Chegamos na semana de Halloween, e claro que não poderíamos deixar de dedicar um dia especial para falar sobre O Estranho Mundo de Jack, uma animação que marcou crianças e adultos por trazer elementos de terror em um filme infantil, além da estética inovadora e narrativa profunda.
Em 9 de Outubro de 1993, no Festival de Cinema de Nova Iorque, acontecia a premiere do longa-metragem. O filme chegaria no Brasil apenas 24 de Dezembro do mesmo ano. Produzido e co-escrito pelo renomado diretor Tim Burton, e dirigido por Henry Selick, o stop-motion arrecadou $89,1 milhões, e foi muito aclamado pela crítica. Se já não fosse muito, o filme ainda recebeu indicações por Melhor Efeitos Visuais no Oscar e Melhor Trilha-Sonora Original no Globo de Ouro.
O Estranho Mundo Jack conta a história de Jack Skellington, o Rei das Abóboras, que decide deixar os limites da cidade do Halloween após se cansar de fazer o Dia das Bruxas todos os anos. Por acaso, ele acaba atravessando o portal do Natal, onde vê a alegria do espírito natalino. Ao retornar para a Cidade do Halloween, sem ter compreendido o que viu, ele começa a convencer os cidadãos a sequestrarem o Papai Noel e fazerem seu próprio Natal. Apesar de sua leal namorada Sally ser contra, o Papai Noel é capturado e os fatos mostrarão que Sally estava certa o tempo todo.
Apesar da obra ser dirigida por Selick, muitos atribuem a Burton, o que não está totalmente errado. A história de O Estranho Mundo de Jack nasceu de um poema criado por Burton em 1982, 11 anos antes do lançamento do filme. Enquanto ainda trabalhava como animador para a Disney, Burton viu a decoração de Halloween de uma loja ser trocada pela de Natal, e ao assistir essa cena sua criatividade foi atiçada, foi então que decidiu escrever o poema, nomeado de The Nightmare Before Christmas – nome original do filme em inglês. Confira o poema abaixo:
O Estranho Mundo de Jack
“Caía o outono em
Halloween, a noite enregelava…
Contra a Lua, só, num monte, um esqueleto cismava.
Era esguio e comprido e um laço-morcego trazia;
Jack Esquelético, o nosso protagonista,
Aborrecia-se de morte na cidade de Halloween,
Onde tudo decorria de forma prevista.
Já me cansa meter medo, sustos e pavor.
Estou farto de ser algo que enche a noite de terror,
Farto de maus-olhados, de infundir alvoroço,
E os meus pés agonizam com a dança dos ossos.
Não gosto de cemitérios, quero mudar de ares!
Deve haver mais na vida que caretas e esgares!
Durante toda essa noite e todo o dia a seguir,
Jack andou sem parar, sem saber por onde ir.
Até que no coração da floresta, a noite caía,
Jack teve uma visão de intensa magia:
Ali, a escassos metros… mesmo à sua beira…
Três portas esculpidas de maciça madeira.
Ficou estupefato, sem tirar o olhar
De uma porta, entre todas, a mais singular.
Atraído, excitado, mas também ansioso,
Jack abriu-a e entrou num mundo branco e ventoso.
Jack nem calculava, mas tinha ido parar
À cidade do Natal- o nome desse lugar.
E, banhado em tal luz, já não se inquietava,
Pois enfim encontrara o que mais lhe faltava.
Para os amigos não julgarem que ele mentia,
Tirou as prendas e os doces que por lá havia:
Levou lembranças das meias junto à chaminé
E uma foto do Pai Natal com os duendes ao pé.
Pegou nas luzes, nas fitas e bolas do pinheiro,
E roubou o N grande que viu num letreiro.
Arrecadou aquilo que achou cintilante
E até uma bola de neve gigante,
Limpou tudo num ápice e, muito apressado,
Voltou à sua terra sem ser apanhado.”
Tim Burton, O estranho mundo de Jack. Lisboa, Orfeu Negro, 2010. Coleção: Orfeu Mini.
Título original: The nightmare before Christmas
Tradução de Margarida Vale de Gato
Ainda na época em que havia escrito o poema, Burton tentou torná-la um filme, porém a Walt Disney Studios não concordou. Anos depois, quando o nome do diretor já havia se consolidado na indústria hollywoodiana, ele pediu novamente autorização para a empresa. Desta vez, a mesma aceitou, porém Burton havia outros projetos em andamento, e por isso precisou passar para outra pessoa.
O longa-metragem é conhecido por ser o primeiro totalmente em stop-motion. Anteriormente ao filme, a utilização dessa técnica – que consiste em uma sequencia de imagens estáticas – era utilizada apenas para comerciais de TV. O Estranho Mundo de Jack contou com uma filmografia de 24 quadros por segundo e levou quase três anos para ficar pronto.
O filme também não havia um roteiro pronto quando suas filmagens iniciaram. Selick contou em uma entrevista ao THR como funcionou a produção do filme. “Nós conhecíamos a história. Até que então, recebemos as músicas. Porém, nós continuávamos às cegas, mas com muita confiança começamos a produção.”
Mesmo com todos os altos e baixos envolvendo a produção do filme, O Estranho Mundo de Jack se tornou um sucesso ao redor do mundo. E mesmo sendo originalmente um filme voltado para o público infantil, o longa-metragem conquistou um público de todas as idades. A complexidade, subjetivação e os conflitos internos dos personagens conta uma história que vai além de ser “apenas” um filme de Halloween.
Confira também: