Por que existe tanto hype em torno dos anti-heróis hoje em dia? Personagens como Deadpool, Agatha Harkness e Cavaleiro da Lua se destacam com suas personalidades complexas, nuances morais e dilemas internos, conquistando um grande espaço no cinema, nas séries de TV e nas conversas de fãs ao redor do mundo.
Felizmente, os números não mentem: das 20 maiores bilheteiras de filmes de heróis desde 2007, cerca de 50% têm anti-heróis como protagonistas. No entanto, aproximadamente 60% incluem pelo menos um ou mais anti-herói em seu elenco, mesmo em filmes de equipe. Na TV, a tendência se repete: séries da Marvel com protagonistas anti-heróis, como Jessica Jones (2015-2019) e Luke Cage (2016-2018), se destacaram com ótimas avaliações, alcançando 83% e 87% de aprovação, respectivamente. Já na era Disney+, produções como Agatha: Sempre (2024), Loki (2023) e Cavaleiro da Lua (2022) continuam a atrair enorme audiência e elogios.
A História dos anti-Heróis nos Quadrinhos
Primeiramente, para entender essa ascensão, precisamos olhar para a Era de Ouro dos quadrinhos, quando Marvel (então Timely Comics) e DC Comics deram seus primeiros passos. Nos anos 30, durante a Segunda Guerra Mundial, personagens como Capitão América e Superman surgiram como símbolos de esperança e justiça. Entretanto, com o avanço da Guerra Fria, as hqs passaram a refletir tensões geopolíticas e novas questões morais: Viúva Negra e Hulk abordaram os efeitos da ciência e da radiação, enquanto Caçador de Marte e Gavião Negro discutiam alienação e espiritualidade.
Nos anos 60 e 70, com o movimento pelos direitos civis nos EUA, a Marvel lançou os X-Men, personagens marginalizados que se tornaram ícones da luta contra a intolerância. Personagens como Tempestade, a primeira super-heroína negra, e Pássaro Trovejante, o primeiro super-herói indígena, mostraram a crescente diversidade nas HQs. Além disso, obras como a HQ Deus Ama, o Homem Mata (1982) abordaram questões como o preconceito e a xenofobia.
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A Era Moderna e os ‘novos’ supers
Com a década de 2010, o interesse por saúde mental, traumas pessoais e questões psicológicas ganhou força nas telas. Filmes como Deadpool (2016) abordaram a esquizofrenia de maneira irreverente, enquanto séries como Legião (2017-2019) e Cavaleiro da Lua (2022) exploraram transtornos de personalidade. Coringa (2019) é exemplo de como o cinema pode mergulhar nas profundezas de uma mente perturbada, trazendo à tona uma crítica social ao tratamento da saúde mental na sociedade moderna.
Anti-Heróis Fora da Marvel e DC
Não é só na Marvel e DC que encontramos anti-heróis marcantes. Desde os anos 90, séries como Xena: A Princesa Guerreira (1995-2001), Angel (1999-2004), Dr. House (2004-2012) e Os Sopranos (1999-2007) destacaram personagens imperfeitos e complexos. Com o tempo, Breaking Bad (2008-2013) e Dexter (2006-2013) seguiram essa linha, consolidando uma nova era para os anti-heróis na TV.
Hoje, com o crescimento das plataformas de streaming, vemos um novo tipo de anti-herói ganhando popularidade. Séries como Fleabag (2016-2019), The Boys (2019-) e Treta (2023-) exploram personagens falhos, de comportamentos duvidosos e com profundidade psicológica, mostrando que o anti-herói vai muito além de um estereótipo. Ele é, um reflexo das questões sociais, psicológicas e morais de nossa própria realidade.
A Transformação Cultural
Em suma, a popularidade dos anti-heróis não representa uma nova fase dos heróis tradicionais. Ela reflete uma transformação cultural mais ampla: estamos cada vez mais em busca de personagens que enfrentam dilemas morais e existenciais reais. Personagens como nós, falhos, contraditórios e, muitas vezes, imprevisíveis.
Enfim, a verdadeira pergunta é: a popularidade dos anti-heróis indica uma mudança no tipo de heróis que queremos ou é, na verdade, uma transformação em nossa visão de mundo?