Crítica: “A Nossa Espera” é um drama familiar que reflete na vida real

Nem sempre os filmes que são exibidos no Festival Cannes, ou até mesmo, no Oscar, são o principal foco do público, porém o longa A Nossa Espera é algo que te faz pensar, por tamanha similaridade com a vida real. Você já pode ter visto, conhecido ou até vivido o drama que o personagem principal mostra no longa.
Olivier Vallet (Romain Duris) é um homem casado, que tem dois filhos, Elliot e Rose, e trabalha em uma fábrica. Por ser o “homem da família”, é normal que ele não tenha tanta afinidade com os filhos e o que acontece dentro de casa, pois sai muito cedo de casa e volta muito tarde do emprego. Por ser o chefe do setor onde trabalha, 90% dos problemas caem sobre suas costas e é por conta desse mero detalhe que a vida do rapaz muda.
Após sua mulher, Laura (Lucie Debay), de uma hora para outra, abandonar ele e os filhos pequenos, Olivier é obrigado a assumir toda a responsabilidade da casa, tendo que conciliar o trabalho puxado, com os filhos pequenos, a diminuição de gastos por conta do salário do personagem principal, além de se ver envolvido com a falta que as crianças sentem da mãe por seu repentino sumiço.
O drama francês teve tudo pensado para passar a neutralidade, o clima de tristeza e angústia que o personagem sente, como por exemplo, as cores usadas no filme, são sempre cores neutras, que não passa nenhum tipo de outra emoção, dando para notar a presença de muito cinza e azul em tons claros, que destoam a felicidade inexistente por conta dos problemas vividos por Olivier. É um filme como qualquer outro drama, que só quem de fato gosta de longas voltados para esse tipo de assunto consegue assistir. O longa foca muito no quanto é difícil você ter que lidar com problemas, que antes parecia alheio a tudo, ou não tinha uma experiência de fato nisso.

Gullaime Senez, diretor do longa, consegue trabalhar bem em cima da dor do marido abandonado e das crianças, fazendo com que a imersão a história seja algo natural. O roteiro é bem fechado, a única ponta que lhe parece escapar é o fato de que eles abordam um dos encarregados de Olivier no início, como o pontapé para a história do filme, mas fecha os olhos para tal como se as consequências para os atos desse personagem não estivesse ali e ele ficasse esquecido lá no começo do filme. O homem tinha uma filha e uma esposa, mas no máximo que sabemos delas é bem no início do filme e em um determinado ponto, onde apenas a filha do encarregado conversa com Olivier.

Em algumas partes do filme, chega a ser entediante a forma com que o personagem parece lidar com tudo isso, tentando esconder de tudo e de todos o seu real sentimento. Porém, as crianças conseguem passar uma atuação emotiva, principalmente por não entenderem o motivo da mãe tê-los abandonado sem mais nem menos, se apegando no fato de que eles acreditam fielmente que ela voltará para eles em algum momento.
A Nossa Espera é um filme ok, é um filme que merece atenção, porém não é como um grande blockbuster de Hollywood. É um filme que pode questionar o público que for assistir se valeu a pena comprar o ingresso para a sessão, principalmente se não for um público alvo, que tenha intimidade com esse tipo de longa. O filme aborda o assunto abandono de um modo que tenta mostrar, com papéis invertidos, o quão difícil é lidar com a sobrecarga de tantas responsabilidades vindas de todos os lados. Trabalho, filhos, casa, entender porquê a pessoa foi embora, a negação, aceitação, decisões que podem mudar todo o rumo da vida, que inclui as crianças. Isso, com toda certeza, é algo que muitas pessoas lidam no dia-a-dia, porém, quem geralmente abandona (não que seja uma regra clara, obviamente) são os pais, deixando mães e filhos desnorteados no começo.
O filme estreia na primeira semana de janeiro, no dia 3, e acredito que mereça uma chance, apesar de em muitos momentos você se sentir um tanto entediado com a história. É um filme bom, mas não crie muitas expectativas, pois você pode se decepcionar.

Nota: 3/5

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