97 anos da Disney e seu preconceito linguístico camuflado

A Disney criou um mundo totalmente novo e atrativos para crianças, famílias e todas as pessoas que amam sonhar. Um mundo de fantasia, finais felizes e diversidade. Porém, por trás disso, temos um mundo de estereótipos, discriminação e preconceito linguístico no modo de falar de cada personagem.

O inglês atualmente é uma das línguas mais faladas no mundo e possui vertentes além do inglês britânico, canadense e australiano, são elas:

  • Inglês vernáculo afro-americano
  • Inglês convencional americano
  • Inglês do sul dos Estados Unidos
  • Inglês norte-americano
  • Inglês escocês
  • Inglês indiano e paquistanês
  • Inglês com sotaque espanhol
  • Inglês britânico

Começamos com o fato de que 90% dos personagens fala o inglês britânico ou estadunidense, principalmente se forem os heróis ou parceiros românticos, os famosos ‘mocinhos’ da história. Isso acontece mesmo se for o caso da trama se passar em outro país ou continente, como por exemplo: Aladdin.

O sotaque influencia fortemente a opinião que os telespectadores tem dos personagens, e consequentemente, dos nativos daquela país que falam aquela língua. A Disney influenciou e ainda influencia uma geração inteira de crianças, que cresceu assimilando essas informações e vivendo à base de estereótipos não saudáveis e discriminadores, além de grupos de pessoas que são negativamente afetados por uma ideologia da linguagem padrão, segue abaixo alguns exemplos:

O Rei Leão

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Fonte: Divulgação

Quem nunca se emocionou com a cena de Simba tentando acordar Mufasa morto por conta de uma artimanha de seu irmão Scar que jogue a primeira pedra.

Mas antes mesmo de vermos o ato da maldade em si, já nos é apresentado a diferença linguística entre os dois irmãos. A história se passa no continente africano, e ao invés de sermos apresentados com o Inglês vernáculo afro-americano, Mufasa fala o Inglês convencional americano, o que traz uma pose de um personagem bom, o mocinho da história. Já seu irmão, Scar, fala o Inglês britânico, uma forma de reforçar os estereótipos de alguém esnobe, superioridade intelectual, imagem que muitas vezes é reproduzido dos ingleses. Tudo isso também mostra a falta de autenticidade do cenário para com os personagens.

Também temos o alívio cômico, as hienas, cada uma com um sotaque distinto sendo o Inglês vernáculo afro-americano e o Hispânico, sendo o hispânico uma maneira de reforçar estereótipos de latinos americanos que moram em Nova Iorque, os quais são baixinhos, briguentos e serve de objeto de ridicularização e piadas.

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Aladdin

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Fonte: Divulgação

Na história do filme Aladdin, temos uma situação similar, a trama se passa em Agrabah, um país fictício dos reinos Árabes.

Vemos a discriminação etnocêntrica por meio do sotaque de Jafar, novamente, um sotaque britânico, representando novamente alguém superior intelectualmente e esnobe, reforçando o estereótipo de que os vilões “falam desse jeito” e consequentemente, são de outro país, não estadunidenses.

Os Três Porquinhos

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Fonte: Divulgação

Um dos conto de fadas mais famoso também não ficou de fora. Outra maneira de cometer preconceito linguístico é o mal uso sotaques de minorias, e é exatamente o que vemos em Os Três Porquinhos, onde o obviamente o Lobo, vilão da história, possui o sotaque de dialetos ídiches, encontrados na Europa e comuns principalmente na Alemanha.

Na primeira animação feita pela Disney, além de vemos o Lobo fazendo uso desse sotaque, também temos a representação do povo Judeu por meio de suas roupas. Essa versão foi mais tarde modificada e o vilão só manteve seu sotaque, porém, segundo estudiosos, isso mostra uma forma de antissemitismo, e liga a má intenção do Lobo à cultura judaica.

Após reclamações, o sotaque também foi trocado e o Lobo passa a falar com o usual tom bobo de desenhos infantis.

Zootopia

Fonte: Divulgação

Os estereótipos não são apenas para outros países e minorias, mas também com o sul dos Estados Unidos, e um exemplo é o filme Zootopia.

O personagem Gideon Grey é um fazendeiro que faz uso do Inglês do sul dos Estados Unidos, o famoso sotaque “caipira” e suas únicas características são ser um personagem briguento, intimidador e inseguro. É o único animal entre todos que possui esse sotaque e é constantemente estigmatizado como burro, mal educado e lerdo, diferente dos animais que moram na cidade grande.

Confira uma cena aqui.

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Isabela Caroline
Tradutora e redatora d' O Quarto Nerd. Viciada em música, clipes, séries, teorias, entrevistas e tudo que seja um escape da realidade. Currently listening to any pop songs.