CRÍTICA | “Emily em Paris” traz leveza ao clichê

A Netflix disponibilizou nesta última sexta-feira, 2, a sua nova série original, “Emily em Paris”. Com Lily Collins como protagonista, a série retrata a história de Emily, uma jovem com a carreira em ascensão que recebe uma oportunidade para trabalhar na cidade do amor por 1 ano.

Vídeo: Youtube Netflix

Enredo

Apesar de parecer clichê, a história vai além de uma comédia romântica e abraça temas como namoro abusivo, independência e empoderamento feminino, e a auto aceitação, tudo isso durante os 10 episódios de aproximadamente 25 minutos cada – com exceção do último que contém quase 40-.

Em uma combinação de “Diabo Veste Prada” e “Sex and the City”, a série consegue fluir facilmente ao longos dos episódios. Ainda que cada capítulo aborde um novo problema na vida da protagonista, todos conseguem se complementar e trazer uma comédia romântica típica da Netflix. “Emily em Paris” é uma série que você consegue assistir sem se esforçar muito para pensar – ainda que traga momentos que, propositalmente, incomodam o espectador, como Sylvie se rotulando como uma mulher não feminista -, mesmo que todas as decisões e todas as consequências de Emily pareçam previsíveis.

NOVOS ROSTOS

Que a Lily Collins é uma baita de uma atriz, todos sabemos. Com grandes filmes em seu currículo, a atriz possui uma facilidade em se adaptar ao personagem, conseguindo, ainda, trazer o seu carisma pessoal para tal. E em “Emily em Paris” não seria diferente. Lily atua de forma graciosa, desprendendo a ideia de uma atriz nova e pouco experiente – uma vez que é pouco lembrada pelo seu papel em “O mínimo para viver” – e se aproximando de ser a mais nova Anne Hathaway (bastante subestimada na indústria do cinema e que, hoje, é vista como uma grande atriz).

Em contrapartida, a série traz bastante caras novas para a trama. Com atores franceses e personagens que se encaixam perfeitamente ao elenco e fazendo o público confiar em cada palavra que digam. Um exemplo disso é a Philippine Leroy-Beaulieu, atriz francesa que interpreta Sylvie, a chefe carrasca de Emily e que não aceita a norte-americana em sua agência, sempre sendo prepotente e arrogante sem nem mesmo lhe dar uma chance.

FIGURINO E TRILHA SONORA

Outra composição excelente da série são os figurinos e a trilha sonora perfeitamente colocados e escolhidos.

Fazendo jus a ideia da cidade fashion que temos de Paris – uma vez que é onde acontecem os maiores e melhores desfiles de moda, além de ser o local de nascimento de diversos estilistas -, os figurinos de Emily são de deixar o queixo caído. Peças e acessórios escolhidos impecavelmente, compõem os looks da protagonista e dos coadjuvantes, do básico ao extravagante, nunca perdendo a elegância.

Em paralelo, a trilha sonora se encaixa perfeitamente ao possuir uma base francesa, romântica e divertida. São poucas as canções norte-americanas que ouvimos ao longo dos episódios, o que ajuda a construir o ar francês ao redor dos personagens e dos problemas da trama. Emily, por exemplo, ainda que o seu papel seja de uma norte-americana, a trilha sonora consegue acompanhar o enredo da protagonista sem falhar, desde a partida dos EUA até a chegada na França.

Playlist “Emily In Paris” da Netflix no Spotify

UM MUNDO DE ESTEREÓTIPOS

Outro ponto bastante importante para se ressaltar – se não for o mais importante – é a (des)construção de estereótipos ao longo da série. Logo nos primeiros episódios, Mindy (Ashley Park) – melhor amiga de Emily – conta para a personagem como os franceses são extremamente arrogantes e totalmente diferentes do que estão acostumadas, uma vez que esta também não é francesa.

Mas, apesar de parecer como um ponto negativo da trama, é bom destacar que não são apenas os franceses que são rotulados na mesma. Na série, os chineses e os norte-americanos também são caracterizados pejorativamente. Mindy, por exemplo, que é filha de um grande empresário chinês, mostra que são uma nação possessiva e autoritária, enquanto a própria Emily demonstra a forma com que os nativos dos EUA são descritos com egocentrismo, sempre achando que o mundo está contra eles e, por isso, deveria servi-los.

CONCLUSÃO

Ainda que tenha uma abordagem leve, “Emily em Paris” tem a dosagem certa de roteiro, figurino e trilha sonora, deixando, também, algumas lacunas para serem preenchidas em uma possível segunda temporada. Claro que, só pelo fato de estar sendo “cancelada” por alguns críticos franceses por conta dos estereótipos aplicados – ou melhor: O estereótipo -, a série deveria ser confirmada para mais uma temporada, uma vez que (adicionando aqui uma pitada de ironia) não há problema algum em retratar negros como pessoas agressivas, latinos como traficantes e árabes como terroristas, enquanto retratar franceses como gringos de alto padrão, certo?

Criada por Darren Star,“Emily em Paris” consegue ser fiel a sua proposta de uma série descontraída e divertida boa para maratonar. Ainda que tenha deixado a desejar em questão de marketing – Poxa! A série retrata a adaptação de uma empresa de digital frente as mudanças tecnológicas; retrata a questão de influenciadores trazendo a protagonista como uma; e a Netflix não utiliza isso a seu favor? Eles poderiam ter trazido a conta do Instagram da personagem para a vida real, com as fotos que ela mesma tira ao longos dos episódios… é de se chatear, não é? -, a série possui detalhes levemente clichês que fazem toda a diferença para a trama, sendo uma boa oportunidade da plataforma subir com esse tipo de abordagem.

Título: Emily em Paris
Temporadas: 1
Elenco: Lily Collins (Emily Cooper), Philippine Leroy Beaulieu
(Sylvie Grateau), Ashley Park (Mindy), Lucas Bravo (Gabriel),
Samuel Arnold (Luc), Camille Razat (Camille),
Bruno Gouery (Julien), Kate Walsh (Madeline), Arnaud Viard
(Paul Brossard), William Abadie (Antoine Lambert).

Nota: 4,5/5

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Raphaela Lima
Completamente apaixonada por música e pelo Spider-Man, usa seu conhecimento sobre a comunicação e a cultura pop e seu vício em filmes e memes para complementar a equipe das nerds da cadeira.