Review | Weezer deixa a desejar com “OK Human”

Weezer

Após um ano presos em uma quarentena que parece não ter fim, era de se imaginar que os artistas se sentissem inspirados a contribuir de alguma forma para o momento histórico ao qual a sociedade está vivendo. E é claro que isso contaria com uma busca sem fim por novos ritmos e melodias, ou até mesmo, por novas maneiras de se expressar, como foi o caso da banda Weezer.

Após quase 30 anos de carreira e 13 discos lançados, a banda americana havia se preparado no último ano para lançar o seu tributo ao Hard Rock dos anos 80 – “Van Weezer” -, o qual contava com músicas como “Hero” e “The End of the Game”. Porém, assim como o restante do mundo, foram pegos de surpresa com a chegada da pandemia e tiveram de adiar o lançamento do álbum.

E foi aí que o vocalista e compositor da banda, Rivers Cuomo, decidiu aventurar-se em novas experiências e desenvolveu o mais recente álbum da banda: “OK Human”, lançado no último dia 29. Com uma clara referência ao disco de 1997 do grupo Radiohead “OK Computer” -, o álbum parece ter sido uma junção de pensamentos aleatórios de Cuomo durante a quarentena.

“OK Human” possui ao todo 12 faixas, iniciando-se com “All My Favorite Songs”, a qual parece ter sido a única jogada certa da banda. Mas, como nem tudo são flores, o álbum começa, logo em seguida, a sua jornada ladeira abaixo, decepcionando não somente com as letras, mas, também, com a mistura de arranjos de cada música.

No início, as canções parecem ter sido muito bem trabalhadas, o que acaba não sendo verdade. A banda troca o ritmo intenso da guitarra por instrumentos clássicos, como trompetes e violas. E esse é o primeiro erro. Quando Patrick Wilson, baterista do grupo, introduz seu instrumento nas canções, a confusão se instala e um emaranhado de percussão com a abundância das cordas se faz presente.

E isso não é o único defeito do álbum. As letras são carregadas de ironias e, muitas vezes, parecem ser um efeito dominó de aleatoriedade. Cuomo se perde na ideia que pretende passar ao público, e isso complica ainda mais com o passar das canções. No começo, por exemplo, é possível entender que o vocalista quer mostrar que, mesmo que isolados, todos estamos juntos nessa, passando pela mesma situação. Mas, em seguida, a ideia é dispersa e tudo o que sobra é um conjunto de pensamentos sem filtro do próprio cantor.

Essa é a primeira vez que os fãs e os amantes de música ouvem o lado mais sincero de Cuomo. Desde o início da carreira, Rivers parecia esconder os seus sentimentos e se podava na hora de compor as canções, digno de uma geração emo. Porém, o tempo foi passando e os integrantes envelhecendo e, agora com mais de 50 anos, a “rebeldia” nas canções se assemelha mais a uma crise de meia idade do que uma sinceridade pura do vocalista.

Sendo assim, as letras que pareciam ser sobre a situação atual, acabam por demonstrarem um lado insensível da banda que, mesmo com humor, não é nada atraente. É como se Cuomo reclamasse da sua rotina durante a quarentena, dando a entender que está cansado dos audiolivros que escutou – “Grapes Of Wrath” -, das reuniões diárias pelo Zoom “Playing My Piano” – e da obsessão de todos ao seu redor pela tecnologia – “Screens”, onde Cuomo, ainda, cutuca ao falar do vício dos jovens por memes, slime e BLACKPINK -.

De maneira geral, sabemos que há alguns anos a banda não vem entregando o seu melhor. Desde 2016, Weezer parece estar descendo uma ladeira para o fundo o poço, o que resulta em uma falta de identidade com os mesmos membros donos de “Island in the Sun”.

Em “OK Human”, por exemplo, as canções são rápidas e pouco produzidas, assim como o interlúdio – “Everything Happens For A Reason” – aleatório que a banda introduziu no álbum sem nenhuma razão aparente. Claro que não tem problema nenhum uma canção ter menos de 3 minutos, contando que seja bem produzida, o que não é o caso de nenhuma das outras 11 faixas que compõem o álbum.

Ainda sim, a esperança de que “Van Weezer”, previsto para ser lançado em maio deste ano, seja melhor e verdadeiramente mais próximo do antigo Weezer, é a última que morre.

OK Human
Artista: Weezer
Ano de lançamento: 2021
Gravadora: Warner Music Company

Nota: 1,5/5

Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.