Hoje, 7, chegou a plataforma da Netflix a nova adaptação do streaming, Monstro. O filme conta a história do Steve Harmon, um jovem de 17 anos que é acusado de homicídio doloso. Mas veja bem, Harmon está longe de ser um jovem de gangues envolvido em crimes. O menino faz parte de uma das escolas de Elite do Harlem – Nova York, e sonha em ser um cineasta. E aqui está o grande ponto positivo dessa trama, a sua escolha de narrativa. Confira nossa crítica de Monstro.
Ter um jovem que sonha em ser cineasta e coloca-lo no meio de um filme, aonde ele tenta se descobrir como o mesmo, foi a decisão correta para essa trama. Dessa forma, trazendo takes com uma fotografia e paleta de cores de lindas, é como ver o mundo aos olhos de Harmon. Mas, enquanto seu visual não peca o seu protagonismo sim. Por mais que Kelvin Harrison, Jr., se esforce para cativar o público, seu silencioso é a razão pela qual esse é o ponto negativo.
A necessidade de convencer o público
Quando sua advogada está representando ele, ela disse: “minha missão é fazer o juri te ver como uma pessoa, um ser humano“. Mas, ela não está falando só do Juri, mas também dos telespectadores. Entenda, o filme não revela logo de cara se o menino fez parte ou não do roubo seguido de morte. A trama escolhe seguir outra caminho, ao invés de mostrar o ato no começo do filme, a trama se intercala entre momentos desde sua prisão e flashbacks de sua vida na escola e com amigos. E é dessa forma que o filme tenta te convencer, assim como a advogada faz com Juri.
Mas, mesmo com flashbacks, o protagonista não conseguiria convencer o público se não fosse por um fator, sua narrativa. E é por ela, apenas por ela que conseguimos conhecer o personagem. Parte do filme, o mesmo fica de cabeça baixa e em silêncio, é claro o medo nos olhos do jovem, mas seu silencioso é matador. É claro que estamos falando de um jovem inexperiente, mas o roteiro também não colabora com ele. E essa inexperiência fica clara quando John David Washington entra em cena, o ator não precisa de um grande dialogo, seu silêncio é intimidador. Com menos de 10 minutos de tela, o mesmo consegue entregar a melhor atuação do filme.
A sua narrativa e escolhas de palavras
Não é necessário nem 15 minutos de filme para que você entenda a narrativa do mesmo, de início vemos flashbacks, da loja no dia do assalto. Mas logo em seguida vemos o protagonista sendo preso, assustado, mas tentando segurar as suas emoções. Mas veja bem, estamos falando sobre um menino negro que nasceu e cresceu no Harlem, como a sua própria advogada disse: “desde o momento que você pisou nesse tribunal, o Juri vê um menino preto do Harlem, eles já te julgaram culpado“. Só essa fala, desperta o desespero no telespectador, que está torcendo pela inocência do jovem, mas o mesmo abaixa a cabeça e fica quieto.
Quando se encontra com seu pai, o jovem deixa claro que está tentando não sentir nada. Mas, com a sua vida e carreira em jogo, aos 17 anos, o jovem deveria SIM demonstrar todos os sentimentos possíveis. Entretanto, o roteiro escolhe que não. E assim que sua narrativa se encaixa, então, entendemos e ficamos sabendo de seus sentimentos a partir de suas falas, ao que ele mesmo intitula um filme estrelado, escrito e dirigido por Steve Harmon.
Um contador de histórias tentando provar inocência ou um monstro?
Durante um certo ponto da trama, vemos Harmon em uma sala, em um possível clube de cinema, aonde os mesmo discutem sobre uma produção do jovem. Seu tutor não demora muito a perguntar sobre a história a trama, já que um filme não pode só se basear no que vê. Entre uma discussão artística, é perceptível que a conversa é uma explicação, o porque a trama é como é. Então, a escolha de colocar fotos, cenas entre a visão de Harmon e ouvir a sua voz te tira da cadeira de Juri para que você se sinta o próprio acusado.
É claro que não demora muito para o protagonista ser chamado de Monstro, muito menos para seu desejo de ser um cineasta ser virado contra ele. Como o advogado que defende o povo de Nova York diz: “o sonho dele é inventar histórias, contar mentiras”. A verdade é que o filme te faz torcer que o mesmo seja inocente, apesar de você descobrir se é ou não apenas nos últimos minutos. Mas, apesar de seu veredito, é óbvio que o mesmo deixa ao telespectador decida de que lado prefere ficar nessa história.
A direção
Mesmo sendo baseado em um livro de mesmo nome, a trama erra em seu protagonismo, e talvez a inexperiência do jovem não colabore com o mesmo. Mas veja bem, em certos pontos, a direção do filme consegue captar o nervosismo e atenção do mesmo, mas em outros acaba se perdendo em sua própria narrativa. E dessa forma caímos na montagem do filme, como estamos falando de um julgamento muitas mentiras são contadas, então demoramos para entender quem realmente está falando a verdade nessa trama. O que acaba servindo como outro ponto negativo para a trama, que se tivesse nos apresentado segundos antes a verdade, sua história se encaixaria com uma facilidade maior.
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Mas, infelizmente, não para aí, as escolhas erradas seguem até o final do julgamento. Quando a Marvel Studios escolheu deixar a cena da morte de Tony Stark em silêncio, sua intensão foi intensificar a dor da cena, sendo facilmente captada. Mas aqui, esse silêncio é usado na hora errada. Então, por mais que o veredito do caso de Harmon possa trazer diversas emoções para tal ato, a escolha anterior não foi a escolha mais sábia para o mesmo.
Monstro está longe de ser o melhor filme da Netflix, mas pode ser um começo promissor para a carreira de Kelvin Harrison, Jr. Mesmo quando sua posição é se calar, e o diretor escolhe não o deixar ao centro de um take, seu desespero e medo são facilmente captados. A escolha de fazer o público de ver através dos olhos do protagonista foi a decisão mais sensata da trama. Sua arte e fotografia são de tirar o fôlego.
Mas, apesar de seus erros e tropeços, Monstro, é história sobre provar a sua inocência, mesmo quando ela é deixada ao telespectador para decidir.
Crítica Monstro
Direção: Anthony Mandler
Roteiro: Radha Blank, Cole Wiley e Janece Shaffer
Baseado no livro de: Walter Dean Myers
Elenco: Kelvin Harrison Jr., Jennifer Hudson, Jeffrey Wright, Jharrel Jerome, Jennifer Ehle, Rakim Mayers, Nasir ‘Nas’ Jones, Tim Blake Nelson e John David Washington.
Nota: 3/5