Essa semana, chegou a plataforma da Netflix a animação “A Caminho da Lua“, dirigido por Glen Keane, animador conhecido por projetos da Disney como Enrolados e Tarzan. Chegando o fim do ano, é claro que as produções da Netflix vão ficando mais sérias – e nesse caso mais emocionais – a disputa para o Oscar se inicia. E talvez essa seja a razão pela qual a empresa tenha escolhido Keane para liderar essa produção. Mas, isso não quer dizer que “A Caminho da Lua” seja um bom concorrente para a premiação, a única razão desse filme ser indicado seria a falta de conteúdo para a disputa. Apesar dessa animação se basear em uma história tão rica – e claro ter um visual impecável – infelizmente, o roteiro é fraco e não consegue encontrar o caminho certo para adaptar tal lenda.
Sobre o que já tinha sido revelado em seu material promocional, era esperado que a história trouxesse uma trama comovente, cheia de aventura e claro as famosas lições. Mas, no geral, sua história não passa de uma tentativa da Netflix em criar histórias comoventes, sempre fortalecendo a ideia do conteúdo para o público infantil aproveitar e uma lição que os adultos precisam escutar, como a Pixar sempre fez.
Trama
Como apontado aqui antes, a história se baseia no mito chinês, sobre a deusa da lua, Chang’e. Uma história que enriqueceu a infância de diversas crianças chinesas, sobre uma mulher que vive na lua. A jovem Chang’e, se tornou imortal após beber o elixir da vida, mas assim perdendo para sempre o seu verdadeiro amor, Houyi, o arqueiro. Quando séries ou filmes vem de histórias mitológicas, sempre trazem flashbacks ou cut scenes contando a sua origem, mas mesmo que “A Caminho da Lua” conte brevemente, pela fala de outra personagem, ainda sim, o mito de Chang’e não fica claro. E aqui está o primeiro erro da trama, quando você tem algo tão rico, você usa, e não joga de escanteio como sub-trama.
Quatro anos após a morte da mãe da protagonista – que de longe é o maior/melhor apego emocional do filme – Fei Fei não aceita que seu pai esteja seguindo em frente com outra mulher. Inspirada pela história da mulher que vive na lua, a jovem super inteligente começa a trabalhar em uma forma de provar para seu pai que ele não pode se casar novamente, assim indo para a lua encontrar a mulher que aguarda a eternidade o seu verdadeiro amor. Dessa forma, Fei Fei começa a construir dia e noite um foguete, para assim partir na sua missão impossível. Mas claro, falhando nos últimos segundos, porém, acabando sendo salva pela deusa.
Cultura e Visual
Veja bem, é claro que a trama tenta trazer um ambiente incrível para a trama, com a cidade na lua. Porém, o filme não consegue, apesar de trazer um show visual, a falta de uma perspectiva é sentida. Talvez se a trama se fortalecesse mais no mito e na cultura que está tentando contar, teríamos algo mais memorável como a Disney fez com a Cidade dos Mortos em Viva: A Vida é Uma Festa. O filme inicialmente traz uma linda ambientação da cultura chinesa e seus costumes. Apesar de ir se perdendo aos poucos, é claro que todo time por trás entenda da cultura que está abordando, mas algo se perde nesse time de peso no momento em que a jovem pisa na lua.
A Caminho da Lua impressiona com os detalhes de seu visual vivido e profundo, sabe brincar com suas misturas de cores. É difícil dizer o que deu errado no desenvolver dessa trama, mas é fácil apontar o momento em que ela se perde. Mesmo quando ela constrói uma sub-trama para a história, o roteiro não inova e por muitas vezes se mostra familiar a outras produções animadas.
Músicas
Um grande forte das animações, principalmente quando é preciso criar um apelo emocional, a trilha sonora cai como uma luva para a produção. A Disney/Pixar são líderes em quebrar corações e fazer pessoas de todas as idades chorarem com suas produções. Essas empresas estão sempre em grandes premiações como o Oscar, ambas encontraram uma forma de ligar a música à suas produções, fortalecendo assim sua identidade. Essa não é a primeira vez que a Netflix traz uma animação com um tom musical, anteriormente o grande acerto do estúdio Os Irmãos Willoughbys, fez até questão de colocar a cantora Alessia Cara em seu time de dubladores, para trazer o ar sonoro para a trama.
Mesmo com Steven Price, vencedor do Oscar com “Melhor Trilha Sonora” pelo filme Gravidade, a falta da genialidade e carisma de Alan Menken é facilmente sentida. Não é como se as musicas da animação fosse ruins, elas não são, mas também não trazem a emoção que as precisam. Sua melodia é incrivelmente composta, mas suas letras não cativam.
Finalização
Mas a animação, A Caminho da Lua, tenta de todas as formas apelar para o emocional do telespectador, e inicialmente consegue facilmente. Porém, a falta de criatividade e carisma em seu roteiro e músicas pesam para a sua produção. É triste ver que a Netflix desperdiça uma oportunidade de ouro, para contar uma nova história sobre uma cultura que tem muito o que ser explorada.
Assim como a lenda de Mulan, o mito de Chang’e poderia ser uma grande produção, podendo trazer toques que shakeaspere entenderia muito bem, em uma releitura desse romance trágico. Mas, ao invés disso, o filme deixa o pote de ouro longe do centro da câmera, e dá a protagonista algo muito mal trabalhado, que talvez alguns meses mais na criação e desenvolvimento do roteiro melhorariam. Porém, é isso que acontece quando se quer contar uma história sobre uma cultura e não coloca pessoas da mesma para falar sobre. Não tem como um caucasiano falar sobre a jornada e dia-a-dia de um latino, mas da mesma forma que uma mulher caucasiana não consiga falar sobre um mito e cultura tão rica, que não fazem parte de suas vidas.
Crítica: A Caminho da Lua
Direção: Glen Keane
Roteiro: Audrey Wells
Musicas Compostas por: Christopher Curtis, Marjorie Duffield e Helen Park
Trilha Sonora: Steven Price
Nota: 2,5/5
Veja também: Hulu divulga o primeiro trailer do reboot de ‘Animaniacs’
Disney lança primeiro trailer de Raya e o Último Dragão, sua mais nova animação
Crítica | Rebecca: A Mulher Inesquecível