Diferente de outros filmes que contam histórias do passado, Luta por Justiça poderia facilmente estar acontecendo nos dias atuais. O racismo, a ineficácia policial e o tabu sobre o sistema carcerário/corredor da morte fazem do longa um verdadeiro grito de insatisfação com o mundo.
O verdadeiro poder do filme – e que é usado inteligentemente pelo diretor, Destin Cretton – é a veracidade da história. O longa conta a jornada do advogado Brian Stevenson (Michael B. Jordan), homem negro e formado em Harvard, que decide se mudar para o Alabama para defender pessoas que estão no corredor da morte e não receberam a representação adequada. É assim que Stevenson acaba conhecendo Walter McMillian (Jamie Foxx), que foi condenado à morte sendo um homem inocente.
E é isso que o filme busca mais enfatizar: a inocência de McMillian. É claro para o público desde o primeiro minuto do longa que sua prisão foi um ato racista de um xerife desesperado para ligar alguém à um caso de assassinato de uma mulher branca.
Jamie Foxx dá vida à Walter e finalmente ganha o reconhecimento merecido. Sua atuação dá camadas ao personagem que direção e roteiro nenhum são capazes de alcançar e faz com que o público sinta a fúria, perda de esperança, coração apertado e alívio do personagem.
Mas não é somente Foxx que faz um belo trabalho. O longa veio com uma escalação de elenco forte, não é a toa que Michael B. Jordan vive Stevenson, papel que trouxe a tona novamente a dúvida de Jordan ser ou não um ator versátil. E a resposta é, em alto e bom som, sim. Jordan dá conta da densidade, profundidade e bagagem de Stevenson, que sente na pele – e por causa dela – o que é ser um homem negro tentando mudar um dos estados historicamente mais racistas dos EUA.
E a trilha sonora intensifica todos os altos e baixos que o longa faz você acompanhar. Ela encaixa tão facilmente nas cenas, desde servindo como abafador – um possível truque para nos fazer sentir, inconscientemente, o desespero pela liberdade de McMillian – até intensificando as cenas mais dolorosas de assistir, como a morte de Herbert Richardson, amigo de McMillan que também estava no corredor da morte.
Talvez seja muito cedo para apostar em filmes futuramente premiados, mas seria injusto nem sequer trazer Luta por Justiça à discussão. O longa clama por um lugar que é seu por direito, e nada mais justo que concedê-lo, como fizeram com Green Book: o Guia – mas, dessa vez o twist é que essa “história do passado” está mais no presente do que pensamos.
Luta por Justiça está em cartaz nos cinemas brasileiros.