Megan Thee Stallion, 27 anos, 1,78 de altura, nascida no Texas, um estouro no rap, um exemplo para o feminismo.
Durante os anos 2000 e início dos anos 2010, os rostos femininos mais conhecidos do rap eram Nick Minaj e Cardi B. Apesar de termos evoluído, novos artistas terem surgido e o rap ter dominado os charts de música popular, as mulheres ainda são minoria. Mais ainda quando estamos falando de mulheres que possuem vários smash hits e prêmios importantes.
Um exemplo é o prêmio de artista revelação na noite dos queridinhos da indústria musical, o Grammy, o qual Megan ganhou em 2021, a segunda rapper desde Lauryn Hill em 1999.
Desde o início o rap foi uma categoria musical considerada marginalizada, inclusive foi um dos motivos para a criação do selo Parental Advisory. O que foi levado em conta era o excesso de palavrões e referências inapropriadas, até então, só vistas nesse ritmo musical.
Dentro dessa discussão, podemos até explicar sobre o racismo e o crescimento do movimento Black Lives Matter, mas o foco é outro.
Justamente por essa fama, não era um gênero apreciado e até mesmo considerado como arte. Temos então, dois obstáculos, o racismo e a discriminação.
Mas hoje, com o crescimento e firmamento das rappers, o machismo é o obstáculo mais claro e Megan é uma das pessoas na linha de frente.
O exemplo dentro e fora das câmeras
Assim como o cenário do rap e do funk brasileiro reflete nas letras e na gramática, o estadunidense também reflete. Um exemplo é Emicida, com seus trocadilhos e letras inteligentes, o nível de conhecimento da língua de Megan é comparável.
O domínio de expressões utilizadas em contextos informais e acadêmicos é visível e prazeroso de se ver. Um exemplo é um de seus sucessos, Thot Shit, “Coisa de Piranha” em tradução livre. Equivalente a uma pessoa que não enxerga o sexo como um tabu.
Também pode ser usado de forma pejorativa quando direcionado a uma mulher em certos contextos.
I love it when a nigga got a mouth full of VVs
“Eu amo quando um cara tem uma boca cheia de VVs”. Nigga é uma palavra utilizada pela comunidade afroamericana, ao usá-la, Megan reforça suas origens. VVs é equivalente a diamantes, também usado nos dentes pelos rappers para representar ostentação.
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Por outro lado, temos Megan chamando sua bunda de “posterior”, assim como os termos biológicos. Também vemos a seguinte frase:
I’m the shit per the Recording Academy
Eu sou fod@ segundo o Grammy
I’m the shit é uma expressão muito utilizada pela comunidade e um ótimo exemplo de ressignificação de palavras, nosso próximo ponto.
Enquanto isso, vamos focar na gramática, a palavra mais usada nesse caso é “according”, o uso de per é comum na área acadêmica, em artigos, pesquisas, dissertações e etc. Esses detalhes mostram a Megan por trás das câmeras, a que se formou na faculdade ano passado e claramente seu conhecimento em seu processo criativo.
Podemos ver isso em seus versos do remix de Butter feat BTS:
I remember writing flows in my room in college
Eu lembro de escrever rimas no meu quarto na faculdade
Now I need global entry to the shows I’m rocking
Agora preciso de uma entrada global para os shows em que eu domino
A ressignificação das palavras
Não apenas Megan, mas a comunidade do rap vêm mudando o significado de várias palavras, principalmente que eram usadas de maneira pejorativa.
Nigga é um exemplo antigo, era usada pelos brancos para se referir aos seus escravos, nos dias de hoje, é uma palavra de poder e exclusiva da comunidade negra.
A palavra shit, que vimos acima, significa “merda”, mas, em contextos positivos, também é usado de forma empoderadora. No contexto feminista, uma das maiores ressignificações feitas pelo rap feminino é a palavra bitch, que significa vadia, mas, isso não necessariamente é mais um xingamento ou visto de maneira ruim.
Graças à músicas como Boss Bitch de Doja Cat e Best Friend de Saweetie, não há vergonha em usar a palavra em contextos amigáveis.
Um exemplo nas músicas de Megan é Girls in the Hood. Ela usa a palavra Bitch de três maneiras:
- Tomando como lição de empoderamento: “Eles tentaram me derrubar, mas a vadia aqui ainda está dando duro”;
- Como insulto: “Essas putas loucas, loucas, elas querem me machucar”;
- Como alcunha, uma denominação utilizada no lugar do nome da pessoa: “Vadia, é melhor você rezar pra que eu nunca cruze com seu homem”.
Novamente Megan mostra domínio da língua e cria cenários para a mudança de significado de palavras, ou divulgar o mesmo.
O feminismo
O feminismo possui várias vertentes, nichos, linhas de pensamento e comunidades, e Megan engloba mais de uma, como rapper e pessoa.
Como mulher negra em uma indústria branca, como mulher em uma indústria machista, como mulher com o discurso de que seu corpo pertence à ela, como mulher que deseja o conhecimento. Mas o mais importante é como Megan retrata uma mulher cujo corpo e sexualidade pertence à ela e ao mesmo tempo tem direito de sentar em uma sala de aula e estudar.
Ao juntar ambos os mundos, a rapper não apenas reforça o discurso gasto, mas necessário, da beleza e confiança da mulher negra, como também quebra o estereótipo da mulher que se importa com essa beleza. Spoiler: Nós podemos, sim, focar na beleza e no cérebro sem seguir um padrão de vestimenta ou comportamento esperado.
Em suma, essa é Megan Thee Stallion e suas composições.
Feliz aniversário, Megan!