazinha”.

Confira também:

Essa pressa, talvez reflexo do alto custo de produção – Arcane é conhecida como uma das animações mais caras já feitas –, acaba ironicamente destacando o potencial dos episódios mais pausados. Um dos momentos mais marcantes da série é justamente aquele que permite ao enredo e aos personagens respirarem. E sim, estou falando do episódio que faz o coração de Ekko, e de todos nós, amolecer…

E por falar em temas…

Arcane é uma série empoderadora. Por mais que contenha personagens masculinos, a esfericidade das personagens femininas é arrebatadora – não à toa, performam o eixo principal da série: a dualidade do amor e da lealdade de Vi, que se segmenta em duas figuras antagônicas e que a torna uma protagonista que sempre molha os pés em solidão, incapaz de encontrar paz em nenhum dos lados.

Falei sobre a importância da representação das mulheres no review que fiz sobre a primeira temporada. Recomendo a leitura!

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Mas, como dito, a segunda temporada, no seu multiverso de temáticas, ressalta a importância das tramas pessoais de alguns outros personagens, e suas análises nos levam a conclusões cheias de moral e ensinamento.

  • Isha e o culto a ídolos pelo explorado
Isha e Jinx lado a lado na cena em que as duas se conhecem na segunda temporada de Arcane. Isha utiliza o chapéu do Teemo.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

No segundo ato da temporada, somos introduzidos a Isha, uma criança que conquista um espaço emocional para a nossa tão amada e odiada Jinx. Desde a sua primeira aparição, a série faz paralelos entre ambas e a relação fraterna que Powder tinha com Vi. Não à toa, Isha, que está fugindo de homens maus, dá um salto em direção à sua segurança, mas acaba acidentalmente caindo sobre Jinx. O mesmo acontece com Powder no primeiro episódio da série – a diferença é que Vi a segura por querer.

Isha é retratada, ao mesmo tempo que um espelho de Powder, uma âncora para ela se resgatar da persona vilanesca de Jinx. Mas, na verdade, a criança, por si só, tem uma simbologia ainda mais importante para o enredo geral do contexto de Arcane II.

Voltemos para a cena inicial – Isha fugindo pela sua vida. Ela corre pelos becos e vielas de homens com aparência bandidesca e utiliza um capacete como o de trabalhadores de mina, o que pode demonstrar suas raízes proletárias, e talvez até induzir que ela é uma criança que sofre de trabalho infantil. Em um salto de uma tubulação a outra, entre dois prédios, ela falha ao se segurar e cai sobre Jinx. Jinx mata os capangas que a perseguem e, a partir daí, a idolatria é instantânea: além de reconhecê-la como uma das mais renomadas figuras da luta de Zaun, também há, aí, a gratidão. Isha, afinal, a deve sua vida.

Quando, ainda nessa cena, com a criança caída ao seu lado, Jinx recupera o chapéu de mineração de Isha e o coloca de volta em sua cabeça, simbolizando proteção. E, quando Isha resolve seguir Jinx, o chapéu de mineração cai novamente. Ela o retoma, mas isso alude à falta de autopreservação da personagem, que se mostra cada vez mais evidente a cada batalha que as duas enfrentam juntas. A lealdade transpassa a relação de fraternidade que elas constroem. Isha não espera ser salva por Jinx; Isha quer salvar Jinx. 

Entenda: Isha está numa idade onde ainda é difícil ponderar bom e mau. Para ela, Jinx – suas ações, seus ideais – é inteiramente boa. A inocência de Isha coloca Jinx num patamar de idolatria. Isha picha muros, ressaltando Jinx como o símbolo da resistência, e se traveste dela, operando até quando a mais velha insiste em se omitir, apenas para tornar a sua memória viva mesmo para aqueles que não acreditam no retorno de Jinx às ruas de Zaun. Ela estaria disposta a morrer por Jinx, como faz em diversos momentos, até a batalha final que predita a Evolução Gloriosa. Ela ama Jinx, mas acima de tudo, ela ama o que Jinx representa.

O mutualismo dessa relação de autonomia e de liberdade é o que torna ela ainda mais bonita. Jinx é a esperança de Isha; Isha foi quem retomou a esperança de Jinx de continuar vivendo… Mesmo em seu ato final.

  • Ekko e sua realidade paralela não-tecnológica
Powder (em sua versão alternativa que nunca desenvolveu o alterego Jinx) abraçando Ekko por trás. Ekko aparece com uma expressão confusa.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Quando multiversos são apresentados em enredos que destoam do tema, a chance do arco cair em trivialidade é alta. Porém, Arcane II conseguiu fugir do lugar-comum com a mensagem repassada pela realidade paralela vivida por Ekko e Heimerdinger.

Fora a necessidade de trazer à tona uma das principais habilidades do personagem em League of Legends (a capacidade de voltar alguns segundos no tempo), a Netflix e a Riot Games refletem, neste episódio arrebatador, sobre um mundo sem tecnologia.

Ora, a guerra cabalística da temporada já fala justamente disso, mas com uma abordagem centrada no impacto da tecnologia sobre as relações humanas e o equilíbrio entre progresso e destruição. No entanto, a realidade alternativa vivida por Ekko e Heimerdinger amplia a reflexão ao mostrar um mundo onde avanços tecnológicos foram substituídos por um retorno à simplicidade, ressaltando os dilemas éticos e emocionais de viver sem as ferramentas que moldam nossa existência atual.

Para além disso tudo, o amor entre Ekko e Powder (já que, nesse mundo, Jinx não existe) revela o grande “e se…?” da vida do personagem, cuja escolha de voltar para sua vida primária determina o arco final da série. Ekko dá as costas à realidade que sorria a seu favor, com a maioria dos amigos ainda vivos, com uma família e, principalmente, do amor aceso entre si e uma pessoa que não chegou sequer a existir na vida real.

E, tendo deixado aquela Powder para trás, ele enfrenta a dura verdade de não reconhecê-la em Jinx. Mesmo assim, insiste em voltar, e voltar, e voltar quantas vezes for no tempo para impedir que ela desista da vida e da única pessoa que ela ama naquele plano – Vi. Ekko abriu mão do amor, para ser o responsável de que os demais não abram mão também.

  • Jayce e o Mito da Caverna invertido
Jayce em seu visual pós-apocalíptico da segunda temporada, após passar meses na realidade alternativa da qual Hextec assolou toda Piltover.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Se no Mito de Platão a sociedade só vê as sombras e, ao sair da caverna, descobre que nada é como parecia, Jayce precisa ser enviado ao futuro e cair – literalmente – para entender um pouco da realidade de Viktor.

No fundo de uma Piltover destruída, o “náufrago” Jayce tem que perseverar para superar a adversidade de sua perna lesionada e conseguir subir até o edifício onde os Hexportals assolaram tudo. Nesse momento, fica clara a referência que a série traça entre os ex-amigos. Jayce tinha empatia pelo amigo, embora não o entendesse. Enquanto culpabiliza Viktor por se entregar ao arcano e traçar escolhas que levam ao fim do mundo, Jayce também vive em sua pele, e só então passa a enxergar as coisas de forma nua e crua (talvez, como o próprio Viktor, ainda humano, já enxergava).

Sobretudo, foi só então, durante essa árdua e solitária jornada de reconhecê-lo como uma ameaça mundial, que ele pôde encarar o próprio destino. No passado, ele foi resgatado de uma nevasca por um misterioso mago, evento que moldou sua perspectiva sobre a magia e inspirou o desenvolvimento do Hextec. Contudo, é, nos episódios do segundo ato da segunda temporada, se descobre que, na verdade, o mago era uma versão alternativa de Viktor, proveniente de uma linha do tempo onde a humanidade foi transformada em autômatos desprovidos de emoção. Essa reviravolta entrelaça ainda mais os destinos de Jayce e Viktor, redefinindo a trajetória de Jayce como o “Defensor do Amanhã”.

É como o professor Heimerdinger o falou na primeira temporada: “Nenhuma grande ciência deveria colocar vidas em perigo”. Assim, a moral da história do arco de Jayce defende a importância de ouvir os outros, especialmente aqueles que são mais velhos e mais experientes do que nós (como Heimerdinger), bem como respeitar os sentimentos e as escolhas daqueles que amamos (tal qual aconteceu com Viktor, antes que ele criasse sua relação simbiótica com o Hextec).

  • Caitlyn e suas constantes “mudanças por amor”
Caitlyn olhando diretamente para a câmera, com uma expressão rígida, com sinais de briga em seu rosto (lábio machucado, etc).

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Caitlyn é, sem dúvidas, uma das personagens centrais dessa temporada, chegando a deixar, talvez, Vi em segundo plano. Sua crescente personalidade dá uma guinada absurda logo no final do primeiro ato, e nós podemos perceber como a perda de um ente querido a faz amadurecer…

Eu me lembro de achar singular a forma com como Caitlyn lidou com o luto. É claro, nem tudo ali foi por iniciativa própria – o golpe de Ambessa falou por si só –, mas Cait foi grandona e sem medo para assumir a responsabilidade. Dias antes, era apenas uma jovem ingênua e confiante, que aos poucos rompia a alienação vinda do berço. Então, ela se tornou a líder da casa Kiramman e uma oficial condecorada, comandante do estado de sítio que se declarou a cidade de Piltover.

Foi tudo demais para ela, eu diria. Conciliar os novos deveres, a importância e adoração vinda dos demais, a mentoria recebida de Ambessa e o ódio cego que cultivava por Jinx (e que lentamente se estendia a Zaun como um todo) foram alguns dos fatores que a mantiveram afastada de Vi. Como enfrentar uma guerra e amar alguém em quem não se pode confiar? E assim, a perda da compaixão e inocência de Caitlyn veio tão logo quanto a insanidade que tomou controle das suas ações.

Essa já não era a mesma Caitlyn da primeira temporada. E também, não era uma Caitlyn digna da adoração de Vi.

Nessa montanha-russa em que se colocou pelos lutos (tanto pela mãe, quanto por seu relacionamento afetivo com Vi), o espectador assiste seu senso de moral diminuir. Caitlyn muda. Se deturpa tanto que poderia atirar inescrupulosamente em uma criança.

Mas ela já havia mudado antes. Foi, ainda num estado de pureza de sua índole, ao conhecer e se afeiçoar por Vi, que ela deu à Subferia tantas chances ao longo da primeira temporada de Arcane. Ao lado daquela lutadora de cabelo rosa, a bravura de Caitlyn em desbravar Zaun também tinha espaço para a benevolência. 

E, quando pensamos que Caitlyn está perdida por completo, quando ela está há algum tempo mantendo um relacionamento com uma de suas subordinadas apenas para mitigar a dor (Maddie), quando parece que se embriagou do impulso tirano e orgulhoso de ceder aos caprichos de alguém que, em verdade, só estava a manipulando (Ambessa), há o reencontro.

Num piscar de olhos, todo o arco odioso no qual a personagem caiu se resolve. Elaborando um plano de ação em conjunto com Vi, entre indiretas e olhares cheios de tensão e sentimentos mal resolvidos, temos uma Caitlyn razoável de novo.

É essa queda inevitável, mas também a possibilidade de reascensão, que a torna uma heroína tão boa, tão verossímil. O amor fala mais alto. Mesmo com tanto poder nas mãos, Caitlyn é capaz de perdoar o passado e confiar no futuro. 

  • Jinx, seu cabelo e sua personalidade fragmentada
Jinx no final da segunda temporada de Arcane, com mechas roxas no cabelo.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

A suposta “morte” de Jinx poderia até ser clichê, se não fosse extremamente conclusiva para sua redenção. E não, não à ótica do espectador. Nós, desde o começo, sabemos que Jinx é uma vítima da inevitabilidade dos fatos e, por mais que ela seja retratada como vilã em muitos momentos, nós nos sentimos compadecidos por sua história.

Mas é aos olhos de si própria que ela precisa se redimir. E, por mais que Vi, Isha e mesmo Ekko tenham enxergado a coexistência de Powder e Jinx, isso só começa a ser claro para a personagem quando ela se conecta com a irmã mais velha na expectativa de salvar o pai e, por fim, quando ela se sacrifica. 

Essa personalidade fragmentada e a busca por identidade vai sendo sutilmente mostrada no cabelo da personagem ao longo dos atos. O desespero e a profunda imersão na volátil Jinx se dá ao passo que ela se sente, mais uma vez, traída pela irmã, na cela da prisão de Piltover. Ali, seu cabelo está solto e mais comprido do que nunca, extravasando o comprimento da usual trança da sua persona “Gatilho Desenfreado”.

Mas, depois da fuga, quando ela está prestes a dar um fim ao próprio sofrimento, percebemos que seu cabelo foi cortado, e agora se encontra quase do mesmo jeito da inocente Powder criança, ou da Powder trabalhadora e inventiva da realidade paralela vivida por Ekko.

Assumir para si mesma que dentro de si há ambas – Jinx e Powder, Powder e Jinx – leva a personagem a uma outra representação: ela aparece no capítulo final dotada de uma franja tingida de rosa, uma marca da maturidade, talvez inspirada pelo amor que ela tanto guarda pela irmã – elemento também precursor de sua rebeldia.

O perdão aí, também, se revela como a aceitação definitiva de quem ela realmente é: um amalgama de traumas, esperanças, amor e desespero. Jinx não precisa mais ser apenas Powder ou apenas Jinx, mas ambas coexistindo, em um equilíbrio imperfeito, como reflexo de sua jornada.

Sua redenção, portanto, não é sobre apagar os erros ou voltar ao passado, mas sobre abraçar todas as partes de si mesma e encontrar força nessa dualidade. O arco de Jinx conclui-se como um retrato profundo e trágico de uma personagem que, mesmo perdida no caos, luta para construir uma identidade própria, marcada tanto pelo amor que a define, quanto pelo sofrimento que a molda.

Arcane II e os diálogos não ditos com outros Campeões de League of Legends

Fala-se muito de Vi, Caitlyn, Jinx e Jayce, mas Arcane, desde o início, tem mostrado outros personagens relevantes para a lore do jogo, e muitas vezes sem nem nomeá-los. Aparecendo de forma fixa ou não, tomam parte na história embasando ações secundárias ou mesmo trazendo curiosidades sobre o universo. 

Outro fato curioso é que as habilidades dos Campeões Viktor, Ekko e Heimerdinger, três figuras pertencentes ao elenco central, demoram para se revelar na série; enquanto isso, Ambessa se tornou um Campeão de LoL apenas depois da primeira temporada de Arcane, sendo anteriormente introduzida ao espectador pela cinematografia. E alguns vazamentos recentes confirmam que Mel Medarda será a primeira Campeã a ser lançada em 2025.

A seguir, trataremos de alguns Campeões escondidos ou nunca oficialmente nomeados, que fazem parte da série:

  • Singed
Singed em Arcane.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Um dos principais personagens de Arcane que nunca são chamados pelo nome, o alquimista pode ser reconhecido por qualquer fã do jogo por sua fisionomia física e por sua história – afinal, ele é o grande cientista louco que criou a cintila e permitiu que as ruas de Zaun fossem dominadas pelos Barões da Química. O elenco o trata como “Doutor”.

  • Warwick
Warwick em Arcane.

Também de alta relevância para a história, Warwick é a criação que Singed tanto se dedica durante a primeira temporada, aparecendo apenas em pequenas cenas de “spoilers”. O espectador já esperava que ele surgisse na segunda temporada, mas talvez não soubesse que ele seria, na verdade, uma versão transformada de Vander. Assim, na série, o nome “Warwick” também não existe. Mesmo aqueles que o utilizam como ferramenta de guerra só se referenciam a ele como “besta”, “arma”, entre outros.

  • “LeBlanc” (Rosa Negra)
A representação da Campeã LeBlanc em Arcane.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

A organização da Rosa Negra é uma cabala, um grupo que se utiliza do oculto para alcançar seus feitos, grande parte deles envolvendo a manipulação política de Noxus e outros pontos de Runeterra. Em Arcane, é apresentado como o grande antagonista de Ambessa – o único capaz de deixá-la desesperada. De toda forma, no jogo, a Rosa Negra é fruto da poderosa LeBlanc, uma maga centenária com muitos rostos (e uma das Campeãs mais antigas do jogo).

  • Swain (easteregg)
O corvo de três olhos, easteregg de Swain, em uma das últimas cenas da segunda temporada de Arcane.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

Numa das últimas telas do capítulo final de Arcane II, somos apresentados a um corvo de seis olhos, que acompanha de perto a guerra que assola Piltover. Para espectadores comuns, ele pode não significar muita coisa, mas quem joga LoL sabe que essa é uma referência de Swain, um dos maiores antagonistas da Rosa Negra. O corvo é visto perto dos navios que levam Mel Medarda, nova comandante de Noxus, escoltada por seus novos soldados. Dada sua ligação com a sociedade secreta de magos assassinos, é possível que a Riot Games explore esse enredo em futuras produções, ou mesmo na lore da Campeã a ser lançada.

  • Janna (mencionada)
O easteregg da deusa Janna retratada em uma parede de Zaun, com fiéis orando pela sua prece.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

A deusa do vento, Janna, surge como uma figura de esperança em Zaun, sendo reverenciada por sua capacidade de conter o gás cinza e tornar a subferia habitável. Em Arcane II, sua presença é sutil, aparecendo de relance em um mural grafitado e menções de Jinx sobre as histórias contadas por Vander durante sua criação. Mesmo assim, é bastante simbólica! Dada sua habilidade em purificar o ar, sua aparição na segunda temporada poderia representar uma solução crucial para os desafios causados pela poluição, oferecendo um contraponto à degradação que afeta tantos personagens.

  • Teemo (aparição)
O easteregg de Teemo aparecendo em um livro infantil na primeira temporada de Arcane.

[Imagem: Riot GamesFortiche Productions e Netflix]

O yordle Teemo, amado pela Riot Games e tão odiado por muitos jogadores, marca presença compondo aparições no cenário de Arcane de forma sutil. Após aparecer em um livro infantil na primeira temporada, ele ressurge na segunda como referência no chapéu de Isha, jovem aliada de Jinx. Além disso, sendo um “herói” para crianças, a aparição na base de operações de Ekko e seus Vagalumes reforça seu papel de simbolismo infantil.

O que vem aí nos próximos “a Netflix original series

Apesar de o nome “Arcane” fazer referência ao conflito da humanidade contra a magia que, no fim, acaba sendo protagonizado pela desavença entre Jayce e Viktor, eu diria que a série é sobre a Vi, afinal. É sobre essa personagem dividida entre amar duas pessoas que estão em posições antagônicas.

E, como tudo na lore de LoL, nenhum personagem anda sozinho. Então a série é sobre Jinx e Caitlyn, também. E sobre a escolha que, no fim das contas, com a suposta morte de Jinx, Vi não precisa fazer.

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O final brutal do último episódio até poderia chocar o espectador que também ama Jinx, se não ficasse claro para nós que ela está viva, mas escolheu fingir a morte para dar a Vi uma saída mais fácil – afinal, ela nunca estaria em paz tendo uma irmã criminosa:

Há grande expectativa para o retorno de Jinx em um possível desdobramento de Arcane, ainda que os produtores já tenham afirmado que as aventuras envolvendo Zaun e Piltover já tenham chegado ao fim e que não pretendem continuar com a série, tendo ela de fato chegado ao fim na temporada 2.

De toda forma, os fãs de Summoner’s Rift já podem comemorar, pois pelo menos três novas séries ambientadas no universo de League of Legends já estão em produção. A confirmação veio do próprio showrunner, Christian Linke, que revelou em entrevista ao Necrit94: “Noxus, Ionia e Demacia terão suas próprias séries, marcando o próximo passo nesse universo cinematográfico.”
E aí, quem tá tão ansioso quanto eu?! (Até voltei a jogar LoL agora nas férias…)

Iana Maciel
Comunicóloga pela ECA/USP. Atualmente, cursando Esporte na EEFE/USP. Filha de Zeus, membro da Audácia, tributo do Distrito 1 e artilheira de Quadribol da Grifinória. Escondo um passado de jogadora de RPG por trás da cara de brava e da prática de esportes, mas quem me conhece sabe que eu adoro marcar de jogar um LoLzinho nas horas vagas.