Review | DJonga lança Nu como uma forma de se encontrar

Djonga Nu

O rapper Djonga lançou hoje, 13, o álbum Nu, uma série de clipes que contam uma história com começo meio e fim.

O cantor é conhecido por fazer críticas sociais agressivas em suas letras, o que transparece a realidade de milhares de jovens e adultos periféricos de todo Brasil que são em sua maioria alvos de injustiça social e perseguidos por sua cor e classe social.

Logo na divulgação do álbum, em que a capa é sua cabeça sendo servida em uma bandeja, Djonga se recusa a fazer um álbum que não seja no mínimo provocante.

Posso dizer que Djonga é um dos artistas mais relevantes e necessários atualmente na nossa cultura nacional, ele é o espelho da periferia que chegou no topo e quer levar todos com ele.

Apesar de ser um artista que levanta muitas controversas, Djonga mostra para que veio a cada novo álbum.

Se reinventa sem se perder de suas raízes que leva esperança para os que já nasceram condenados pela nossa sociedade.

Trouxemos uma análise faixa a faixa do álbum NU  e te convidamos para viver a experiência que esse álbum carrega.

Faixa 01- Nós

A primeira faixa do álbum apresenta diversas versões do cantor onde o mesmo é baleado por uma autoridade. A letra dessa primeira faixa é um grito de socorro pelos pretos do país. Djonga é baleado mais uma vez e agora seu corpo no chão pede por justiça pelos seus.

“Desde menorzinho aprendendo a andar com álibi” fazendo referência aos milhares de pretos que já foram condenados por estar no lugar errado e na hora errada.  Como no caso recente de Fernando Henrique dos Santos, um jovem negro que foi condenado a 8 anos de prisão por formação de quadrilha e roubo. E as únicas provas que ligam Fernando à cena do crime é uma testemunha que estava com um saco em sua cabeça e afirmou que a voz de Fernando tinha uma “familiaridade” com a do assaltante.

Além disso um dos policiais responsáveis pelo caso afirmaram que o jovem confessou em seu depoimento ter envolvimento no caso, no entanto , o seu depoimento foi revisto e nenhuma confissão foi encontrada.

O jovem não tinha nenhuma passagem pela polícia e era professor de educação física e educador em um projeto social na Zona Sul de São Paulo.

“Ve a gente com dinheiro é mole o que não querem é ver a gente de cabeça erguida”

O que vem acontecendo nos últimos anos em que pretos se recusam a ficar calados em situações de injustiça, um exemplo mais recente nas manifestações do movimento Vidas Pretas Importam , que o povo preto está cada vez mais empenhado em ocupar lugares no topo.

Faixa 2 – Ó Quem chega

A Segunda faixa é bem explicativa ao mesmo tempo que permite algumas interpretações diferentes. Djonga aparece com uma coroa, e com mais efeitos especiais.

Nessa música Djonga incentiva seus fãs a correrem atrás do seu e não se conformar com sua situação atual.  Sobre a importância de olhar para si mesmo para conseguir crescer e ir além.

“Os caras confundem guarda-chuva com fuzil, depois falam que sou eu que exagero” Mais uma vez fazendo referência a um caso real onde um jovem preto periférico que carregava um guarda-chuva foi alvejado com tiros no Rio de Janeiro. 

“Falo do jeito que o povo entende, a arte é pra ser combustível” Sobre adequar suas letras para a vivência do seu público que também é a sua, usando sua arte para retratar a dura realidade com toques de esperança.

Faixa 03 – Xapralá

Na primeira faixa Djonga encontra sua coroa no meio da periferia, na segunda essa te leva até a “superfície”. No entanto, nessa faixa, a mesma coroa que o levou até o topo agora o condena, e nesse terceiro clipe os efeitos especiais colocam a coroa correndo atrás dele. O que podemos interpretar que a coroa representa sua posição.

Nessa música recebemos um Djonga mais tranquilo, e justificando toda agressividade necessária em suas canções.

O cantor fala sobre só querer levar a sua verdade vista pelos seus olhos para o seu público, quase como um apelo para maior compreensão.

Também é sobre todos que escutam a sua verdade e ficam revoltados com a forma que o cantor se expressa, sendo que aquela é a realidade que precisa ser mostrada e principalmente mudada.

Djonga também clama pela necessidade de fugir de si mesmo para conseguir se encontrar.

Faixa 04– Me da a Mão

Me da a Mão é um reconhecimento de que por mais que ele seja muito, continua sendo ninguém diante do universo. A pesar de ter conquistado tanto ainda tem muito que aprender. O cantor aparece neste clipe caindo de um penhasco e pedindo ajuda para alguém.

Reflete sobre tudo que conquistou com a sua verdade e anseia por uma mudança de dentro pra fora. Demonstra sentir uma certa impotência por ter conseguido tanto quando ainda existem pessoas que não tem nada.

Ainda consegue colocar uma pitada de romance entre a letra.

Faixa 05 – Vírgula

Vírgula resgata a confiança já conhecida de outros álbuns do artista, onde ele afirma que sua verdade é a razão de seu sucesso. Ostenta tudo que já conseguiu para sua família e para si com seu trabalho ao mesmo tem que incentiva seus ouvintes. Comenta sobre resgatar a auto estima das pessoas que o ouvem, ao mesmo tempo que esse ato faça com que ele goste cada vez mais de si mesmo.

Continua com suas duras críticas sociais quando cita que “eles” só querem ver os pretos no topo se for no topo do morro vendendo algo pra eles fumarem.  Fala sobre pessoas que já nasceram sentenciadas.

Faixa 06 – Ricô

Ricô de Djonga traz um arranjo bem diferente das outras músicas e a primeira participação especial do álbum. Doug Now que complementa a música com os seus solos.

Traz reflexões sobre coisas que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar, mesmo com tudo ainda deixa as pessoas vazias.

Faixa 07 – Dá pra ser ?

A faixa Da pra ser, traz assim como nos primeiros álbuns do cantor a música romântica do disco. Carregado de declarações mostra o lado mais movido pelo coração do cantor. Participação de Budah que marca a música com a suavidade de sua voz.

Faixa 08 – Eu

Eu, é a faixa mais marcante e sincera do álbum. Começa com alguns relatos positivos e negativos sobre o artista.

Mostra que está sujeito a erros assim como qualquer outra pessoa humana.

Ainda citou Wilson Simonal, que foi perseguido pela e mídia na época da Ditadura sendo acusado de ser espião da Ditadura, foi considerado o “Primeiro cancelado” do Brasil. Foi o primeiro ‘pop star’ preto do Brasil. Sua carreira foi completamente destruída e sua inocência só foi provada depois de sua morte.

Djonga entregou um álbum completo, repleto de referências de casos reais que aconteceram no Brasil mostrando a brutalidade seletiva com os pretos em nosso país.

 NU é um grito de socorro e o canto da liberdade.

Djonga

Djonga

Título do álbum: Nu

Faixa: 08 faixas

Nota: 5/5

Veja também:

Review | Nick Jonas fala sobre a pandemia em Spaceman

Júlia Oliveira
Redatora d' O Quarto Nerd. Apaixonada por música e séries. Completamente viciada em livros. 'I go to seek a Great Perhaps'.