Nos últimos 10 anos, a Marvel Studios vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, no cinema e agora, desde sua estreia no Disney+, no streaming. Não é segredo pra ninguém que o estúdio entrou em uma fase frenética, onde, quase todos os meses do ano temos uma novidade (filme ou série) do estúdio. E, ao mesmo tempo que isso leva os fãs sorrirem de orelha a orelha, quantidade não garante qualidade. E Ms. Marvel é a prova disso.
Ms. Marvel chegou ao Disney+ igual Peter Parker chegou as bancas em junho de 1962: causando comoção e identificação. Stan Lee já disse diversas vezes que Peter é um herói para as pessoas se identificarem, o famoso gente como a gente. Mas, o público da Marvel Studios não é servido apenas homens – que cresceram ou não lendo os quadrinhos -, seu público nunca esteve mais amplo e mais diverso como agora. E Ms. Marvel, é um abraço quentinho à todas as garotas que conheceram agora esse universo, ou que sempre acompanharam, e é para todos os fãs, uma carta aberta de amor.
O MCU falha novamente em pequenas coisas que pesam muito
É lindo ver como Kamala Khan é apenas uma adolescente que ama as mesmas coisas que todos nós, a diferença é que ela vive no universo em que tudo acontece. Mas, ainda que a personagem consiga comover desde o seu primeiro segundo de tela, a Marvel Studios ainda comete os mesmos erros que cometeu em suas séries anteriores. Veja bem, por mais que o Disney+ garanta ao estúdio mais tempo de tela, até o momento, o MCU ainda não soube como aproveita-lo perfeitamente. Até WandaVision que é aclamada como a melhor série do estúdio sofre uma pequena barriga no começo da série e um desfecho um tanto super estimado.
A verdade é que o estúdio prometeu entregar séries com qualidade de cinema, mas atualmente, usa o streaming apenas para apresentar novos personagens que futuramente aparecerão nas telonas. Dessa forma, o MCU se prende ao padrão de criar projetos dentro de seis episódios de 30 minutos ou mais, mesmo quando não há onde estender. Assim enrolando em longos episódios que poderiam facilmente ser adaptados para uma pequena cena ou simplesmente excluídos da trama, o famoso episódio desnecessário.
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E da mesma forma, o MCU peca com Ms. Marvel. Por mais que Iman Vellani consiga captar a atenção e carinho do público desde de seu primeiro segundo de tela, o roteiro se enrola e muitas vezes se afasta de sua protagonista, procurando ser algo maior do que deveria. Um tiro no escuro que retorna com grande impacto à atenção do telespectador. Ou seja, sem a atriz ou seu grande companheiro de tela Bruno aka Matt Lintz a série se perde e não prende.
E na desnecessária procura por uma explicação para o passado e origem dos poderes da heroína, perdemos quase um episódio inteiro em uma história que na verdade, ninguém se importa.
O visual único e seus péssimos vilões
Assim como WandaVision, a série da Kamala Khan traz um visual único e encantador que só poderia somar a conta dos diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah, que além de criar esse visual conseguem desenvolver os poderes mais lindos (visualmente falando) que o MCU nos mostrou até então. E por mais que a capa desse livro seja colorida, animada e cheia de vida o seu conteúdo é tão vivo quanto.
Quando o assunto é vilão, a Marvel tende a falhar ao tentar criar um personagem marcante que segure uma história única. Nos cinemas, o estúdio falha ao tentar desenvolver personagens com grandes motivações e caráter, tal feito as vezes é jogado na conta da desculpa do: não tinhamos espaço suficiente. Mas, quando o estúdio ganha tempo de tela nas séries para ajudar a superar essa barreira que os acompanham à anos, o MCU falha novamente. É claro que: depois do Thanos que tinha todo um background trabalhado e desenvolvido, tudo parece fraco e sem cor. Entretanto, no caso de Ms. Marvel, apenas é fraco mesmo.
A LOUCADEMIA DE POLÍCIA chamada Controle de Danos conseguem arrancar mais risos por suas trapalhadas do que serem levados à sério. Assim como os famosos Stormtroopers que são capazes de errar qualquer tiro, esse grupo criado pelo governo após uma iniciativa do Stark – para controlar a bagunça que seus heróis deixavam na cidade – acabam se tornando apenas uma grande chacota policial. O que era pra ser uma ameaça e um grande perigo para a jornada dessa heroína, acaba se tornando apenas um contratempo de roteiro. Uma pequena forma trazer à tona sua origem paquistanesa e denunciar o racismo – apesar disso mal ser explorado durante a série.
O grande medo do MCU
Kamran diz que “eles nunca serão aceitos” pelas pessoas e principalmente pela polícia local, e desde a primeira vez que o Controle de Danos apareceu Kamala Khan foi tratada como um ser hostil e perigoso, mesmo quando ela estava ajudando. O tom de sua pele acaba falando primeiro que suas ações. Porém – novamente – a Marvel se afasta do tema e não foca nele, e esse preconceito gritante se torna apenas uma virgula dentro dessa história. Está mais do que claro que o estúdio morre de medo de se adentrar nessas águas, então ao invés de ir fundo no assunto que ele mesmo trouxe a tona o pincela e deixa de lado.
Até o momento, o estúdio trouxe pequenas cenas que tratavam do assunto, esse ainda não foi o centro de nenhuma de suas tramas. Ainda assim, Kamala Khan é a personagem com o seu background histórico mais bem trabalhado, apesar desse medo gigantesco que universo de Kevin Feige sofre.
Por fim, Ms. Marvel tem episódios bons e outros totalmente fora da curva. A série navega da diversão e o carisma para o entediante e maçante, mesmo que depois volte ao seu primeiro ciclo e entregue um final digno. Como já dito antes, o MCU usa seu espaço no Disney+ para apresentar personagens, e nesse fator, Ms. Marvel entrega tudo que precisava. Entretanto, se não fosse por seu padrão rigoroso de formato, essa série poderia menor e muito melhor. Ms. Marvel encanta, agrada mas nos faz pensar que talvez seja a hora da Marvel repensar e analisar seus formatos.
Crítica: Ms. Marvel – 1ª temporada
Direção: Adil El Arbi e Bilall Fallah
Elenco: Iman Vellani, Matt Lintz, Yasmeen Fletcher, Mihan Kapur, Zenobia Shroff, Saagar Shaikh e Rish Shah.
Nita: 3,5/5