Crítica | O Legado de Júpiter sofre por contar muitas histórias ao mesmo tempo

O Legado de Júpiter

Não é de hoje que as histórias de ficção científica, fantasia e heróis entraram no gosto do público mainstream, então houve tempo para que praticamente cada grande estúdio fizesse sua versão de heróis, e com a Netflix não foi diferente. Colocando em prática a aquisição da obra de Mark Miller em 2017, a Netflix trouxe sua adaptação de O Legado de Júpiter. Com um ponto de vista diferente sobre o papel dos heróis em uma sociedade, a série rapidamente esquece dessa proposta e se empenha em virar uma história de origem.

Isso acontece porque O Legado de Júpiter é contado em duas linhas temporais: a primeira é o presente, onde pessoas com poderes existem e os primeiros que adquiriram esses poderes são a União da Justiça, liderada pelo Utopiano (Josh Duhamel) – o Superman dessa história. Já a segunda linha temporal é o passado, mais especificamente durante a Grande Depressão, em 1929, contando a aventura desses seis primeiros que fundaram a União da Justiça para adquirir poderes.

Esquece o passado! Mas nem tanto

Reprodução: Netflix

No presente, a grande questão é a gravíssima falta de um desenvolvimento interessante para qualquer assunto trazido a tona pelos personagens. Seja a grande eminência do Blackstar (Tyler Mane) como vilão da temporada, que acaba conduzindo erroneamente para um desfecho totalmente diferente ou até mesmo o porquê da história original, isto é, a de Mark Miller, existir para começo de conversa. O autor questionava a mudança das histórias de super-heróis, que foram de esperançosos e inspiradores para hiperviolentos e sexualizados. Assim, Miller buscou provar sua tese de que os heróis são indissociáveis da representatividade da esperança que os cercam.

O problema é que a série flerta várias vezes com isso mas não por tempo suficiente. As divergências da nova geração com a União da Justiça em relação ao código – que basicamente proíbe os heróis de usarem forças letais contra qualquer pessoa e vilão – é a essência do que Miller propõe. Porém, ela é simplifica em apenas alguns diálogos que sempre são ofuscados pela peruca mal feita de Josh como Utopiano.

Confira também:

Estaria perfeito… para uma história de origem

Reprodução: Netflix

Mas para tudo que a narrativa dos dias atuais falha, a do passado brilha. A combinação da trilha sonora de época, escolha da proporção de tela (que agora sai do 21:9 característica do cinema e passa para o tradicional 16:9, mais conhecido como a tela do seu computador), figurinos fabulosos e a paleta de cores deixam o palco pronto para a real única história que dá vontade de assistir em O Legado de Júpiter.

Todos do elenco possuem sua parcela de carisma que faz a audiência se importar com seus sentimentos e emoções. Isso faz uma grande diferença a cada pulo para a história do presente, que praticamente não possui nada disso. Assim, cada vez que isso acontece, só reforça mais ainda a vontade de que essa história fosse somente sobre a origem dos poderes da União.

Até a divisão do tempo de tela entre as duas linhas temporais parece diferente, sempre favorecendo o passado. E isso levanta o questionamento sobre o final de seu primeiro ano, que possui um plot twist no presente inesperado. Parece que a narrativa do presente serve apenas para que haja essa ferramenta do roteiro para enganchar para um possível segundo ano, já que a história de origem nos anos 1929 essencialmente acabou.

Os esquecidos

Reprodução: Netflix

Mas não importa quais erros que são apontados aqui, porque todos derivam dessa escolha de prioridade entre as duas linhas temporais. Os personagens apenas sofrem com isso. Por exemplo, os heróis que ganharam seus poderes durante a Grande Depressão não evoluem na narrativa do presente, porque não há tempo para isso, já o roteiro também quer mostrar a relutância da nova geração em seguir o código uma vez aplicado.

Chloe (Elena Kampouris) e Brandon (Andrew Horton), filhos do Utopiano, são a grande prova disso. Chloe é a filha rebelde, que não acredita no código e que não quer seguir os passos da família para ser uma super-heroína. Já Brandon quer ser o próximo Utopiano, mas o temor em nunca ser o suficiente para se adequar as expectativas do pai o consome. Esse último talvez seja o personagem que mais sofre por esse roteiro, já que ele não tem evolução nenhuma durante oito episódios. Mas Chloe também garante seu parcela de roteiro ruim, já que ela se resume a apenas a “menina temperamental viciada em drogas”. Mas na verdade, a simples existência dos dois personagens e o peso do Legado dos pais já insinua um grande protagonismo deles que, no final, não existe.

Se O Legado de Júpiter optasse por só contar sua história de origem – pelo menos no primeiro ano – ela seria um grande acerto, mas não foi o que aconteceu. No entanto, ainda há esperança para um segundo ano mais convincente. A série possui vários personagens e histórias que só estão esperando para serem contadas direito.

O Legado de Júpiter: 1 Volume já está disponível na Netflix. Confira o trailer aqui.

Crítica

Título: O Legado de Júpiter
Criador: Steven S. DeKnight
Elenco: Josh Duhamel, Ben Daniels, Elena Kampouris, Leslie Bibb, Matt Lanter, Tyler Mane
Nota: 3/5

Aliás, o que você achou da série? Deixe nos comentários! No entanto, não esqueça de nos seguir nas redes sociais.

Gabrielle Yumi
Jornalista e sócia do Quarto Nerd, sou apaixonada por cultura pop e whovian all the way. Busco ativamente influenciar e ampliar a voz de mulheres no meio geek/nerd. Cabelo colorido e muito pop é quem eu sou dentro do meu quarto nerd.