Em meio a tantas produções cinematográficas, uma das doenças que mais abordada em roteiros é o câncer, seja para falar sobre superação, jeitos de lidar ou, até mesmo, para marcar um romance – alô, John Green -. E é exatamente sobre o câncer que “Minha Irmã” (My Little Sister, 2020) aborda.
Mas, muito além disso, o filme se apropria sobre um amor fraternal e a crise de meia idade. Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, o longa traz a história de Lisa (Nina Hoss) e seu irmão gêmeo, Sven (Lars Eidinger), o qual enfrenta um tratamento intensivo de leucemia e, para não ficar sozinho, é convidado pela irmã para morar com sua família.
No entanto, enquanto Lisa cuida do irmão, a dramaturga se encontra em uma crise de meia-idade que, não apenas afeta o seu casamento, como também a faz desistir de suas ambições para dedicar-se 100% a Sven. O filme europeu – tendo a Alemanha e a Suíça como cenários principais – é dirigido e roteirizado por Stéphanie Chuat e Véronique Reymond, e chegou a ser destaque na programação da 44º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Apesar de estar sendo comparado com o último filme narrativo da dupla de diretoras e roteiristas – “My Little Room” (2010) -, o longa possui dificuldades em construir um roteiro detalhado, o que dificulta um pouco a compreensão de algumas cenas, como o fato que dá intitula o filme: os irmãos serem gêmeos com 2 minutos de diferença.
Contudo, apesar das dificuldades e das inserções de informações nas horas erradas, “Minha Irmã” consegue passar a angústia que Lisa sofre durante todo o longa. Claro que, a atuação de Hoss é fundamental para isso. Entretanto, o roteiro entrega uma base para a história da personagem, fazendo até metáforas entre os trabalhos da dramaturga e sua vida pessoal.
Por outro lado, o roteiro não favorece o personagem de Eidinger, o qual também não consegue entregar uma atuação a altura. Isso faz com que, mesmo que seja um dos principais, o filme pareça menos atraente aos olhos do espectador, mesmo com um arco grande o bastante para se explorar – como o fato de ele estar com leucemia grave, ser gay e ainda tentar estabelecer sua carreira como ator no antigo teatro -.
Desta forma, o fardo do filme fica nas costas de Lisa o tempo inteiro. Ainda que seja necessário para entender o medo que a personagem possui de perder o seu irmão e a responsabilidade de conciliar sua carreira, com a família e com a expectativa que o seu esposo tem sobre ela.
Mas, ainda que grande parte do filme não atraia a atenção do espectador, a produção ainda consegue trazer cenas marcantes que, apesar de serem rápidas, entregam o sentimento dos personagens ao público. O jogo de câmeras também ajuda, mesmo que muitas vezes pareça ser amador.
De qualquer modo, a produção consegue ser assertiva com a cena final do filme, a qual se agarra ao desfecho da vida de Lisa e de Sven, se baseando na conexão entre os irmãos e na forma com que ambos aceitam os seus destinos.
Em suma, “Minha Irmã” é um filme que tinha muito potencial para ser um grande marco e fazer jus ao seu objetivo de conquistar o Oscar, mas, que muitas vezes se perde ao tentar entregar uma crítica sobre a forma com que as mulheres precisam estar alinhadas com as expectativas masculinas, e acaba se prendendo a dor do luto, da aceitação e da responsabilidade familiar.
Título: My Little Sister
Direção: Stéphanie Chuat, Véronique Reymond
Elenco: Nina Hoss, Lars Eidinger, Marthe Keller, Jens Albinus, Thomas Ostermeier
Nota: 2/5
“Minha Irmã” chegará aos cinemas brasileiros amanhã, quinta-feira, 28, e é o representante da Suíça para concorrer a uma vaga ao Oscar 2021 na categoria de melhor filme estrangeiro.
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