Os anos 80 foram sem sombras de dúvidas um deslumbre na indústria cinematográfica, e até hoje, a década é lembrada como a era de ouro. Mas, nos últimos anos, a indústria voltou a olhar mais atenciosamente para as produções feitas na época – mais do que deveria. Assim, entramos na era dos remakes e sequências de filmes feitos há 40 anos atrás. Entre eles, está o remake/sequência “Jovens Bruxas: Nova Irmandade“. É estranho imaginar que um filme da Blumhouse não utilize nenhum tipo de terror em sua trama, apesar de que é claro momentos em que o estúdio fala “precisamos de uma tensão aqui‘, para chegar o mais próximo possível da categoria. E esse é um dos erros da trama.
Veja bem, nada do que foi feito nos anos 80 ou 90 podem ser replicados e ainda sim serem 100% perfeitos, isso por que, o público já viu! Na época, muitas tramas se destacam por sua originalidade, hoje em dia, a caixinha de ideias para Hollywood está completamente vazia. Zoe Lister-Jones – diretora e roteirista – claramente tenta trazer pontos da trama original, mas, em uma releitura interessante para a história.
Entenda, algumas tramas ainda podem ser consideradas grandes clássicos, mas não envelhecem bem. O público feminino não aceitaria muito bem a ideia de que elas usam seus poderes apenas para ficar bonitas e enfeitiçar garotos. E esse é um dos pontos positivos para a diretora e roteirista, que consegue olhar para essa história clássica e trazer o melhor dela em uma releitura interessante. Porém, seu maior erro é esquecer o terror de lado, e correr para finalizar essa trama. Com isso, a ideia de Zoe trazia detalhes que precisavam ser trabalhados com calma, as coisas andam bem, até o terceiro ato do filme, que infelizmente se despedaça em uma catástrofe, sem carisma.
Trama
A jovem Lily (Cailee Spaeny) chega em uma nova cidade com sua mãe Helen (Michelle Monaghan), para juntas começar um novo episódio em sua vida. Helen está se casando, então se muda para viver com seu novo esposo. Dessa forma, a jovem acaba indo para uma cidade e nova escola. Diferente de como vemos em filmes que trazem tal premissa, Lily não faz nenhum tipo de drama sobre a mudança ou o fato de deixar sua cidade e seus amigos. É claro que a jovem está triste com tal, porém, nada a impede de ficar feliz por sua mãe. Mas já na escola, a jovem acaba enfrentando um episodio complicado. Homens sempre trataram mulheres com desgosto ou nojo quando o assunto era menstruação, e Lily acaba tendo seu primeiro fluxo na escola, e obviamente um dos meninos tira sarro da situação.
É dessa forma que a jovem acaba conhecendo Tabby (Lovie Simone), Lourdes (Zoey Luna) e Frankie (Gideon Adlon). Antes de Lily, o trio tentava praticar algumas magias, mas nada muito concreto acontecia, já que elas precisavam de uma quarta pessoa para o coven. Com a chegada de Lily, elas acreditam que ambas encontraram a sua prometida, mesmo com a novata não acreditando 100% ela se junta as outras. E dessa forma, elas começam os trabalhos.
Pode ser uma produção Blumhouse, mas não é um filme de terror
Sempre que vemos a introdução da Blumhouse, sabemos que podemos esperar um filme de terror ou terror psicológico, e por mais que essa trama tenta por um rápido momento se encaixar nessa segunda opção, é claro que isso é esquecido pelo restante do filme. Desde o começo o filme aborda um visual frio, com paletas de cores escuras até mesmo em sua direção de arte. Mas, é claro desde o começo que, apesar de ser uma produção de Halloween, os fracos do coração não precisaram se preocupar.
É claro que é uma drama adolescente de Halloween. Mas a sua premissa é tão rico, que tal necessidade pode se passar despercebido. É claro que se eles conseguissem encaixar o terror como uma sub-trama, como feito na produção original, o filme poderia ter cenas mais interessantes. Porém, ao invés disso a trama joga pequenos momentos sem explicação no meio do filme, querendo assim fazer um pequeno suspense sobre tal acontecimento, ou dar uma leve tensão.
A trama – os atos
Mas veja bem, o primeiro ato do filme é promissor, traz a apresentação da trama, consegue cativar e prender facilmente, principalmente para aqueles que viram o filme original e não queriam ver algo igual a produção de 86. Entretanto a trama traz muita coisa para um filme de 1h40. Dessa forma, o segunda ato tenta trabalhar todas as pontas que foram abertas nos primeiros minutos do filme, mas não consegue, e ai começa o problema. O terceiro ato tem muita coisa para trabalhar, mesmo que o filme traga algumas revelações interessantes elas não são tão bem desenvolvidas pelo caminho, ou acabam tendo um péssimo timing.
Outro problema que o filme acaba enfrentando é na montagem do mesmo, é claro que teve muitas cenas cortadas, conteúdos que entraram no trailer não aparecer no filme, ou são rapidamente mencionados. Não é nem necessário explicar o por que isso pode atrapalhar no desenvolver da trama. E dessa forma, o filme parece correr após o meio do seu segundo ato, deixando de lado coisas que realmente precisavam ser trabalhadas, e obviamente duvidas que precisavam ser esclarecidas.
Com isso, o telespectador pode criar muitas expectativas iniciais sobre a produção, mas suas pontas soltas, e o seu desfecho fraco acabam perdendo a mão de algo que começa muito bem. Mesmo que toda ideia esteja ali, mesmo que todos os detalhes sejam entregues de bandeja para a direção e o roteiro de Zoe, a mesma não consegue causar no ápice do filme, parte pela falta de desenvolvimento e pontas soltas e parte pela falta de carisma e originalidade para a finalização – em relação a direção. O filme acaba com mais um episódio da série da Netflix, Sabrina, com a tentativa de trazer algo completamente inovador, mas não desenvolvido e sem carisma.
No geral, é triste que a sequência que consiga trazer pontos tão originais, em uma releitura interessante, consiga se perder com tanta facilidade. É claro que o filme tem um grande potencial, mas a correria para finalizar e o estúdio tentando colocar sua identidade na trama, tudo junto e misturado.
Crítica: Jovens Bruxas: Nova Irmandade
Roteiro e Direção: Zoe Lister-Jones
Elenco: Lovie Simone, Zoey Luna, Gideon Adlon, Cailee Spaeny e Michelle Monaghan
Nota: 2,5
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